Fanfic: Uma ultima noite AyA [terminada]
— A sério? — As sobrancelhas de Any ergueram‑se de curiosidade. — Esse vestido não me parece muito quente.
Beatrice lançou‑lhe um olhar de descrédito. — Tenho um vison para usar por cima. — Virou‑se e saiu da sala, sem perceber bem como é que tinha perdido a posição de superioridade.
— Meu Deus — resmungou Any. — Não sou mesmo uma tola?
— Uma tola muito astuta — salientou Alfonso. A mãe tinha‑a irritado, disso não restavam dúvidas. Mas ela conseguira controlar‑se muito mais do que ele. E o olhar dela ainda continha vestígios de humor. Riu‑se subitamente.
— A tua avó acabou de ser confundida por uma perita — disse ele a Alison. — Guitarras orientais e século dezessete. — Abanou a cabeça.
— Há alguma coisa que esse teu cérebro enciclopédico não contenha? Any ficou pensativa por um momento.
— Não, não me parece. Alguma coisa que quisesses saber?
Ele inclinou a cabeça, divertido com o desafio. — Qual é a capital do Arcansas?
Alison deu umas risadinhas e sussurrou‑lhe ao ouvido.
— Arcansas — murmurou Any. Olhou para o teto. — Arcansas… Centro‑sul dos Estados Unidos. Fronteira a norte: Missouri; fronteira leste: Mississípi e Tennessee; a sul: Louisiana; a ocidente: Texas e Oklahoma. Vigésimo quinto Estado desde Junho de mil oitocentos e trinta e seis. O Arcansas tem solo favorável para a agricultura, numerosos depósitos minerais que incluem a única mina de diamantes nos Estados Unidos e vastas
áreas florestais. O nome vem de uma tribo Siouan, a Quapaw. Não tem lagos naturais de relevância e tem um clima relativamente temperado. Ah, sim! — Levantou um dedo. — Little Rock é a capital, bem como a maior cidade. Baixou os olhos e sorriu alegremente para Alfonso. — Alguém está interessado em dar uma volta antes do jantar?
O clima em Palm Springs era seco, quente e soalheiro. Os criados da mansão Herrera eram bem preparados e solícitos. A comida era invariavelmente soberba. E a monotonia de tudo isso estava a dar com ela em doida.
Se Any pudesse ter amado menos Alfonso, poderia ter fugido. Mas à medida que os dias passavam, ela sabia que acrescentava anéis às correntes que a prendiam àquele lugar. O tempo que passava com Alfonso a fazer pesquisa era um estimulante, assim como o tempo que passava com Alison. Mas havia longas horas apenas de ócio e ela nunca conseguira
lidar muito bem com o ócio.
De noite, nos braços de Alfonso, permitia‑se esquecer de tudo o resto. Mas as horas que passavam juntos como homem e mulher eram demasiado fugazes. Quando ele saía da cama dela, ela ficava com demasiado tempo para pensar. Era difícil admitir que, com toda a educação sofisticada e idéias liberais, se sentia desconfortável em ter um caso amoroso.
Se o relacionamento pudesse ter sido mais aberto, talvez ela tivesse tido menos dúvidas. Mas tinha uma criança em que pensar. Já estavam em Dezembro. Para Any, o tempo estava a esgotar‑se. Mais um mês, talvez seis semanas, e a sua utilidade findaria. E depois?
– indagou‑se ao sair para o jardim. Quanto mais tempo poderia adiar pensar no futuro? Devia estar a agendar outra palestra para Janeiro. Devia informar‑se se a escavação Patterson iria iniciar‑se em Março, dentro do prazo previsto.
Enfiou as mãos nos bolsos e fitou uma palmeira. Precisava de sair dali, decidiu. Precisava de voltar a pensar em si. Tinha de escrever a tese de doutoramento. Fechou os olhos de encontro à luz do Sol.
Se não começasse já a fazer um corte, seria muito mais doloroso depois quando chegasse a hora. Como se sentiria Alfonso quando ela se fosse embora? Any saiu do pátio para o relvado. Sentiria como se tivesse perdido algo? Ou recordaria simplesmente os momentos que tinham passado juntos como um Outono agradável?
Sendo alguém que tinha o hábito de analisar o cérebro humano, achava estranho não conseguir compreender totalmente o de Alfonso. Talvez fosse porque para ela ele era mais importante do que qualquer outra pessoa. As emoções enublavam‑lhe a intuição e ela não conseguia ver com clareza. Só tinha certezas quanto a Alison.
Tinha o amor da criança. Era simples, sincero. Aos onze anos uma criança não tinha máscaras. Quantas terá ele – indagou‑se, pensando em Alofnso. Quantas tenho eu? Porque fazemos questão de as usar? Olhou novamente em redor para a relva bem aparada, para as árvores bem tratadas e flores organizadas. Tenho de sair daqui, pensou novamente. Não suporto muito mais a perfeição.
— Any!
Virou‑se e viu Alison correr na sua direção alguns passos à frente de Alfonso.
E quando eu for realmente, eles ter-se-ão um ao outro, refletiu. Pelo menos disso posso estar certa.
— Não conseguíamos encontrar‑te. — Alison agarrou‑lhe na mão e sorriu para ela. — Queríamos que viesses nadar conosco.
O simples pedido desencadeou uma série de reações emocionais. Eles não te pertencem, lembrou a si mesma quando o coração começou a bater com mais força. Tens de parar de fingir que sim. Manteve os olhos na menina, nada disposta a lidar com um dos olhares intuitivos de Alfonso.
— Hoje não, querida. Ia agora fazer uma corrida.
— A natação exercita mais músculos — comentou Alfonso. — E não suamos.
Any levantou o olhar e cruzou‑o com o dele. Viu os olhos de Alfonso semicerrarem‑se imediatamente e percebeu que ele pressentira que algo se passava. Ela não estava disposta a ser lida tão claramente. Sorrindo, deu um rápido apertão na mão de Alison. — Continuo a achar que prefiro correr. — Virou costas e afastou‑se.
— Passa‑se alguma coisa de errado com a Any. — Alison olhou para o tio, mas ele estava a ver Any correr em direção ao muro que delimitava a propriedade. — Estava com uns olhos tristes.
Alfonso olhou para Alison. As palavras dela tinham espelhado os seus pensamentos. — Sim, estavam.
— Fomos nós que a pusemos triste, tio Alfonso?
A pergunta abalou‑o e ele ergueu os olhos a tempo de ver Any desaparecer pelo portão lateral. Teremos sido? A capacidade dela para sentir era muito maior do que a de qualquer outra pessoa que ele conhecia. Não significaria que a capacidade dela para sofrer seria igualmente grande? Alfonso abanou a cabeça. Talvez estivesse a exagerar e ela estivesse simplesmente de mau humor.
— Toda a gente fica de mau humor de vez em quando, Alison — murmurou ele. — Até a Any tem direito a isso. — Quando voltou a olhar para a menina, ela ainda tinha os olhos postos no portão. Alfonso pendurou‑a ao ombro para a ouvir rir.
— Não me atire para a água! — Ela ria‑se e contorcia‑se.
— Atirar‑te? — ripostou Alfonso como se fosse uma coisa que não lhe tivesse passado pela cabeça. Aproximou‑se da piscina. — O que é que te leva a pensar que eu faria uma coisa dessas?
— Foi o que o tio fez ontem.
— Foi? — Olhou por cima do ombro em direção aos arbustos e muro. Any estava do outro lado. Isso fe‑lo sentir‑se desconfortável. Com um esforço, voltou de novo a atenção para Alison. — Detesto repetir‑me — disse, atirando‑a para dentro da piscina.
Uma hora depois encontrou Any na sala de estar. A corrida não lhe tinha melhorado o humor. Viu‑a andar de um lado para o outro, de janela em janela. Sentiu a inquietação dela.
— Estás a pensar fugir?
Any voltou‑se ao ouvir a voz dele. — Não te ouvi entrar. — Procurou uma descontração que não conseguiu encontrar e depois virou costas de novo. — Mudei de idéias — disse‑lhe. — Este lugar não é um museu, é um mausoléu.
Alfonso ergueu uma sobrancelha e sentou‑se no sofá. — Porque não me dizes o que se passa, Any?
Quando ela se virou para ele, havia raiva no olhar. Era mais fácil sentir raiva do que desespero. — Como é que agüentas? — atirou‑lhe. — O Sol constante não te incomoda?
Ele estudou‑a por um momento, depois recostou‑se nas almofadas.
— Estás a tentar dizer‑me que estás irritada por causa do tempo?
— Não é o tempo — corrigiu ela. — O tempo muda. — Any desviou o cabelo do rosto com ambas as mãos. Sentia uma dor incomodativa na base do pescoço.
— Any. — A voz de Alfonso era baixa e razoável. — Senta‑te e fala comigo.
Ela abanou a cabeça. Não estava com vontade nenhuma de ser razoável.
— Espanta‑me — continuou ela. — Espanta‑me completamente que consigas escrever como escreves quando te isolaste de tudo. Ele ergueu de novo a sobrancelha.
— Achas que essa é uma afirmação rigorosa? Vivo num clima favorável, por isso isolei‑me de tudo?
— És tão pretensioso! — Ela virou costas de novo e cerrou as mãos em punhos dentro dos bolsos. — Estás aqui no teu pequeno mundo esterilizado sem fazeres a mínima idéia de como as pessoas vivem no mundo real. Não precisas de te preocupar com o fato de o teu frigorífico poder avariar
.— Any. — Alfonso esforcou‑se por manter a paciência. — Estás outra vez a divagar.
Ela virou‑se e fitou‑o. Porque é que ele não compreendia? Porque é que não conseguia ver o que estava subjacente a tudo aquilo? — Nem toda a gente pode criar fama e deitar‑se na cama.
— Ah, voltámos a isso. — Alfonso levantou‑se e aproximou‑se dela. — Porque é que consideras o meu dinheiro uma mancha no meu caráter?
— Não faço idéia de quantas manchas tens no caráter — retorquiu ela. — A minha objeção quanto ao teu dinheiro é que o utilizas para te isolares. —Do teu ponto de vista.
— Claro. — Ela acenou concordantemente com a cabeça. — Do meu ponto de vista, toda esta seção da Califórnia é uma afronta: golfe, peles, festas, jacuzzis…
— Com licença. — Alison estava parada à porta a olhar especada para os dois. Era a primeira vez que os via zangados. Alfonso sufocou uma resposta e virou‑se para ela.
— É alguma coisa importante, Alison? — A voz estava calma, mas os olhos não. — A Any e eu estamos a ter uma discussão.
— Estamos a ter uma briga — corrigiu Any. — As pessoas brigam, e eu nunca grito durante uma discussão.
— Está bem. — Ele anuiu com a cabeça a Any e depois olhou de novo para a sobrinha. — Estamos a ter uma briga. Importas‑te de nos dar alguns minutos para a terminarmos?
Alison deu um passo atrás mas hesitou. — Vão gritar um com o outro e tudo? — Havia mais fascinação do que preocupação na pergunta, e Alfonso reprimiu um sorriso.
— Sim — disse‑lhe Any. Alison olhou mais uma vez para os dois e depois correu escada acima.
Alfonso riu‑se antes de se voltar para Any. — Aparentemente ela está satisfeita com a perspectiva de uma briga a sério.
— Não é a única.
Ele estudou Any por um momento. — Pois, posso ver que não. Talvez gostasses de atirar alguma coisa. Fica sempre bem.
— Qual preferes perder? — replicou ela, detestando o fato de ele estar controlado e ela não. — A jarra Ming ou a caixa Fabergé?
— Any. — Alfonso colocou as mãos nos ombros dela. Chega, pensou; já chega. — Porque não te sentas e me dizes o que realmente se passa?
— Não te armes em condescendente, Alfonso. — Afastou‑se dele, bastante irritada. — Já me basta a tua mãe.
Havia pouco que ele pudesse responder àquilo, já que sabia que era verdade. O que ele ainda não sabia era que as atitudes de Beatrice afetavam Any. Talvez ainda houvesse muito a saber sobre Any. E talvez a altura certa para as saber fosse quando ela estivesse suficientemente alterada para baixar a guarda.
— A minha mãe não tem nada a ver conosco, Any. — A voz dele tinha suavizado, mas ele não se aproximou dela.
— Ah, não? — Any abanou a cabeça. Como era possível que ele não reparasse nem compreendesse o quão difícil era fazerem amor numa casa em que ela tinha de lidar com constantes reprovações? — Bem, esse é um pequeno ponto de desentendimento. Temos outros.
— Que são?…
— Não te preocupa que a principal preocupação na cabeça da Alison daqui a cinco anos seja que vestido ha‑de usar?
— Por amor de Deus, Any! Do que é que estás a falar? — A frustração fe‑lo exaltar‑se tanto quanto ela. — Não te importas de ir ao cerne da questão?
— Questão?! — Ela já estava aos gritos, furiosa pela incapacidade de exprimir os seus sentimentos e pela incapacidade dele para compreender o que ela estava a tentar dizer. — Que questão pode haver quando não tens qualquer noção de como me sinto nem do que preciso? — Abanou de novo a cabeça. — Não vale a pena, Alfonso. Não vale mesmo. — Saiu a correr pela porta do pátio.
Dez minutos depois estava sentada sob um carvalho no canto norte do relvado a tentar controlar as emoções. Detestava perder as estribeiras. Nada do que dissera a Alfonso fizera qualquer sentido – nem para ele, nem para si mesma. A honestidade forçava‑a a admitir que era um medo primitivo que a impedia de dizer o que lhe ia no coração. Amava‑o demasiado para ter paz de espírito.
Coração ou intelecto – a qual dos dois devia dar ouvidos? O intelecto dizia‑lhe que ela não devia ama‑lo. Ele não a amava. Desejava‑a, precisava dela, talvez se preocupasse com ela. Tudo palavras brandas e fracas comparadas com amor. O intelecto lembrava‑a de que havia demasiadas diferenças fundamentais entre eles que tornavam impossível mais do que uma relação passageira. O intelecto afirmava que estava na hora de se lembrar das prioridades – do doutoramento, do trabalho de campo. Estava na hora de fazer as malas e regressar.
Mas o coração dizia‑lhe que o amava. Estava dividida entre os dois – coração ou intelecto – e não era capaz, talvez pela primeira vez na vida, de tomar uma decisão clara.
Levantou as pernas e encostou a testa nos joelhos. Quando ouviu Alfonso sentar‑se ao seu lado, não se mexeu. Precisava de mais algum tempo, e ele, pressentindo isso, não disse nada. Ficaram sentados lado a lado, mas não suficientemente perto para se tocarem, enquanto um passarinho começava a cantar nas folhas mesmo acima das suas cabeças. Ela suspirou.
— Desculpa, Alfonso.
— Pela forma, mas não pelo conteúdo? — retorquiu ele, lembrando‑se da outra vez em que ela tinha pedido desculpas.
Ela deu uma rápida gargalhada mas manteve a cabeça apoiada nos joelhos. — Não tenho a certeza.
— Acho que não me importo que gritem comigo desde que eu saiba o motivo.
— Culpa a Lua — murmurou ela. Mas ele pôs‑lhe uma mão debaixo do queixo e levantou‑o.
— Any, fala comigo. — Ela abriu a boca, mas ele interrompeu‑a antes de ela poder começar. — Fala mesmo a sério — acrescentou ele em voz baixa. — Sem as evasões sagazes. Se eu não te conheço nem sei do que precisas, talvez seja porque fazes os possíveis para me impedir de o descobrir.
Os olhos dela estavam muito claros e fixos nos dele. — Tenho medo de te deixar entrar mais do que já deixei.
Prévia do próximo capítulo
A doçura dela desequilibrou‑o. Após um momento encostou‑se ao tronco da árvore e puxou‑a para ele. Talvez a forma mais fácil de começar a saber mais sobre ela fosse através do passado. — Fala‑me do teu avô — pediu Alfonso. — A Alison disse‑me que ele era médico. — O ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 30
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Angel_rebelde Postado em 25/05/2014 - 00:52:29
Adooorei sua fic. No começo não tive tanto encantamento mas bastou mais uns capítulos para me encantar. Foi lindo ver o qnto Anny mudou a vida da pequena Allison com sua ternura e a de Poncho tbm pois o mesmo tbm era mto triste antes da chegada dela. A entrega q tiveram foi única e resultou em momentos únicos para os dois. Formaram uma linda família, quase foi estragada pela inveja da mãe dele mas o amor entre eles venceu as barreiras. Adoorei a história. =))
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kikaherrera Postado em 21/10/2009 - 01:42:38
LINDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
AMEI ESSA WEB. -
annytha Postado em 19/10/2009 - 18:34:15
adoro sua web, é demais
posta +++++++ -
annytha Postado em 14/10/2009 - 10:48:53
vai desiste dessa web?
por favor continua vai -
annytha Postado em 18/02/2009 - 15:03:38
posta +++++++++++++++++++
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mariahsouza Postado em 17/02/2009 - 19:45:05
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mariahsouza Postado em 15/02/2009 - 14:00:29
POOSSTTAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
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mariahsouza Postado em 14/02/2009 - 17:26:49
Q
U
E
R
O
M
A
I
S -
vitoria10 Postado em 14/02/2009 - 17:08:41
AMEIIIII
POSTA MAIS!!!!!!!!!!! -
vitoria10 Postado em 14/02/2009 - 17:08:41
AMEIIIII
POSTA MAIS!!!!!!!!!!!