Fanfic: Uma ultima noite AyA [terminada]
O avô deixou‑a desabafar. Não a via sofrer daquela forma desde
criança. Manteve as mãos dela nas suas e esperou. Que tipo de homem seria
Alfonso, cujo filho ela carregava no ventre? Se o amava, porque estaria a
chorar ali sozinha em vez de estar a partilhar com ele a felicidade da paternidade
iminente?
O Dr. Brennan tentou recordar‑se de partes das cartas que recebera
dela. Ele sabia quem era Alfonso – o escritor com quem ela trabalhara no
final do Outono e início do Inverno do ano anterior. O Dr. Brennan admirava
o trabalho dele. As cartas de Anahí tinham sido simultaneamente entusiásticas
e confusas. Mas ele estava habituado a essas duas características
na neta.
Como é que lhe tinham escapado as entrelinhas? E agora, durante
meses, ela enfrentara sozinha a decisão mais importante da sua vida. Detestava
ve‑la assim – perdida, a chorar. Outrora fora obrigado a manda‑la
para longe. Também nessa altura ela se sentira perdida e chorara. Ele achara
que a decisão que tomara sozinho fora a melhor para ela, e, quando a poeira
assentara, confirmara‑se que tinha sido. Mas o tempo intermédio tinha deixado
marcas. Ele era suficientemente intuitivo para saber que parte da decisão
dela resultava da própria experiência de vida. Ele só podia oferecer‑lhe
tempo, apoio e amor. Esperava que isso bastasse.
O choro tinha parado entretanto. Anahí manteve a cabeça pousada
na mesa enquanto descansava. Há meses que não chorava. Endireitou‑se
lentamente e começou a falar outra vez.
— Eu amava‑o… amo‑o. Foi esse um dos motivos que me levou a
tratar das coisas desta forma. — Suspirou. Sentira a necessidade de falar
com alguém desde o dia em que saíra do quarto de Beatrice, quatro meses
antes. — Deixa‑me explicar‑te as coisas, talvez entendas.
A voz já estava calma, sem emoção, e ela pormenorizou os acontecimentos
na casa dos Herrera. Quando falou de Alison, ele viu imediatamente
o paralelismo e manteve‑se em silêncio. Só quando ela lhe contou o último
encontro com Beatrice é que ele explodiu.
— Estás a dizer‑me que ela te ameaçou?! — O Dr. Brennan levantara‑se
de um salto, esquecendo a dor nas costas. Estava pronto para o combate.
— Não a mim. — Anahí estendeu‑lhe a mão e levantou‑se. — Ao
Alfonso, à Alison. A mim ela não podia fazer nada, nada de importante.
— Foi chantagem, Anahí. Chantagem pura e simples. — A voz dele
tinha enrouquecido com fúria. — Devias ter contado tudo ao Alfonso.
— Sabes o que é que ele teria feito? — Anahí deu‑lhe o braço. — Teria
entrado lá de rompante, tal como tu gostarias de fazer agora. Teria sido uma
cena terrível com a Alison a assistir a tudo. Achas que eu podia arriscar uma
batalha judicial? Ela não passa de uma criança. Sei o que ela sentiria se visse
o nome e a fotografia estampados nos jornais, se ouvisse os mexericos. —
Os olhos de Anahí eram eloquentes e as lágrimas tinham secado. — Poe‑te
no meu lugar, avô. Em tempos testemunhaste algo idêntico. Se tivesses de
mudar o que fizeste há tantos anos atrás, mudarias?
Ele suspirou e abracou‑a. — Anahí, nunca pensei que tivesses de voltar
a passar por uma situação destas.
Ela tinha sentido a necessidade de ir para casa, de sentir os braços
grandes e fortes e as mãos suaves. Precisara de uma rocha e não conhecia
nenhuma mais firme. — Amo‑te, avô.
— E eu a ti, Anahí. — Abracou‑a por uns instantes sem dizer nada.
E, de repente, apercebeu‑se de que ela já não era nenhuma trinca‑espinhas.
Conseguia sentir as curvas do corpo da neta contra o seu. Sentiu‑se chocado
com a alteração. Ela já não era a sua menina mas uma mulher que
carregava o próprio filho. — Acabou de me ocorrer que vou ser bisavô.
— Sempre foste um avô maravilhoso — murmurou Anahí. — O melhor.
— Ficas cá até o bebé nascer.
Anahí suspirou e relaxou encostada a ele. — Sim.
Ele afastou‑a. — Estás a tomar vitaminas?
— Sim, senhor doutor. — Sorriu e beijou‑o na face.
— E a beber leite?
Ela beijou‑lhe a outra face. — Que achas de Bryan? — perguntou‑lhe.
— Dá para menino ou para menina. Acho que Bryan Puente soa bem. É
digno sem ser demasiado pesado.
Ele ergueu as sobrancelhas. — Estou a ver que não.
— Ou então Paul — continuou ela enquanto ele se dirigia ao frigorífico.
— Claro que, nesse caso, teria de ser um menino. — Anahí viu‑o encher
um copo alto com leite. — Podemos comer agora algumas das guloseimas
da Sra. Oates? — Anahí abriu o saco. — Isto são ameixas em conserva?
— perguntou ela pegando num frasco. — Adoro ameixas em conserva.
— Ainda bem. — O Dr. Brennan entregou‑lhe o copo de leite e sorriu.
— Podes comer algumas com o leite antes de eu te examinar.
Julho chegou em menos de nada. Havia flores silvestres nos bosques e
gerânios nos vasos da janela da cozinha. À noite os grilos cantavam sem
parar. Anahí deixou‑se ficar deitada a ouvi‑los enquanto o bebé se mexia irrequietamente
dentro dela. Está com pressa de sair, pensou ela. Ou estão. O
avô tinha quase a certeza absoluta de que eram dois. Ela recusara a sugestão
dele de irem ao hospital para terem a certeza. Queria ser surpreendida.
Já há muito tempo que não dormia profundamente. O bebé não o
permitia. Os bebés não permitiam. Anahí não precisava que nenhum equipamento
sofisticado lhe dissesse que eram dois. Nenhum bebé podia ser
assim tão activo. Quando um estava a dormir, o outro estava bem acordado
e a dar pontapés. E a barriga dela estava enorme.
Pousou as mãos na barriga. Não vou chegar ao final da gravidez, pensou.
Geralmente os gémeos chegam mais cedo. Fechou os olhos e começou
de novo a devanear. Gostava dos movimentos dentro dela, gostava de saber
que havia vida a desenvolver‑se lá dentro, impaciente para vir ao mundo.
Quase conseguia imagina‑los: um menino e uma menina, com cabelo castanho
e olhos azuis‑escuros. Quando olhasse para os olhos, lembrar‑se‑ia
de Alfonso.
Ajeitou‑se de novo ao sentir uma cotovelada inequívoca. O que estaria
ele a fazer naquele momento? Que horas seriam na Califórnia? Suficientemente
cedo para ele ainda estar a trabalhar? Teria já concluído o
livro? Anahí queria muito encontrar o livro numa livraria, leva‑lo para casa
e fechar‑se com ele. Isso traria Alfonso de volta, assim como todas as horas
que tinham passado juntos no gabinete dele. Podia guarda‑lo para os filhos.
Nunca saberiam que tinha sido escrito pelo pai, mas aprenderiam a
admira‑lo e a respeita‑lo através das suas palavras. Ela queria isso para eles
e para Alfonso.
E Alison. Anahí virou‑se de barriga para cima. Tinha escrito à menina,
tal como prometera. As constantes viagens que fizera pelo país tinham
impossibilitado qualquer resposta por parte de Alison. Já não devo tardar
a ter notícias dela, pensou. Já aqui estou há quase dois meses. Escrevi‑lhe há
praticamente três semanas.
Levantou‑se da cama e dirigiu‑se à janela. A noite estava quente e
abafada, dificultando ainda mais o sono. Seria melhor se ela me esquecesse.
Agora não posso convida‑la a vir visitar‑me. Acariciou a barriga. Não have134
ria forma de lhe explicar nem de ter a certeza de que Alfonso não descobriria.
Ele vai tomar conta dela. Eu vou fazer o mesmo pelos nossos filhos.
O movimento dentro da barriga parou. Anahí regressou para a cama
e adormeceu.
…
O Dr. Brennan observava Anahí ajoelhada no chão entre fiadas de vegetais
e ervas daninhas. Ela estava resplandecente. Ele não tinha quaisquer
preocupações com ela a nível físico. Ela era a imagem de uma mulher
saudável e forte. Tinha de novo tomado as rédeas da vida com o entusiasmo
que lhe era característico. Ele sentia muito orgulho dela.
Mas tinha algumas dúvidas acerca da sensatez da decisão da neta,
embora ela não. Ele fazia tenção de falar novamente com ela acerca de Alfonso,
mas esperaria até depois do parto, quando ela se sentisse recuperada.
O bebé era a sua principal preocupação. E a mãe.
— Não sei porque plantei favas — resmungou ela arrancando uma
erva daninha. — Detesto favas, mas gosto de as ver todas dentro de um
saquinho gordo. Acho que as podia mandar torrar. — Apoiou‑se nos calcanhares
e sacudiu a terra das mãos. — Alguns dos tomates já estão maduros.
Podíamos come‑los hoje ao jantar com o milho que o Lloyd Cramer te deu
pelo apêndice. — Tapou o Sol com a mão e sorriu para ele.
— Eu fiz um bom negócio. O apêndice dele estava em mau estado.
— És tão mercenário. — Anahí levantou uma mão para o avô a ajudar
a levantar‑se e depois beijou‑o com a habitual exuberância. — Achas
que devia regar o jardim? Não choveu a semana toda.
Ele olhou para o céu. — Se regarmos o jardim, vai chover de certeza.
Dava‑nos jeito. O calor não te tem deixado dormir de noite.
— O calor, entre outras coisas. — Deu umas pancaditas na barriga.
— E, não, não estou cansada. — Riu‑se, antevendo a pergunta dele. — Tenho
energia suficiente para todos nós.
— Já bebeste o teu leite hoje?
— As minhas cenouras não estão a desenvolver‑se em condições
— respondeu Anahí. — Vou buscar a mangueira.
— Eu rego‑as esta noite quando estiver menos calor. Vai agora beber
o leite.
— Vou vomitar — ameaçou ela.
— Isso não resulta desde os teus doze anos.
Anahí semicerrou os olhos, avaliando‑o. Sabia que ele era tão teimoso
quanto ela. — Vou fazer batatas gratinadas para o jantar. E pudim de baunilha.
Isso tem leite suficiente para qualquer pessoa.
— Vais engordar.
— Já estou gorda. — Correu para dentro de casa antes que ele tivesse
tempo de comentar.
Anahí estava sentada à mesa da cozinha a descascar batatas. Uma
pequena montanha crescia à sua frente. Havia algo de tranquilizador na
simples tarefa e ela estava a descascar mais do que os dois poderiam comer
numa só refeição. Vamos ficar com sobras, concluiu olhando para o monte
de batatas. Para a semana toda. É a última, garantiu a si mesma abanando
a batata na mão. Ou teremos de convidar a vizinhança toda. Não ergueu os
olhos quando a porta se abriu, e continuou a descascar. — Talvez tenhas
de arranjar uns pacientes esfomeados — disse ela em voz alta. — Entusiasmei‑me
com isto. Sabes, já não descascam batatas no exército; uma terrível
lacuna na tradição. Têm umas máquinas…
Ergueu os olhos e paralisou.
Alfonso viu a cor esvair‑se lentamente do rosto dela. Viu puro choque
nos seus olhos, e medo também. O medo provocou‑lhe um aperto no estômago.
Anahí largou a faca e enfiou as mãos debaixo da mesa.
Oh, meu Deus! – pensou desesperada. O que é que eu digo? O que é
que eu faço?
Ele não disse nada, mas os olhos estavam fixos no rosto dela. O cabelo
estava mais comprido, já quase a tocar‑lhe nos ombros, reparou Alfonso.
Quando é que ela tinha ficado assim tão linda? Ela já era atraente, interessante,
inesquecível. Mas quando é que tinha ficado linda? Não conseguia
tirar os olhos da cara dela. Quanto tempo esperara para a ver de novo? Para
a ver iluminar‑se para si. Mas, naquele momento, o rosto de Anahí não estava
luminoso e a expressão era de terror. A culpa era sua, mas ainda não
era tarde de mais. Não podia ser. Todos aqueles meses de desespero não
podiam ter sido em vão.
Seria a pele dela tão macia quanto se lembrava? Encolher‑se‑ia ela se
tentasse tocar‑lhe? Alfonso estava com medo de experimentar e só conseguia
olhar para ela.
Prévia do próximo capítulo
Anahí entrelaçou as mãos com força por debaixo da mesa. Tinha de fazer alguma coisa, dizer alguma coisa. Esperou um momento até ter a certeza de que a voz não iria vacilar. — Olá, Alfonso. — Sorriu para ele enquanto cravava as unhas nas palmas das mãos. — Estás de passagem? Ele deu alguns p ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 30
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Angel_rebelde Postado em 25/05/2014 - 00:52:29
Adooorei sua fic. No começo não tive tanto encantamento mas bastou mais uns capítulos para me encantar. Foi lindo ver o qnto Anny mudou a vida da pequena Allison com sua ternura e a de Poncho tbm pois o mesmo tbm era mto triste antes da chegada dela. A entrega q tiveram foi única e resultou em momentos únicos para os dois. Formaram uma linda família, quase foi estragada pela inveja da mãe dele mas o amor entre eles venceu as barreiras. Adoorei a história. =))
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kikaherrera Postado em 21/10/2009 - 01:42:38
LINDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
AMEI ESSA WEB. -
annytha Postado em 19/10/2009 - 18:34:15
adoro sua web, é demais
posta +++++++ -
annytha Postado em 14/10/2009 - 10:48:53
vai desiste dessa web?
por favor continua vai -
annytha Postado em 18/02/2009 - 15:03:38
posta +++++++++++++++++++
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mariahsouza Postado em 17/02/2009 - 19:45:05
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mariahsouza Postado em 15/02/2009 - 14:00:29
POOSSTTAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
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mariahsouza Postado em 14/02/2009 - 17:26:49
Q
U
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R
O
M
A
I
S -
vitoria10 Postado em 14/02/2009 - 17:08:41
AMEIIIII
POSTA MAIS!!!!!!!!!!! -
vitoria10 Postado em 14/02/2009 - 17:08:41
AMEIIIII
POSTA MAIS!!!!!!!!!!!