Fanfics Brasil - O Lago dos Sonhos AyA [TERMINADA]

Fanfic: O Lago dos Sonhos AyA [TERMINADA]


Capítulo: 22? Capítulo

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A dor era esmagadora.  Ouviu o suave, sutil som de seus soluços enquanto se abraçava ali, incapaz de mover-se, incapaz de pensar.


Então ouviu o Jipe, patinando até deter-se de repente no caminho de acesso, seus rodas espalhando cascalho.  Ela se congelou, o terror correndo como água gelada através de suas veias.  Ele estava aqui.  Deveria ter recordado que tinha os mesmos sonhos que ela; ele sabia que ela sabia desses últimos momentos de pesadelo sob a água.  Não podia nem começar a pensar o que ele tratava de conseguir repetindo uma e outra vez sua morte através das épocas, mas repentinamente não teve dúvida de que, se ficava ali, dentro de pouco suportaria o mesmo destino outra vez.  Depois desse último sonho, não havia forma de que ele pudesse lhe tirar o medo com enganos da forma que o tinha feito antes.


Saltou fora de cama, sem perder tempos pegando roupas.  Seus pés nus foram silenciosos enquanto corria a toda pressa fora do dormitório, através da sala de estar, e à cozinha.  Alcançou a porta traseira ao mesmo tempo que seu grande punho caía pesadamente contra a dianteira. 


-Any.-  Sua profunda voz era enérgica, mas controlada, como se tratasse de convencê-la de que não estava em nenhum perigo.


As profundas sombras do cedo amanhecer ainda amortalhavam os quartos, a cinzenta luz era muito fraco para penetrar além das janelas.  Como um pequeno animal tratando de passar desapercebido ante um predador, Any se manteve imóvel, sua cabeça erguida enquanto escutava o mais leve som de seus movimentos.


Podia sair inadvertidamente pela porta traseira sem fazer algum ruído traiçoeiro?  Ou estava ele inclusive agora movendo-se silenciosamente ao redor da casa para provar esta mesma porta?  O pensamento de abrir a porta e encontrar-se frente a frente com ele fez que seu sangue corresse até mais frio do que já estava.


-Any, me escute.


Ainda estava no alpendre dianteiro.   Any procurou apalpando a corrente, rezando que suas trêmulas mãos não a traíssem.   Encontrou a ranhura e lenta, angustiosamente, deslizou a corrente até abri-la, mantendo os elos em sua mão para que não tintiritassem.  Logo tratou de alcançar o ferrolho.


-Não é o que pensa, querida.  Não me tenha medo, por favor.  Confia em mim.


Confiar nele!  Quase riu em voz alta, a borbulha histérica ascendendo apesar de seus melhores esforços.  Finalmente conteve o som.  Ele havia dito isso tão freqüentemente que as duas palavras se converteram em uma letanía.  Uma e outra vez ela tinha acreditado nele com seu coração, seu corpo, a vida de seu menino e cada vez ele se tornou em seu contrário. Encontrou o ferrolho, abriu-o silenciosamente.


-Any, sei que está acordada.  Sei que pode me ouvir.


Ela abriu a porta pouco a pouco, contendo o fôlego contra qualquer chiado que o alertaria.  Uma polegada de espaço revelado, luz cinza aparecendo através da ranhura.  O amanhecer se aproximava mais a cada segundo, trazendo consigo a brilhante luz que lhe impossibilitaria esconder-se dele.  Não tinha as chaves do carro, compreendeu, e o conhecimento quase a congelou no lugar.  Mas não se atreveu a retornar por elas; teria que escapar a pé.  Poderia ser mais conveniente de qualquer maneira.  Se estivesse no carro, então ele poderia segui-la facilmente. Sentia-se muito mais vulnerável a pé, mas esconder-se seria muito mais fácil.


Finalmente a porta esteve  suficientemente aberta para que pudesse escapulir-se.  Conteve seu fôlego enquanto deixava a precária segurança da casa.  Queria acovardar-se detrás de suas paredes, mas sabia que ele logo romperia uma janela e entraria, ou derrubaria a patadas a porta.  Ele era um guerreiro, um assassino.  Poderia entrar.  Não estava a salvo ali.


O pórtico de atrás não estava cercado, simplesmente alguns tábuas com um toldo no alto para manter a chuva longe.  Havia uma porta de malha metálica ali, também.  Cautelosamente abriu o ferrolho, e começou o tortuoso processo de abri-la, os nervos mais e mais tensos.  Ferozmente se concentrou, cravando os olhos na mola em espiral, desejando silenciá-lo.  Houve um diminuto chiado, um que não pôde ter sido audível mais que a uns poucos pés de distância, mas o suor umedeceu seu corpo.  Uma polegada, duas polegadas, seis.  A abertura se alargou.  Oito polegadas.  Nove.  Começou a escapulir-se.


Alfonso apareceu de um lado da casa.  Viu-a e deu um salto para frente, como uma grande besta caçadora.


Any gritou e saltou para trás, fechando de um golpe a porta da cozinha e apalpando nervosamente o ferrolho.  Muito tarde!  Ele passaria por essa porta, fechada ou não.  Ela sentiu sua determinação e deixou o ferrolho sem correr, escolhendo em troca um segundo adicional de tempo enquanto corria a toda pressa até a porta principal.


A porta traseira se abriu de um golpe justo quando ela alcançava a frente.  Estava ainda fechado com chave.  Seu peito se elevou com pânico, sua respiração superficial.  Seus trêmulos e entorpecidos dedos trataram de manipular a fechadura, o ferrolho.


-Any! - sua voz cresceu, reverberando com fúria.


Soluçando, ela abriu a porta com uma sacudida e se jogou no alpendre, separando-se de um empurrão a porta externa de malha metálica, também, lançando-se através dela, tropeçando, caindo de joelhos na alta, molhada erva.


Ele atravessou a porta principal.  Ela engatinhou até ficar de pé, subiu a barra de sua camisola até seus joelhos, e correu em busca da estrada.


-Maldita seja, me escute! - Gritou ele, correndo depressa para lhe cortar o passo.  Girou enquanto ele se equilibrava diante dela, mas ele as arrumou uma vez mais para interpor-se entre ela e a estrada. O desespero nublava sua vista; os soluços a estrangulavam.  Estava encurralada.  Ia matá-la, e outra vez estava indefesa para proteger-se.


Deixou cair sua camisola, as dobras cobrindo seus pés, enquanto cravava a vista nele com os olhos nublados em lágrimas.  A luz cinza era mais forte agora; podia ver a ferocidade de seus olhos, os rasgos de sua mandíbula, o brilho de suor em sua pele. Usava apenas um par de calças jeans.  Nem camisa, nem sapatos.  Seu poderoso peito subia e abaixava com sua respiração, mas não estava em absoluto sem fôlego, enquanto que ela estava exausta.  Não tinha oportunidade contra ele.


Lentamente começou a afastar-se dele retrocedendo, a dor em seu interior desdobrando-se até que tudo o que podia fazer era respirar, para que seu coração seguisse pulsando.


 -Como pôde? –Soluçou, engasgando-se com as palavras.  -Nosso bebê... Como pôde?


-Any, me escute. –Ele estendeu suas mãos em um gesto aberto que queria reconfortá-la, mas ela sabia muito a respeito dele para ser enganada.  Ele não necessitava uma arma; podia matar com suas mãos nuas. -Se acalme, querida. Sei que está aborrecida, mas venha para dentro comigo e falaremos.


Furiosamente ela limpou as lágrimas de suas bochechas. 


-Falar!  Do que serviria isso? –gritou. -Nega o que ocorreu? Não só me matou, matou nosso filho, também! -voltou a retroceder a dor muito intensa para deixá-la permanecer inclusive assim de perto dele.  Sentia como se estivesse sendo rasgada por dentro, a pena tão crua que sentia que daria a bem-vinda à morte agora, para escapar desta horrível dor.


Ele olhou além dela, e sua expressão se alterou, mudou.  Uma curiosa inexpressividade se instalou em seus olhos. Seu corpo inteiro tenso enquanto parecia reunir-se a si mesmo, como se estivesse a ponto de saltar. 


-Está muito perto da água. –disse com voz lacônica, sem emoção. -Se afaste da borda.


Any arriscou um rápido olhar sobre seu ombro, e viu que estava na perto da borda o afresco, mortífero lago lambendo perto de seus pés nus. Suas lágrimas nublaram a imagem, mas estava ali, esperando silenciosamente para reclamá-la.


O irracional medo do lago a inundou, mas era como nada comparado contra a implacável pena por seu filho. Mudou o ângulo de sua retirada, movendo-se para o cais.  Alfonso avançou no mesmo passo que ela, sem avançar mais perto, mas sem lhe deixar nenhuma via de escapamento, tampouco.  A inevitabilidade de tudo isto caiu sobre ela. Tinha pensado que poderia ser mais esperta que o destino, mas seus esforços tinham sido inúteis desde o começo.


Seus pés nus tocaram madeira, e retrocedeu sobre o cais.  Alfonso se deteve, seu olhar água-marinha ancorada nela.


-Não vá mais longe. –disse ele bruscamente. -O cais não é seguro. Algumas das pranchas estão podres e soltas.  Sai do cais, baby.  Vem a mim.  Juro que não te machucarei.


Baby.  Fragmentos de dor estilhaçaram suas vísceras, e gemeu em voz alta, sua mão indo a seu estômago como se seu bebê ainda descansasse ali.  Desesperadamente se afastou dele retrocedendo, negando com a cabeça. Ele colocou um pé no cais. 


-Não posso trazer de volta a esse menino. –disse rouco. -Mas lhe darei outro.  Teremos quantos meninos quiser. Não me deixe desta vez, Any.  Pelo amor de Deus, vamos sair deste cais.


-Por quê? –As lágrimas ainda nublavam sua vista, correndo por suas bochechas, um poço sem fundo de pena. -Por que postergá-lo?  Por que não terminá-lo agora? –moveu-se para trás ainda mais, sentindo as pranchas chiar e ceder sob seus pés nus.  A água era muito profunda no fim do cais; tinha sido perfeito para três meninos buliçosos mergulhar-se e pular dentro, sem temor de golpear suas cabeças no fundo.  Se ela estava destinada a morrer aqui, então assim seja. Água. Sempre era água.  Ela sempre a tinha amado, e sempre a tinha reclamado ao final.


Alfonso lentamente deu um passo adiante, nunca tirando seus olhos dela, sua mão estendida. 


-Por favor. Simplesmente pegue minha mão, querida.  Não retroceda mais. Não é seguro


-Se afaste de mim!- gritou ela.


-Não posso.-  Seus lábios apenas se moveram. -Nunca pude. –Ele deu outro passo.  -Any...


Apressadamente, ela retrocedeu.  O cais cedeu sob seu peso, logo começou a gretar-se.  Sentiu um lado desabar-se debaixo dela, lançando a de flanco à água. Só teve uma imprecisa, confusa imagem do Alfonso saltando para frente, seu rosto deformando-se com indefesa fúria, antes que a água se fechasse sobre sua cabeça.


Estava frio, lôbrego.  Ela descendeu, devorada por alguma mão inadvertida.  A escuridão da água tomava conta de tudo a medida que ela descia e se aprofundava.  Depois de todo o terror e da dor, era quase um alívio terminar, e por um longo momento simplesmente se rendeu ao inevitável.  Logo o instinto tomou o mando, tão irresistível como era inútil, e começou a lutar, tratando de abrir-se caminho para a superfície.  Mas sua camisola estava enredada ao redor de suas pernas, devorando-a mais apertadamente quanto mais lutava, e compreendeu que o tinha enganchado nas pranchas quebradas.  As pranchas estavam devorando-a para baixo, e com suas pernas apanhadas não podia gerar suficiente energia para rebater seu arrasto.


Se pudesse ter rido, o teria feito.  Desta vez, Alfonso não teria que fazer nada. As tinha arrumado para fazer o trabalho ela mesma.  Mesmo assim, não deixou de lutar, tentando nadar contra o arrasto das pranchas.


A superfície se agitou com seu mergulho, quando ele atravessou a água justo a sua esquerda. A visibilidade era pobre, mas ela podia ver o brilho de sua pele, a escuridão de seu cabelo. A divisou imediatamente, o branco de sua camisola delatando sua posição, e curvou seu corpo em sua direção.


A fúria a atravessou como uma lança. Ele simplesmente tinha que vê-lo; não podia deixar que o lago fizesse seu trabalho sem sua contribuição.  Provavelmente queria assegurar-se de que ela não pudesse liberar-se.


Levantou suas mãos para defender-se dele, redobrando seus esforços para alcançar a superfície.  Estava consumindo todo o oxigênio em suas resistências, e seus pulmões estavam ardendo, elevando-se com a necessidade de inspirar.  Alfonso apanhou suas mãos que se agitavam violentamente e começou a empurrá-la para baixo, abaixo, mais longe da luz, da vida.


Any viu seus olhos, calmos e remotos, cada átomo de seu ser concentrado no que estava fazendo. Ficava pouco tempo, tão pouco tempo.  A dor se formou redemoinhos em seu interior, e a fúria ante o que era seu destino, apesar de seus esforços.  Desesperadamente tratou de liberar-se dele, usando o último de sua resistência para um esforço final...


Apesar de tudo, sempre o tinha amado muitíssimo, além da razão, inclusive além da morte.


Essa era uma dor inclusa mais profunda: o conhecimento de que o estava deixando para sempre. Seus olhares se encontraram através do véu de lôbrega água, seu rosto tão perto do dele que poderia havê-lo beijado, e através da crescente escuridão viu sua angústia refletida nos olhos dele. Confia em mim, havia-lhe dito ele repetidamente. Confia em mim... Inclusive fazendo frente a uma entristecedora evidência do contrário.  Confia em mim. Confiar nele.



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Autor(a): theangelanni

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A compreensão se estendeu por Any como uma queimadura de sol.  Confiança.  Nunca tinha sido capaz de confiar nele, ou em seu amor por ela.  Tinham sido como dois cautelosos animais, desejando estar juntos, mas sem atrever-se a deixar-se ser vulneráveis ao outro.  Não tinham acreditado. E tinham pago o preço. Confiar nele ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 30



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  • jl Postado em 13/06/2011 - 10:11:32

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA eu li *--*
    Amei a historia, finalmente um final feliz =)

  • jl Postado em 13/06/2011 - 10:11:28

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA eu li *--*
    Amei a historia, finalmente um final feliz =)

  • jl Postado em 13/06/2011 - 10:11:25

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA eu li *--*
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  • jl Postado em 13/06/2011 - 10:11:22

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  • jl Postado em 13/06/2011 - 10:11:18

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  • jl Postado em 13/06/2011 - 10:11:15

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  • jl Postado em 13/06/2011 - 10:11:13

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  • jl Postado em 13/06/2011 - 10:11:10

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA eu li *--*
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  • jl Postado em 13/06/2011 - 10:11:06

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA eu li *--*
    Amei a historia, finalmente um final feliz =)

  • jasmine Postado em 12/03/2009 - 08:15:53

    Uau!!
    com a sua maneira de escrever dá pra fazer um livro :D
    muito linda ficou!!!
    parabéns!!


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