Fanfic: Desligamento | Tema: Original
Afundei-me na cama indignada com a insistência de Laura, chateada com o desaparecimento de Álvaro, e furiosa com toda minha vida. Fechei os olhos e vi tudo acontecer novamente em minha mente desde que tudo aquilo começou…
Tudo começou quando eu ainda era criança. Eu era uma garotinha muito tímida e quase não me comunicava. Assim que entrei na escola, o contato com outras pessoas (professores e alunos) tornou-se inevitável.
Lembro brevemente do meu primeiro dia de aula na pré-escola… Minha mãe me deixou com a professora na porta da sala, havíamos chegado atrasadas, morávamos em São Paulo e o caminho até o colégio era um pouco distante.
Se eu disser que lembro o nome da professora seria desonesta, porém lembro nitidamente de suas feições. Ela era branca, de cabelos lisos e escuros, parecia jovem, porém triste e tinha uma cara de tédio… Despedi de minha mãe morrendo de medo, acho que era a primeira vez que estava ficando sozinha com pessoas desconhecidas.
A professora me guiou sala à dentro, disse para que me senta-se, no entanto fiquei em pé. Observei vários meninos e meninas brincando e conversando como se já se conhecessem há anos e achei que seria melhor esperar que algum deles me convidasse. Fiquei em pé, esperando por um bom tempo e ninguém sequer me notou. A professora foi separar dois meninos que começaram a brigar e eu fiquei esquecida ali.
Posso descrever o que senti naquele momento como se estivesse ocorrendo agora, posso sentir os mesmos sentimentos só de lembrar… Uma bola parou em minha garganta e senti um frio no estômago me deixando enjoada, uma dor no peito e uma sensação de estar invisível me dominaram. Comecei a pensar que só minha família podia me ver… Comecei a sentir medo.
Fiquei com medo de não poder ser vista pelos outros alunos e tive vontade de correr para os braços de minha mãe, de ir embora para casa… Mas, quando me virei para porta, minha mãe não estava mais lá e fiquei com mais medo ainda. Tive medo de que ela não estivesse me esperando na hora de ir embora, que nunca mais fosse vê-la… Comecei a chorar e a sentir falta de ar. Eu tinha asma.
De repente uma mão tocou meu ombro, tranquilizando-me aos poucos como um anjo, me virei assustada, secando o rosto com as mãos para esconder as lágrimas. Um menino moreno, de cabelos castanhos escuros, olhos verdes e com os dentes da frente levemente tortos, sorrindo me diz:
– Sou Álvaro. E você?
– Julieta.
– Sente-se aqui. – ele aponta para uma cadeira vazia ao lado da dele, no meio da sala.
–Brigada. – agradeci colocando minha bolsa sobre a mesa – O que tem que fazer?
– Antes de você chegar, a professora nos ensinou a fazer bichinhos com massinha.
– Como que faz? – fiquei com vergonha de chamar a professora, teria de falar alto e isso chamaria a atenção de todos para mim, então achei melhor perguntar para ele mesmo.
– Com quem você esta falando? – uma garota de cabelos castanhos e lisos, sentada próxima a mim pergunta olhando-me assustada.
– Com o Ál… Ál… Com ele. – eu disse apontando onde Álvaro estava, pois não conseguia pronunciar o nome dele.
– Mas não tem ninguém ali. – disse a menina com tom sério – Senta comigo, meu nome é Carolina. – disse pegando minha bolsa e colocando na carteira ao lado da dela.
Achei normal ela não ter visto-o, ninguém havia me visto quando entrei na sala, ele havia sido o único a ver. Quis ficar, mas ele disse para que eu fosse sentar ao lado dela. Às vezes observava Ál sentado sozinho enquanto todos brincavam inclusive eu, me senti má por deixá-lo sozinho.
– Cá, vamos chamar o Ál para sentar aqui. – eu disse apontando para o menino, onde na realidade não havia nada nem ninguém.
– Não! – ela me responde séria, se levantando e indo falar com a professora, voltando logo em seguida.
Voltamos a brincar com a massinha de modelar até cansarmos e trocarmos de brincadeiras várias vezes, mas eu continuava a olhar Ál sempre que podia. Demorou uma eternidade até o sinal tocar para irmos embora. Cada aluno só podia sair da sala quando algum familiar chegasse para buscá-lo, assim que a minha mãe chegou, corro em direção a ela abraçando-a pela cintura.
“Ela se lembrou de mim!” – pensei.
– Dona Evelyn, a senhora teria um momento para falar comigo, por favor? É importante. – diz a professora com uma voz um pouco preocupada.
– Claro, é sobre minha filha? – e a professora apenas fez que sim com a cabeça.
Elas conversaram por algum tempo e depois fomos embora antes que os pais de Ál viessem buscá-lo. No caminho para casa minha mãe questionou sobre ele.
– Ál é um menino da minha sala.
– E ele é legal com você?
– Sim.
Contei a ela tudo o que havia ocorrido e minha mãe apenas sorriu de uma forma que até então, eu nunca havia visto.
No segundo dia de aula, eu não quis ir à escola, o primeiro dia havia sido ruim e fiquei com medo que o outro também fosse. Minha mãe cedeu, mas convenceu-me a ir ao terceiro dia, que foi muito pior que o primeiro. Todos sentaram longe de mim e ficaram cochichando enquanto me olhavam. Alguns meninos me chamavam de louca.
Ál novamente foi o único a me acolher, me acenando assim que entrei na sala. Sentei ao lado dele, dessa vez no fundo da sala, afastada de todos.
– Silêncio! A Julieta não é o que vocês estão falando. Ela é apenas uma garota especial. Sejam bonzinhos e convidem sua amiguinha para sentar perto de vocês! – disse a professora tentando controlar a situação.
Alguns alunos convidaram-me para sentar com eles, eu não quis ir, estavam fazendo isso só por que a professora mandou-os. Ál me disse que era melhor eu conhecer os outros alunos antes de criticá-los, então achei melhor ir. A professora deixou os meninos que me xingaram em pé, olhando para parede enquanto todos se divertiam brincando, menos eu.
Os outros dias continuaram iguais ao terceiro. Eu passei a sentar próximo aos outros alunos e Álvaro distante. De acordo o tempo foi passando, cada um foi encontrando um amigo e eu fui ficando esquecida… Ál, era o meu amigo.
Minha mãe havia me ensinado a rezar, ela dizia que se pedisse do fundo do coração, os anjos realizariam o pedido. Passei então a rezar todos os dias na hora de dormir, pedindo ao meu anjinho que Ál voltasse a falar comigo. Algumas semanas depois Álvaro e eu voltamos a conversar, mas só quando não havia ninguém por perto. Mesmo assim, aquilo me deixou muito feliz.
A preocupação de minha mãe diminuiu assim que a professora contou que eu não falava mais do meu amiguinho imaginário na sala de aula, mas continuava me perguntando sobre ele, atenta a cada detalhe.
Nos anos seguintes, pouca coisa mudou. Comecei a pegar livrinhos infantis na biblioteca para ler durante o recreio, Álvaro que continuou me acompanhando na escola, às vezes vinha em casa me ajudar a fazer tarefas.
Minha mãe passou a me colocar em todos os tipos de cursos extracurriculares que se pode imaginar, afim de que eu fizesse alguns amigos “de verdade” e parasse de falar com meu “amigo invisível” (como ela dizia). Nada adiantou, nem mesmo as aulas de meditação, que segundo a psicóloga que passei a frequentar toda semana, iriam me ajudar entrar em equilíbrio de espírito e me aproximar mais das outras pessoas.
Mesmo não tendo ajudado em nada para minha relação em sociedade ou para me distanciar de Álvaro, descobri um pouco sobre mim e das coisas que eu gostava de fazer. Por isso, com o tempo deixei todos as outras aulas, continuando apenas com arte e meditação.
Como eu era muito introspectiva, meus pais acharam que seria melhor nos mudarmos para o interior. “Será melhor para Julieta, morar em uma cidade pequena, sem muito movimento, com pessoas pacatas que possam aceitá-la”. – diziam eles.
Foi então nos mudamos para Jales… E Álvaro também se mudou.
Autor(a): Garotas de Jales
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Nos primeiros dias achei que seria diferente, eu teria um novo começo, mas as coisas não mudam se você não mudar e eu não mudei. Além disso, as crianças da escola pública eram um pouco brutas demais comparadas a minha antiga escola particular... No Alfonse os alunos eram finos, ninguém corria pelo pátio no ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 15
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lena_rico Postado em 22/05/2013 - 06:44:08
Muito, obrigada por votar Giovana :D Beijinhos *-*
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giovana74 Postado em 21/05/2013 - 19:00:34
Eu votei na enquete :)
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lena_rico Postado em 16/05/2013 - 15:08:48
Oi pessoal, gostariamos que vocês acesassem o nosso blog e respondessem a enquete: http://lenaeanapouch.wordpress.com/enquete-desligamento/
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lena_rico Postado em 16/05/2013 - 15:07:24
Oi querida Giovana, muito obrigada por seus elogios! Acho que uma das coisas que ajudam bastante para escrever uma boa história é ler e ler muito mesmo. Também é bom se inspirar nas suas histórias preferidas, na sua própria vida e falar de lugares que você realmente conhece para não pecar na descrição. Na hora em que for escrever solte a imaginação, não fique pensando em escrever bem, mas sim em escrever o que esta sentindo no momento. Esperamos ter respondido sua pergunta. Beijinhos Lena Rico e Ana Valentina
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giovana74 Postado em 15/05/2013 - 23:44:36
como fazer pa escrever tão bem assim?? Ah e não demora pra postar não por favor!!!
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lena_rico Postado em 15/04/2013 - 14:12:06
Oi queridas(os) leitores, desculpem a demora. Mas faremos o possível para postar mais um capítulo essa semana. Por favor nos desculpem, tivemos uns pequenos imprevistos que acabaram nos atrapalhando um pouco. Esperamos que compreendam. Beijinhos Lena e Ana
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giovana74 Postado em 12/04/2013 - 21:02:42
Posta mais! E esses pesadelos??
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giovana74 Postado em 09/04/2013 - 01:10:01
Além de comentários mais leitoras também,pq a história é ótima!
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karolinedyc Postado em 02/04/2013 - 21:02:24
Posta mais posta mais! tá cada vez melhor,vcs deviam receber mais comentários pq a história é ótima! +1 Concordo ; )
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lena_rico Postado em 18/03/2013 - 22:25:51
Oi gostaria de mostrar a vocês nossa entrevista com o blog Jornalismo na Alma sobre o romance Desligamento. Acesse a entrevista por aqui: http://lenaeanapouch.wordpress.com/2013/03/18/entrevista-com-o-jornalismo-na-alm a/