Fanfics Brasil - Capítulo 2 Desligamento

Fanfic: Desligamento | Tema: Original


Capítulo: Capítulo 2

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Afundei-me na cama indignada com a insistência de Laura, chateada com o desaparecimento de Álvaro, e furiosa com toda minha vida. Fechei os olhos e vi tudo acontecer novamente em minha mente desde que tudo aquilo começou…


Tudo começou quando eu ainda era criança. Eu era uma garotinha muito tímida e quase não me comunicava. Assim que entrei na escola, o contato com outras pessoas (professores e alunos) tornou-se inevitável.


Lembro brevemente do meu primeiro dia de aula na pré-escola… Minha mãe me deixou com a professora na porta da sala, havíamos chegado atrasadas, morávamos em São Paulo e o caminho até o colégio era um pouco distante.


Se eu disser que lembro o nome da professora seria desonesta, porém lembro nitidamente de suas feições. Ela era branca, de cabelos lisos e escuros, parecia jovem, porém triste e tinha uma cara de tédio… Despedi de minha mãe morrendo de medo, acho que era a primeira vez que estava ficando sozinha com pessoas desconhecidas.


A professora me guiou sala à dentro, disse para que me senta-se, no entanto fiquei em pé. Observei vários meninos e meninas brincando e conversando como se já se conhecessem há anos e achei que seria melhor esperar que algum deles me convidasse. Fiquei em pé, esperando por um bom tempo e ninguém sequer me notou. A professora foi separar dois meninos que começaram a brigar e eu fiquei esquecida ali.


Posso descrever o que senti naquele momento como se estivesse ocorrendo agora, posso sentir os mesmos sentimentos só de lembrar… Uma bola parou em minha garganta e senti um frio no estômago me deixando enjoada, uma dor no peito e uma sensação de estar invisível me dominaram. Comecei a pensar que só minha família podia me ver… Comecei a sentir medo.


Fiquei com medo de não poder ser vista pelos outros alunos e tive vontade de correr para os braços de minha mãe, de ir embora para casa… Mas, quando me virei para porta, minha mãe não estava mais lá e fiquei com mais medo ainda. Tive medo de que ela não estivesse me esperando na hora de ir embora, que nunca mais fosse vê-la… Comecei a chorar e a sentir falta de ar. Eu tinha asma.


De repente uma mão tocou meu ombro, tranquilizando-me aos poucos como um anjo, me virei assustada, secando o rosto com as mãos para esconder as lágrimas. Um menino moreno, de cabelos castanhos escuros, olhos verdes e com os dentes da frente levemente tortos, sorrindo me diz:


– Sou Álvaro. E você?


– Julieta.


– Sente-se aqui. – ele aponta para uma cadeira vazia ao lado da dele, no meio da sala.


Brigada. – agradeci colocando minha bolsa sobre a mesa – O que tem que fazer?


– Antes de você chegar, a professora nos ensinou a fazer bichinhos com massinha.


– Como que faz? – fiquei com vergonha de chamar a professora, teria de falar alto e isso chamaria a atenção de todos para mim, então achei melhor perguntar para ele mesmo.


– Com quem você esta falando? – uma garota de cabelos castanhos e lisos, sentada próxima a mim pergunta olhando-me assustada.


– Com o Ál… Ál… Com ele. – eu disse apontando onde Álvaro estava, pois não conseguia pronunciar o nome dele.


– Mas não tem ninguém ali. – disse a menina com tom sério – Senta comigo, meu nome é Carolina. – disse pegando minha bolsa e colocando na carteira ao lado da dela.


Achei normal ela não ter visto-o, ninguém havia me visto quando entrei na sala, ele havia sido o único a ver. Quis ficar, mas ele disse para que eu fosse sentar ao lado dela. Às vezes observava Ál sentado sozinho enquanto todos brincavam inclusive eu, me senti má por deixá-lo sozinho.


– Cá, vamos chamar o Ál para sentar aqui. – eu disse apontando para o menino, onde na realidade não havia nada nem ninguém.


– Não! – ela me responde séria, se levantando e indo falar com a professora, voltando logo em seguida.


Voltamos a brincar com a massinha de modelar até cansarmos e trocarmos de brincadeiras várias vezes, mas eu continuava a olhar Ál sempre que podia. Demorou uma eternidade até o sinal tocar para irmos embora. Cada aluno só podia sair da sala quando algum familiar chegasse para buscá-lo, assim que a minha mãe chegou, corro em direção a ela abraçando-a pela cintura.


“Ela se lembrou de mim!” – pensei.


– Dona Evelyn, a senhora teria um momento para falar comigo, por favor? É importante. – diz a professora com uma voz um pouco preocupada.


– Claro, é sobre minha filha? – e a professora apenas fez que sim com a cabeça.


Elas conversaram por algum tempo e depois fomos embora antes que os pais de Ál viessem buscá-lo. No caminho para casa minha mãe questionou sobre ele.


– Ál é um menino da minha sala.


– E ele é legal com você?


– Sim.


Contei a ela tudo o que havia ocorrido e minha mãe apenas sorriu de uma forma que até então, eu nunca havia visto.


No segundo dia de aula, eu não quis ir à escola, o primeiro dia havia sido ruim e fiquei com medo que o outro também fosse. Minha mãe cedeu, mas convenceu-me a ir ao terceiro dia, que foi muito pior que o primeiro. Todos sentaram longe de mim e ficaram cochichando enquanto me olhavam. Alguns meninos me chamavam de louca.


Ál novamente foi o único a me acolher, me acenando assim que entrei na sala. Sentei ao lado dele, dessa vez no fundo da sala, afastada de todos.


– Silêncio! A Julieta não é o que vocês estão falando. Ela é apenas uma garota especial. Sejam bonzinhos e convidem sua amiguinha para sentar perto de vocês! – disse a professora tentando controlar a situação.


Alguns alunos convidaram-me para sentar com eles, eu não quis ir, estavam fazendo isso só por que a professora mandou-os. Ál me disse que era melhor eu conhecer os outros alunos antes de criticá-los, então achei melhor ir. A professora deixou os meninos que me xingaram em pé, olhando para parede enquanto todos se divertiam brincando, menos eu.


Os outros dias continuaram iguais ao terceiro. Eu passei a sentar próximo aos outros alunos e Álvaro distante. De acordo o tempo foi passando, cada um foi encontrando um amigo e eu fui ficando esquecida… Ál, era o meu amigo.


Minha mãe havia me ensinado a rezar, ela dizia que se pedisse do fundo do coração, os anjos realizariam o pedido. Passei então a rezar todos os dias na hora de dormir, pedindo ao meu anjinho que Ál voltasse a falar comigo. Algumas semanas depois Álvaro e eu voltamos a conversar, mas só quando não havia ninguém por perto. Mesmo assim, aquilo me deixou muito feliz.


A preocupação de minha mãe diminuiu assim que a professora contou que eu não falava mais do meu amiguinho imaginário na sala de aula, mas continuava me perguntando sobre ele, atenta a cada detalhe.


Nos anos seguintes, pouca coisa mudou. Comecei a pegar livrinhos infantis na biblioteca para ler durante o recreio, Álvaro que continuou me acompanhando na escola, às vezes vinha em casa me ajudar a fazer tarefas.


Minha mãe passou a me colocar em todos os tipos de cursos extracurriculares que se pode imaginar, afim de que eu fizesse alguns amigos “de verdade” e parasse de falar com meu “amigo invisível” (como ela dizia). Nada adiantou, nem mesmo as aulas de meditação, que segundo a psicóloga que passei a frequentar toda semana, iriam me ajudar entrar em equilíbrio de espírito e me aproximar mais das outras pessoas.


Mesmo não tendo ajudado em nada para minha relação em sociedade ou para me distanciar de Álvaro, descobri um pouco sobre mim e das coisas que eu gostava de fazer. Por isso, com o tempo deixei todos as outras aulas, continuando apenas com arte e meditação.


Como eu era muito introspectiva, meus pais acharam que seria melhor nos mudarmos para o interior. “Será melhor para Julieta, morar em uma cidade pequena, sem muito movimento, com pessoas pacatas que possam aceitá-la”. – diziam eles.


Foi então nos mudamos para Jales… E Álvaro também se mudou.



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Autor(a): Garotas de Jales

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Nos primeiros dias achei que seria diferente, eu teria um novo começo, mas as coisas não mudam se você não mudar e eu não mudei. Além disso, as crianças da escola pública eram um pouco brutas demais comparadas a minha antiga escola particular... No Alfonse os alunos eram finos, ninguém corria pelo pátio no ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 15



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  • lena_rico Postado em 22/05/2013 - 06:44:08

    Muito, obrigada por votar Giovana :D Beijinhos *-*

  • giovana74 Postado em 21/05/2013 - 19:00:34

    Eu votei na enquete :)

  • lena_rico Postado em 16/05/2013 - 15:08:48

    Oi pessoal, gostariamos que vocês acesassem o nosso blog e respondessem a enquete: http://lenaeanapouch.wordpress.com/enquete-desligamento/

  • lena_rico Postado em 16/05/2013 - 15:07:24

    Oi querida Giovana, muito obrigada por seus elogios! Acho que uma das coisas que ajudam bastante para escrever uma boa história é ler e ler muito mesmo. Também é bom se inspirar nas suas histórias preferidas, na sua própria vida e falar de lugares que você realmente conhece para não pecar na descrição. Na hora em que for escrever solte a imaginação, não fique pensando em escrever bem, mas sim em escrever o que esta sentindo no momento. Esperamos ter respondido sua pergunta. Beijinhos Lena Rico e Ana Valentina

  • giovana74 Postado em 15/05/2013 - 23:44:36

    como fazer pa escrever tão bem assim?? Ah e não demora pra postar não por favor!!!

  • lena_rico Postado em 15/04/2013 - 14:12:06

    Oi queridas(os) leitores, desculpem a demora. Mas faremos o possível para postar mais um capítulo essa semana. Por favor nos desculpem, tivemos uns pequenos imprevistos que acabaram nos atrapalhando um pouco. Esperamos que compreendam. Beijinhos Lena e Ana

  • giovana74 Postado em 12/04/2013 - 21:02:42

    Posta mais! E esses pesadelos??

  • giovana74 Postado em 09/04/2013 - 01:10:01

    Além de comentários mais leitoras também,pq a história é ótima!

  • karolinedyc Postado em 02/04/2013 - 21:02:24

    Posta mais posta mais! tá cada vez melhor,vcs deviam receber mais comentários pq a história é ótima! +1 Concordo ; )

  • lena_rico Postado em 18/03/2013 - 22:25:51

    Oi gostaria de mostrar a vocês nossa entrevista com o blog Jornalismo na Alma sobre o romance Desligamento. Acesse a entrevista por aqui: http://lenaeanapouch.wordpress.com/2013/03/18/entrevista-com-o-jornalismo-na-alm a/


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