Fanfics Brasil - Capítulo 2 Sem Palavras Para Descrever (My Little Pony)

Fanfic: Sem Palavras Para Descrever (My Little Pony) | Tema: My Little Pony: Amizade é Mágica


Capítulo: Capítulo 2

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Equestria — Canterlot — Casa da Octavia. 13 de Fevereiro, 13:26.


 


A casa de Octavia estava quieta. Muito quieta. Quietíssima. Como sempre foi.


É de se estranhar como uma pônei tão charmosa e atraente como ela não recebesse tantas visitas de outros pôneis da idade dela. Imagine, uma pônei de cor acinzentada como a neblina que cobre as cabeças das montanhas; cabelo longo e negro como o véu de uma noite nublada, sem estrelas; olhos tão profundamente roxos que até Berry Punch sonhara em beber uma taça de vinho com aquela cor tão... saborosamente atraente; o seu andar era tão tranquilo... porém tão fechado e contraído... com medo de sentir olhares repulsivos ou até ameaçadores dos outros; e não havia nenhum pônei na vizinhança para lhe corresponder um simples “Olá” em sua humilde moradia?


Apesar de toda a fama de “Maior Musicista em Equestria”, os pôneis passavam perante sua casa com um sorriso em seus rostos. Cada um cuidando do que é seu e se preocupando com o quê é seu. Sempre foi assim. E sempre será.


Mas é isso mesmo?


Uma unicórnio de cor azulada passava em frente a casa de Octavia. Sua crina arrepiadamente longa e rosa saltitava em sua cabeça enquanto ela dava passos bem alegres; só escutava dois sons ao invés de quatro, repetidamente. Ela vestia uma camisa branca com um coração vermelho bem grande; e no meio do coração tinha o rosto de sua maior ídola: Srta. Octavia.


O rosto da unicórnio demonstrava um estado calmo de alegria, afinal o dia mal havia começado. Para ela.


Ela parou em frente ao portão, havia um interfone e uma placa decorativa escrito “Casa da Srta. Octavia” ao lado.


— “Hm, parece que é aqui.” — disse a unicórnio, checando o endereço em um bilhete levitado pela magia de seu chifre, — “Oh, minha santa Celestia, isso é tão emocionante! Após tantos meses, finalmente vou conhecer minha ídola!”


Ela soltou um esganido fino, de grande excitação. A unicórnio olhou para a casa de dois andares, o jardim possuía singelos ramos de margaridas e rosas. E um cantinho especial para as papoulas.


“Awn, que jardim lindo! Lindo de tão simples!” — pensou ela, — “Mas... eu esperava uma mansão ou algo do gênero... A casa da Photo Finish, por exemplo, era ENORME.”


De relance, ela viu que a cortina de uma janela no primeiro andar havia se movido. Ela tenta olhar para a janela, vendo apenas um vulto negro que logo sumia no meio das cortinas. A unicórnio franziu uma sobrancelha, surpresa.


— “Que esquisito...” — disse ela, — “Jurava que viu alguma coisa ali...”


A unicórnio ficou um tanto perturbada com aquilo, mas ignorou dando de ombros. Ela apertou o interfone mesmo assim. Uma voz rouca atendeu após um estalo.


— “Sim, quem deseja?”


A unicórnio não conteu sua emoção, — “BomdiasouaSnowFlakeeestouaquiparame


encontrarcomasenhoritaOctaviaeversepodíamosterumatardeparaconversarmossabeeusouumagrandefãdasmúsicasdelaegostariamuitomuitomuitomuitodequeelameassinasseumautógrafonodiscoquecompreiunsmesesatráse--”


“Sim,” — cortou a voz rouca a frase da unicórnio, — “uma grande fã, como todas as outras que vieram visitá-la.” — seu tom estava irônico e irritado, a unicórnio logo percebeu isso, parece que ela falou algo que não devia, — “Você não é bem a única que deseja conversar com ela, Srta. Flake. Umas cinco pôneis com a mesma reação que a sua de agora vieram aqui de manhã... e com a mesma proposta.”


SnowFlake parou um instante, avaliando o que a voz do interfone acabou de dizer.


Ela não sabia o que responder agora; estava um tanto perdida, — “Outras cinco estiveram aqui antes de mim?” — pensou ela.


“Será que... estavam querendo o mesmo que eu?” — Ela estava um tanto envergonhada por não conter sua emoção enérgica mas... ela não podia. Ela esperou muito tempo para conseguir, ao menos, uma ligeira conversa com a Srta. Octavia. Mas sua intenção, na verdade, era outra: Ela queria conseguir o primeiro autógrafo assinado pela Srta. Octavia.


Srta. Octavia não é muito de dar autógrafos, nem de dar entrevistas. Ela se sentia extremamente desconfortável diante de câmeras. E, sinceramente, ela via a idéia de “dar autógrafos” como algo xulo, inútil, supérfluo. Algo que se guarda para sempre, guardado em uma gaveta de uma cômoda ou em um porta-retrato até que a sujeira e os fungos dessem conta do que sobrou do papel rabiscado com fibras de carvão e nada que represente ou eternize seu talento musical.


Ela odeia isso. Ser apenas uma lembrança; ser lembrada apenas pelo que fez em vida. Não ter sua motivação lembrada por todos antes de dormir eternamente dentro de uma caixa de 1,5m de comprimento, enterrada a sete patas da superfície.


A unicórnio ainda estava parada diante do interfone, sem reação.


— “Pois bem, Srta. Flake...” — continuou a voz rouca, — “A Srta. Octavia está com uma agenda muito, muito cheia para marcar uma simples conversa ou até mesmo para um chá. Haverá um grande evento daqui alguns dias e ela está se preparando especialmente para esse dia. Você, provavelmente, já ouviu falar desse grandiosíssimo evento...”


Ela acentiu com a cabeça.


“Sim...”— pensou ela, — “O show ‘A Última Nota’ ...”


— “Pois bem...” — continuou a voz, — “receio que a senhorita terá um obstáculo montanhoso até conseguir, pelo menos, uma hora de conversa com a Srta. Octavia, ainda mais em tempos tão desarmoniosos e exaustivos como esse.”


SnowFlake já percebeu de que não ia conseguir o que queria. Mas não, ela TINHA de conseguir. Antes que algum pônei o faça. O primeiro autógrafo da Srta. Octavia. Já imaginou a fama que ela teria sendo a primeira dos pôneis a conseguir essa façanha? Nunca ninguém conseguiu! Era um desafio extremamente tentator, e ela está a apenas um passo de conseguí-lo. Ela não ia desistir tão fácil assim.


— “.... Tem certeza, senhor? Tem certeza ABSOLUTA de que ela não--”


— “Não ouviu o que acabei de dizer?” — a voz do interfone veio como uma navalha; afiada, fina, e mortalmente rápida.


Ela congelou, ela sentiu o impacto em sua frase, — “Não, não! Digo, sim! Ouvi, sim! É que eu... eu...”


— “Então por quê ainda insiste MESMO depois do que lhe disse?”


— “M-me desculpe! Eu não... Eu não queria desrespeitá-lo ou... ou desrespeitar a Srta. Octavia e--” — ela estava perdida; para onde ela iria correr ou se esconder agora?


Ela insistiu em seu objetivo e agora tem que aguentar o que está por vir. É a Terceira Lei de Newton, Lei da Ação e Reação, é uma coisa linda e horrível de se presenciar. Ela executou sua ação, agora vem a reação.


— “Acredite, Srta. Flake. A senhorita NÃO me desrespeitou...” — a voz rouca do interfone ficou assutadoramente séria agora, — “... você me IGNOROU, RIDICULARIZOU minha resposta. E isso eu NÃO aceito de ponêi algum. Que isso fique muito bem claro para a senhorita: A Srta. Octavia não vai perder tempo com essas coisas estúpidas de fãs como autógrafos, tatuagens, desejos. Essas coisas supérfluas não vão melhorar nada em sua vida, Srta. Flake. Sua vida não depende de uma conversa com ela ou de um papel rabiscado por ela. Sua vida merece mais. Muito mais. Se a Srta. Octavia é sua ídola, a sua heroína, então está olhando para ela do jeito ERRADO e EGOÍSTA.”


A unicórnio olhava para os lados, sem saber o que fazer. Ela deveria sair correndo? Será que ela deveria? Suas pernas não se mexiam. Simplesmente estão coladas ao chão.


A voz do interfone tomou um fôlego, — “Um ídolo não é um herói ou uma pessoa importante.”— sua voz parecia um pouco mais calma, mas ainda causava intimidação. — “Um ídolo é uma pessoa que você respeita, tanto pelos seus atos quanto pelos seus sentimentos. É aquele que você sente que devia fazer o mesmo. Aquele que você deseja ser um dia; ser como ele, não igual a ele. Um ídolo não é como um heroí. Heróis morrem. Morrem sozinhos... e incompreendidos. Heróis, diferente dos ídolos, são brevemente esquecidos... deixados como uma mera lembrança de um passado caótico... e apenas relembrados por um busto de pedra ou argila, ou uma estátua ou um monumento dele mesmo... E, ainda sim, não se perguntam porquê ele fez tal ato que o deixou, vamos dizer... imortal.”


A unicórnio estava imobilizada; materialmente nada a segurava, mas ela se sentia imobilizada. Ela ouvia cada palavra que a voz do interfone dizia; ela estava hipnotizada. Como uma serpente ao escutar as brisas sonoras de uma flauta.


— “Pôneis como vocês, que só se interessam pelo que ela fez e não pelo porquê a Srta. Octavia fez, não se focam no que realmente é importante para o ídolo: Sua origem. Qual é a origem pelo que ele fez? O quê levou ele a fazê-lo? Por quê? Por quem?


Houve uma curta(psicologicamente eterna) pausa na conversa entre a unicórnio e a voz do interfone. Quanto mais ela teria que suportar aquela pressão? Aquilo estava a matando... mentalmente.


— “Mas não.” — continuou a voz, — “Não. Vocês só querem saber o que ele faz, nada mais. E isso, Srta. Flake, é a pior de todas as ofensas... que um ídolo pode receber. Isso... demonstra que seu trabalho... não é valorizado como ele REALMENTE gostaria que fosse.”


A unicórnio baixou a cabeça, envergonhada. Ela era isso mesmo o que ele disse: Uma pônei que valorizava apenas o que seu “ídolo” havia feito, ela nunca se perguntou o porquê que ela fez as músicas... ou por quem ela havia feito. O quê ela estava sentindo quando fez as músicas? Era uma inspiração? Ou era por um pônei? Era para um parente falecido ou por um amigo vitorioso? Ela soluçou. Tristemente, ela soluçou.


A voz do interfone tomou mais um fôlego, — “Um ídolo é usado como exemplo, um modelo a ser seguido e orientado. Se você quer ser como seu ídolo, faça como ele, use-o como um modelo para sua vida. E melhor: Seja melhor do que ele. A competição com seu ídolo o leva a lugares que você jamais imaginou. Usar roupas com seus rostos, discos com autógrafos, posters de seus eventos não é uma forma de honrar e respeitar seu ídolo.”


A unicórnio passou o casco em seu peito. Passou o casco em sua camisa; com o rosto da Srta. Octavia, encoberta com um enorme coração vermelho. A pressão que ela sentia vindo daquela voz do interfone era tremenda, como se um elefante estava se sentando em cima dela e cada vez mais e mais o peso dele ia aumentando. E a vergonha preenchia sua mente. Agora ela percebe o quão ridícula ela está com aquela camisa “supostamente” honrosa de sua “ídola”.


A voz continuou, — “A melhor forma de honrar e respeitar seu ídolo é superando-o. Mostrar que você o seguiu como modelo e superou na vida. Assim, outros pôneis aspirantes como você foi um dia também irão idolatrá-la e seguí-la como modelo para eles ou elas. Isso, Srta. Flake, é ser um ídolo.”


Ela já estava começando a chorar. Seu mundo imaginário em que existia fotos, vídeos, panfletos, cartazes, merchandising de seus “supostos” ídolos da música agora estava se despedaçando lentamente ao seu redor, como folhas secas das árvores em pleno Outono.


Suas pernas estavam muito pesadas, pareciam que pesavam mais de uma tonelada; sua garganta deu um nó; não conseguia respirar direito, parecia que seus pulmões encolheram; seus olhos já estavam cheios d’água e seus cascos tremiam, muito. Aquilo não acabava nunca. Que sensação horrível de se sentir encurralado por algo que não está lá.


— “A senhorita me entendeu, agora?”


Ela estava soluçando repetidamente, assustada. A unicórnio estava parada com a cabeça baixa, toda trêmula. Por algum motivo, ela tinha muito medo de olhar para o interfone.


— “Senhorita?” — ele perguntou um pouco mais alto.


Ela soluçou — “S-sim... D-desculpe-me... e... eu...” — soluçou mais uma vez. — “eu não...”


— “Que bom,” — sua voz suavizou-se absurdamente, — “Segunda-feira, dia 26 desse mês, às 9:00 horas da manhã, está marcada a sua conversa com a Srta. Octavia. Desculpe qualquer incômodo que eu tenha causado na senhorita. Tenha um bom dia.”


 


O interfone se emudeceu num estalo.


 


A unicórnio ficou imóvel por um momento, estava refletindo sobre o que aconteceu agora pouco. Por quê ele fez aquilo com ela? Qual foi o objetivo daquilo tudo? Quem era aquele que estava falando com ela?


De uma coisa ela sabia. Naquele momento ela se sentia diferente. Físicamente não parecia, mas... sentimentalmente... ela era irreconhecível. Parecia... que se sentia mais... leve. Coerente. Compenetrada. Racional. Ela se sentia diferente. Muito diferente de antes.


Snow Flake ergueu lentamente a cabeça, seus olhos já não escorriam mais lágrimas, mas ainda estavam vermelhos e irritados. Ela olhava em volta e tudo parecia diferente, na visão dela. Tudo era diferente agora.


Ela olhava para uma pégaso de cor cinza, carregando uma sacola absurdamente cheia de entregas a serem feitas. Aquela pégaso estava tentando enfiar uma caixa grande de papelão dentro de uma pequenina caixa de correio. Ela tinha intrigáveis olhos amarelos, que olhavam em todas as direções.


“Aquela pônei cinzenta...” — SnowFlake pensou, olhando para ela focadamente, — “... percebi que ela entrega o correio todas as manhãs...”


“... até nas frias noites da madrugada, seja durante o intenso calor do verão ou o desconfortável frio do inverno... ela sempre faz suas entregas. Sempre.”


A unicórnio sentou na calçada e sussurrou perguntas para si mesma.


“Por quê? … Pra quem? ... Qual é o objetivo dela em fazer essas entregas? O quê a motiva?”


— “Há sempre uma recompensa no final...”


A unicórnio voltou a si e, num pequeno salto pro lado, assustou-se com a pégaso cinza. Ela, que possuía uma crina e olhos amarelados, estava ao seu lado, sentada. Um de seus olhos estava olhando para a SnowFlake, com uma certa atenção. O outro... bem... digamos que estava olhando para o outro lado da rua.


SnowFlake olhou para onde a pégaso estava antes de aparecer de repente e viu que a caixa de papelão estava enfiada(violentamente) dentro da pequenina caixa de correio. Ela olhou de volta para a pégaso vesga.


— “Como é que--?”


— “Muffins são gostosos de comer...” — continuou a pégaso, — “mas nem sempre todos os muffins são gostosos. Tem uns amargos... outros salgados... até alguns que não tem gosto nenhum! Mas isso depende da cozinheira ou do cozinheiro que os fazem.”


A unicórnio não estava entendendo nada do que aquela pégaso cinzenta estava dizendo.


— “ ‘Muffins’? ‘Salgados’? O quê?


— “Você é uma boa cozinheira, Srta. Flake?” — ela virou a cabeça para a SnowFlake, seus olhos olhavam para tudo, menos para ela.


— “Eu? Bom, eu... eu não sei... acho... acho que sim e--”


— “Sério?” — ela perguntou num tom meio surpresa, — “Que estranho...”


— “C-como assim?”


— “Meio que... seu muffin não tem gosto de nada.”


Ela parou e olhou diretamente nos olhos daquela pégaso cinzenta.


“Meu muffin?” — ela pensou.


— “Sim, não tem gosto nenhum!” — continuou a pégaso, — “Por isso achei estranho...”


“O que ela quis dizer com isso? O que diabos ela está falando?” — pensou SnowFlake.


— “Mas não se preocupe, Srta. Flake!” — a pégaso cinza agarrou a unicórnio SnowFlake pelo pescoço, aproximando a cabeça da unicórnio em seu peito, — “com um pouco de paciência, dedicação e amor, seu muffin será divinamente saboroso! Disso eu tenho certeza!”


SnowFlake não entendia mais nada.


— “Por Celestia, eu tenho de ir!” — a pégaso soltou o pescoço dela num movimento rápido, — ”Tenho muitas entregas para realizar! E você, Srta. Flake? Tem algo para fazer também?”


— “Eu? S-sim! Eu tenho de... de...”


SnowFlake olhou para a camisa que ela estava vestindo. Uma camisa branca com um enorme coração vermelho; e, no centro do coração, havia a imagem de sua “ídola”. Além dessa camisa, ela tinha em seu quarto posters, bustos, panfletos dos shows dela, fotos, vídeos, quadros, roupas, tudo sobre sua “ídola”. Ela pretendia arranjar mais dessas coisas para o seu quarto, o qual ela o denomina de “Santuário da Octavia”. Mas... será mesmo necessário?


— “Não...” — disse ela, abaixando a cabeça, profundamente arrependida, — “Não tenho nada para fazer hoje... E... acho que nem amanhã... e nem depois...”


A pégaso cinzenta, apesar de seus olhos focarem em outra coisa, apontava a cabeça para a SnowFlake, com um certo ar de preocupação. Ela deu um suspirou e disse:


— “Bom,” — ela deu uma palmadinha nas costas de SnowFlake, — “parece que só lhe resta focar no gosto do seu muffin!”


SnowFlake olhou torto para pégaso cinza e não aguentou; arriscou-se perguntar.


— “Mas... que muffin é esse que você está dizendo?!”


A pégaso cinzenta fixou a cabeça para a unicórnio. Sua sobrancelha estava erguida diante dela.


— “Srta. Flake...”


— “S-sim?”


A pégaso cinzenta aproximou sua boca a orelha da unicórnio. SnowFlake evitou por um momento, mas aceitou a aproximação dela. Ela podia sentir a respiração da pégaso em sua orelha, era lenta, quente e... reconfortante. Ela, apesar de ver a pégaso apenas uma vez por dia e sempre fazendo suas precisosas entregas, sentia-se segura ao lado daquela pégaso. Ela não sabia o porquê, SnowFlake nem mesmo sabia o nome dela! Por quê essa... segurança... perto de um estranho? Ainda mais um estranho com um olhar um tanto... desorientado.


“Isso terá que descobrir sozinha...”— sussurrou a pégaso ao seu ouvido.


A pégaso afastou-se do rosto da SnowFlake, que agora estava tentando assimilar as palavras ouvidas.


— “Mas vou ter dar um ponto de partida!”


Com o casco esquerdo, a pégaso apontou-o para a testa da SnowFlake. Ela seguiu o casco da pégaso com o olhar, agora olhando para própria testa, cruzando os olhos.


— “A receita está aqui dentro...”


Em seguida, desceu o casco para o peito da SnowFlake. A unicórnio só acompanhava o gesto da pégaso com os olhos.


— “Aqui só existe inspiração... e, acredite, é o que não falta em você.”


A pégaso ergueu o casco, em frente ao rosto da SnowFlake. A unicórnio cruzou os olhos, olhando para o casco da pégaso. Ela estava esperando... atenciosamente.


— “E as ferramentas certas para que esse muffin tenha um gosto inigualável...”


O casco da pégaso lentamente flutuou para o flanco da SnowFlake, apontando para a Marca Especial dela. Uma interessante bússula, ela apontava para o norte; sempre para o norte.


— “... estão aqui.” — terminou a pégaso cinzenta.


SnowFlake respondeu com uma erguida de uma sobrancelha. Ela assimilava as palavras com os gestos que a pégaso fazia. Muffins... Cabeça... Peito... Marca Especial... O que significavam?!


Mas aí... uma pontada. Um estalo. Uma epifânia surgiu na mente de SnowFlake, a sensação foi com se recebesse um tapa na cara. Foi algo surpreendente, os olhos de SnowFlake receberam um brilho como nunca antes, um leve sorriso se levantou de sua bochecha e uma longa piscada atravessou em seus olhos; uma piscada lenta e reflexiva.


SnowFlake olhou para a pégaso cinza, ela ia se preparar para saltar em cima dela, dando aquele abraço feliz, alegre. Mas a pônei cinzenta foi mais rápida, tão rápida que nem deu tempo da SnowFlake abrir seus braços; ela foi pega de surpresa. SnowFlake, um pouco perdida, fechou o abraço, envolvendo a pégaso por inteira.


O abraço da pégaso cinza era apertado... e longo. Era ao mesmo tempo quente e frio. Alegre e triste. Enérgico e cansado. Eram muitas sensações para um único abraço, mas, na opinião de SnowFlake, era o melhor abraço que ela já recebeu. Ela queria que aquele abraço nunca acabasse, que durasse para sempre. A sensação de segurança aumentou, um conforto indescritível envolveu o corpo de SnowFlake, a energia que ela sentia vindo daquele pégaso era, deveras, incrível. Aquele abraço era, simplesmente, mágico.


— “Hum... Já estou sentindo um gostinho doce...”


— “... Hã?”


A pégaso cortou o abraço e se ergueu do chão, arrepiando um pouco as penas de suas asas.


— “Brr! Bom, tenho que ir! Desculpa por sair assim, mas meus clientes podem ficar insatisfeitos com minhas entregas e eu nunca deixo um cliente insatisfeito!”


A unicórnio olhou para a pégaso cinzenta trotando até uma sacola cheia de cartas e outros pacotes. Ela pega a sacola pela alça e passa ela entre a cabeça até apoiar em cima de seu ombro.


— “Até a próxima, Srta. Flake!” — disse a pégaso acenando o casco para ela, que estava ainda sentada no chão.


— “Até... EI! Espera!” — ela lançou o casco em direção a pégaso cinza, antes que ela levante vôo.


— “Sim, Srta. Flake?”


— “Ahm... Bem... Eu... E-eu não perguntei o seu nome... Bem...”


— “Não tem problema, Srta. Flake! Meu nome é Derpy, Derpy Hooves.”


SnowFlake repetiu, com a voz bem baixa, — “Derpy... Hooves?”


Num movimento rápido com as asas, Derpy Hooves pegou um impulso com as pernas traseiras e levantou vôo, indo diretamente para o final da rua da Avenida dos Famosos, em direção ao Castelo das Princesas, no centro de Canterlot.


SnowFlake ficou olhando Derpy Hooves no horizonte até sua vista começar a embaçar por causa da distância em que a pégaso alcançou. A pequena unicórnia olhou para o seu flanco, para sua Marca Especial. Uma bússola. Que sempre aponta para o norte. Sempre.


— “Já entendi o que quis dizer, Derpy Hooves...” — disse SnowFlake para si mesma, com um sorriso em seu rosto, — “... vou providenciar meu muffin para você... e, acredite... será divino.


A unicórnia de crina rosa encaracolada ergueu-se do chão, mas com um pouco de dificuldade. Ela ainda se sentia meio afetada pela “bronca” que ela levou do interfone. Aliás, quem será aquele pônei que estava falando com ela ao interfone?


Isso a fez lembrar, também, de sua camisa. A camisa branca com um enorme coração vermelho, junto com uma foto da Srta. Octavia no centro do coração.


— “Já estava me esquecendo dessa camisa...”


SnowFlake segurou a gola da camisa com a boca e, num puxão, tirou a camisa. Ela viu um lixo perto dela e trotou em direção a ele, segurando a camisa em sua boca. Ela deu um giro com a cabeça e jogou a camisa no lixo. Foi como se ela tivesse se libertado de correntes pesadas de ferro; que a prendiam e a seguravam de realizar suas ações pessoais.


“Não preciso mais dela.” — pensou ela, — “Tenho certos assuntos...  para tratar.”


Num giro com seu corpo, ela trotou para o final da Avenida dos Famosos, indo em direção a sua casa, do outro lado de Canterlot. Ela se sentia diferente depois daquela tarde. E estava disposta em por isso à prova. Com a mão na massa.


Enquanto ela trotava para longe da casa da Srta. Octavia, a figura escura volta a aparecer olhando pela janela. Ela estava observando tudo que havia acontecido na calçada. Num movimento rápido, a cortina que estava erguida por algum pônei, estava, agora, de volta ao normal, sem mais ninguém segurando ela.





Fim do Capítulo Dois



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Autor(a): Grivous

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