Fanfic: Colegas de Quarto [PORTIÑON] | Tema: Portiñon

No dia seguinte, Dulce acordou mais cedo por causa de uma forte dor no estômago. Não estava acostumada a beber, nem mesmo cerveja. Além disso, o cachorro-quente que seu amigo Rick tinha trazido lhe pareceu bastante suspeito, principalmente por causa da quantidade de maionese que o garoto colocou no pão. Ela se levantou com um pouco de dificuldade e dirigiu-se ao banheiro, afinal, a cerveja e a maionese teriam que sair dali por bem ou por mal. Infelizmente foi por mal.

A garota tomou um banho, vestiu uma roupa bem caseira e desceu pelas escadas em direção à sala de estar. Ela parou no meio do caminho ao ver a bagunça da noite anterior. "É por isso que eu odeio festas. Mas não, eu tenho que fazer isso porque vou embora e preciso me despedir de uma maneira diferente dos amigos. Sei que, eles podiam se despedir mais uma vez de mim hoje, me ajudando a arrumar essa zona". – Pensou Dulce bastante desanimada.

– Acordada a essa hora da manhã? – Disse uma voz feminina vinda da parte de cima da escada. Dulce se virou e sorriu sem graça para a figura que a olhava com um olhar surpreso.

– Bom dia mãe. Digamos apenas que o gosto de cerveja, maionese, salsicha e suco gástrico juntos não é nada legal.

– Oh... Que horror! – Exclamou sua mãe fazendo uma careta nauseante. Ela desceu até onde Dulce estava e a puxou pelo braço, subindo de volta as escadas - Venha, vou te dar um sal de frutas e um remédio para passar esse seu mal estar.

– Valeu mãe. Mas o que a senhora está fazendo acordada a essa hora? – Perguntou Dulce enquanto a seguia pelo corredor em direção ao quarto dela.

– Apenas perdi o sono, querida. – Sua mãe respondeu quando entrou no quarto.

Dulce olhou para a cama e viu várias caixas de fotos e álbuns de fotografia. Agora compreendia o motivo. Sua mãe pegou o sal de frutas e o remédio, dirigiu-se para o frigobar que ficava em seu quarto e misturou os dois remédios em um copo com água pela metade. Entregou com carinho para Dulce que bebeu tudo em poucos goles.

– Logo você vai se sentir melhor. – Disse Blanca para a filha.

– Espero que sim. - Respondeu Dulce fazendo uma careta, pois sentia o sal de frutas efervescer em seu estômago. Sua mãe sorriu achando graça.

Dulce sentou-se na cama e pegou algumas fotos que estavam espalhadas ali. E em uma delas, ela estava com Sharon, quando tinham 5 anos de idade. Estavam em um clube, ambas na piscina dividindo o mesmo espaço em uma grande bóia preta. Sharon fazia uma careta e chifrinhos em Dulce com os dedos, que inocentemente nem percebeu. A garota sorriu, se lembrava vagamente do dia.

– Está saudosista, mãe? – Perguntou Dulce depositando a foto de volta sobre a cama.

– Só estava matando um pouco a saudade de quando você era pequena. Era uma época tão boa e passou tão rápido. Parece que foi ontem que eu trocava suas fraldas, e agora está indo para a faculdade.

– É, parece que vou ter que trocá-las sozinha. – Dulce ironizou e Blanca riu.

– Eu tenho muito orgulho de você, Dulce. Você foi a maior benção que Deus me concedeu. Sempre foi obediente, estudiosa, ajuizada. Parece que fiz um bom trabalho, afinal de contas. Vou sentir muito a sua falta.

– Eu sei disso mãe. E você fez sim um ótimo trabalho. Mas agora que estou indo para a faculdade, você poderia pensar um pouquinho mais em si mesma. Você é jovem, bonita. Merece um cara legal pra cuidar de você.

– Como se as coisas fossem assim, não é? É só ter vontade que aparece um galã de novela com um buquê de flores em uma mão e uma caixinha de alianças na outra.

– Você sabe muito bem do que estou falando, mãe. Me lembro muito bem que você sempre estudou e trabalhou demais, nunca saía de casa e nem se interagia com pessoas novas. O tempo que você tinha livre brincava comigo, e ia na casa da tia Aline. Acha que iria aparecer alguém da onde?

– E não me arrependo de nada. – seu olhar revelava toda sua determinação.

– Eu sei que não, e nem estou dizendo que deveria. Apenas quero que você aproveite, já que as coisas estão mais leves para você agora. Você terminou seus estudos, tem um emprego melhor, já criou sua filha e ainda é jovem. Não quero que fique trancada aqui em casa choramingando em cima de um monte de fotografias antigas.

– Mas vejam só. Uma mãe recebendo conselhos da filha.

– Somos mais que mãe e filha. Somos amigas, não somos? E amigas não dão conselhos uma pra outra?

– É claro, filha. Você está coberta de razão. É por isso que tenho tanto orgulho de você.

– Aprendi com a melhor. – Disse Dulce abraçando sua mãe.

O momento foi interrompido quando a campainha tocou. Dulce se soltou de sua mãe, que enxugou os olhos que vertiam lágrimas de emoção. Dulce desceu as escadas apressada e abriu a porta.

– Sharon?

– E aí, vadia! Pronta para o último dia no fim de mundo?

– Sharon... São 7:30 da manhã! Eu poderia estar dormindo, sabia?

– Desculpa, Dulce. Fiz meio sem pensar.

– Tudo bem. Estou acordada mesmo. Entra aí, mas vou avisando que está tudo uma zona. – Disse Dulce para a amiga dando espaço para que ela passasse.

– Que ótimo. Então posso me desculpar pelo incômodo te ajudando a arrumar tudo isso. – Propôs a mais alta enquanto entrava na casa e analisava a sala bagunçada de cima a baixo.

– Se você fizer isso, te perdoo até mesmo os teus pecados no lugar de Deus se eu tiver oportunidade.

– Acredite, querida, você não terá essa oportunidade. – Sharon respondeu séria olhando bem para os olhos sonolentos de Dulce.

– É claro que não. – Disse Saviñón respondendo o óbvio.

– Olá Sharon. – Cumprimentou Blanca de maneira muito simpática enquanto descia as escadas.

– Oi tia Blanca. – Sharon cumprimentou de volta.

– Como você está, querida?

– Estou ótima, obrigada. – Respondeu a garota negra de maneira educada.

– E sua mãe?

– Está bem também.

– Que ótimo. Quer comer alguma coisa?

– Não, muito obrigada. Já comi antes de sair de casa. Vim aqui para ajudar a Dulce arrumar essa zona que deixamos ontem.

– Ah, acho bom mesmo. – Disse Blanca com um tom engraçado enquanto colocava uma das mãos no ombro de Sharon.

– Que isso, tia. Até parece que não me conhece. – Disse Sharon fingindo um tom ofendido.

– Tá bom, Sharon. Não vamos discutir isso. – Disse a jovem matriarca enquanto andava na direção da cozinha.

As duas passaram o resto da manhã arrumando o máximo que podiam daquela bagunça. Para que o tempo passasse de uma maneira mais agradável, fizeram isso ao som de Rolling Stones, álbum Beggars Banquet que Dulce ganhou de Rick quando tinha 15 anos. As duas cantavam completamente desafinadas, mostrando que não estavam nenhum pouco preocupadas em estragar a voz de Mick Jagger.

Quando chegou a hora do almoço, a casa já estava relativamente arrumada. Sharon almoçou lá mesmo e as duas conversavam animadas sobre as fofocas da festa e as expectativas que Dulce tinha sobre o que encontraria quando chegasse em Irvine. De tarde, Dulce conferiu sua bagagem para ver se não estava se esquecendo de nada. O que a fez concluir que sempre se esqueceria de algo. Quando a noite finalmente chegou e Dulce se deitou na cama, sentiu um arrepio percorrer seu corpo, afinal, quando amanhecesse, ela estaria despertando para uma nova etapa de sua vida.