Fanfic: Um passado recente.

── Marianne! ──

Minha voz aguda e doce ecoou pelos cômodos daquela casa que sempre fora abandonada, ao lado da propriedade dos meus pais. Minhas pequenas mãos sujas de lama forçaram os tijolos velhos daquela janela, com a cabeça curiosa erguida para frente, procurando algum sinal dela. Eu tinha apenas oito anos.

── Aqui! ──

Braços maiores que o meu envolveram meu corpo por trás, puxando-me para o chão, caí com força nas lamas espalhadas pela grama e pela chuva que caia naquele fim de novembro, por cima do corpo da minha melhor amiga, Marianne. Que era apenas um ano mais velha que eu.

── Anda, levante sua gorda! ──
── Me larga! ──

Nossos risos se estendiam por toda a área, éramos duas crianças exploradoras de lugares, cada lugar com uma história diferente, monstros e amigos imagináveis. Era daquela forma que costumávamos brincar todos os dias desde que viramos vizinhas de fazenda. Rolamos mais algumas vezes no chão antes de levantarmos e sair correndo entre as árvores de volta ao radar das nossas famílias. Eu sempre fui a mais lenta, suas pernas eram maiores e mais ágeis que as minhas. Fui deixada para trás, mas ela sempre diminuía a velocidade dos seus passos só pra eu poder acompanhá-la.
Ao pular um tronco de uma árvore derrubada, senti meu pé sendo preso por um galho, o impacto foi tão forte que arremessou o meu tênis surrado para longe. “Ai” meu grito ganhou destaque entre os barulhos do vento e da vegetação. Logo, a Marianne estava ao meu lado, tentando puxar minha perna do galho, mas doía com seu toque.
── Está machucada? ──
── Sim... ──
── Não chora Lana, eu vou te ajudar. ──
── Tá bom. ──
Não sei o que era aquilo, mas ela conseguiu tirar meu pequeno pé daquele maldito galho, eu consegui movê-lo perfeitamente, embora estivesse dolorido um pouco, eu poderia apoiá-lo ao chão. Ela me olhou com um sorriso radiante em seus lábios. E eu tive a certeza que ela era a melhor amiga do mundo, e que eu nunca queria perdê-la.

── Viu sua boba, não precisa chorar, eu estou aqui. ──
── Pra sempre? ──
── Sempre. Eu prometo. Aqui... ──

Ela jogou seus cabelos castanhos claros pra um lado só, abaixando sua cabeça um pouco e levando suas mãos para sua nuca, ela fez uma careta enquanto tentava desprender uma corrente prata de volta do seu pescoço, que tinha um pingente em forma de onda, três riscos ondulados. Ela sorriu assim que conseguiu.

── Olha, esse vai ser o nosso símbolo de amizade, pra sempre. ──
── Mas é o seu colar. ──
── Agora ele é seu. E eu vou sempre está contigo. ──

Abraçamo-nos, e eu senti uma felicidade tamanha, como se estivesse ganhando um presente de Natal. Depois ela me ajudou a levantar e voltamos a correr em direção à fazenda.

Então eu acordei, era a terceira vez que eu sonhava com ela em uma semana, e aquilo me incomodava de um jeito que eu não entendia. Mas eu não tinha tempo para pensar em sonhos do passado, aliás, já eram 06h30 e eu tinha que trabalhar. Trabalho era a única coisa com que eu me importava, eu colocava toda a minha vida naquilo. Eu era policial criminalística há cinco anos, tinha me formado cedo, pois desde que eu me lembre, sempre quis trabalhar com crimes, eu era considerada a melhor policial jovem de todo o estado, com 25 anos.
O trânsito estava lento naquela quinta-feira, olhei o relógio no meu pulso, 07h00 da manhã, não estava atrasada nem nada, então não me incomodei com o jeito que as estradas estavam. E meio que involuntário eu estava pensando na Mari novamente. Ela tinha sido minha melhor amiga por muito tempo...