Fanfic: A Maldição do Gato
As Terras Altas ao Sul, uma região montanhosa, cheia de densas florestas, onde o clima frio e úmido faz com que qualquer visitante despreparado colapse. Dito isso, é normal que poucas pessoas vivam por lá e que poucas vilas ou cidades sobrevivam, e, ao contrário do que se pensa, há muitas espécies de animais e vegetais, maior parte destes desconhecidos, agressivos e perigosos. Esta é considerada por muitos, a região mais perigosa e misteriosa do mundo.
Em uma das montanhas das Terras Altas ao Sul há uma cabana, pequena e camuflada, o lugar perfeito para um fugitivo ou um louco, pois ninguém lá o procuraria. E nesta cabana, onde até então uma falsa paz reinava, agora há dois corpos já sem vida estirados ao chão. Morte é algo comum, ainda mais em um lugar como esse. Mas mesmo que todos morrerão um dia, por que estes dois estão mortos agora? Por que essas pessoas os mataram?
Um pequeno garoto os olha perplexo. Muitos “por quês” passaram pela sua cabeça, mas nada mais importava, e então a destruição tomou conta das Terras Altas ao Sul.
Três meses depois...
Satore-san era um cara estranho. Na verdade, estranho de mais. Por que ele cuidava de um garoto como eu? Mesmo antes de saber quem eu era, ele sempre tomou conta de mim... Num mundo como esse, isso realmente não é normal.
- Então, pessoal, esse é o Hashua Garu. Ele é seu novo companheiro de equipe.
Antes de chegarmos ali, Satore-san havia me dito que a melhor forma de me proteger de hoje em diante era ficar junto com seus alunos. Explico melhor, Satore-san é um dos grandes guardas das Terras Centrais, a maior e mais populosa das terras. E, mesmo não parecendo, é forte. Também quando digo que não parece, é porque realmente não parece. Satore-san é um homem de estatura mediana, magro, sem nenhum sinal de músculos ou coisa do tipo. É uma pessoa normal, a não ser por uma tatuagem em baixo do olho, dois riscos de cada lado da face. Seu penteado se resume a amarrar seus cabelos castanhos claros para cima, ou seja, fica algo como quatro dedos de cabelo espetado, é um desastre. Porém, mesmo sendo um desastre, ele tem alta patente nas Terras Centrais e é, no momento, professor de quatro jovens que formam a equipe de elite Viginti, que futuramente protegerá as Terras Centrais. Satore-san é responsável por treinar essa equipe e de vigiá-la em possíveis missões, o que raramente acontece.
Pelo que parece, os quatro que estavam na sala da casa em que entramos são os Viginti. Todos pareciam mais velhos do que eu, algo em torno de três anos talvez. Três deles me encaravam com surpresa, acho que Satore-san não contou nada sobre mim a eles.
Havia duas garotas e dois garotos. Os dois garotos estavam sentados no sofá, encarando-me. Uma das garotas nem sequer olhou para mim, ela estava sentada mais atrás e lia um livro fixamente. A outra garota, pelo contrário, estava de pé na frente de todos, encarando-me com, além de surpresa, algo parecido com raiva, ela foi a primeira a gritar.
- Satore-sensei, no que está pensando dessa vez?! – Satore-san deu meia volta e saiu correndo. – Ei, eu não acabei de falar! Satore-sensei, volte! – Então ela saiu correndo atrás dele.
Os dois garotos ainda me encaravam, cada vez entendendo menos do que estava acontecendo. Vi que seria uma grande jornada até alguém decidir falar algo, então tomei a iniciativa:
- Prazer, meu nome é Hashua Garu, como Satore-san disse, de hoje em diante conto com vocês. – E fiz uma reverência.
Mesmo não me sentindo bem com isso, é dessa forma que uma pessoa se relaciona com outra normalmente, certo? Oh, bem, tanto faz. Ficar aqui também me trás lucros.
Um dos garotos sentados, o menor – imagine que dois terços do sofá eram um garoto e o um terço restante, metade disso era o outro; pois bem, essa era a diferença de tamanho dos dois, não que o maior seja gordo, ele era grande, muito grande e musculoso, o outro também não era pequeno, era só muito magro – então, esse garoto magro, deu um pulo em minha direção e, sorridente, se apresentou:
- Eu sou Kyou Ryuu, as pernas. Esse é Takeda Kanro. – Disse apontando para o garoto maior.
- Prazer. – Disse ele, com uma voz grossa.
- Ele é os músculos. Aquela é Yumi Maria Tisha, o cérebro. – Apontou para a garota que lia, ela fez um gesto com a cabeça, mas ainda não me olhou nos olhos. – E a que saiu correndo é Yo Mayumi, o coração. Juntos somos o Viginti, mas... Quem é você?
- Hm, eu sou Hashua Garu, das Terras Altas ao Sul, tenho treze anos e conheci Satore-san há alguns meses. Talvez saibam, mas o lugar de onde eu venho possui muitos mistérios, eu e minha família não tínhamos opção a não ser darmos tudo de nós para sobreviver lá. Porém em uma noite após a colheita, ladrões invadiram a nossa casa e destruíram tudo. Satore-san chegou lá na manhã seguinte, por algum milagre eu sobrevivi e ele vem cuidando de mim desde então e disse que o melhor seria que eu viesse me tornar companheiro de vocês. Como eu não tenho mais para onde voltar, não tenho sonhos ou ambição, aceitei. Afinal, a única coisa que me resta é uma dívida enorme com Satore-san.
E esta foi a comovente falsa história de minha vida.
Provavelmente a única verdade dessa minha história seja que Satore-san me salvou. Nem meu nome, nem minha idade, nem onde nasci. Tudo me foi dado quando cheguei às Terras Centrais, tudo foi inventado e decorado para que eu possa despistar a atenção. Afinal, eu sou uma ameaça.
- Garu-kun, qualquer coisa que precisar, pode falar comigo! – Disse, em prantos e segurando minhas mãos.
- Ah, sim, claro. Muito obrigado, Ryuu-san.
- Por que você está chorando todo agarrado nele, Ryuu?! – Gritou da porta aquela mesma garota que correu atrás de Satore-san, hm, qual era mesmo seu nome...?
- May-chan, ouça! Garu-kun sofreu tanto até chegar até aqui... – Ele continuava chorando, só que agora foi até a garota, hm, May... May... Mayumi! Isso, foi até Mayumi.
- Me larga! – Disse ela, espancando-o. – Ei, você! Se explique! – E me olhou com cara de ódio novamente. – Satore-sensei pode ter escapado, mas você não!
Novamente repeti a comovente falsa história de minha vida. Mayumi pareceu mais conformada, sentou-se onde antes Ryuu estava e, emburrada, perguntou:
- E qual é a de seus olhos?
Óbvio que essa pergunta não faltaria. Meus olhos são um tanto quanto diferentes. Minha pupila é delgada, afinada, preta como a de todos; a íris cobria quase toda a parte visível, raramente dava pra ver a esclera, além disso, tinha uma coloração estranhamente avermelhada. Era uma das coisas que havia ganhado junto com um dos maiores segredos e a maior maldição, é algo que me persegue e eu tenho repulsa.
- Ah, não é nada a se preocupar, é uma herança. Todos da minha família tinham os olhos assim, funcionam exatamente como os seus. – Menti.
- Parecem os olhos de um gato. – Ryuu fez o comentário que eu mais odeio. – São tão fofos!
“Não são fofos, são monstruosos.” Foi o que eu queria dizer, mas é claro que eu me assegurei de me calar e sorrir.
- O cabelo também é algo hereditário?! – Mayumi ainda não parecia satisfeita.
A segunda pergunta esperada. Digamos que meu cabelo é vermelho. Não ruivo, vermelho mesmo. Um vermelho vivo e profundo. Não preciso dizer que o odeio, isso é tão óbvio quanto o fato de que o cabelo veio pelo mesmo motivo dos olhos.
- Sim, algo como isso. Minha mãe tinha esse tom...
- Humpf! E o que você faz da vida?
- O que eu faço...? Bem, eu vivi nas montanhas durante toda minha vida, então eu só sei plantar arroz. Nas horas vagas, meu pai me ensinava tudo o que sabia, desde a educação até artes marciais, nunca tive a oportunidade de por em prática o que aprendi com ele, mas sou confiante de minha própria força.
- Oh~ Então é assim? – Ela olhou pros lados. – Você não veio com nenhuma bagagem?
- Não, eu não tenho nada.
Ela sorriu. Não era o tipo de sorriso amigável, eu acho.
- Vamos treinar. – Falou enquanto dava um tapinha no ombro do garoto maior, algo que começa com K... – Ei, Kanro, abra uma porta. – Isso, Kanro!
A garota que estava lendo finalmente se mexeu, ela virou uma página e voltou a ler.
- O quê?! Treinar? Mas... – Tentou protestar Kanro, quando Mayumi sorriu para ele, e ele entendeu algo que até eu pude ler pela atmosfera, um sorriso que estampava “faça, se não eu te mato”.
Talvez por falta de opção ou por que também havia gostado da idéia, Kanro se levantou e começou a sussurrar algo. Ryuu foi ao seu lado e disse, só para ele:
- Kanro-kun, mas Garu-kun acabou de chegar, vamos mesmo entregá-lo a essa tirana?
- Qualquer coisa a gente interfere, mas você sabe muito bem que quando May-chan põe algo na cabeça ninguém consegue pará-la!
Então ele voltou a sussurrar algo que parecia ser uma língua antiga. Eu não faço idéia do que Mayumi quis dizer com “porta” e também não pensei em perguntar, pois sei que existem muitas pessoas com diferentes habilidades nesse mundo.
Em poucos instantes, a silhueta de uma porta começou a se formar no meio da sala, onde claramente antes não havia. Não muito depois ele parou de falar e voltou-se para Mayumi, com ar de derrotado.
- Está pronta, senhora. – A porta se abriu sozinha.
Ela bufou e falou para mim:
- Esta é uma das habilidades do Kanro, impressionado?! – Ela certamente falava com superioridade, querendo estabelecer uma diferença de potenciais. – Ele pode conectar dimensões paralelas.
- Esta é uma das que usamos para treinar. Não é habitada e as condições são perfeitas para podermos destruir sem ninguém reclamar. – Complementava, não com ar de superioridade, mas com orgulho, como o de um inventor sobre suas criações.
- Oh, impressionante mesmo! – Dizia, fingindo um sorriso.
De fato era muito útil, quando entramos pude ver claramente sobre o que se tratava quando Kanro disse que podiam destruir sem ninguém reclamar. A não ser pela escada que descia desde a porta até o chão dessa dimensão, não havia mais nada. Nada além de um plano horizonte, era até deprimente, meus problemas ficavam tão pequenos e insignificantes quando eu olhava essa vastidão estranha e sem fim.
O céu era laranja, havia algumas bolhas que pareciam nuvens, só que eram negras e pareciam sólidas. O chão era como um vidro com insulfilm e do topo da escada parecia algo bem frágil, o que pude confirmar como falso quando pus meus pés lá, era muito firme, também não era escorregadio. Era o lugar perfeito para treinar, realmente.
- Muito bem, Ryuu, lute contra Garu. – Ordenava Mayumi.
Era muito evidente que ela só queria me testar, talvez me fazer engolir a confiança que tinha mostrado e provar do que os Viginti eram capazes... Mas também era evidente que era só ela queria isso, Ryuu e Kanro estavam lá quase como que ameaçados e já me haviam “aceitado” na equipe; a outra garota também acompanhou-nos, mas não deixou de ler o livro, foi até impressionante o jeito como ela veio até aqui sem tirar os olhos da página.
Isso na verdade não fazia diferença para mim. Ter de lutar contra eles agora era uma oportunidade incrível, que eu não pensei que poderia conseguir de cara. O primeiro passo para conviver com alguém é saber o que ele pode fazer, qual sua habilidade e quais são seus limites; isso é fundamental para ver o quanto eu devo me controlar, pois se eu matar um deles, terei uma grande dor de cabeça.
- Por que eu?! – Relutava Ryuu.
- Por que eu estou falando.
- Sim senhora. – Dizia ele, chorando.
- Pois bem, então, Garu veja, é bem simples: uma luta um a um, sem limite de tempo ou poderes, pode fazer o que quiser, até conseguir derrubar Ryuu.
“Derrubar” ela diz... Então é só isso? Penso se devo dar um entretenimento melhor e seguir o fluxo do que ele consegue fazer ou acabar rapidamente... Bem, como o meu objetivo também é descobrir o que eles conseguem fazer, é claro que seguirei uma luta onde minhas habilidades sejam do mesmo nível das dele.
Chame-me de arrogante se quiser, mas era claro que alguém normal, digo pode até ser alguém anormal, qualquer um nessa cidade teria sérios problemas em me vencer, mesmo se eu não lutasse sério. A verdade é que desde que eu essa recebi a maldição, a única pessoa que me venceu foi quem me ensinou tudo, mas antes de morrer, a última vez em que treinamos, eu já era melhor numa luta justa contra meu pai.
Por este e outros motivos, convenço-me de que não há alguém hoje que seja melhor do que eu em uma luta aberta. Claro que as circunstancias da batalha podem levar a diferentes resultados, por isso também me previno, mas nas circunstancias desse treino, o resultado é óbvio, mesmo que eu tenha algumas desvantagens no momento. Digamos que eu acabei de sair do hospital e ainda sinto que estou com febre.
- Claro, só derrubá-lo, né?
- “Só”? – Ryuu disse, ainda chorando. – Assim você me subestima...
- Desculpe, não era minha intenção, Ryuu-san.
- Você não precisa usar o “-san”...
- Vão logo! – Gritou Mayumi, dando um chute em Ryuu.
- A luta nem começou e ela já me bate... – Sussurrou para si mesmo.
Estávamos eu e ele, um de frente para o outro, os outros três estavam mais ao fundo, perto da escadaria que dava para a nossa dimensão. Ryuu fez o primeiro movimento, ele se agachou, pegou impulso e correu em minha direção.
Agora entendo por que ele havia se autodenominado “pernas” dos Viginti. Ryuu era muito rápido, muito mesmo, algo por volta de umas quatro vezes mais do que alguém normal e, com certeza, ele não estava correndo com toda a velocidade que conseguia, mas mesmo assim era difícil eu acompanhá-lo.
Quando chegou perto o suficiente, começou tentando dar um soco na atura da cabeça, desviei, logo após apoiou as mãos no chão e virou para um chute, a velocidade era incrível, mas nada que fosse impossível, pulei e me equilibrei em sua perna. Era incrível também como ele me sustentava na perna, sem mesmo fraquejar, que dizer, eu tenho por volta de uns trinta e cinco quilos, talvez menos por que nesses meses emagreci por vários motivos, mas mesmo assim eram trinta quilos em uma perna...
Continuamos lutando só corporalmente por algum tempo. Ele atacava e eu defendia, simples assim. Não era nada especial, mas acho que se usasse toda a sua velocidade poderia se tornar problemático. A febre que antes tinha comentado agora começara a me fazer ver um pouco embaçado, então decidi acabar logo com essa luta inútil.
Enquanto ele me atacava, eu defendia vendo inúmeras aberturas, era como se ele estivesse desarmado falando “Aqui, bata-me.” Mas todas as oportunidades até agora foram ignoradas, só para testá-lo. Na verdade era engraçado pensar que em vez de Mayumi me testar, eu estava testando Ryuu... E o teste acabou quando, em uma dessas aberturas, eu dei um chute com o calcanhar em sua barriga. Ele estava tentando me atingir, então estava deitado no ar e o meu chute veio de cima, fazendo com que ele fosse empurrado pra baixo, batendo no chão e trincando-o.
Os espectadores atentos – quer dizer, Mayumi e Kanro, a outra garota não se mexia – soltaram um pequeno gemido quando viram Ryuu quebrar aquele chão de falso vidro quando atingido pelo meu chute.
A tontura que estava sentindo e minha visão embaçada com certeza não eram um bom sinal, será que eu chutei com muita força...? Cambaleei e acabei sentando ao seu lado, foi mais uma reação instintiva do que algo que queria, era como: sente ou caia.
- Ei, você está vivo? – Eu sussurrei ao seu lado, meio ofegante pela febre alta.
Ele tossiu um pouco e respondeu, com uma voz rouca:
- Claro... – Então se sentou, ofegante do cansaço e também do chute. – Não iria morrer por isso, Garu-kun, mas sabe, isso é um “treino”, então não precisava me bater tão forte.
Ufa, uma dor de cabeça a menos... Mesmo dizendo isso, minha cabeça agora dói... E tudo já está tão embaçado que não vejo a um palmo na minha frente. Droga, eu vou desmaiar, isso não é bom, definitivamente não é bom! Eu não posso ficar tão frágil na frente dessas pessoas, e se...
Tem alguém falando ao fundo. Ah, eu estou caindo... Droga!
Autor(a): nacchan
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Quando fizemos aquela cabana no meio de uma montanha nas Terras Altas ao Sul, meu pai mandou parar de chamá-lo assim, e, para nossa segurança, daquele dia em diante esqueceríamos os nossos nomes e todo mês trocaríamos os codinomes que usamos. Minha mãe também aceitou esses termos e então paramos de nos tratar como ...
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