Fanfic: Bad Revenge | Tema: Vingança

 Não era possível enxergar muita coisa dentro do banheiro. Havia tanto vapor que era quase impossível caminhar sem tropeçar entre as portas, armários, balcões e pias. Tudo que se ouvia além do barulho do jato de água eram os meus soluços.

Estava sentada com o rosto entre os joelhos, abraçando as pernas com toda a força, enquanto a água quente me alcançava o corpo. Sem aberturas na parte de baixo da porta nem possibilidades de sair pela parte de cima, não consegui escapar do castigo que me foi imposto. 

Final da aula de Educação Física, como sempre, eu resolvi tomar um banho antes de ir pra Biblioteca. Passar um tempo em meio à paz dos livros, escolher um bom texto degustarde romances épicos. Mas naquele dia, não pude concluir a minha rotina.

Recém chegada na escola, em menos de dois meses de aula, já tinha mais inimizades do que as que consegui fazer em dezesseis anos de vida. Embora não entenda o que eu possa ter feito ou a razão de toda a implicância que Yvaine, Sarah e Lorenne tinham por mim, eu tentava ao máximo, beirando o impossível, não me importar com isso. Eu quero dizer, é normal não gostarmos de alguém, mesmo sem nunca termos conversado ou algo assim, mas isso não significa que devemos odiar alguém por nenhum motivo, eu pensei que, talvez, depois de um tempo convivendo juntas e nos conhecendo melhor, pudéssemos, até mesmo, nos tornarmos amigas. Mas percebi que isso não seria possível, não depois do que elas fizeram.

Entrei no banheiro, lá estavam as três garotas, rindo e jogando conversa fora, enquanto se maquiavam. Andei em direção ao meu armário, peguei meu shampoo, sabonete, toalha, pente e fui caminhando em direção ao box. A Sarah esteve me acompanhando com os olhos durante todo o meu trajeto, ela, então, se antecipou, caminho e parou na minha frente. Ela me olhou com asco dos pés à cabeça e ergueu a mão esquerda, calmamente, até uma ou duas mechas do meu cabelo. Segurei a respiração, com receio do que ela pudesse fazer, mas me mantive calada e quieta, até que ela abriu um meio sorriso, embora seu olhar não tivesse acompanhado o ato, ela ergueu seus olhos, e me encarou. Seu sorriso cessou e ela disse:

- Acho que você está muito suja e precisa de um banho.

Ela agarrou meu braço, eu não consegui pensar ou reagir, e me empurrou dentro do box e trancou a porta por fora. Eu não consegui gritar ou chorar. Fiquei estática encarando a porta que estava fechada na minha frente. Tentei abrir uma ou duas vezes, mas não obtive sucesso. Em alguns segundos, começou o barulho da água. Nossa, como estava fria. Tentei desligar o registro de água, entretanto, por mais que eu tentasse a água não cessava. Comecei a me desesperar e pedir para que ela me deixasse sair. Tudo que recebi em resposta foi uma risadinha sarcástica e uma frase cuspida, que logo em seguida arrancou risos das outras duas meninas.

- A princesinha está com frio. Então vamos esquentar as coisas!

A água descia pelo chuveiro tão quente, que em poucos segundos eu mal conseguia enxergar qualquer coisa além do vapor. A água queimava minhas mãos, parte dos braços, pernas e o meu rosto. Eu comecei a chorar.

- Por favor, me deixem sair. Isso dói. Está machucando. Por favor!!! Não pude mais dizer uma palavra, os soluços cortaram a minha voz, as lágrimas que começaram a cair aos montes se misturaram com a água escaldante que vinha do chuveiro. Tudo o que eu pude fazer foi me sentar, colocar a cabeça entre os joelhos, na esperança de proteger meu rosto da dor, abraçar as minhas pernas e esperar que elas se cansassem da brincadeira.

Pensei que elas fossem desistir rápido. Não estava acostumada a ver tanta maldade nas pessoas. Mas, elas não pararam.

- Vamos ver quanto tempo ela aguenta. A Sarah disse, entre risadas, para as outras.

- Nos vemos na aula amanhã, Cloe. Esperamos te encontrar mais limpa e apresentável. Não se esqueça de respirar enquanto chora, não queremos que você se afogue nas suas lágrimas. Completaram as outras duas.

A última coisa que ouvi foi a batida da porta. Fiquei durante duas ou mais horas embaixo da água. As lágrimas continuaram caindo e meus soluços cada vez mais abafados refletiam a desesperança que eu tinha de sair de lá.

Ouvi passos e gritos, conversas e risadas muito distantes. O treino do equipe masculina de futebol deve ter acabado há pouco, eu pensei. Eles costumavam ficar depois das aulas para treinar. Os sons começaram a ficar cada vez mais distantes, até se tornarem escassos. Eu não tinha mais forças pra gritar por ajuda. 

Quando percebi o quanto eu tinha sido fraca e estúpida por não ter pedido ajuda quando eu tive chance, minhas lágrimas começam a cair mais e mais, enquanto meus soluços, antes abafados pela dor e pelo cansaço, agora se transformaram em gemidos altos de dor e profunda tristeza.

- Alguém aí? Uma voz gritou de longe, talvez da porta, não sei...

- Por favor, me ajude a sair daqui! Tentei gritar o mais alto que podia, mas a única coisa que consegui foi sussurrar enquanto chorava e soluçava com mais intensidade.

Ouvi os passos mais próximos e alguém tentou abrir a porta do box.

- Você está trancada por fora. Não consigo achar nada pra abrir a porta. Vou procurar algo que possa ajudar, eu volto em breve, não se desespere! Uma voz masculina, que me pareceu tão doce quanto a de um anjo, falou pra mim, enquanto os passos se dirigiam para a porta.

Sem forças, e crente que agora eu estava salva, só estive acordada até  o momento em que vi a porta ser aberta. Meu choro, soluços e lágrimas cessaram. Ergui a cabeça pra olhar o rosto do meu salvador e desmaiei, enquanto ele me puxava pra longe da água.

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 Tentei abrir os olhos, mas eles estavam muito pesados. Depois de muito esforço consegui deixá-los entreabertos. Minha cabeça doía. Todo o meu corpo doía. Tentei olhar em volta, vi as paredes brancas, minha mãe deitada na poltrona cochilando. Estou no hospital, eu pensei. Ergui meus braços até meu campo de visão e consegui ver o estrago que a tortura da água quente tinha me causado. Queimaduras de primeiro e segundo grau nos braços e pernas. As lágrimas a visitaram os meus olhos, não conseguia, nem queria, imaginar como estaria o meu rosto. Consegui, com muita dificuldade, me dirigir até o banheiro, carregando o soro, sofrendo com todas as dores do corpo e da alma que estava sentindo. Lá, a primeira coisa que fiz foi procurar um espelho. Lágrimas e mais lágrimas brotaram nos meus olhos e escorreram pelas minhas bochechas, como enormes cascatas de água. Eu não sabia se eu estava aliviada ou furiosa. Meu rosto estava um pouco vermelho devido ao contato imediato com a água, mas não tinha bolhas ou feridas que pudessem me deixar marcas irreversíveis. Pelo menos foi isso o que eu pensei.

Eu respirei fundo, enxuguei minhas lágrimas e olhei com firmeza para o meu reflexo no espelho.

- Vocês queimarão num inferno muito mais quente do que onde estive.

Batidas na porta, interrompem a conversa com meu alterego. 

- Cloe, você está aí, está tudo bem? Minha mãe gritou por detrás da porta.

- Sim mamãe, estou bem.

- Tem visita pra você, da escola, ela apressou-se em dizer. Arregalei os olhos quando minha mãe disse isso. Não consegui imaginar quem poderia ser. Dei um longo suspiro e pensei que pudesse ser o diretor, afinal, o incidente aconteceu na escola. O que aconteceria se eu fosse aos jornais falar sobre isso? Minhas bochechas ficaram vermelhas de raiva, se é que isso era possível.

Saí do banheiro e qual não foi a minha surpresa quando eu vi quem era a minha visita?