Fanfic: Bad Revenge | Tema: Vingança

As aulas finalmente começaram. Diferentemente do Brasil, existe uma grande valorização das artes nos países europeus. Teatro, música, pintura e outras tantas atividades artísticas tinham grande espaço na escola. Fiquei empolgadíssima com essas oportunidades. Matriculei-me nas aulas de teatro e piano, como atividades extracurriculares e, embora não tivesse muito talento, resolvi retomar minhas aulas de ballet clássico.

Cada atividade escolhida teve um propósito. Sempre fui tímida e pensei que com certeza as aulas de teatro me ajudariam a consertar isso. E não há nada como uma mulher elegante, o ballet me proporcionaria a postura, a delicadeza e a firmeza necessárias pra que eu me tornasse uma mulher notável.

Na escola em que fui matriculada tinham muitos intercambistas o que de certa maneira foi bom, porque incentivou a união entre os novatos. Posso dizer que fiz grandes amigos.

Sunju era a mais delicade de todas, ela tinha um cabelo longo e liso e uma adorável franjinha, com os olhinhos negros puxados e a pele alva, não negava a sua origem asiática. Ela era sul-coreana. Ficamos muito amigas e ela se tornou pra mim a raposa de Saint Exupèry.

Interessante mesmo foi a maneira como nos conhecemos....

Estávamos numa aula experimental de astronomia ficamos lado a lado enquanto tentávamoss achar a constelação que nosso professor designou para cada aluno. O tempo estava excelente, o céu de um azul escuro e limpo, sem nuvem alguma no céu. Quando eu me vi declamando uma passagem do livro "O Pequeno Príncipe":

- " As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu porém, terás estrelas como ninguém... Quero dizer: quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo (basta olhar para o céu e estarei lá). Terás vontade de rir comigo. E abrirá, às vezes, a janela à toa, por gosto... e teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!"

Quando terminei meu momento epifânico, meu olhar e o de Sunju se encontraram. Sorrimos uma para a outra e ela disse;

- É o meu livro preferido!

- O meu também, leio uma vez por ano, desde criança. É o meu ritual, respondi...

Ela deu uma risadinha alegre que logo me contagiou. Desde então, passamos a estar sempre juntas.

Sunju vivia apenas com o pai, sua mãe morrera assim que lhe deu a luz. A relação dos dois era bastante interessante. O respeito e a admiração que ela lhe devotava podia ser notado a anos luz de distância. Ele a tratava com bastante rigidez no que dizia respeito aos estudos, mas era apaixonado pela filha, ele dificilmente lhe negava algo.

Com o passar do tempo, nosso círculo de amizades se extendeu. Tínhamos o Michael, alemão, olhos azuis, cabelos dourados e curtos, muito doce, gentil e inteligente, um verdadeiro "lord inglês" e que queria ser escritor. Victor, inglês, cabelos negros e lisos, olhos azuis e usava óculos redondos, como os de Harry Potter, talvez essa fosse a razão de Sunju nutrir por ele um amor secreto. Ela era fã do bruxinho. Lea, inglesa, loira, cabelos longos e ondulados, olhos verdes e de grande profundidade, ela era a  rainha do teatro, querida por todos, esbanjava sensualidade, confiança, determinação e disciplina, mas quando nos aproximamos pudemos perceber o quanto era insegura e frágil. Por fim, nosso grande ursinho Bob. Bob tinha alguns muitos quilinhos a mais, o que de certa maneira o deixava deslocado quando tentava se relacionar com os outros estudantes. Conosco foi amor à primeira vista. Ok, à segunda vista, ou talvez à terceira, o importante é que nós o amávamos. Ele era adorável, engraçado, na medida certa, sempre alegre e com um sorriso no rosto. Ninguém conseguia ficar triste ou mau humorado perto dele. Isso era realmente impossível, cookies eram a sua solução pra tudo, ele sempre trazia consigo os cookies da sua mãe. Eles eram divinos!

Nós seis éramos inseparáveis, pelo menos no tempo livre que tínhamos. Almoços e intervalos eram nossos momentos de diversão. Não éramos de fazer bagunça, tínhamos boas notas, tudo isso fez com que fôssemos queridos pelos professores e gestores da escola.

Com o passar do tempo, nossos laços se estreitaram cada vez mais. Como eu tinha "passe livre", desde que não fizesse bagunça ou algo ilícito e papai estava sempre trabalhando, nossas reuniões passaram a ser frequentes.

Tínhamos a noite do pijamos oficial, que acontecia uma vez por mês e todos os fins de semana tínhamos que assistir a algum filme juntos, não importava o gênero. Às vezes íamos ao cinema, mas de maneira geral preferíamos assistir na minha casa. Tínhamos mais liberdade pra comentar o filme, brincar e comer guloseimas,e os cookies, é claro!

Mamãe e eu nos falávamos sempre pelo telefone ou por email. De fato, eu sei que pra ela isso não era o bastante, mas vendo-me tão empolgada e feliz, nunca a ouvi reclamar sobre nosso distanciamento.

Eu não podia imaginar quando eu tinha sido tão feliz. Eu tinha amigos incríveis, liberdade, estudava em uma das melhores escolas da Inglaterra, eu definitivamente, não tinha razões pra reclamar da vida.