Fanfic: Bad Revenge | Tema: Vingança

Eu estava tão concentrada em meus pensamentos que não pude perceber toda a movimentação na cozinha. Segurando uma colherada de sorvete em uma mão e a taça na outra, enquanto o que restava do meu sorvete derretia.

– Cloe? Bob disse entre risos, fazendo cócegas na minha barriga.

Tomei um susto e a colher caiu sobre o balcão, em seguida, aflita, derrubei a taça que acabou sujando toda a minha roupa com sorvete. O que supostamente deveria ter sido um momento engraçado, acabou trazendo de volta o mesmo clima tenso em que nos encontrávamos na sala de televisão.

Olhei atônita pra todos eles e me desculpei.

– Desculpem-me. Eu me distraí. Dei-lhes o meu melhor sorriso, numa tentativa de resgatar a alegria que sempre esteve presente em nossas noites de pijama.

Bob, sempre simpático, disse fazendo beicinho, e olhando com seu olhar de gatinho "pidão":

– Cloe, Lea não quer me deixar tomar mais sorvete! Ela disse que eu já estou gordo demais.

– Você está gordo demais. Lea disse sorrindo pra ele.

– Ohh Bob, Lea é uma amiga má. Eu disse, estirando meus braços para encontrá-lo num braço de urso.

Bob esticou seus braços em direção aos meus e quando nos abraçamos, ele virou seu rosto para Lea, mostrando-lhe a língua.

Creio que o desconforto tenha diminuído com toda aquela cena, pois tive a sensação que o clima pesado estava se dissipando.

– Acho que vou tomar banho, estou com sorvete por onde eu nem imaginei que existisse. Eu disse isso, andando em direção ao corredor que levava ao meu quarto. Vocês podem ficar à vontade e... Bob, você pode tomar quanto sorvete quiser. Sorri para todos e parti.

Após um banho reconfortante, vestindo um pijama tão macio que eu poderia dormir em pé, fui procurar meus amigos na sala de TV, já que não os encontrei no quarto, como eu esperei que fosse acontecer.

Depois de vaguear pelo interior da casa e de não os encontrar, fui procurar por eles lá fora. Chegando na varanda, o silêncio estava de penetrar os ossos. Lea deitada no sofá, apoiando a cabeça no colo de Bob, Michel sentado na poltrona com as pernas apoiadas na mesa de centro, Sunju e Victor deitados na rede. Ninguém falava nada, só era possível ouvir o barulho que vinha de fora e suas respirações.

– Um anjo passou por aqui? Eu perguntei bem humorada.

Michael se endireitou na poltrona e olhou pra mim, assim como todos os outros olharam e se esforçaram para me dar um sorriso, muito embora tenham falhado absolutamente. No entanto, não participaram da minha brincadeira e se mantiveram em silêncio.

Por fim, percebendo que ninguém estava confortável o suficiente para falar o que se passava em suas mentes, resolvi dar o primeiro passo e mostrar gratidão pelo carinho, pela confiança e, principalmente, pela amizade que todos sempre me ofereceram. Caminhei em direção ao Michael me sentei no encosto de sua poltrona. Olhei em volta, fixando meu olhar, paulatinamente, em cada um deles.

Ninguém mais estava deitado. Todos se sentaram e passaram a me fitar. Eles não tinham coragem de falar ou, creio eu, queriam que eu me dispusesse a explicar as coisas quando achasse que fosse chegada a hora. E sem dúvida, aquela era a hora.

– Bem - encarando meus dedos, comecei o discurso - Acho que nunca contei a vocês o motivo de eu ter me mudado para cá.

Sincronizadamente, todos balançaram suas cabeças negativamente, ratificando o que eu acabara de dizer. Os olhares estavam fixos em mim, exceto o de Michael, quando olhei para ele, percebi que o seu olhar estava fixo em um ponto perdido no lado oposto ao que eu me encontrava.

– Primeiro, eu queria pedir desculpas pelo que aconteceu, hoje, durante o filme. Eu..

– Você não precisa fazer isso, Cloe. Michael me interrompeu, colocando sua mão sobre a minha.

– Vocês são meus amigos e é algo que eu quero, que eu preciso compartilhar com vocês...

Ele, então, assentiu com a cabeça e manteve sua mão sobre a minha.

– Como eu estava dizendo - eu continuei - Eu nunca lhes disse a razão de eu ter vindo pra cá.

Meus batimentos, agora, estavam acelerados e a minha suava. Notando o meu nervosismo, Michael trouxe sua outro mão e "abraçou" a minha mão. Sua lealdade era, de fato, comovente.

– Eu tive problemas na escola. Mas um em especial me fez tomar a decisão de vir morar com papai.

Lágrimas vieram visitar meus olhos, mas me esforcei para não deixá-las cair. Eu queria ser forte, não podia fraquejar ali

– Três meninas implicaram comigo e passaram a me maltratar. Eu tinha acabado de mudar de escola, mamãe estava empolgada, eu não queria deixá-la preocupada, então nunca contei pra ela o que eu estava passando. No início, não era muito difícil aguentar as brincadeiras delas. Eu fingia que não prestava atenção, ignorava os olhares de recriminação, enfim... Mas um dia as coisas tomaram proporções maiores.

Uma lágrima rolou pela minha bochecha. Eu não conseguia mais olhar para nenhum deles, tomei fôlego, dei um grande suspiro e continuei.

– Elas me trancaram no boxe, sob o chuveiro com água fervendo. Passei horas debaixo da água, sofri queimaduras de 1º e 2º grau, precisei ser levada ao hospital.

Sunju chorava silenciosamente. Nós éramos uma alma só e imaginar meu sofrimento feria seu puro coração. Bob, permaneceu com os olhos abertos, agora arregalados, mas não disse nada. Victor tentava conter a tristeza e o choro de Sunju. Lea levou a mão à boca, ela estava chocada. Michael, estava apertando a minha mão com tanta força que chegava a doer.

– No início eu achei que bastaria eu mudar de escola, mas depois pensei melhor e não achei que fosse resolver. Morávamos perto umas das outras, eu não quis correr o risco de cruzar com elas por onde eu andasse. Além do que, era improvável que elas fossem parar, depois do que aconteceu, muito menos. Os diretores estavam dispostos a investigar o que tinha acontecido....

Quando me dei conta, todos estavam de pé e caminharam em minha direção. Recebi o maior abraço de urso da minha vida.

Não foi necessário que eu explicasse a relação do que aconteceu com a cena do filme Isso ficou bastante claro nas entrelinhas.

Passado o momento das explicações, nossa dormida acabou se tornando um acampamento. Todos quiseram dormir perto de mim, o que era impossível acontecer na minha cama, mesmo ela sendo de casal. Levamos os colchões para a sala de estar, afastamos os móveis e fomos dormir.

Naquela noite, Michael e eu dormimos abraçados.