Fanfic: Bad Revenge | Tema: Vingança

Olho pela janela do carro. O dia hoje amanheceu nublado. O tempo está chuvoso, o dia escuro com o céu coberto de nuvens cinzas e pesadas que descarregam grandes pingos de água nos pedestres, na rua, na grama... tornando tudo melancólico. Uns diriam que é coincidência, mas eu poderia jurar que era Londres chorando minha partida. Talvez seja presunção minha achar que o universo tornaria seus olhos pra mim dessa maneira, mas essa ida para o Brasil carregou meu coração e minha alma de mágoa e de uma sensação que eu não sabia explicar, como um medo, um receio profundo. Talvez fosse apenas uma tristeza pelas más recordações que eu guardava de lá, mas o fato é que um frio percorrera minha espinha e se instalara no meu estômago, tornando todo o trajeto para o aeroporto, desconfortável.

No aeroporto, bem agasalhada, vestindo um sobretudo bege, botas de cano alto, e um cachecol preto enrolado ao pescoço, Michael me abraçava apertado e passava a mão pelas minhas costas, como se aquecesse uma criança pequena, apreciando os últimos minutos que tínhamos juntos antes do meu embarque.

- Ligue assim que chegar. Ele sussurrou docemente no meu ouvido.

- Ok. Eu respondi segurando o fôlego com medo que pudesse me escapar o choro.

Eu entrei naquele voo tentando me convencer de que muito tempo já havia passado e que eu devia me acalmar, até que consegui dormir e só acordei quando o avião aterrissou em solo brasileiro.

As fotos para a campanha seriam tiradas em três locações diferentes. Primeiramente na praia de Búzios, no Rio de Janeiro, exaltando a beleza natural, o bronze, os cabelos desalinhados... Em seguida seriam feitas fotos na Oscar Freire, em São Paulo, pintando o glamour de uma vida agitada, luxuosa e elegante; por fim, o último cenário era o Jardim Botânico de Curitiba, finalizando o terceiro dia da minha estada no Brasil.

Os dois primeiros dias foram fáceis, sem quaisquer complicações. Michael e eu nos falamos pelo menos duas vezes ao dia, embora nossos fusos horários estivessem em conflito.

Como fazia bastante tempo que não visitava a minha casa em Curitiba, embora recebesse visitas e falasse com a minha mãe frequentemente, resolvi aproveitar a minha ida até a cidade para almoçar com ela depois da sessão de fotos. Assim eu poderia matar as saudades de casa, mesmo que por um momento.

Nosso almoço foi muito prazeroso. Não quis almoçar fora em um restaurante, mas sim, comer em casa, na mesa do jardim que me parecera muito mais bonito do que eu conseguia me lembrar.

- Então Cloe, você e o Michael já têm falado em casamento? Mamãe não perdia a oportunidade de tocar nesse assunto. Ela sonhava com a minha festa de casamento desde que eu anunciei meu namoro com o Mike, há dez anos atrás.

- Mamãe, nós estamos bem assim. Temos tudo o que precisamos. Respondi carinhosamente.

Ela me devolveu um sorriso terno, mas continuou a falar no assunto.

- Londres tem igrejas tão lindas. Seu casamento poderia ser feito lá, embora eu preferisse que ele fosse realizado aqui, na mesma igreja que eu e seu pai casamos.

- É... Londres tem igrejas lindíssimas. Michael e eu temos olhado algumas.

- Então... Quer dizer que vocês já pensam nessa possibilidade? Sua voz era eufórica. Como se tivesse recebido a melhor notícia da sua vida.

- Mãe, é claro que nós cogitamos nos casar. Só precisamos de um pouco de tempo para organizarmos melhor as coisas.

- Mais tempo? Não vejo pra quê.. Vocês já tiveram tempo de sobra para planejar, no mínimo, dez casamentos reais. Enquanto ela fazia uma cara emburrada, lhe dei um sorriso bem humorado, no que outro me foi devolvido.

- Depois do almoço, voltei ao trabalho, porque se queria aproveitar o pôr do sol para fazer mais algumas fotos, todavia, esta parte do trabalho não me tomou muito tempo...

- No caminho de volta pra casa, embora a distância fosse longa, resolvi ir caminhando. Crianças brincavam no parque com suas babás, casais dividiam um sorvete ou corriam juntos... A paisagem me fez sentir saudade do Michael, uma saudade triste que me doía o coração. Eu não gostava de me separar dele, fazer qualquer coisa sem ele era andar por aí com uma parte de mim faltando.

- Quando finalmente estava chegando em casa, senti vontade de comprar sonhos, meu ritual de todos os dias, em Londres. Então, passei numa panificadora para comprá-los.

- Enquanto esperava na fila do caixa para pagar, senti um toque no ombro. Quando virei para averiguar de que se tratava, um lindo rapaz me olhava sorridente.

Não entendi do que se tratava, mas ficamos parados por alguns segundos enquanto o rapaz sorria e eu lhe lançava um olhar interrogativo.

- Próximo! Gritou a balconista.

Fiquei um pouco desorientada, não sabia se devia permanecer ali e falar com aquele estranho, ou devia simplesmente ignorá-lo, pagar e sair.

- Cloe, não se lembra de mim? Seu sorriso se fora e agora o rapaz me lançava um olhar decepcionado, como se fosse meu dever reconhecê-lo.

- Eu sinto muito. Ahn.. Não... Fiquei atordoada, não conseguia me lembrar dele. Até que o ar gelou à minha volta e um nome ecoava na minha cabeça... Matt, Matt, Matt...

Eu lhe dei um sorriso desajeitado e ele abriu os braços me convidando para um abraço...