Fanfic: O engano aya

-
Eu preciso falar com você...

Houve um ruído e Any pensou que a ligação fosse
cair. Suas mãos tremiam. A voz de Poncho era inconfundível.
- O que você quer?
- Chegarei a Londres por volta das nove. Quero vê-la.

Any estava segurando o fone com tanta força que as
juntas dos dedos embranqueceram.
- Any?
- Dulce continua no emprego?
- Sim.

Any suspirou de alivio sem dar demonstração.
- Isso significa que também terei meu
emprego de volta?
- Conversaremos mais tarde a esse respeito.
- Não, Poncho. Nós nunca mais nos veremos. O que tenho a dizer pode ser por
telefone. Você me deve meu emprego!
- Eu tenho um emprego alternativo para lhe oferecer.
- Não me importo em continuar fazendo o que fazia. E você não precisa se
preocupar porque não pretendo contar a ninguém sobre o que houve.
- Conversaremos sobre tudo isso esta noite.
- Não quero vê-lo nem esta noite, nem nunca mais! Já disse que só meu emprego
me interessa. Se você não deixar voltar, irei ao sindicato. Conheço meus
direitos.
- E dirá o quê? Não acabou de prometer que não contaria nada a ninguém sobre o
que houve?
- Mas eu sou uma mentirosa, não sou - Any ironizou

O ruído voltou a atrapalhar a ligação.
- Se você quer realmente voltar ao
trabalho na próxima semana, não a impedirei.
- É tudo que desejo. Quanto a esta noite, tenho mais o que fazer. Esqueça que
nos conhecemos. Eu já esqueci.

Any bateu o telefone. Como Poncho podia esperar que
ela fosse encontrá-lo? Para quê? Para saber o nome da pessoa que o espionara?
Para ouvir um pedido de desculpa? Poncho acreditava que um pequeno gesto de
humildade mudaria alguma coisa?
Com os nervos em frangalhos, Any fechou a loja e subiu para seu quartinho.
Preparou um sanduíche e tentou comer. Mas deixou-o depois de duas mordidas.
Vinte minutos depois estava entrando na Herrera International e olhando para
retrato de Poncho que lhe pareceu ainda mais arrogante do que em pessoa.
O supervisor a recebeu com um olhar de reprovação.
- Você abandonou o serviço na
segunda-feira sem dizer nada a ninguém e nem sequer telefonou para justificar
sua ausência nas últimas noites. Fui obrigado a comunicar o fato ao departamento
de pessoal.
- Eu compreendo e sinto muito por não ter avisado.

No meio do expediente, Any fez o costumeiro e
autorizado intervalo para o café. Encontrou Dulce no refeitório dos
funcionários e ela se sentou a seu lado.
- Onde você se meteu na segunda-feira
que não desceu para o café? Eu quase morri do coração. Achei que seu sumiço
tinha a ver com aquele sujeito...
- Que sujeito? - Any  indagou, aflita
- Ora, o sujeito que vinha importunando-a todas as noites. O tal Becker. Assim
que eu comecei a limpar o seu andar, ele quis saber onde você estava.
- Oh, eu sinto muito - Any murmurou, subitamente atônita.
- Desculpe querida, mas eu tive de contar. Ele foi a sua procura no último
andar?

Any enrijeceu. O que Dulce estava dizendo poderia
significar a identificação do culpado pelo vazamento de informações.
Naquele instante, uma conversa entre duas outras faxineiras desviou sua
atenção.
- Aposto que ela é secretária dele...
- Oh, não. Não da maneira que estava vestida. Ela usava até mesmo um chapéu e
luvas. Além disso, por que Poncho  Herrera levaria uma secretária ao
funeral do pai?

Any engoliu em
seco                    
- De quem elas estão falando, Dulce?
- Da loira misteriosa que acompanhou o Sr. Herrera a Atenas. - Dulce deu uma
risada. - Que idéia! Imagine se uma secretária se apresentaria de chapéu e luvas!
-Algumas secretárias são altamente qualificadas e ganham excelentes salários -
Any tentou justificar.

As outras duas
pararam de falar instantaneamente.
- Você é loira e desapareceu como em um
passe de mágica aquela noite - disse uma delas. - Não tem nada para nos contar?

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