Fanfic: O engano aya

 Any afastou-se com
passos firmes, mas ele a seguiu.
- Pare de me tratar como se eu fosse
uma criminosa! - Anahí ordenou trêmula.

Pela primeira vez, Poncho Herrera ficou sem jeito
diante de uma mulher. Afinal, quem ela pensava que era para falar com ele
daquela forma? E antes que pudesse colocá-la em seu devido lugar, a garota
continuou.
- Você está se comportamento de maneira
ridícula desde que entramos nesta loja! -Any experimentou um par de sandálias
pretas de saltos altos. Ao constatar que ficaram bem, entregou-as ao patrão,
sem se dignar a fitá-lo. Em seguida, sob o olhar estupefato da gerente,
escolheu uma camisola e alguns conjuntos de calcinha e sutiã.

Ela havia decidido fazer o que ele queria. Não
estava adiantando lutar. Se continuasse protestando, passaria ainda mais
vergonha em público. Assim, talvez fosse melhor comprar aquelas roupas e
aqueles sapatos de uma vez. Mas não levada nada consigo quando deixasse de ser
uma prisioneira e pudesse voltar para casa.
Ele colocou o vestido azul e as sandálias sobre o balcão.
- Use isto na viagem.

Anahí pegou as peças e se dirigiu a um dos
provadores. Quando saiu de lá, estava aliviada. Nunca sentira tanto prazer
antes em sair de uma loja.
Ao passarem por outra vitrine, Alfonso Herrera a fez parar.
- Não precisa de artigos de perfumaria?
- Não. Darei um jeito. Os homens das cavernas limpavam os dentes com gravetos.
Tentarei encontrar um a caminho.

Ele a encarou como se quisesse fulminá-la. De
repente, arqueou a cabeça para trás e se pôs a rir.                                                    
Any parou de respirar e seu batimento cardíaco acelerou. Os dentes muito
brancos faziam a pele parecer ainda mais bronzeada. Os olhos azuis brilhavam
com humor. Ela não havia percebido antes o quanto seu patrão era bonito.
- Não estou acostumado a fazer compras -
ele confessou. - Outros se encarregam disso por mim.

Any baixou os olhos, como se isso fosse impedir
Poncho Herrera de notar seu rubor. O que estava acontecendo? Aquele homem não
estava fazendo nenhum esforço para impressioná-la. Ao contrário. Por que,
então, estava se sentindo atraída?
Aos vinte e um anos de idade, E não tinha um namorado e não marcava um encontro
havia meses. Em sua opinião, poucos homens mereciam a atenção de uma mulher. A
maioria era perda de tempo. Ao menos, era esse o conhecimento que trazia de sua
infância.
Estavam se dirigindo ao portão de embarque. O movimento era grande no
aeroporto. Para apressá-la, enquanto se infiltravam pela multidão, seu
carcereiro colocou a mão espalmada em suas costas.
- Com licença - disse Any.
- Aonde pensa que vai?
- Ao toalete. Pretende me levar até lá também? - perguntou com proposital ironia.

Poncho Herrera hesitou. Por sua expressão, Any
adivinhou que ele não havia gostado da brincadeira.
- Dou-lhe dois minutos.

Ela o encarou e soltou as sacolas de compras a seus
pés. Já havia se afastado alguns passos quando ouviu seu nome. Virou-se e percebeu
que ele lhe acenava com um pente.
- Talvez queira aproveitar e dar um
jeito em seus cabelos.
Any cerrou os dentes para se controlar. Por pouco não levara as mãos à cabeça.
Em sua raiva, ela havia se esquecido de verificar sua aparência antes de sair
da loja.

Em poucos instantes, penteou os cabelos. Seu reflexo
ao espelho mostrava uma mulher moderna e elegante.
Mordeu o lábio ao se lembrar da precisão com que Poncho Herrera escolhera seus
vestidos. Por outro lado, não deveria estar admirada. Com vinte e nove anos e
muito poder e dinheiro, aquele homem certamente tivera mulheres de todos os
tipos e raças.
No entanto, era ela quem estava ao seu lado e ali permaneceria por mais um dia
e meio. E estava viajando para a Grécia, um país exótico que dificilmente iria
conhecer por seus próprios meios. Em um avião particular ainda por cima!
Não deveria estar feliz e empolgada em vez de zangada? Afinal, não era melhor
viver uma aventura do que limpar escritórios?
Any pestanejou ao se lembrar de seu outro emprego. Era preciso avisar o Sr.
Barry que não poderia abrir a livraria no dia seguinte nem no outro. Ele não
costumava aparecer na loja antes do meio-dia. Se não fosse comunicado, ele iria
subir a seu quarto, quando chegasse, e derrubaria a porta certo de que ela
havia morrido ou de que estava muito doente.
Assim, apesar da proibição de Poncho Herrera, ela teria de ligar para o dono da
livraria e inventar uma desculpa para sua falta ao trabalho.
Com cuidado para não ser vista,Any se misturou a um grupo de mulheres no
momento que elas saíram. Antes de correr para o telefone público, porém,
certificou-se de que não seria vista. Poncho Herrera, para sua sorte, estava de
costas, falando com alguém pelo celular.
Ligou para a central telefônica. Como estava sem moedas, teria de fazer uma
chamada a cobrar.
Any estava aguardando que a ligação fosse completada quando seu patrão desligou
o celular e olhou para ela.
Devolveu o fone ao gancho sem saber como. Estava paralisada e tremula ao mesmo
tempo. Pela primeira vez em sua vida, estava realmente com medo...

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