Fanfic: LaLaan - A Dança Dos Corvos
Acordei cedo hoje. Que raro. Fui diretamente para a cozinha tomar o café da manhã, pensando incessantemente no ocorrido de ontem.
– Jean? – Jerome me olhou assim que eu sentei na cadeira.
– O quê? – Indaguei em um tom impaciente, com o olhar fixo no pão.
– Você está mais pálido do que o normal – inclinou um pouco a cabeça para o lado – Aconteceu alguma coisa?
– Não, nada. – Levantei-me da mesa – Vou tomar banho.
– Coloque uma roupa de sair. Vamos comprar algumas coisas no supermercado.
Bom, tudo bem. Acho que sair é mesmo o que estou precisando. Tomei banho e, como sempre, demorei. Costumo pensar muito na vida durante o banho.
Pus uma roupa normal. Blusa preta, casaco preto e calça jeans. Fomos no supermercado a pé, uma vez que não era tão longe. Passamos pela praça no caminho, que ficava bem perto do supermercado. Ela estava vazia. Olhei de relance para um dos bancos... Um corvo estava em cima do encosto do banco, imóvel, me encarando.
Parei de andar e o encarei também. Ficamos nos encarando por longos e confusos minutos. Eu não sabia como reagir diante disso, uma vez que é muito incomum ver corvos por aqui, ainda mais que me encarem desse jeito.
– Jean! O que está fazendo aí parado? – Jerome gritou, a alguns metros de distância de mim. Voltei à realidade. – Vamos logo! – Apressei-me a alcançá-lo, dando passos longos e rápidos, voltando a focar no caminho.
Por sorte, o supermercado não estava cheio, então foi bem rápido. Saímos de lá com alguns sacos plásticos cheios de comida, doces e biscoitos. Passamos novamente pela praça. O corvo não estava mais lá... Agora era LaLaan sentada no banco, me encarando. Ela estava com as mesmas roupas de ontem. Discretamente, andei até ficar de frente para a mesma.
– O que você está fazendo aqui? – Indaguei, confuso.
– Ora – Soava debochada – sou moradora de Southville. Tenho o direito de ficar aqui, não acha?
– Só... Só é estranho vê-la por aqui. – Gaguejei – Nunca havia te visto em toda a minha vida, tampouco na cidade até ontem.
Ela deu uma risadinha baixa. – Você precisa ficar mais atento, Jean. Eu estou em toda parte. – Deu um sorriso meio macabro, igual ao de ontem.
“Esse sorriso de novo...” Pensei. Minha espinha gelou outra vez.
– O que é você, afinal?
– Esta – Levantou – é uma boa pergunta. – Soou irônica, o que me fez ficar meio indignado. O que há com essa garota? – Encontre-me na cachoeira à meia noite. – Ela disse, por fim andando para a direção oposta do meu caminho para casa, com as mãos nos bolsos do sobretudo.
Fiquei parado ali por alguns segundos, logo soltando um longo suspiro. Desde que cheguei nessa cidade, só coisas estranhas me acontecem. Voltei para casa, pensando se deveria ir ou não. Afinal, eu nem conheço essa garota, e estranha pra ela é pouco. Sei lá, vai que é uma maníaca ou algo assim. Não se deve confiar nas pessoas hoje em dia... Mas, inexplicavelmente, eu queria ir. Havia algo naquela garota que me atraía para ela, como um ímã. Ou será que é ao contrário?
Passei o resto do dia pensando se ia ou não. Afinal, eu também teria que dar um drible no meu pai para ir.
Depois de muitas horas, e eu estava no meu quarto. O relógio apontava 23h50. Sucumbi à curiosidade e decidi que iria, ciente das possíveis consequências. Como precaução, levei um canivete que havia ganhado do meu pai para me defender quando eu morava na cidade grande.
Coloquei meu relógio de pulso, peguei uma lanterna e abri a porta do quarto. Notei que as luzes já estavam apagadas. Jerome já deitou, sorte minha. Desci as escadas silenciosa e cautelosamente, abrindo a porta devagar.
Segui o mesmo caminho que havia seguido ontem, guiando-me com a lanterna para enxergar melhor. Não demorou muito para eu chegar na cachoeira. Olhei para os lados.
Nada da LaLaan.
Olhei pro meu relógio de pulso, que marcava exatamente 00h. Senti um cutuque no meu ombro, virando-me rapidamente para trás.
– Confesso que estou surpresa. – Deu seu típico sorriso irônico. – Achei que você não viesse.
– Eu não vinha – Olhei para o lado – mas sucumbi à curiosidade, eu acho.
– Entendo. – Sentou na grama. Senti que deveria sentar também, e assim o fiz. – Gosta de corvos? – Ela indagou, virando o rosto para mim, séria.
– Não sei – Lembrei do corvo na praça – Acho que eles me dão um pouco de medo, inclusive quando ficam me encarando.
Ela deu uma breve gargalhada, voltando a olhar para a cachoeira. – Ora, Jean! Mas eles estão sempre te observando!
– Como assim? – Perguntei, assustado.
– Oh, nada demais. – Mentiu, sem disfarçar a ironia propositalmente.
– Por que diabos eu sempre fico confuso quando falo com você? – Franzi um pouco a testa, meio indignado.
– Talvez seja porque você não sabe o suficiente... Ainda. – Apoiou a cabeça na mão direita.
– Até quando pretende me fazer de idiota, LaLaan?
– Até quando eu achar necessário. – Sorriu ironicamente por alguns segundos.
– Eu vou embora. – Levantei-me, irritado. – Odeio ser posto nesse tipo de posição. – Virei para trás.
Mal pude dar dois passos. Esbarrei em alguma coisa... Ou alguém.
– Ack! – Dei um passo para trás e apontei a lanterna à minha frente. Pude ver pouca coisa: Uma mulher loira, do mesmo tamanho de LaLaan, com um grande sobretudo branco, do mesmo estilo do de LaLaan também. A mulher deu um tapa na lanterna, tirando-a da minha mão e fazendo-a cair no chão.
– Mas o que é isso? – Perguntei meio que involuntariamente. Andei outro passo para trás. Eu não conseguia ver quase nada devido aos olhos desacostumados com a escuridão, mas notei alguém colocando-se na minha frente.
– O que você está fazendo aqui, Aylla? Achei que tivesse coisas mais importantes para fazer! – Era a voz de LaLaan.
– Você não aprendeu mesmo! Estúpida LaLaan! – Vociferou uma outra voz feminina. Deve ser da tal Aylla. Logo depois ouvi um barulho de soco e um gemido de dor.
Com muito esforço, notei que um vulto se aproximou de mim, agarrando-me pelo pescoço.
– Solte-o. – Sussurrou, então não consegui identificar de quem vinha o sussurro. Um outro vulto arrancou as mãos dela do meu pescoço, logo fazendo um movimento como quem deu um soco na barriga da adversária, que deu um grito de dor. Não entendi direito o porquê, seja quem for deve ser realmente muito forte. Eu estava lá, imóvel, sem saber quem era quem. Tudo que eu sabia era que LaLaan e a tal Aylla estavam lutando. De qualquer forma, eu não poderia simplesmente me meter no meio das duas... Elas, com certeza, não são humanas normais. Estavam lutando ferozmente.
Vista sem saída, um dos vultos tirou o sobretudo, revelando longas asas. Ela correu na minha direção, segurando minha mão e levantando voo. Meu Deus, mas o que é isso? De onde ela tirou essas asas? Olhei para trás e o outro vulto estava nos seguindo. Por que está tudo tão escuro?
– Segure-se. – Sussurrou de novo. Ela aumentou assustadoramente a sua velocidade, o que me fez apertar bem a mão dela. Depois de um tempo voando, notei a ausência do outro vulto.
– Acho que... Acho que despistamos ela. – Gaguejei, sem saber se era Aylla ou LaLaan quem estava me levando.
– Não tenho tanta certeza. – Sussurrou. Quem quer que seja, não queria que eu identificasse. Ela pousou na janela do meu quarto, fazendo eu passar pela janela e, logo depois, entrando também. Ela se ajoelhou no chão, um pouco ofegante, de costas para mim.
– Você é... LaLaan?
– Não. – Sussurrou bem baixinho, quase inaudível se não tivesse um silêncio mortal na rua.
Ainda estava muito escuro, mas eu olhava incessantemente para suas asas que agora estavam em repouso.
Ela virou um pouco a cabeça. Ao notar meu olhar, ela apressou-se em pular na janela, pegando impulso e voando para cima, desaparecendo do meu campo de visão.
Afinal, quem diabos me salvou?
Agora sim um nó havia surgido na minha cabeça.
Autor(a): msheterochromia
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Dormi mal essa noite. Não consegui dormir direito por causa do ocorrido de ontem. Quem teria tentado me estrangular ontem a noite? Aylla? LaLaan? Não... LaLaan não faria isso. Ou faria? Não tenho certeza. Afinal, eu nem a conheço. Tenho que estar mais do que ciente disso. Ela pode parecer uma coisa mas ser outra totalmente diferente. Por ...
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