Fanfic: Enséñame - Vondy | Tema: Rebelde

Prólogo

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Eu sempre me senti deslocada, mesmo fazendo parte de uma família numerosa e tendo uma irmã gêmea sentia como se tivesse nascido no lugar errado. Não que eu não amasse a minha família, pelo contrario, eu os amava muito, mas o lugar onde eu havia nascido não me agradava nem um pouco. Assim como qualquer garota sempre sonhei com um príncipe encantado, mas duvidava que qualquer tipo de príncipe aparecesse no pequeno vilarejo em que eu morava, por isso aos dez anos decidi que iria estudar muito e depois ir embora para a capital...

Para atingir minha meta não poupei esforços e nem medi os meus atos, desde pequena era apontada como a “ovelha negra” da família por enfrentar os meus pais e também meus irmãos mais velhos, nunca gostei de fazer serviços domésticos, preferia ficar assistindo TV e almejando ter a mesma vida das moças da cidade grande. Meus pais sempre me repreendiam, diziam que assim nunca iria conseguir arrumar um bom marido, pois não queria aprender o que eles diziam ser o dever de uma mulher.

Mas eu não queria ser como a mamãe, ou minha irmã que eram submissas aos homens da família realizando tudo que lhes era pedido sem contestar, eu também queria sair e ganhar o mundo e não ficar em casa esquentando a barriga no fogão e cuidando de uma penca de filhos...  “eu mereço mais que isso”, dizia a mim mesma.

Para o desagrado de papai, comecei a trabalhar mesmo sem sua permissão em um armazém aos doze anos, não ganhava muito dinheiro, mas todo o que eu recebia, guardava em baixo do meu colchão. Fiz o que muitas jovens do vilarejo tinha vontade, mas não tinham coragem, desafiei a tudo e a todos para realizar meu sonho, e aos 17 anos quando completei o ensino médio, juntei o que achava necessário em uma mochila, despedi-me de minha família na pequena rodoviária e desapareci em um ônibus sem olhar para trás.

Ainda hoje me lembro do olhar que cada um deles lançou-me, no olhar de meus irmãos mais velhos Felipe e Fernando via a surpresa, pois eles sempre acharam que está minha ideia de ir para a capital iria sumir com os anos, minha irmã Luci chorava como se a minha partida tivesse arrancando um pedaço de si, eu sabia que ela se sentia assim, pois em mim doía desta mesma forma... Luci e eu erámos gêmeas idênticas na aparência, mas totalmente diferente no temperamento, mais nossas características diferentes nunca nos separou, ela sempre me apoiou em tudo, menos agora é claro, ela achava que ir embora sozinha para capital era loucura.

Meu pai tentava manter-se firme, dizendo que já esperava este dia a muito tempo e que para mim aquele lugar nunca fora o suficiente, mas mesmo querendo ir eu esperava que ele tentasse me impedir, me ameaçasse, queria sentir que ele não aprovava a minha partida... Mas ele aceitou logo quando eu disse e isso me irritou muito.

Minha mãe não aceitou, ela me suplicava para que esquecesse aquela loucura enquanto acariciava seu ventre já proeminente, estava gravida de gêmeos novamente, e isso me enraivecia, será que ela não percebia não ter mais idade para ficar parindo?

Mas sabia o porquê dela cometer a loucura de ter mais filhos com quase quarenta anos, ela queria agradar ao meu pai que sonhava com uma família numerosa, a submissão dela a ele era quase doentia, muitas vezes eu reclamei sobre isso, e ela apenas dizia que o amava tanto que faze-lo sorrir era sua maior alegria...

O olhar dela demonstrava que a minha partida não doeria apenas em minha irmã, mas nela também. Quando vi lagrimas caindo de seus olhos quase joguei minha mochila no chão e corri para seus braços, mas essa vontade foi embora quando olhei para meu pai e ele agora me olhava de cima, como se percebesse minha relutância em deixar a mamãe. Mas ele percebeu a coragem tomar conta de mim novamente, pois pela primeira vez vi medo em seu olhar.

Aquilo me deixou muito confusa, fitei-o tentando ler seus reais sentimentos, mas me obriguei a parar, pois aquilo era apenas o meu medo de partir aflorando, dei um ultimo abraço em todos e corri para o ônibus para tomar o meu lugar, dentro de mim se passava um turbilhão de emoções, medo de deixa-los, medo do desconhecido que significava a capital, mas também havia muita alegria em saber que meu sonho estava a um passo de se tornar realidade.

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