Fanfics Brasil - 42 A Lenda De Um Amor LALITER (Adp)

Fanfic: A Lenda De Um Amor LALITER (Adp) | Tema: Laliter


Capítulo: 42

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Oi gente to viva kkkkk,me desculpa a demora mais NUNCA iria abandonar web vou terminar ela nesse capitulo ele é tipo ENORME então espero que comentem o que acharam sobre ela.Quando resolvi postar essa web, tava com tempo e tinha varias leitoras, eu sei que fou meio turista na web mais eu prometi que a terminaria então ca estou eu, e ela esta TERMINADA e queria mt a opnião de vcs sobre ela.


 


jucinairaespozani: Obrigada por comentar flor,fico mt feliz que goste da web *-*, raiva da maria acho que todas nos temos rs ,bom sobre a lali acho que só lendo mesmo.


 


 


 


 


 


 


 


Boa Leitura!


 


 


 




 


 


 



—            O que pretende dizer com essa história de que aperdeu?! 


 


Maria não precisou fingir lágrimas ou medo. Jamais fora alvo de tamanha fúria em toda a sua vida.


 


 


 


O lorde de Blackstone estava fora de si, pronto para cortar-lhe a garganta, e apenas o braço sereno e forte de Nicolas o impedia de realizar seu intento.


 


Peter, o Moreno, perderia tudo que lhe era precioso, refletiu com perversa satisfação. De pé à sua frente, a única coisa que mantinha Maria ereta era o pensamento que vinha à sua mente: neste instante, o lorde sentia toda a dor, humilhação e frustração que ela fora forçada assentir, quando percebera que o líder dos Lanzani`s jamais a pediria em casamento.


 


Sabia muito bem que seu pai oferecera sua mão em matrimônio para Peter. Semanas depois da morte de Juliana, sua irmã,


 


Maria vira os dois confabulando em uma outra sala e os seguira.


 


 


Ouvira tudo, escondida em uma alcova escura, curiosa e cheia de esperanças.


 


Quando Peter recusara a oferta de seu pai, alegando que não poderia desposar a ex-cunhada porque estava de luto pela morte de sua irmã. Maria desejara acreditar em suas palavras.


 


Suspeitava que a desculpa era bastante esfarrapada e não tinha muito a ver com o falecimento de Juliana, mas afinal tratava-se de sua irmã, e resolvera ter paciência.


 


Entretanto, poucos meses mais tarde, fora forçada a encarar a humilhante realidade. Peter não a desejava.


 


Quando o senhor de Blackstone voltara a se casar com a patética mulher que preferia ser freira e depois com outra, dessa vez uma louca que tentara matá-lo, e mais outra, a estranha Lali Esposito, Maria sentira o sangue ferver de ódio. E ela, Maria Del Cerro, conhecida por sua rara beleza? Quando chegaria a sua vez? Nada além de olhares distraídos, lembrou-se com amargura.


 


Não lhe importava que todos os casamentos seguintes tivessem sido programados por Albany.


 


 


 


Juan Pedro Lanzani sabia muito bem que, caso desejasse, bastaria erguer um dedo para que Del Cerro`s tudo lhe concedesse a fim de vê-los casados.


 


 


O fato de Peter ter convencido seu pai afazê-la viver em Blackstone por mera cortesia, onde era forçada a encarar sua humilhação e o desprezo do lorde a cada dia, apenas aumentara seu sofrimento e raiva.


 


Entretanto a gota d`água que a fizera resolver se vingar do senhor de Blackstone, acontecera quando ele tentara impingir-lhe outros pretendentes para desposá-la. Isso fora demais!


 


Peter pouco se importava se outro homem a abraçasse, beijasse e a levasse para a cama, refletira, cheia de amargura. E esse fora o pior dos insultos.


 


O coração de Maria só ansiava por vingança, e não retinha piedade por lorde Lanzani.


 


—     Responda-me, mulher!


 


Ante o grito rouco. Maria retomou ao momento presente, com um estremecimento. 


 


—     Foi como lhe contei, milorde — murmurou, engolindo a seco. — Lady Lali estava atrás de mim em um momento, e no instante seguinte... desapareceu — caiu de joelhos, soluçando. — Juro! Não sei onde sua esposa está. Procurei-a durante horas, mas foi tudo em vão!


 


 


Maria podia ver o nojo e a descrença na expressão de Peter, mas pouco se importava. Há muito sabia que ele a desprezava, e não tinha mais nada a perder, refletiu. O plano tivera êxito além de suas expectativas.


 


Peter Lanzani perdera sua esposa e perderia suas propriedades de um só golpe, porque não deixaria herdeiros.


 


Tudo se fechara como em um círculo perfeito. Por fim Maria Del Cerro magoara o Moreno, do mesmo modo que ele a fizera sofrer por longos e terríveis anos.


 


—          Jogue-a no calabouço!


 


Ante tal ordem do senhor de Blackstone, dois homens agarram os braços de Anahí, do mesmo modo que os soldados de Uchoa`s haviam segurado Lali na clareira, e a fizeram levantar.


 


—          E não terá comida nem água até que lady Lali reapareça! —sentenciou lorde Lanzani.


 


Enquanto Maria era arrastada para fora, murmurou:


 


—          A miserável mente! Que Deus tenha piedade de sua alma, porque é uma mentirosa!


 


Respirou fundo a fim de se controlar e dirigiu-se aos homens à sua frente.


 


 


—     Vocês dois, selecionem vinte homens e vasculhem as colinas e rochas. Mandem uma mensagem bem depressa, caso descubram rastros ou conversem com alguém que tenha visto lady Lali e possa dar notícias de seu paradeiro — voltou-se para Jacob, o filho de Nicolas e Eugenia. — Prepare os cavalos de batalha e armaduras.


 


Euge surgiu ao seu lado, trazendo uma pequena garrafa.


 


—     Beba isso, milorde.


 


Tomou o vinho de suas mãos e tentou engolir, mas sua garganta parecia fechada. Lágrimas embaçavam a visão de Peter que devolveu a garrafa.


 


—     Não posso perdê-la — murmurou, mais para si mesmo     —       Não posso...


 


Nicolas deu-lhe um tapinha nas costas, tentando consolá-lo..


 


—     Iremos encontrá-la, meu senhor. Pode ficar sossegado que sim.


 


—              Dá para sentir que isso cheira aos Uchoa`s — replicou Peter.


 


—              Sem dúvida, milorde.


 


 


 


Lali despertou em um lugar úmido e escuro como breu. Piscou diversas vezes, esforçando-se para enxergar alguma coisa, e sentiu algo próximo ao rosto, engoliu a seco, enquanto alguma coisa caía sobre sua boca.


 


Gritou com todas as forças dos pulmões e tentou, de maneira instintiva, afastar a sensação desagradável. Foi então que percebeu, para seu horror, que estava com os pés amarrados, e as mãos atadas às costas.


 


Retorceu o corpo e gritou ainda mais, rezando para que fosse apenas um pesadelo. Fechou os olhos, mas quando os abriu, nada mudara e continuava imersa na escuridão.


 


Após vários minutos de uma luta em vão contra as cordas que a prendiam, o coração de Lali batia com tanta força que parecia querer escapar pela boca. Com enorme força de vontade, obrigou-se a se acalmar.


 


Tratou de controlar a respiração a fim de não ficar ofegante.Devagar, soltou o ar dos pulmões e voltou a inspirar a atmosfera fétida à sua volta. De novo sentiu algo roçar suas pestanas e nariz, porém,um pouco mais calma, percebeu que usava um capuz, enfiado pela cabeça, que lhe cobria parte do rosto.


 


Segundos depois, tudo lhe voltou à memória.


 


 


Maria conduzindo-a para a clareira no alto da colina, os homens de Uchoa agarrando-a, e depois um deles dando-lhe um soco no queixo, que a fez ficar inconsciente. Contra sua vontade, Lali voltou a ofegar, morta de medo e ansiedade.


 


—     Oh, meu Deus, por favor me ajude! — murmurou, tremendo.


 


Abriu a boca para gritar de novo, mas antes que algum som emergisse de sua garganta seca, ouviu passos pesados. Tratou de cerrar os dentes e apurou os ouvidos.


 


Eram passos sem sincronização, portanto pertenciam a mais de uma pessoa, refletiu. Cada vez o som se tomava mais forte. Por fim, fez-se silêncio. Voltando a prender a respiração, a prisioneira quase deu um pulo, mesmo amarrada, ao ouvir a risada abafada de um homem sobre sua cabeça.


 


—     Se a dama acordar, não lhe dê comida nem água. 


 


Lali reconheceu a voz gutural. Era Memo Uchoa que, assim parecia, a observava de algum lugar acima. 


 


Outra voz, mais profunda, respondeu:


 


—     Sim, milorde.


 


Os passos sem sincronia voltaram a soar, até desaparecerem ao longe.


 


Lali respirou fundo e tratou de endireitar o corpo dentro das possibilidades. Um segundo depois, o ar fresco penetrou pelos buracos do capuz. Seu coração pulou no peito ao perceber que o pano não estava muito seguro em volta do pescoço. Tratou de sacudir a cabeça diversas vezes, e conseguiu ver um raio de luz através de uma das aberturas no tecido.


 


Lágrimas jorraram de seus olhos, enquanto se retorcia para todos os lados, sentindo a imundície sob os pés, o que aumentou uma terrível dor de cabeça, até que com esforço o capuz caiu.


 


Aspirou uma grande golfada de ar, torceu o pescoço, e viu paredes de pedra, úmidas e imundas, por toda a volta. Tomou a virar acabeça na direção da luz fraca, que provinha deuma abertura muito estreita, e viu grades demetal.


 


Ergueu o rosto e notou grades a alguns metros de altura, de onde os Uchoa`s haviam feito os comentários.


 


—          Estou em um calabouço — murmurou para si mesma    —     Mas por quê?


 


   Era uma cela maior que a de Blackstone e podia com facilidade manter quatro homens grandes, calculou Lali.


 


 


 


O único castelo mais próximo do lar dos Lanzani`s, distante dois dias a cavalo, era o dos Uchoa`s.


 


 


Fazia sentido, porém não podia ter certeza. Poderia ter sido transportada, inconsciente, por um ou dois dias talvez para o sul ou o norte, era impossível dizer nas atuais condições em que se encontrava, pensou. E sem janelas no calabouço, não sabia se era dia ou noite.


 


Voltou a respirar fundo a fim de se acalmar e raciocinar com maior clareza.


 


—          Maldita Maria, víbora hipócrita e dissimulada! — exclamou. Seus pensamentos voltaram-se para Peter. À essa altura devia estar frenético, e Lali esperava que percebesse a falsidade de Maria, entretanto era possível que não. A mulher sabia mentir como ninguém e era uma boa atriz. Por certo fizera uma cena de lágrimas e rogos, alegando que a perdera de vista no passeio.


 


E quem era ela, pensou Lali, para julgar Peter caso acreditasse em Maria? Fora uma ingênua e seguira a Rainha da Beleza como um cordeiro para o sacrifício, enveredando por colinas até a clareira sinistra. Julgara que a outra fosse sua amiga e caíra na armadilha de repolhos e plantas para colher.


 


—          Como foi tola, srta. Esposito — sussurrou entre os dentes semicerrados.


 


Um soluço partiu de sua garganta, fazendo-a estremecer de raiva, humilhação e medo.


 


O pavor de em breve ser torturada ou violentada desapareceu por alguns minutos, enquanto umtemor ainda maior surgia:


 


 


 


Peter não conseguisse encontrá-la. E se Maria tivesse dito a Peter que a esposa caíra no mar ou de um precipício?


 


 


 


Peter revistaria a costa, talvez as estradas, e não pensaria em procurar seus inimigos. 


 


O coração de Lali voltou a disparar no peito. Meu Deus! E se o marido pensasse que deixara Maria de modo deliberado a fim de remover o anel e voltar para sua época?Tal pensamento gelou-lhe o sangue nas veias e quase a fez perder os sentidos de novo. Não! Isso não iria acontecer!


 


 


Por certo Peter sabia que ela o amava e jamais pensaria em fugir sem ter uma razão muito boa, e nunca sem se despedir.Seus dedos tatearam o anel e por hábito torceu buscando; um pouco de conforto no gesto familiar.


 


Passou a ponta do indicador sobre os rubis, os primeiros que já possuíra na vida. Prendeu a respiração, ao sentir que o aro deslizava pelas juntas. Céus! A jóia podia sair de seu dedo. Era um modo de escapar!


 


De maneira instintiva, forçou-o a voltar ao lugar, sentindo-se ofegante e mais nervosa ainda.


 


Será que Peter sabia o quanto o amava apesar de nunca ter revelado isso?


 


 


 


Novas lágrimas caíram no chão da cela, juntando-se à lama seca. Por que esperara tanto para revelar que o amava? Por que aguardara que o marido se declarasse primeiro?


 


Fora muito teimosa, mas afinal bem que o lorde poderia ter sido mais explícito!


 


Enquanto as horas continuaram a passar, monótonas, inquietantes e silenciosas, Lali decidiu que não tiraria o anel do dedo a menos que se sentisse ameaçada de morte.


 


 


 


Iria enfrentar seus inimigos, mas precisava se agarrar à esperança de que Peter a encontraria.E resolveu também que, se Deus permitisse que fosse salva, declararia seu amor ao marido assim que fitasse seu lindo rosto outra vez. E depois lhe daria um tapa bem forte por tê-la deixado esperar tanto!


 


Voltou a chorar como uma criança indefesa, sentindo as lágrimas formando vincos em seu rosto e imaginando como ainda conseguia chorar. Isso a fez lembrar que não bebia água havia muito tempo e estava morta de sede.


 


 


Gaston apontou para o solo.


 


— Três cavalos, milorde, um carregando um fardo mais pesado que os outros — apontou para uma marca enlameada e achatada. —


 


Um deles resvalou.


 


Estavam nas terras dos Uchoa`s. Com o suor escorrendo pelas costas e peito, Peter apenas acenou e esporeou Gaston.


 


A cada passo, o senhor de Blackstone rezava para encontrar Lali com vida. Passara a sentir necessidade de seu sorriso doce, suas mãos carinhosas e mesmo de suas maneiras e histórias estranhas.


 


Só se soubesse que a esposa ficaria ao seu lado e teriam um filho, conseguiria sobreviver.Mas... e se Lali estivesse perdida para sempre? Teria coragem de enfrentar seu futuro sozinho? Não, pensou. Creio que não.Deus! Nem sabia por quanto tempo continuaria respirando, se Lali não estivesse ao seu lado para sorver o mesmo ar! Por que não percebera nada? Como pudera pensar que isso não fosse acontecer?


 


—     Ali adiante, milorde.


 


As palavras de Gaston, que apontava para afortaleza dos Uchoa`s, fizeram Peter estremecer e interromper o fio dos próprios pensamentos.


 


—     Alinhem-se e preparem-se com escudos e espadas — comandou o líder dos Lanzani. — Jacob, alguma pergunta?


 


—     Não, milorde.


 


Assim dizendo, o filho de Nicolas e Eugenia se aprumou na garupa de Sean e bateu no peito em um gesto de coragem.


 


—     É um rapaz valente — disse Peter, satisfeito. — Então soem as trombetas. Que o bastardo saiba que estamos chegando, prontos para lutar.


 


 


 


 


 


—         Quantos são? — perguntou Memo Uchoa.


 


—          Apenas vinte, milorde, todos a cavalo.


 


—          Ordene o dobro de homens ao redor do pátio interno. Depois baixe a ponte levadiça e convide os Lanzani`s a entrar.


 


—          Sim, milorde.


 


Enquanto o soldado saía, Memo sorriu consigo mesmo. Afinal!


 


 


 


Conseguira pôr Juan Pedro Lanzani de joelhos. Dentro de pouco tempo, seu inimigo não teria nada, a não ser a roupa do corpo. Adeus à esposa, castelo, terras e clã!


 


Com Peter sem herdeiros, tudo se tomaria propriedade dos Uchoa`s, embora não tivesse interesse na esposa sem graça do inimigo. Esperava que lady Lali morresse logo. Precisaria do calabouço para prender o senhor dos Lanzani`s.


 


Os pensamentos de Memo foram interrompidos pela entrada intempestiva de Peter no grande salão, acompanhado por seus homens.


 


— Memo, não quero saber de mentiras. Devolva minha esposa!


 


—          Sua esposa? — repetiu Uchoa, sorrindo e pondo de lado a caneca com cerveja. — Já perdeu mais uma?


 


 


 


Peter resmungou, contendo a raiva, e sua mão, com gesto instintivo, deslizou para a espada na cintura.


 


 


 


Trinta homens dos Uchoa`s deram um passo adiante, desembainhando suas armas. Os Lanzani`s fizeram o mesmo.


 


Mas Memo Uchoa levantou-se e fez um gesto, detendo seus soldados.


 


—     Não vamos derramar sangue por causa de um simples mal-entendido — murmurou coma suave e harmoniosa.


 


De pé, diante de uma lareira apagada, convidou Peter para sentar-se.


 


—     Já tenho uma esposa que, como deve ter ouvido, faz tudo para tomar minha vida um inferno. Por que desejaria sua lady Lali?


 


Peter ignorou o convite para sentar-se e replicou sem preâmbulos:


 


—     Seguimos os rastros dos homens que a levaram, e pistas terminam aqui, nas suas terras.


 


—              Pode ser, mas não vieram ao castelo — Memo aproximou-se. — Peter, pense bem. Se estivesse com sua esposa cativa, iria baixar a ponte levadiça?


 


Peter fitou o rival.


 


—     Jura, pelo seu filho mais velho, que não está com minha esposa?


 


Uchoa hesitou por apenas uma fração de segundo.


 


—          Juro. Agora vamos beber alguma coisa, antes que retorne à sua busca.


 


Peter quase sorriu. Ainda estava para nascer o dia em que Memo Uchoa faria um juramento sincero, refletiu.Mas entrou no jogo, conforme o planejado, e fez uma grande encenação para retirar a capa azul e o elmo, de modo que todos vissem que usava.


 


—          Meus homens precisam beber, assim como nossos cavalos — disse ao anfitrião.


 


—          É claro.


 


Seguindo as ordens do líder, os animais receberam comida e água, e cerveja foi servida aos homens de Lanzani`s, menos para Jacob, que se posicionara junto a uma porta mais distante. Os soldados de Peter faziam muita algazarra, acomodando-se entre os inimigos.A um comando silencioso de Peter, Gaston deu um rude safanão em um dos homens de Uchoa`s, e ambos pegaram seus punhais, prontos para a luta.


Alfonso maldisse o outro homem aos gritos, e Peter gritou ainda mais alto:


 


—          Pare! Fique quieto!


 


 


Como esperava, todos os presentes se voltaram para os dois homens em confronto.


 


Memo Uchoa deu a mesma ordem para o seu soldado belicoso, dentro de poucos segundos todos voltaram a se acomodar, embora lançando olhares mortais uns para os outros.


 


Com o estratagema feito para distrair o inimigo, ninguém dos Uchoa`s percebeu o desaparecimento de Jacob.


 


 


 


 


—   Psiu!


 


Lali forçou-se a abrir as pálpebras inchadas, sem saber se de fato ouvira uma voz, ou se tudo era fruto de sua imaginação desesperada.


 


—     Psiu! Aqui, milady!


 


Lali torceu o corpo e fitou o facho de luz.


 


—     Jacob?    —   reconhecendo por fim a voz começou a chorar.   —   Oh! Graças a Deus!


 


—     Silêncio, milady! — o rapaz olhou por sobre o ombro, e voltou a se dirigir à Lali. — Arraste-se para o lado, senhora, para que eu jogue o punhal. Nosso líder jamais me perdoaria a ferisse.


 


—              Peter? Ele está aqui? 


 


—              Sim, milady, mas ande logo, senão serei pego.


 Alívio e esperança invadiram Lali, que tratou defazer o que Jacob lhe mandara. Dentro de instantes ouviu um som metálico.Quase riu ao ver o pequeno punhal de prata de Euge a poucos centímetros de seu nariz. Quando ergueu o rosto para perguntar quando Peter viria, percebeu que Jacob desaparecera. Bem, refletiu, não tinha importância, pois já sabiam que estava viva.Foi se arrastando até segurar o punhal entre as mãos, mas seus dedos estavam adormecidos, e rezou para ter forças.


 


Começou devagar a cortar as cordas, esperando não estar cortando os próprios pulsos.


 


Quando Peter viu Jacob reaparecer no umbral da porta mais distante, rezou em silêncio uma prece de agradecimento. O garoto voltara da busca sem ser descoberto pelos homens de Uchoa, e por certo encontrara Lali, que, esperava, estivesse viva.Com gesto calmo, Peter depositou seu copo sobre a mesa, e vestiu de novo a capa azul, recolocando o elmo.


 


 


 


—          Memo, agradeço muito, mas não quero abusar de sua hospitalidade.


 


 


 


Dado o adiantado da hora, creio que será melhor voltar com meus homens para nossas terras. Reze para que encontremos minha esposa com saúde — parecendo pensar mais um pouco, franziu a testa. — E reze também para os, bastardos que a levaram, porque não verão mais a luz do sol quando eu a resgatar.


 


Assim dizendo, levantou-se e bateu com o copo que usara sobre o tampo da lareira apagada. Ao som do metal contra a pedra, todos os olhares se voltaram para ele.


 


 


 


No mesmo instante, do umbral da porta distante, Jacob bateu no peito com o punho fechado, e o coração de Peter pareceu parar de emoção. Sim, Jacob a encontrara e, de acordo com o sinal que fizera, Lali estava viva!Peter precisou de todo o autocontrole possível para reunir seus homens e levá-los dali até o pátio iluminado por tochas, com os soldados de Uchoa vigiando-os a cada passo em direção dos cavalos.


 


A um canto escuro da estrebaria, lorde Lanzani despiu de novo a capa e o elmo e atirou-os para Gaston, que lhe entregou uma corda que trazia escondida sob o manto.


 


Ainda temendo a resposta, Peter perguntou em um sussurro:


 


—          E milady?


 


Jacob, ajeitando a capa de Peter nos ombros de Gaston, respondeu:


 


—          No calabouço, milorde. Está péssima, mas viva. 


 


—          Graças a Deus!


 


Banhado em suor, Peter pediu a Deus em silêncio que tivesse a oportunidade de fazer justiça com Memo Uchoa.  


 


 


 


Observou Gaston que acabava de vestir sua capa azul e colocava seu elmo. Com a corda bem segura na mão, murmurou:


 


—          Obrigado, Jacob. Agora acompanhe Gaston. 


 


Enquanto o rapaz montava no cavalo de Angus, e seu primo manejava as rédeas de Ransom, Peter mergulhou mais ainda a escuridão da estrebaria. Respirou fundo, esperando que seus homens deixassem o castelo dos Uchoa`s sãos e salvos, seguindo Alfonso, disfarçado como o senhor dos Lanzani`s.Sem olhar para trás, todos fizeram uma fila indiana e saíram com toda a calma dos domínios de Memo.


 


 


Os minutos pareciam horas; e as horas, dias, enquanto Lali tentava fazer voltar a circulação às mãos e pés adormecidos pelo longo tempo em que havia ficado amarrada na umidade do calabouço.Parou de repente, ao ouvir passos pesados sobre sua cabeça mais uma vez. Sem saber se seria ou não Peter enfiou às pressas o capuz e assumiu a posição com, as mãos nas costas, caso se tratasse de seu seqüestrador. Quando julgou que a pessoa devia estar olhando para baixo, vasculhando o calabouço, ouviu as vozes rudes de seus raptores.


 


 


 


Sedenta e com frio, ousou rogar por água e um cobertor.


 


Um dos homens então riu. 


 


—     Ah! Está acordada!


 


Momentos depois, água enlameada e fétida foi atirada em sua cabeça.


 


 


 


Enquanto resfolegava, recobrando o ar, e evitava trazer as mãos para frente, em um gesto instintivo de proteção, o soldado lá em cima dizia uma série de impropérios contra ela e Peter, pondo em dúvida a honestidade de suas mães.


 


 


Quando o guarda foi embora, Lali voltou a arrancar o capuz do rosto e respirou fundo em busca de mais ar.Percebeu então que, desde que despertara naquela prisão, pela primeira vez provava um pouco de serenidade. Por quê? Não se sentia nem um pouco mais corajosa, porém a paz que a invadia era por saber que Peter estava por perto e viria buscá-la assim que possível.


 


 


Tratou de se afastar da lama onde estava sentada e, para passar o tempo enquanto esperava pela liberdade, imaginou um calendário contando os dias desde que se tomara a senhora Peter, e desde sua última menstruação, algo que evitava fazer depois que assistira ao parto de Mary.


Trinta e sete. Não, devia estar enganada, pensou.Sempre fora regulada como um relógio suíço e sabia que seu ciclo era de vinte e oito dias.Mordendo o lábio inferior, recomeçou a contar, o tempo passava com interminável lentidão, enquanto Peter aguardava, muito impaciente, que a fortaleza dos Uchoa`s se organizasse, e todos fossem dormir.


 


 


 


Como o castelo de Blackstone e o dos Schull`s, a única entrada visível ali era através do pátio interno. Se tivesse quem lhe desse retaguarda teria tentado encontrar a passagem secreta que sem dúvida existia, mas não podia fazer isso. E o tempo passava...


 


Por fim tudo pareceu tranqüilo, com uma grande lua cheia iluminando a escuridão, como uma pérola brilhante sobre o veludo negro do céu. Seu fulgor iluminava apenas as faces norte e oeste das muralhas.


 


Peter respirou fundo, fez uma prece pedindo que Lali ainda estivesse viva e esgueirou-se para fora da estrebaria. Mantendo-se nas sombras, correu para a entrada dos guardas, semi-oculta por folhagens.Como esperava, viu que os soldados a deixavam aberta, entrando e saindo por ela em períodos regulares. Lorde Peter entreabriu-a, abençoando o homem que conservava as dobradiças bem lubrificadas, pois não se ouviu nenhum rangido.Não percebendo nenhum som do salão principal nem dos calabouços, penetrou no castelo.


 


 Sem fazer o menor ruído, desceu para o andar inferior.Imaginava que Memo Uchoa houvesse raptado Lali para pedir resgate e ficara surpreso ao saber que Jacob a encontrara em uma cela.Instruíra o rapaz para que procurasse ali apenas por prevenção, mas acertara na mosca.Peter esperara passar a noite vasculhando os cômodos da torre, mas sabendo onde Lali estava presa, percebia quais as verdadeiras intenções de Uchoa.Vendo um guarda cochilando ao pé da escada, a poucos passos da entrada do calabouço, estacou.


 


Passo a passo, aproximou-se, mantendo um silêncio total.


 


Como esperava, o soldado despertou com um estremecimento e tentou segurar a espada, mas Peter foi mais rápido e golpeou-o na cabeça com toda a força, deixando-o desacordado. Com gestos rápidos, amarrou e amordaçou o homem utilizando sua própria capa.Em seguida, agarrou o molho de chaves no cinto do guarda e abriu a portinhola para o calabouço. Girou a chave na fechadura e ergueu a trava.


 


Olhou para o buraco escuro como breu que se abria aos seus pés.


 


 


 


—          Lali...


 


 


 


Não ouviu nenhum som, e o sangue gelou-lhe nas veias. Por favor, meu Deus, não permita que tenha morrido, rezou. em pensamento.


 


Em um sussurro quase inaudível, chamou.


 


—         Por Deus, mulher! Se estiver aí, responda!


 


—         Já não era sem tempo.


 


Ao ouvir a voz querida, Peter baixou o rosto e viu Lali lá em baixo.


 


O lorde sorriu, pela primeira vez em muitas horas. Sua esposa era maravilhosa, pensou.


 


—              Vou jogar uma corda para você. Acha que consegue subir por ela? — perguntou em voz muito baixa. Agachando-se, a esposa balançou a cabeça em dúvida.


 


—              Não sei... Posso tentar.


 


—              Não há tempo para tentativas — assim dizendo, Peter atou uma tora de madeira em uma das pontas da corda e depois atirou a outra do alto, dizendo: 


 


—              Enfie o pé no laço que fiz e segure-se firme.


 


   Içar sem ajuda de uma pessoa, mesmo alguém leve como Lali, a uma altura de quase três metros, não era brincadeira. Foi preciso toda a concentração para não deixar a corda resvalar, quando por fim a esposa surgiu e despencou em seus braços, o senhor de Blackstone estava trêmulo e banhado em suor com o esforço. Lali enlaçou-o pelo pescoço.


 


—          Oh, Peter! Tive tanto medo de nunca mais vê-lo!  —          Rezava o tempo todo para que me encontrasse.


 


O marido a beijou com fúria, aliviado por encontrá-la viva, e ansiando por acalmá-la.


 


—          Menina, temos muito a dizer um ao outro, mas este não é o momento.


 


Segurou a mão de Lali com firmeza e partiram em direção a escada. Ao ver o guarda sem sentidos, amarrado e amordaçado, Lali sufocou um grito, tampando a boca com a mão.


 


Peter passou-lhe um braço pelo ombro e forçou-a a prosseguir. Então subiram a escada em silêncio.Alcançaram a porta, e o lorde sussurrou:


 


—          Quando a puxar pela mão, precisaremos correr. 


 


Sentiu mais do que viu Lali acenar em aprovação.A lua continuava iluminando a face norte do castelo. O muro íngreme na parte sul dava para um penedo e além para um pomar, onde se encontravam Gaston e os homens do clã Lanzani`s, bem camuflados.Lali e Peter precisavam subir na beirada estreita do muro, de onde jogariam a corda e desceriam até o solo.


 


Lorde Peter aguardou com paciência, até que os guardas que faziam a ronda estivessem entretidos em conversa, pois as monótonas horas durante a noite costumavam ser infindáveis, e era preciso fazer algo para não cair no sono.


 


Então, quando percebeu que era conveniente, puxou a esposa pela mão. Agachados, ambos correram para o lado direito e subiram os degraus bem depressa.


 


Alcançando o alto da amurada sem serem vistos, Peter segurou a firme e apontou sem uma palavra para o muro ao sul. Lali fez um gesto de cabeça, dizendo que entendia.


 


Ladeando um arsenal de flechas e arcos, Peter parou e atirou a corda pela abertura da ameia, mas não conseguiu um grande impulso, e a corda ficou pendendo a uma certa distância do solo.


 


Resmungou consigo mesmo, olhando para o penedo. Teriam que pular, e seria uma queda considerável, calculou consigo mesmo.


 


 


—          Maldição! — resmungou entre os dentes semicerrados. 


 


Mas não havia como alongar a corda. Tomada a decisão, lançou um olhar para os guardas entretidos a alguns metros de distância e murmurou:


 


—          Suba nas minhas costas, milady. Chegou a hora!


 


Abrindo a boca, espantada, Lali sussurrou:


 


—          Não pode estar falando sério!  —   ousou dar uma olhada pela beira do muro e viu a altura em que se encontravam. — Oh! Meu Deus!


 


—          Apresse-se, mulher, ou estaremos perdidos!


 


Percebendo que Peter tinha razão, Lali atirou os braços ao redor de seu pescoço e fechou os olhos. Quando os reabriu, segundos depois, percebeu que seria melhor não ter feito isso. Apenas as mãos de Peter, amarradas com panos, para evitar o atrito da corda, os mantinham no ar, a muitos metros do chão. Então, sem aviso, o senhor de Blackstone relaxou o aperto, e começaram a deslizar para o solo de maneira vertiginosa.


 


Lali lembrou-se dos modernos parques de diversões, com seus aparelhos assustadores, mas nenhum susto se comparava com aquele, pois não estavam se divertindo, e sim lutando para sobreviver. Os pés de Peter tocaram o solo primeiro. Tentou se equilibrar e ampará-la, mas mesmo assim Lali caiu com o ombro direito sobre os cascalhos. 


Lutou para se sentar e recuperar o fôlego.


 


—          Está ferida? — perguntou o marido, preocupado.


 


—          Não, mas...


 


—          Alto! Quem está aí?


 


Uma tocha brilhou de repente sobre suas cabeças, e em seguida outra, e mais uma.Como gárgulas horripilantes, os guardas se debruçavam sobre as ameias do castelo, tentando ver na escuridão.


 


Antes que Lali soltasse um grito de pavor, Peter a fez se levantar. Amparando-a com força, arrastou-a, aos trancos e barrancos, pelas rochas. Lali mordeu o lábio, lutando para não gritar de dor e medo, enquanto tropeçava nas pedras pontiagudas.


 


—          Alto!   —   alguém voltou a gritar.


 


Trombetas de alarme soaram em meio ao silêncio, e passos apressados ecoaram pelas muralhas de granito, às suas costas.Segurando-a pela cintura, Peter alcançou a clareira, e começaram uma corrida desabalada.


 


—          Mais depressa! — incitou.


 


—          Como? — replicou ela, sem fôlego, mas tratou de calar a boca e guardar as forças que lhe restavam.


 


Escorregou e caiu, o marido a fez levantar de novo, ao mesmo tempo em que uma chuva de flechas passava sibilando acima de suas cabeças.Com Peter que a segurava com muita força, talvez com medo de deixá-la no meio do caminho, Lali mal conseguia respirar e manter o vestido erguido para não tropeçar de novo. Pareciam voar, tamanha a rapidez com que corriam, em direção ao arvoredo.


 


Embora as nuvens nesse momento ocultassem a lua, lorde Peter não parou de correr quando atingiram as árvores, e continuou, enveredando por um atalho mal conservado. Logo Lali percebeu sua intenção. O rumor ensurdecedor da ponte levadiça sendo baixada que, aos ouvidos de Lali, parecia o riso de uma bruxa cruel, foi substituído pelos gritos enfurecidos de homens e latidos cães de caça. Estavam sendo perseguidos!


Agarrou-se ao marido e rezou pela salvação.De repente o ar se encheu do aroma delicioso de peras maduras, e uma coruja piou.


 


 


De modo brusco, Peter desvio para a direita.


 


—      Por aqui!


 


Estaria brincando?, pensou Lali. Quando parariam de correr? Já não conseguia nem sentir os pés.


 


—              Aqui!       —      disse uma voz nas sombras.


Sem perda de tempo,Peter circundou umas pereiras enormes, carregadas de frutos. Lali vislumbrou Gaston, montado em seu cavalo e segurando as rédeas de Ransom.


 


—      Até que enfim! — sussurrou o primo de Peter.


 


 


 


Ransom, parecendo agitado com a aproximação dos cães de caça e o som da iminente batalha, deixou-a apavorada, ao empinar e resfolegar.Pela primeira vez em vários minutos, Peter soltou a esposa, tomando as rédeas das mãos de Gaston, e montou. Para alívio da jovem, o cavalo ficou quieto.


 


—          Milady, segure minha mão e pouse o pé direito sobre minha bota.


 


Lali obedeceu, e com um puxão firme, o marido a ergueu e a fez sentar na garupa. Antes que tivesse tempo de se ajeitar com mais conforto, os braços musculosos de Peter rodearam sua cintura.


 


Os cães estavam já muito próximos, ganindo de modo desesperado.Para horror de Lali, Ransom retrocedeu de repente, com os cascos poderosos erguendo a poeira do chão.Peter gritou, e o cavalo balançou a crina, saindo a galope.


 


 


 


Nesse exato instante, as nuvens cobriram a lua totalmente.


 


 


 


Enquanto galopavam pelo pomar, e depois por um declive, em total escuridão, Lali agarrava-se à parte mais alta da sela e rezava como nunca fizera antes em toda a vida.Por Peter, pelo bebê que teriam e por ela mesma. Por Gaston, os cavalos, e para que a lua surgisse e iluminasse seu caminho.


 


Meia hora mais tarde, ainda a pleno galope, sentia os maxilares doloridos de tanto ranger os dentes, e os dedos pareciam em brasa, com a força que fazia para segurar-se na sela. Não tinha a menor idéia de como haviam evitado colidir com pedregulhos ou com árvores e não cair em abismos.


 


Como já não conseguia ouvir o latido dos cães dos Memo Uchoa, decidiu fechar os olhos e confiar no cavaleiro que a conduzia. Precisava relaxar ou ficaria louca, pensou.


 


Caso sobrevivessem, tanto melhor, mas se morressem, pelo menos iria ver o Criador muito feliz, sabendo que sua vida não fora um desperdício. Amara um bom homem, um tanto maluco, é claro, mas de ótimo caráter.Quando voltou a abrir os olhos, viu, para sua alegria, á baía de Blackstone e Drasmoor, banhados pela luz difusa e amiga do amanhecer. Surpresa, percebeu que mesmo a galope e apavorada, conseguira adormecer por muito tempo.


 


—           Estamos em casa  — disse Peter com voz exausta. — Galopamos com a rapidez de um raio e conseguimos chegar muito depressa.


 


Lali bocejou e estremeceu de frio.


 


—          Sim, estou vendo. É algo que não esperava rever. 


 


Peter  beijou-a no pescoço, raspando a pele delicada com a barba crescida.


 


—          Começa a parecer uma verdadeira escocesa.


Lali sorriu, refletindo que, de fato, tinha ancestrais escoceses, e seu olhar deixou o cenário que já amava muito, para pousar sobre o anel em seu dedo, que lhe dera um marido de carne e osso, incrível e maravilhoso.


 


 E, pensou, com um aperto no coração, que em breve teriam um filho.


 


Peter ergueu-lhe o queixo, e beijou-a nos lábios.


 


—          Quando pensei que a tinha perdido...


 


Seus olhos encheram-se de lágrimas e fitou o anel também, limpou a garganta, passando um dedo pela superfície de rubis e ouro.


 


—          Jamais pensei que lhe diria isso, mas amo-a, Lali, mais do que possa imaginar, mais do que minha própria vida — a voz profunda pareceu falhar, e o pomo-de-adão tremeu. — Não quero que me deixe nunca.


 


Lali sentiu um aperto no coração.


 


—          Oh, Peter! — virou-se na sela, a fim de tocar o belo rosto másculo. — o amo há tanto tempo, mas não esperava que correspondesse a esse sentimento. Sabia que simpatizava comigo, mas... Amor... — seu olhar ficou embaçado pelas lágrimas. — Juro por tudo quanto é mais sagrado, que enquanto este anel permanecerá em meu dedo como o símbolo de sentimento e união.


 


—          Lali querida...


 


O beijo que recebeu era tudo que desejava. 


 


—          Se os dois pombinhos já acabaram de arrulhar — resmungou Gaston, fazendo um sinal com a mão em direção a Blackstone — o clã os espera.


 


Em silêncio, olharam para a entrada amiga do castelo, e Lali sentiu que, sem dúvida, estava voltando ao seu lar. Fosse no século XXI ou XV, aqueles muros eram seus para sempre, pensou, com um suspiro de alívio.


 


 


 


Uma pequena escolta de barcos pesqueiros acompanhou Peetr Lanzani e sua comitiva através da baía.


 


Ao se aproximarem da ilha e do castelo de Blackstone, o lorde viu que o cais estava apinhado com pessoas do clã, e sentiu o coração em festa.


 


Nicolas  e Eugenia, os rostos pálidos e demonstrando enorme cansaço, foram os primeiros a saudá-los, assim que desceram do barco.


 


—            Meu grande amigo! — exclamou Nico, emocionado.


 


—            Milady! — Euge apertou Lali de encontro ao peito, beijando-a nas faces, como era costume na França.   —   Estava doente de preocupação, e veja a senhora, sã e salva! Está ferida?


 


—             Não, querida Euge, apenas dolorida e louca para tomar um banho.


 


—             É claro!


 


Euge começou a afastar as pessoas ao redor, correndo para satisfazer o desejo da ama. Porém mal podiam caminhar, com tanta gente que desejava saudar e segurar em Lali e Peter.


Lorde Lanzani tomou o braço da esposa, enquanto Christian passava a mão pelo seu ombro, abrindo caminho.


 


—              É maravilhoso tê-los de volta, milorde e milady. O velho John tem uma surpresa para vocês.


—             Verdade? — perguntou Peter, curioso,


—             Sim. Levou a sério sua sugestão, e está fabricando uísque com muito apuro. Estamos quase mergulhados em tanto uísque! Tenho que fazer muita força para manter nossos homens sóbrios.


 


Peter riu.


 


—          Seria bom poder me dedicar apenas a coisas agradáveis por um certo tempo, meu amigo.


 


—          Bem, o senhor é o chefe — resmungou Nico.  —  Basta dizer uma palavra ou erguer a espada que todos o obedecem.Tenho que me esforçar para dizer-lhes que detesto tropeçar em bêbados pelo castelo.


 


Peter voltou-se para Lali.


 


—          Ouviu isso, milady?


 


Lali libertou-se do abraço afetuoso de Euge, que parecia não querer soltá-la.


 


—          O que disse, milorde?


 


—          Seu negócio de uísque parece que começou. 


 


Lali brindou-o com um amplo sorriso.


 


—         Ótimo, porque milorde vai precisar... 


 


Interrompeu-se ao entrar no pátio interno, quando gritos de alegria irromperam no ar.


 


 


—          Não ouvi! O que disse? — perguntou Peter.


 


—          Mais tarde! — bradou Lali, fazendo-se ouvir em meio ao alarido. — Conversaremos mais tarde!

Tendo tomado banho, lavado os cabelos e se depilado, Lali sentia-se uma nova mulher.


Ainda dolorida com os maus-tratos no calabouço e por causa da corrida desabalada pela liberdade, não se sentia disposta a fazer toaletes muito elaboradas, então prendeu os cabelos em um coque simples, apenas com quatro grampos de osso.Pouco se importava se não era apropriado andar pelo castelo com a cabeça descoberta. Queria se sentir confortável, e que ninguém a impedisse, pensou. Talvez lançasse a moda, obrigando as outras mulheres do clã a exibirem cabelos limpos e brilhantes, sorriu consigo mesma.


 


Descobrira que o motivo por que as mulheres desse século em que vivia cobriam a cabeça tinha mais a ver com o fato de não lavar os cabelos do que com modéstia.Também se apressaria a pôr um toucado, se estivesse com os cabelos oleosos ou maltratados, refletiu com ironia. Parecia que os banhos por ali se limitavam a dois por ano.Essa seria sua próxima meta, pensou com seus botões.


 


Transformar as mulheres do clã dos Lanzani`s nas mais perfumadas, limpas e bonitas da Escócia.


 


—          O vestido verde-claro está bem — disse em voz alta à Euge.


 


Enquanto via a amiga sacudir o traje pesadão, desejou poder enfiar um de seus velhos suéteres largos e de jeans.Euge não saíra de seu lado desde que regressara a Blackstone, e Lali tivera um trabalhão para secar as lágrimas da amiga e dar tapinhas em suas costas, dizendo-lhe que não tinha culpa por ela ter caído na armadilha de Maria.


 


Quando Peter bateu na porta de modo civilizado, Euge deu mais um beijo na ama e saiu.


 


Mas ao passar pelo lorde, lançou-lhe um olhar severo e resmungou:


 


—          Ainda vamos ajustar contas, milorde.


Peter seguiu-a com o olhar até deixar o quarto, e Lali soltou uma risada, sem nada entender, abraçada ao marido.


 


—          O que Euge quis dizer com aquilo?


 


—          Não gostou de saber que fiz seu filho Jacob desempenhar papel importante em nossa fuga, ordenando que fosse procurá-la, milady. Um de meus homens deu com a língua nos dentes e contou-lhe — respondeu rindo. — Por mais que esteja feliz por vê-la a salvo, Euge ainda considera Jacob uma criança indefesa e ficou furiosa comigo por metê-lo em perigo.


 


Deve entender seus sentimentos, Lali entendia muito bem, agora que sabia estar esperando um filho.Uma mulher mudava quando era mãe e só pensava em proteger sua criança. 


 


Peter afastou-a um pouco e fitou-a da cabeça aos pés.


 


—          Já lhe disse como é linda, milady?


 


Lali ficou de queixo caído.


 


—          Eu? Bonita?


 


—          Sim. Seu rosto é belo, com a moldura dos cabelos castanhos, os olhos escuros e os lábios carnudos. Gosto também do seu nariz. É um rosto com personalidade.


 


Lali nada disse e continuou a fitar o marido, pasma. Ninguém em seus vinte e quatro anos e seis meses de existência a chamara de bonitinha, muito menos de linda ou bela. 


 


Peter voltou a estreitá-la nos braços fortes.


 


—          E também tem um lindo pescoço.


 


Roçou os lábios ali, sabendo que a carícia iria deixá-la sem fôlego e com os joelhos trêmulos.


 


—          E depois, temos os lindos seios brancos...


 


—          Peter...


 


Porém o marido já dera um jeito de desatar os laços do vestido e continuava a beijá-la.


 


Era hora de contar a novidade, pensou Lali.


 


—          Peter... Preciso lhe contar uma coisa...


 


Enquanto ele fazia o vestido deslizar por seus ombros brancos e voltava a beijá-la, murmurou:


 


—          O que é, querida?


 


Lali tomou o rosto masculino entre suas mãos e fitou em cheio os olhou verdes de lorde Lanzani.


 


Não queria perder nem um segundo de sua reação. 


 


—          Você, meu belo e valoroso consorte, vai ser papai.


 


De repente Peter pareceu ficar petrificado.


 


—          Como disse?


 


Lali sorriu, ante sua expressão espantada.


 


—          Quando chegar a primavera, teremos um filho.


 


Os magníficos olhos verdes do senhor de Blackstone pareceram ficar maiores.


 


 


—          Como pode saber? Quero dizer, tem absoluta certeza, menina?


 


—          Sim, sem dúvida nenhuma.


 


Suas regras estavam atrasadas, e sentira náuseas ao chegar a Blackstone nessa manhã e ao sair do banho.


 


—          Minha esposa tem certeza que teremos um herdeiro!


 


Assim dizendo, ou melhor, gritando, Peter explodiu em uma risada feliz que atingiu todos os cantos do castelo.Agarrou Lali pela cintura e a ergueu do chão, fazendo-a rodopiar pelo quarto; depois beijou-a com entusiasmo, deixando-a ofegante.


 


Antes que Lali pudesse recuperar o fôlego, diante da demonstração de alegria tão intempestiva, o semblante de Peter ficou sério.


 


—          Por que não me contou antes, meu amor? Se soubesse, não teria galopado como galopei, fazendo-a sacolejar como um saco de batatas, do castelo dos Uchoa`s até aqui.


 


Lali fez um carinho em seu rosto, adorando tanta consideração.


 


—          Estou muito bem, pode acreditar. Não haveriam tantos bebês no mundo se um mero galope fizesse as mães abortar.


 


Peter aquiesceu com um gesto de cabeça, querendo acreditar nas palavras da esposa.


 


 


Então um brilho malicioso surgiu em seu olhar.


 


—          E será que um pouco de diversão poderá fazer mal ao nosso filho?


 


Lali riu, fazendo-se de desentendida.


 


—          Que tipo de diversão, milorde? 


 


Quando o marido fez uma demonstração prática na cama, Lali riu de si mesma por ter pensado que Peter só desejara fazer amor para engravidá-la e ter seu herdeiro. O lorde era um amante insaciável e a desejava, concluiu, muito contente.


 


 


 


Peter franziu o cenho para sua prisioneira, de pé, no meio do pátio, e sob os olhares de todo o clã. Cercada por dois guardas. Maria Dell Cerro suportou seu olhar de cabeça erguida, ainda vestindo o traje que usava ao ser atirada no calabouço.


 


Por que, repetia Peter a si mesmo, concordara em dar água e alimento à mulher, atendendo o pedido de Lali?


 


 


—     Minha esposa implorou por sua vida, embora não compreenda qual o motivo. Portanto é por causa dela, e contra minha vontade, que será devolvida ao seu pai com correntes nos pés. Será conduzida não por mar, mas por terra, de modo que todos possam assistir à sua passagem, e saber a víbora traidora que é.


 


Os guardas haviam relatado ao lorde o que Maria fizera.


 


Peter ficara muito chocado ao saber que agira assim para vingar-se de sua recusa em desposá-la. Disseram-lhe que Maria afirmara que faria pior se tivesse a oportunidade, e isso deixara o sangue do líder dos Lanzani`s fervendo. 


 


Nesse instante a desgraçada permanecia calada de maneira prudente, e Peter deu um chute de leve na sacola de pano aos seus pés.


 


—     Chegou aqui com isto e será tudo que levará de volta.


 


Os vestidos caros e lindos que, como um tolo, dera à Maria, apenas para ser gentil com seu pai e fazê-la sentir-se em casa, permaneceriam em Blackstone, onde seriam aproveitados por mulheres honestas.


 


Com um gesto, pediu que Lali entrasse no castelo. Voltou–se para seus homens e ordenou:


 


—     Levem embora lady Dell Cerro, fora de minhas vistas. 


 


Ao passar por Gaston, murmurou ao seu ouvido:


 


—     Está tudo pronto?


 


Lançando um olhar preocupado na direção de Lali, o homem de confiança respondeu:


 


—     Sim, milorde.


 


No dia seguinte, Memo Uchoa despertaria para ser comunicado que seu primogênito desaparecera.


 


Nenhum homem podia jurar em vão, tomando seu próprio filho como testemunha, e não ser punido, pensou Peter.


 


O menino não seria machucado, mas raptado do convívio ruim de seu pai. Os Lanzani`s não iriam mais negociar com os Uchoa`s que, em breve com os cofres vazios, não teriam como alimentar seu clã, muito menos como pagar os impostos, algo que Albany não iria considerar divertido.


 


Então em breve, calculou o senhor de Blackstone, humilharia Memo Uchoa diante de todos.


 


Para preocupação de Peter, Lali insistira em acompanhá-lo até Sterling, o local onde se realizaria o torneio.A esposa argumentara que estaria mais segura em sua companhia que sozinha em um castelo com metade do número normal de soldados, já que muitos iriam com o lorde para o espetáculo.


 


Isso o fez concordar, pois não tivera como contestá-la. Entretanto viajaram muito devagar e apenas com os suprimentos necessários para não sobrecarregar os cavalos.


 


Se não fosse por causa de seu plano de humilhar Memo Uchoa em público, Peter teria permanecido em Blackstone e desistido do torneio. Não precisava encher seus cofres de moedas desde que raptara o filho do inimigo e não se sentia entusiasmado para participar de um espetáculo onde, por certo, haveria derramamento de sangue desnecessário.


 


Nesse instante, olhando para a arena onde seriam realizadas as justas, Lali apontou, de modo animado, para as centenas de estandartes coloridos e tendas espalhadas ao redor dos campos de jogos.


 


—          Veja! São as tendas do rei, aquelas com os leões desenhados nas flâmulas?


 


—          São as de Albany.


 


Assim dizendo, Peter franziu a testa, pois existia um grande problema. Lali era sua esposa, mas, agora tinha certeza, não era a que Albany lhe destinara. O que fazer para impedir que ele a visse?Curiosa como era, Lali não iria perder nenhum detalhe e evento do festival. Como a manteria longe das vistas de Albany?


 


O fio de seus pensamentos foi interrompido por uma nova pergunta.


 


—          Deve haver milhares de pessoas aqui. Onde acamparemos?


 


Abraçando-a com carinho, Peter esporeou o cavalo.


 


—          Iremos nos instalar onde ainda houver espaço. Muitos haviam chegado cedo e escolhido os melhores lugares. O clã dos Lanzani`s teria que se contentar com o que sobrara, mas estava tudo bem para Peter.


 


Lali voltou a apontar, dessa vez para uma colina distante.


 


—          Ali, perto das árvores. Pelo menos teremos sombra. 


 


Peter sorriu.


Sim, de fato seria um bom lugar para acampar, a uma boa distância de Albany e de Memo Uchoa, um homem amargurado pelo seqüestro do filho, que já pagara um régio resgate e ainda não tivera o primogênito de volta.


Era uma situação delicada, pois Memo não poderia dar queixa de Peter a Albany, sem confessar que o rapto fora uma retaliação, devido ao que fizera à lady Lali. Assim eram aqueles tempos... 


 


—          Que assim seja, milady. Acamparemos lá. 


 


Uma hora mais tarde haviam montado os rudimentos de um lar fora do lar. Lali, com olheiras devido à longa viagem, beijou o marido.


 


—          Preciso descansar, querido.


 


—          Claro — Peter a conduziu com um gesto carinhoso em direção à tenda.


 


—          Enquanto dorme, estarei por perto. — Apontou para a outra tenda grande perto do campo de torneio. — Preciso discutir alguns detalhes com meus homens.



— Tome cuidado.


 


Lali não apoiara o rapto do filho de Memo Uchoa, mas conformara-se, sabendo que assim agiam os homens da Idade Média, porém tinha certeza de que o inimigo estava furioso e cheio de ódio, ansiando por sangue.


 


 


Memo não sabia que Peter estava tratando muito bem do menino, e que pretendia devolvê-lo em breve.


 


—          Você também, milady. Mantenha Sean sempre perto da tenda.


 


—          Prometo.


 


Enquanto Peter se afastava, abrindo caminho entre o aglomerado de pessoas, era saudado por muitos, e detinha-se a cada passo para conversar com alguém.


 


Vendo seu velho aliado, lorde Dell Cerro, Peter o saudou.


 


—          Como vai, milorde?


 


—          Poderia estar melhor. Meus velhos ossos já não são os mesmos de antes — olhou em tomo, de modo cansado, e prosseguiu. — Puni minha filha Maria, Peter — limpou a garganta, ante um assunto tão delicado e vergonhoso. — Peço desculpas a você e seu clã pelo mal que minha filha lhes fez. 


 


Mas Peter sabia que seu amigo nada tinha a ver com o caráter de Maria.


 


—          Já passou. Dell Cerro. O assunto ficou entre nós do clã dos Lanzani`s, e ninguém mais tomará conhecimento. Todos juraram discrição absoluta. Estou bem, e minha esposa aguarda um filho.


 


 


-É bom ouvir isso. Parabéns! Irei visitá-lo um dia para conhecer sua esposa.


 


—          Darei um jeito de apresentá-la a você no torneio, pois me acompanhou — sorriu ante a expressão surpresa de Dell Cerro, já que as grandes damas quando grávidas não costumavam acompanhar os maridos em tais eventos. — Achei melhor trazê-la do que ficar ouvindo suas lamúrias. 


 


Dell Cerro sorriu.


 


-É o melhor que um homem pode fazer em certas ocasiões, para viver em paz.


 


-Sim, em especial se a mulher é tão teimosa como Lali — vendo Nicolas atarantado com uma lista, Peter achou melhor ir ao seu encontro. — Será uma honra se puder vir ao meu acampamento hoje à noite.


 


Em pensamento refletiu que, se Lali tivesse que se preparar para receber um convidado, não sairia do acampamento. Percebendo que o velho amigo balançava a cabeça em dúvida, acrescentou: 


 


—          Minha esposa não nutre nenhum ressentimento a seu respeito.


 


—          Se isso é verdade, então irei fazer uma visita. 


 


Satisfeito, Peter deu um tapa amigável nas costas do amigo, que estremeceu um pouco, ante a força do braço musculoso.


 


—          Esplêndido! Mas devo avisá-lo, que lady Lali ainda não está muito familiarizada com nossos hábitos. Fala com um sotaque diferente e muito depressa. Não hesite em pedir-lhe que repita, pois eu mesmo faço isso uma meia dúzia de vezes por dia — riu de novo com satisfação. — Ainda bem que nos entendemos sem palavras.


 


Foi a vez de Dell Cerro rir.


 


—          Continua um tolo em relação às mulheres, Peter


 


—          Mas desta vez acertei.


 


—          Então nos veremos esta noite. Até mais tarde, meu amigo.


 


 


 


Momentos depois, Peter sentiu que alguém o observava. De modo instintivo voltou-se e deparou-se com Memo Uchoa, a dez passos de distância.


 


Cumprimentou com um gesto de cabeça.


 


 —          Uchoa 


 


—          Lanzani quero meu filho de volta — sussurrou para não ser ouvido por mais ninguém.


 


—           No momento certo, Memo.


 


 —           Então aqui e agora faço um desafio


 


—           Aceito, seja lá o que for.


 


Peter sempre soubera que, de qualquer modo, iria se bater com seu grande inimigo, mais cedo ou mais tarde.Uchoa, apesar de muito mais pobre no momento, ergueu o queixo em um gesto de bravata:


 


—          Ponha seus negócios em ordem, porque morrerá em breve — sentenciou com voz cavernosa.


 


Peter sorriu com ironia.


 


—          Sua arrogância, ambição e falsidade não significam morte para mim, bastardo, mas para você mesmo. Assim dizendo, deu as costas e continuou andando. Nem por um instante tentara fazer segredo a Memo de que raptara seu filho e estava preparado para tudo. 


 


Peter sabia muito bem disso.


 


—          Está louco?!


 


 


Lali andava de um lado para o outro, diante do marido, que, por precaução ou teimosia, continuava calado, enquanto afiava ponta da lança. 


 


Lali relanceou um olhar rápido para Jacob que, muito desconfortável, tentava se tomar invisível no canto mais afastado da tenda, fingindo estar concentrado no polimento da armadura. 


 


Consciente de que a barraca não era à prova de som e não fornecia muita privacidade, Lali tratou de falar baixo, e direcionou toda a sua ira contra Peter.


 


—          Podia ter morrido! — de modo instintivo pousou a mão sobre o ventre já desenvolvido. — E se isso acontecer, o que farei? Devo apontar para seu retrato que, diga-se de passagem, é horroroso, e dizer ao nosso filho que esse era seu pai? Deus do céu! Já não basta enfrentar seus oponentes no torneio, de modo honesto? Ainda aceita desafios daquele louco?


 


Quando Peter se recusou a fitá-la, a esposa sacudiu os braços em um gesto de frustração e deixou a tenda, a fim de procurar alguém mais sensato para conversar. Nico seria o indicado. Por certo o conselheiro poderia inculcar um pouco de bom senso na cabeça dura de lorde Peter, refletiu, aborrecida.


 


Dez minutos mais tarde, após passar por umas pessoas que faziam apostas sobre os jogos, encontrou Euge.


 


De mãos nos quadris, perguntou:


 


—          Onde está Nioclas?


 


—           Boa tarde para milady também.


 


 


Brincou Euge com um laivo de ironia na voz, deixando de lado o xale que bordava.


—         O que foi que seu marido fez agora? Por certo não ordenou que milady voltasse para Blackstone?


 


—          Não. O tolo com quem me casei aceitou um desafio de Memo Uchoa. Se não puder detê-lo, quero ter certeza de que deixou um testamento.


 


Euge levantou-se e passou um braço pelo ombro de Lali.


 


—          Madame, mesmo que encontrasse uma saída honrosa para evitar a luta com Uchoa, seu marido não a aceitaria. Peter Lanzani já tinha planos para desafiar o Memo Uchoa amanhã. Os fatos foram apenas antecipados.


 


A revelação deixou Lali chocada e a fez cair como uma pedra no banco mais próximo.


 


—          Por quê?   —  gemeu.  — Sim, fui raptada, mas não sofri nenhum mal permanente, ninguém me feriu ou me violentou...


 


—          Porque não tiveram tempo — cortou Eue.


 


Mas Lali prosseguiu, como se não tivesse ouvido.


 


—...E Peter tem o dinheiro dos Uchoa`s, obtido com o resgate do menino. Não concordo com esses métodos, mas foi uma forma de dar uma lição no bandido, segundo os padrões daqui — lágrimas começaram a jorrar de seus olhos. — Vamos ter um filho também. O que Peter tem a ganhar além de uma morte prematura?


 


—          Seu orgulho — replicou Euge, ficando à sua frente e cruzando as mãos sobre o peito. — E não se iluda, madame, pois Memo Uchoa a teria matado. As coisas são assim tão diferentes no seu mundo? Os homens não precisam... humilhar o inimigo, para proteger tudo que amam?


 


—          PETER JÁ FEZ ISSO!


 


Lali mal conseguia falar, estremecendo a cada soluço.


 


Peter raptara o filho mais velho de Memo bem debaixo do seu nariz! Não era o suficiente?


 


Euge  aproximou-se e passou-lhe um braço pelo ombro.


 


—          Milady, sabe que Uchoa e lorde Lanzani ficaram de boca fechada sobre o que ocorreu nas últimas semanas, pois não sabiam como Albany encararia suas hostilidades — Euge suspirou. — Alguns acreditam que Memo atacará depois do que aconteceu — fez um sinal abrangendo todas as tendas ao redor.


 


 


—          Seu marido precisa provar que é o mais forte, o melhor, ou tudo que possui ficará à mercê dos que invejam suas terras e propriedades. Peter não pode aparentar fraqueza, milady, ou muitos homens morrerão.


 


Lali não queria acreditar nessas coisas, mas vira o brilho cruel e maldoso nos olhos de alguns homens, quando apostaram contra Peter.


 


—          Deveria gastar seu tempo, milady, tentando convencer seu marido de que é insuperável e invencível, e não dizendo ao meu marido Nico que tudo isso é loucura.


 


Lali soltou um longo e profundo suspiro, no íntimo sabendo que Euge tinha razão, pois pensava como uma mulher de sua época.


 


Porém, quando se tratava de política, não tinha grande influência sobre Christopher.


 


Ficara muito chocada ao saber que o senhor de Blackstone raptara o primogênito de Memo Uchoa, um menino de apenas oito anos de idade, e tudo fizera para consolar a criança, até que o pai o resgatasse. 


 


Peter também fora bom com o menino, jogara dardos com ele, e lera histórias, ajudando Lali a se livrar um pouco da culpa que a consumia por ter sido o pivô de tal vingança.


 


Entretanto, Lali continuava se sentindo muito mal a respeito de tudo aquilo. Se tivesse sido menos ingênua e mais alerta teria percebido as manobras de Maria e nunca lhe daria a oportunidade de levá-la à armadilha, desencadeando o ódio mortal e o espírito de vingança em Peter.


 


Agradecia a Deus todas as noites por ninguém ter morrido.


 


Saber que ainda restavam meios financeiros aos Uchoa`s para passar outro inverno era um conforto muito pequeno para Lali.


 


Com um novo suspiro, enxugou as lágrimas.


 


—          Bem, já que nada posso fazer para deter meu estúpido marido, é melhor me preparar para a chegada de Dell Cerro.


 


—          Anime-se, madame! Seu homem é forte e corajoso, nada estúpido, como acabou de dizer. Não irá se arriscar pra nada.


 


Lali resmungou para si mesma, incrédula.



Junto aos demais espectadores, ladeada por sua melhor amiga e Maria, Lali rezava.


 


 


 


Seu coração estava com Peter vestido com sua melhor armadura, portando à esquerda se escudo brilhante nas cores vermelha e dourada, o brasão da família, e a lança de aço fatal, rebrilhando em sua mão direita imponente e orgulhoso, marchou para a arena a fim de enfrentar seu inimigo.


 


O olhar de Lali procurou o outro lado do campo de luta, esperando ver Memo Uchoa mais fraco, mas o homem era como se lembrava dele; trajando uma armadura negra, e com o olhar ainda mais sombrio e cruel.


 


Uchoa pedira autorização a Albany para que a primeira contenda fosse contra Peter e, desconfiando de que havia algo muito sério por trás do pedido, Albany não soubera como recusar.


 


Para seu horror, Lali viu que o cavalo do inimigo não estava ajaezado como o de Peter, com a malha fina, mas com placas pesadas de metal. O enorme coral negro parecia algo saído de um filme de terror.


 


Euge tomou a mão de Lali entre as suas, e Lali viu que Peter lhe sorria.


 


Enquanto o escudeiro de Uchoa dizia-lhe palavras de incentivo e elogiosas, Euge sussurrou:


 


—          Mande um beijo para o seu marido, milady. É o que o lorde precisa nesse momento. Incentivo.


 


Com lágrimas nos olhos, e o coração apertado, Lali levou dois dedos trêmulos aos lábios e soprou um beijo a Peter, murmurando:


 


—          Querido, eu o amo. Que Deus esteja com você o tempo todo.


 


Em seguida as trombetas soaram, dando início aos jogos. A multidão gritou, entusiasmada, quando os cavaleiros baixaram as viseiras dos elmos, os cavalos resfolegaram e saíram a galope.


 


Peter prendeu a respiração quando as lanças se chocaram.


 


Seu coração quase parou quando o escudo de Peter, aparando o golpe de Uchoas, partiu-se em dois. Seus temores pareceram se multiplicar, quando o viu descartar-se da faixa de aço que antes prendera o escudo e voltar seu cavalo para o lado oposto da arena.


 


Lali debruçou-se sobre a balaustrada. No lado contrário do campo, o escudo de Uchoa, embora muito danificado também, ainda estava preso ao seu braço.


 


Com olhar desesperado, perscrutou a audiência, à procura dos homens de Peter.


 


—          Onde está Gaston? Por que não traz outro escudo para Peter?


 


O ombro de meu marido ainda não está completamente são, pensou.


 


Não podia ser atingido nessa parte do corpo. Desejava, de modo desesperado, poder ver seu rosto sem a viseira, ler sua expressão, e saber se estava sentindo alguma dor.


 


Dell Cerrol a fez encostar as costas no assento do banco.


 


—          Lady Lali, não há nada que seus homens possam fazer. Peter precisa vencer com as armas que lhe restam.


 


—          Não! — exclamou Lali.


 


Sentia as têmporas latejarem, e uma enorme tontura a possuiu.


 


Euge a segurou pela cintura, antes que caísse.


 


—          Milady, pode me ouvir?


 


Lali abriu os olhos.


 


—          Sim.


 


Empurrou para longe o cálice que Dell Cerrol sustinha junto aos seus lábios e pestanejou.


 


—          Estou bem. 


 


Aprumou-se no banco e, quando sua visão clareou, viu os rostos que a circundavam. Todos haviam se erguido e aplaudiam de modo frenético.


 



— Vencer ou morrer! — vociferou Peter a divisa do brasão de sua linhagem esporeando Ransom.


 


O cavalo resfolegou, tão excitado quanto o amo que, com um movimento rápido, largou as rédeas, e apertou os flancos do animal com as pernas.


 


Tinha quase certeza de que dessa vez Uchoa iria tentar atingi-lo mais em baixo, procurando feri-lo por baixo da couraça da armadura.


 


Galopou ereto, esperando até o último momento, de modo que fosse impossível para Uchoa desviar sua montaria, então inclinou-se sobre o pescoço musculoso de Ransom.


 


Dirigindo o cavalo apenas com o toque de suas pernas, Peter cerrou os dentes e empunhou a lança.


 


O impacto, quando atingiu em cheio o ombro direito de Uchoa, quase o desequilibrou. O rumor ensurdecedor da multidão e a velocidade em que ia não o deixava saber se derrubara o inimigo.


 


 


Quando Ransom diminuiu o galope, Peter virou-se na sela, e viu Memo caído de costas no meio da arena, coberto de pó.


 


 


Uma alegria infinita possuiu o senhor de Blackstone. O bastardo estava à sua mercê!Como um raio, atirou para longe os restos de sua lança, e fez o cavalo dar meia-volta. Quando Ransom se acalmou, Peter passou a perna pela sela, e deslizou para a grama, com um rumor seco.


 


Desembainhou a espada de lâmina larga e aproximou-se de Memo Uchoa.


 


De pé ao lado do inimigo caído, Peter colocou a ponta da espada sobre o peito de Memo, enquanto a multidão delirava.


 


Sob o elmo quebrado do rival, Peter pôde ver o medo estampado em seu rosto e depois a resignação. Sorriu. Sempre usando a ponta da espada, ergueu a viseira de metal do inimigo.


 


—          Bastardo maldito! Agora irá pagar!


 


Com o peito arfante, Peter lançou um olhar de satisfação para o sangue que se espalhava pela armadura de Memo. Sim, desferira um golpe certeiro, pensou.


 


Como fora desafiado para o combate podia, inclusive, dar cabo de sua vida ali mesmo. Fora uma disputa peculiar, pois em princípio deveria fazer par com Memo Uchoa no torneio, até o final, caso vencessem.


 


Sabia muito bem que, se fossem os dois finalistas, Memo não hesitaria em enfiar a lança ou a espada em seu pescoço, entretanto, nesse instante, ele, Juan Pedro Lanzani, hesitava.


 


Ergueu o rosto, fitou Albany, vestido como um rei, e viu que sorria. Em seguida passeou o olhar pela multidão de espectadores, de pé, a sede de sangue e carnificina se irradiando dos gritos de incentivo.


 


Então procurou por Lali e viu-a de olhos arregalados, o rosto lívido, a respiração suspensa, fitando-o da arquibancada. Tinha uma das mãos sobre os lábios, e a outra acariciava o ventre onde gerava seu filho. Peter ergueu a espada de modo determinado.


 


—          Morte! Morte! — gritava a turba ansiosa.


 


Precisava agir, refletiu. Podia saciar sua sede de vingança e destruir seu inimigo de uma vez por todas, conquistando a admiração de todos e de seus aliados.


 


 


Por outro lado, podia deixar a espada cair ao chão. Fitou Lali mais uma vez, desejando sua admiração e respeito, mais do que tudo no mundo.


 


 


Respirou fundo e então tomou uma decisão.


 


Rezando para estar fazendo a coisa certa, comprimiu a ponta da espada no pescoço do homem caído aos seus pés.


 


—Vou poupá-lo, Memo Uchoa, apenas por causa de seus filhos. Porém se você ou alguém de seu clã voltar a pisar sem ser convidado nas terras dos Lanzani`s, prometo que irá se arrepender. Estamos entendidos?


 


Memo fez um aceno, concordando, e Peter deixou cair a espada.


 


Muitos, em meio aos espectadores, começaram a vaiar e soltar exclamações de desagrado, mas outros aplaudiram, ao ver Peter, o Moreno, dobrar um joelho diante do inimigo oferecer-lhe a mão direita e murmurar:


 


—          Então está resolvido. O passado ficará para trás.


 


Toda a sua sede de vingança parecia ter desaparecido como por milagre. Voltou a se levantar, e viu


 


Gaston que corria ao seu encontro. Enquanto o vencedor se afastava, os homens de Uchoa entravam na arena para acudir seu líder caído e derrotado.


 


Gaston gritou para se fazer ouvir em meio ao burburinho e o clamor da multidão.


 


—          Fez bem, Peter.


 


—          Diga isso à minha esposa. Foi por causa da expressão de seu rosto, há pouco, que mudei de idéia e poupei Memo Uchoa.


 


 


 


Penetrando no grande salão do castelo de Sterling, esfericamente iluminado, Lali rezava para que Peter e Nicolas tivessem razão quando haviam apostado que Albany jamais vira sua sobrinha e prima do rei, Paula LeBeau Demont.


Suando de apreensão e dominando os tremores que sacudiam seu corpo, segurou o braço que o marido lhe oferecia.


 


—          Por aqui, milady — murmurou Peter, dirigindo-se para o lado direito, sempre se mantendo ao fundo do salão. — É melhor que entremos de modo discreto e que não sejamos muito observados. 


 


Lali arregalou os olhos.


 


—          Não pode estar falando sério! É mais alto que a maioria dos homens aqui! No instante que Albany olhar para este lado, irá vê-lo.


 


E a mim também, concluiu em pensamento. Que Deus nos ajude!


 


Tendo se sagrado vencedor em todas as modalidades do torneio, Peter não tinha escolha e precisava comparecer à festa de Albany. Quando Lali também fora convidada, ele, Nicolas e Eugenia haviam corrido contra o tempo, a fim de prepará-la para a enxurrada de perguntas que teria de responder.


 


Mas seria o suficiente? Será que passaria no teste e venceria a esperteza de Albany?


 


Esperando que Albany já estivesse bastante bêbado, quando chegasse a hora de ser colocada à sua frente, Lali ia relembrando em pensamento tudo que Euge lhe dissera; quando fazer uma cortesia, sorrir, quais os dois dedos que devia usar quando comesse a carne ou as frutas e, o mais importante, suas três respostas básicas, muito ensaiadas, para qualquer pergunta que lhe fizessem.


 


Haviam decidido que deveria fazer o papel de moça muito tímida e dependente de Peter. Sob essas circunstâncias, seria natural que o marido muitas vezes respondesse por ela.Caso Albany a questionasse de modo direto, Lali deveria aguardar pelas sugestões de Peter para que respondesse acertadamente. Peter piscaria um olho, apertaria sua mão ou cintura, e essas seriam as deixas.


 


Sua sobrevivência dependia de o casal ficar sempre junto. Por fim, era preciso uma extrema discrição, até que pudessem ir embora.


 


No geral, seria uma missão bem complicada, refletiu Lali, pela milionésima vez.


 


 Considerando a altura de Peter e o vestido que ela usava, com uma cauda de dois metros, e o arranjo de cabeça com plumas de pavão, era impossível que o casal passasse despercebido.


 


 


Euge exagerara na toalete, pensou, aborrecida.


 


—          Ah! Aí está, Lanzani! — saudou um homem de cabelos vermelhos. — Sua Graça insiste em vê-lo. — Sorrindo, o homem dirigiu-se à Lali. — Deve ser lady Lanzani. 


 


Peter apresentou o estranho como Robbie Stewart. Lali sorriu, calada, fez uma reverência, oferecendo a mão direita.


 


Quando Stewart inclinou-se, beijando-lhe os dedos, Peter perguntou:


 


—          Albany está de bom humor?


 


—          Sim, muito! O clã dos Lanzani`sl sagrou-se vencedor do torneio. Além disso as baixas foram mínimas, e quase todos saíram vivos, sem ferimentos graves. Como se sente após vencer os mais valorosos cavaleiros da Escócia?


 


Peter sorriu.


 


—          Aliviado, e alguns quilos mais magro.


 


—          Então venha!


 


—          Sim, mas deixe-me acomodar minha esposa primeiro. Irei ao seu em encontro logo em seguida.


 


—          Tolice! — replicou Stewart. — Sua graça está ansioso para ver milady também. Venham, os dois!


 


Enquanto Robbie abria caminho entre os inúmeros líderes de clãs, Peter agarrou a mão trêmula de Lali e sussurrou-lhe ao ouvido:


 


—          Lembre-se de que Albany não vê a sobrinha desde que era uma menina.


 


Engolindo em seco, e sentindo uma forte náusea, Lali aquiesceu com um gesto de cabeça. Quando se viu diante do líder máximo da Escócia, seus joelhos pareciam feitos de geléia.


 


Mantendo uma das mãos pousada no braço de Peter, fez uma profunda reverência. De boa vontade permaneceria naquela posição, a cabeça baixa, pelo resto da noite, se pudesse, mas Albany riu, tornando-lhe a outra mão.


 


Erguendo o rosto, Lali tratou de sorrir.


 


Albany disse algo que não entendeu, e Peter respondeu. Quando Albany voltou a falar, o marido apertou-lhe a mão.


 


 


Com as faces em fogo, Lali balbuciou em francês que estava contente também por rever o tio, após tantos anos.


 


Albany tomou a se dirigir à ela, e Dul fitou Peter em busca de ajuda; Lanzani piscou o olho de modo discreto. Então, respirado fundo e erguendo o queixo, Lali murmurou:


 


—          Oui, três honorée, onde.


 


Sentia-se como um papagaio repetindo frases, mas sabia que dissera estar honrada pelo tio.
Albany soltou uma risada alta.Aliviada porque sua resposta o agradara, Lali ousou fitar o homem pela primeira vez. A autoridade que lhes podia dar a vida ou eliminá-los.Sem ser muito alto, Albany tinha um belo rosto escanhoado. Se vestisse um temo com colete e fosse parar em Wall Street, refletiu, qualquer um pensaria que era algum figurão das finanças, com seus penetrantes olhos verdes e gestos seguros.


 


Trajava uma veste de seda vermelha e verde, com arminho nas bordas, um cinturão de metal e sapatos de bico fino. Aos olhos de Lali, parecia enfeitado demais, porém quase todos os homens ali presentes tinham o mesmo aspecto.


 


Por sorte seu marido tinha bom senso, pensou, satisfeita.


 


Entretanto podia ser apenas porfalta de dinheiro que Peter se trajava com absoluta simplicidade, porém sua túnica sem enfeites era muito mais elegante que as peles dos outros.


 


Seu orgulho pelo marido deve ter transparecido na expressão do rosto, porque Peter sorriu e murmurou-lhe:


 


—          Albany acabou de dizer que você deve estar feliz no casamento.


 


Lali voltou a baixar o rosto, sentindo as faces em fogo. Não ousava olhar para o suposto tio.


 


—          Devo contar que aguardamos nosso primeiro filho e que deverei levá-la embora quando se sentir cansada?


 


Lali relanceou um rápido olhar na direção de Albany e depois aquiesceu com um gesto mudo.


 


As novas sobre a gravidez de lady Lali foram saudada com risos maliciosos, mas amigáveis, e tapinhas nas costas de Peter.


 


Então Albany inclinou-se, tomou a mão de Lali, e beijou-a no rosto.


 


Lali achou que era sua imaginação que a fazia pensar que o nobre estreitara os olhos com ar de suspeita e sorriu.


 


Albany murmurou algo em gálico, e Lali sentiu que Peter apertava seu cotovelo e cintura, fazendo-a estremecer. Duas perguntas!? Precisaria dar duas respostas.


 


Esforçando-se para dizer as frases certas, recitou em francês que fora um prazer conversar com o tio, mas que estava exausta e daria boa-noite.


 


Para seu pavor, viu que Albany parara de sorrir, e franzira a testa. Voltou a fazer uma pergunta que Lali não entendeu.


 


A mão de Peter parecia de aço, e apertou-a de encontro ao peito forte. Espantada, Lali o fitou, e viu sua expressão rígida, os lábios fechados em uma linha severa. 


 


Deus! O que fiz de errado?, perguntou-se, apavorada, sentindo o sangue gelar nas veias.


 


Na hora em que seus joelhos iam ceder, e Peter encostava a mão na bainha da espada, John Del Cerro, rindo muito e distribuindo tapinhas amigáveis nas costas dos demais convivas, aproximou-se.


 


Com as têmporas latejando, Lali não conseguia entender o que o homem dizia para Albany, mas John Del Cerro continuava a falar, e Peter segurou-a com firmeza, e saiu com ela do salão, para o pátio do castelo de Sterling.


 


—          Está bem, Lali? — perguntou, fazendo-a se recostar no umbral da porta. — Parece que vai desmaiar.


 


John Del Cerro e Gaston aproximaram-se nesse instante.


 


—          O que aconteceu? — perguntou Lali com um fio de voz.


 


Foi Del Cerro quem respondeu.


 


— Sua Graça perguntou por que milady não fala gálico e não tem os olhos verdes de quando era menina.


 


Lali sentiu o estômago revirar.


 


—          Meu Deus!


 


—          Não se preocupe, querida. Acabou — Peter fitou seu velho e leal amigo. — Por que mentiu para Albany, Del Cerro? Por que disse que conhecia Lali há muito tempo?


 


John relanceou um olhar preocupado pelo pátio deserto.


 


—          Há três anos fui ter com lady Paula — sorriu. — Albany temia que não entendesse nada da administração das terras do marido.


 


 


—             Descobri que Paula era uma megera. Bonita de rosto, sim, mas uma víbora. Por outro lado, seu esposo era fraco de caráter e doente.


 


Fez uma pausa e fitou a lua que brilhava no firmamento.


 


—             Fiz um relatório para Albany, omitindo o fato de Paula ser uma megera. Tempos depois o marido faleceu, e seu tio resolveu lhe arranjar um novo esposo — bateu no ombro de Peter de modo amigável. — Assim que vi sua lady Lali na tenda, soube que não era a mulher que lhe fora destinada por Albany.


 


—             Então, por que mentiu para Albany?


 


O senhor de Dunstaffnage deu de ombros.


 


—     E quem ainda está vivo para me desmentir? Os pais de lady Paula já faleceram, e não havia outros irmãos nem parentes, a não ser Albany que a conhecera criança e nunca mais pusera os olhos sobre sua pessoa. Ninguém importante a conhecia adulta, além de alguns criados e camponeses, e esses também foram embora quando seu marido morreu. As freiras que a mantiveram por algum tempo não saem do claustro...


 


Então, pensou Gaston, sem externar suas idéias em voz alta, uma das mulheres que enterramos naquela noite, após o acidente com o coche, era... lady Pula Demont.


 


—     Agora iremos para Blackstone, onde todos amam lady Lali, e viveremos em paz — disse Duncan.


 


Lali voltou-se para o velho Del Cerro.


 


—     Mas, milorde... Por que me protegeu, afinal?


 


O velho sorriu.


 


—     Porque logo percebi que milady e Lanzani formam um par perfeito e se amam muito. Por que estragaria sua felicidade? E talvez também pelo fato de considerar Peter como um filho — voltou-se para o senhor de Blackstone. — Sempre tratou minha Juliana muito bem e, mesmo tendo direito, não enforcou Maria — lançou um olhar malicioso para Lali. — Ou, ainda, porque estou encantado com seus modos e sotaque estranhos, milady.


 


 


 


 


 


 


 


—          Por favor, acabem com isso!     —    Suplicava Lali, apertando a mão de Peter. — Já!


 


—          Sim. meu amor, minha querida, dentro de segundos — sussurrava o marido.


 


Preocupado, relanceou um olhar para Euge e a parteira. Alucinada de dor, sem saber o que dizia, Lali já lhe pedira dez vezes, nos últimos minutos, que retirasse o anel de seu dedo para acabar com o sofrimento.


 


—          Está tudo bem? — perguntou Peter para as duas atarefadas mulheres.


 


Ambas acenaram que sim. Euge colocou uma compressa fria na testa de Lali.


 


—          Sim, milorde, na verdade milady está indo muito bem. O bebê vai nascer dentro de instantes.


 


—          Não acredite nelas — sussurrou Lali com os dentes cerrados.


 


Tentou ficar de costas, mas, com delicadeza, Peter a forçou a permanecer de lado, como mandara a parteira.


 


—          Calma, querida, está quase terminando.


 


Pelo menos assim esperava, refletiu, sofrendo pela esposa.


 


Por que se deixara convencer a assistir ao parto? O lugar do marido nessas horas era no salão principal ou no pátio, caminhando de um lado para o outro.


 


Não ali, ouvindo cada gemido, que doía em seu coração e corpo. Daria seu braço direito para vê-la aliviada, pensou.


 


—          É muito corajosa, querida...


 


—          Peter, quero que... Oh!


 


Um gemido escapou da garganta de Lali, e seu rosto suado se contorceu de dor.


 


A cabeça da parteira surgiu entre as pernas da parturiente.


 


—          Isso mesmo, milady! Empurre! Faça força! — voltou-se para Peter. — Tudo bem, milorde. A cabeça do bebê já saiu.


 


—          Respire fundo e empurre de novo! — pediu Euge.


 


Peter inclinou-se sobre a figura ensopada de suor e lágrimas da esposa.


 


—          Já lhe disse que a amo demais?


 


Antes que Lali pudesse responder, a parteira voltou a comandar.


 


—          Um último empurrão, milady. Força!


 


Rangendo os dentes, Lali obedeceu, dentro de segundos, ouviu-se o grito bem-vindo de seu filho, e Lali suspirou, relaxando por fim, entre os braços de Peter, que ria e chorava ao mesmo tempo.


 


 


Era o homem mais feliz do mundo, pois sua Lali tivera o filho e continuava viva!


 


Enxugou-lhe o suor da testa e murmurou:


 


—          Eu a amo acima de tudo no mundo.


 


De olhos fechados, respirando devagar, Lali replicou:


 


—          É melhor que ame, e muito mesmo.


 


—          Milorde — disse a parteira, toda sorridente  —  tem um lindo filho varão.


 


Era um milagre! pensou Peter. Em prantos, abraçou Lali.


 


—          Salvou minha alma, meu amor. Só encontrando a pessoa certa e tendo um herdeiro, poderia me salvar. 


 


A esposa afagou-lhe o rosto.


 


—          Não, meu querido. Você mesmo fez isso, com sua bondade.


 


 


 


 


 


 


 


 


 




Epílogo


 


 


 


 


—          Chega Giovanni! Sente-se!


 


Lupita Silverstein esperara demais. Cansada de ver o marido, também exausto, andar de um lado para o outro, e irritada com a constante preocupação sobre o futuro do filho, queria saber nesse mesmo instante se poderia fazer planos para o futuro ou não.


 


O menino teria liberdade para escolher a profissão que desejasse? Ser médico, músico ou advogado? Ou teria que continuar preso no vilarejo escocês, assim como seu pai e seu avô antes dele?


 


Entregou a Giovanni o diário de lorde Lanzani 


 


—          Abra, meu marido. Não quero esperar nem mais um instante, quanto mais um dia. Se, de fato, aconteceu um milagre, teremos a resposta no livro, conforme a profecia, e os últimos relatos narrados terão mudado.


 


Giovanni aquiesceu, sabendo que Lupita tinha direito a isso. 


 


Lali Esposito nunca mais fora encontrada, e o fantasma e o anel não haviam retomado. Já adiara a leitura final do diário por muito tempo, refletiu.


 


Com mão trêmula, girou a chave na fechadura de prata do volume encadernado e ergueu a carcomida capa de madeira.


 


A letra firme do lorde surgia muito clara; ajoelhando-se junto ao bebê no colo de Lupita, Giovanni tomou fôlego.


 


—          Vire a página até o último relato que Isaac copiou, querido. A descrição da morte de Juan Pedro Lanzani por causa da infecção no ombro.


 


Com cuidado e receio. Giovanni foi virando as páginas, embora soubesse as palavras de cor.


 


 


 


Caso Lali tivesse alterado o destino, as últimas frases que em breve leria não seriam as mesmas que já lera centenas de vezes.


 


Parou na página certa e pareceu ficar petrificado.


 


—          O que foi, Giovanni? — gritou Lupita. — Pelo amor de Deus! O que diz aí?


 


Lágrimas começaram a rolar pelas faces de Silverstein, enquanto entregava o diário de Peter à esposa. Um parágrafo novo surgia na última página, escrito em inglês contemporâneo:


 




Que todos saibam que neste dia, o sexto do mês de abril no ano do Senhor de mil quatrocentos e nove, nasceu um filho saudável, Pedro Henrique Lanzani, para lady Mariana e Juan Pedro Lanzani, lorde do clã dos Lanzani`s, e senhor do castelo de Blackstone.
Assinado: Mariana Elizabeth Esposito Lanzani.
PS: O amor venceu. Giovanni, dê um beijo em Lupita e seu filho por mim.




Sem fala, Lupita segurou a mão de Giovanni. Uma moça simples, sem grande beleza física, mas com um coração de ouro e profunda capacidade de amar, quebrara, por fim, a maldição que comandava suas vidas...


 


 


 


 


FIM


 


 


 


 


 


 


 




A web acabo :(


Queria agradecer quem teve paciência comigo rs, e as que leram a web e as que comentarão!


Pesso para as que estão lendo isso quer dizer que ja leram a web neah (é claro derr)  então pesso para que comente o que achou se foi legal ou ruim se quiser me xingar eu vou  ler sem recentimento prometo (dedinho cruzado)no  proximo post eu agradesso a cada uma das leitoras que comentarão e favorataram!


OBRIGADA!


 


 


 


 


 


 



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Autor(a): hellendutra

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 257



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  • jucinairaespozani Postado em 17/02/2014 - 02:00:34

    A web foi ótima eu amei ,demorou mas valeu a pena *-*

  • jucinairaespozani Postado em 27/12/2013 - 17:19:31

    Que bom que voltou ..Que raiva da Maria ..Estou amando a web ,espero que a Lali fique bem.Posta mais

  • daniilanzani Postado em 16/12/2013 - 01:06:39

    ô tia????Pq vc parou de postar???qro mais,,abandona a web não ela é ótimaaaa *o*

  • jucinairaespozani Postado em 12/10/2013 - 19:44:54

    ai que bom que voltou posta mais a web é incrível a historia é muito boa e eu estou adorndo ler

  • lary_laliter Postado em 04/07/2013 - 23:39:50

    COMO VC PARA EM UMA PARTE ASSIM DE BRIGA MULHER ! Há que capitulo pequenininhoooo posta mais Plis estava morrendo de saudade da web

  • sofiasouza Postado em 04/07/2013 - 23:37:55

    ñ demora muito pra posta ,a web esta perfeita posta mais estou amando

  • sofiasouza Postado em 01/07/2013 - 01:15:20

    Posta mais, que bom que apareceu sumida kk estou amando a web ,vê se ñ desaparece mais em senhorita kk

  • lary_laliter Postado em 30/06/2013 - 23:28:22

    OLHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA EU AQUI VOLTEI E TBM ESTOU FAZENDO UMA DANCINHA MALUCA \O/ KKKKKKKK ANSIOSA PARA O PRÓXIMO CAPITULO.....como tu não respondeu no face feliz aniversário atrasado muitos anos de vida e blá blá blá tudo que tem que dizer kkkkkk

  • jucinairaespozani Postado em 30/06/2013 - 20:44:58

    Posta mais

  • sofiasouza Postado em 06/06/2013 - 19:51:16

    Que bom que voltou ,parabéns pelo seu Peter kk ,adorei o capitulo posta mas a web esta ótima ,espero que ñ suma mas em (:


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