Fernanda: muito lindo Lali, parabéns. É isso que faz quando não estou em casa?
“Por incrível que pareça, minha mãe estava em casa, e eu não tinha percebido a presença dela durante o tempo em que permaneci ali, ela estava no outro sofá ao lado, deitada, nos olhando, não sabia como não a percebi ali, bem na nossa frente...”
Lali: mãe, não é o que parece...
Fernanda: como não? Sozinhos numa casa enorme e silenciosa assistem um romance, o clima surge, os beijos... O que mais falta? – se levantando.
Peter: eu posso explicar tudo...
Fernanda: comece a se explicar mesmo rapaz, na realidade os dois têm muito que me contar.
Lali: porque agora vai ‘fingir’ que se importa comigo? Eu sempre fui invisível pra você, depois que Papai fugiu você colocou a culpa toda em mim!
Fernanda: Mariana não fale assim comigo, sou sua mãe!
Peter: Lali se acalme... – colocando a mão sobre meu ombro. – não é assim que se resolve as coisas.
Fernanda: pelo menos seu namorado tem mais juízo que você.
Lali: ele não é meu namorado, é somente um amigo mãe! Nem pra isso você confia em mim?
Pato: que confusão é essa aqui? – entrando pela porta da frente. – mãe, o que faz a essa hora aqui?
Fernanda: nunca viu uma mãe tirar folga?
Pato: uma mãe sim, mas a minha... Nunca. Diz realmente o que aconteceu.
Fernanda: depois falamos disso, agora tenho que resolver uma coisa com esses dois aqui – apontando pra mim e Peter.
Pato: o que aconteceu?
Fernanda: sua irmã trouxe um homem pra casa na hora em que não tinha ninguém em casa. – nos acusando.
Pato: e o que tem?
Fernanda: como assim Patrício! O que tem de errado nisso?
Pato: Peter convidou Lali pra um passeio hoje á tarde e eu disse á Lali que assim que o passeio acabasse, era pra ele fazer companhia á ela enquanto eu não chegava, é até por isso que deixei alguns DVD’s do lado da televisão.
Fernanda: tem certeza que é somente isso?
“Eu não suportava toda essa desconfiança, primeiro do meu irmão, e agora da minha mãe, fingindo estar preocupada com o que faço da minha vida, desde que nasci ela nunca se importou em me pegar na escola quando pequena, nunca me comprou presente de comemoração alguma, e nunca me chamou pra conversar assuntos adultos, como qualquer mãe faz com seu filho. Eu praticamente já tinha me acostumado a essa falta de atenção e carinho de uma mãe, mas me feriu mais ainda presenciar esse fato todo parecendo estar sempre presente. Precisava de um momento só meu, refletir sobre tudo que aconteceu, e o que quero que aconteça, tudo na minha mente estava embaçado, sentia fortes dores de cabeça, não conseguia pensar em nada.”
Lali: Basta! Eu não suporto mais tudo isso! Eu não suporto mais essa discussão, eu não suporto mais nada!
“Logo que falei, não fiquei ali pra ver a reação de cada um, eu simplesmente me virei e fui correndo até meu quarto. A primeira coisa que fiz, foi me jogar na cama e começar a chorar desesperadamente, não havia um motivo concreto para o que eu sentia, mas eu sabia que uma peça do quebra-cabeça estava totalmente errada. Na mesinha ao lado da minha cama havia uma foto do meu pai, eu nunca o conheci, nunca o abracei, nunca pôde ter a oportunidade de dizer a ele que o amo, mas ele me trazia esperanças, ele era um exemplo de vida pra mim. Eu imagino como tudo seria diferente se ele estivesse ao meu lado agora.
Coloquei o retrato no lugar, deitei e voltei a olhá-lo, aos poucos fui me acalmando, tive a presença de passos se aproximando de mim, e logo uma mão me entregava um lenço de papel me falando docilmente...”
Peter: não chore mais, isso vai me fazer sentir mal.
Lali: obrigada. – pegando o lenço.
Peter: está tudo bem com você? Estranhei sua reação...
Lali: é complicado demais pra te explicar.
Peter: pelo menos tente...
Lali: outra hora eu prometo que te explico tudo...
Peter: tudo bem, não vou te pressionar... Esse que é seu pai? – pegando o retrato.
Lali: sim, é ele mesmo.
Peter: é muito parecido com você...
Lali: é... Pena que eu não posso mais vê-lo.
Peter: mas porque ele fugiu?
Lali: é um mistério, nunca ninguém me falou nada sobre o assunto.
Peter: tem a ver com o que aconteceu agora pouco?
Lali: por aí... – enxugando as lágrimas.
Peter: eu acho que esse assunto é de família e eu nem faço parte dela, melhor não me intrometer...
Lali: você não está se intrometendo, só está tentando me ajudar. Eu não quero enfrentá-la
Peter: mais cedo ou tarde vocês terão que conversar.
Lali: prefiro o tarde.
Peter: porque você odeia tanto sua mãe?
Lali: eu não a odeio, o problema é que, ela nunca se importou comigo, nunca me abraçou, nunca disse que me amava, como se sentiria se estivesse no meu lugar? – começando a chorar novamente.
Peter: Acalme-se, ela deve ter um bom motivo pra tudo isso... – limpando o meu rosto carinhosamente.
Lali: será?
Peter: claro que sim. Se ela não se importasse com você mesmo, ela não iria nem ligar na hora em que percebeu minha presença, e ia deixar agente fazer o que quiser, mas não foi assim.
Lali: foi a primeira vez que ela fez isso.
Peter: você disse que ela sempre trabalha e que nunca está em casa, demos azar de que justo naquele momento ela teve uma folga e pôde perceber o que acontecia ali.
Lali: será?
Peter: claro que sim, eu percebi o quanto ela te ama, e o quanto eu quero ten...
Lali: quer o que?
Peter: Eu quero tentar uma coisa... – tirando meu cabelo dos olhos.
Lali: o que?
Peter: você verá...
“ Peter estava seguro do que ia fazer naquele momento, eu nem fazia idéia do que seria, o local estava em pleno silêncio, Peter enxugou a última lágrima presente no meu rosto, e então foi se aproximando mais e mais. Fui me aproximando aos poucos perto do rosto dele, nada mais ao meu redor importava, nem meu irmão, nem minha mãe, somente Peter. Ele me olhou nos olhos profundamente e chegou mais perto dos meus lábios, estávamos a ponto de nos beijarmos...”
Continua...