Fanfic: *Mємóяιαѕ Đє √αмριяø* | Tema: ұσท∂y (Δ∂αρτα∂α)

Diego se virou com um sorriso vitorioso.

— Aí está você! Deixe-me apresentá-la ao estimado dr. Num. — Ele fez uma mesura afetada, como um vendedor anunciando um novo produto.

Dulce seguiu as mãos até encontrar uma figura ímpar sentada no sofá, segurando um copo com uísque. O homem diminuto ergueu o drinque para saudá-la e a avaliou dacabeça aos pés.

Aquele era o dr. Num?!

Aparentava estar na casa dos trinta anos, com cabelos curtos, rentes ao couro cabeludo. Usava calças pretas coladas às pernas magras, e a camisa azul brilhanteparecia ser de plástico. Mas não foi a idade nem a aparência que a surpreenderam.

Foram as orelhas. O médico usava piercings! Ou melhor, eram imensos orifícios nas orelhas que se mantinham expandidos por aros de metal. Sim, o dr. Num era muito, muito peculiar, sem contar que não tinha o menor traço asiático.

Dulce percebeu que não era educado encará-lo daquela forma, e abaixou o rosto. Dr. Num ergueu a sobrancelha e endereçou-lhe um sorriso lascivo, aparentemente sem se importar com a avaliação crítica. Levantou-se e estendeu a mão.

— Sim, sou eu. Dr. Num. — Dulce o cumprimentou e tentou manter o olhar longe das aberturas nas orelhas.

— Obrigada por ter vindo — balbuciou, recebendo outro olhar de cobiça.

— Não pude resistir. Quando Diego explicou a situação, quis ver com meus próprios olhos. — Dulce lançou olhar preocupado para Diego. Aquelas não eram palavras de um médico preocupado com o paciente.

— Dav... Digo, dr. Num está sempre interessado em novos casos.

— Diego — Christopher disse em voz baixa, e só então Dulce notou que ele estava parado à porta, olhando para o médico com a mesma perplexidade que ela. — Podemos conversar na sala de estar?

Christopher cumprimentou o dr. Num com um gesto da cabeça, sem disfarçar o interesse pelos buracos nas orelhas.

— Voltaremos num minuto — anunciou quando Diego se juntou a ele, e dirigiu-se a Dulce: — Não saia daqui. — Ela concordou e, através do orifício descomunal na orelha do excêntrico médico, viu a porta se fechar.

— Então, Christopher está mesmo aloprado, hein? — Dulce pestanejou. Era esse o termo técnico que os médicos de Nova Iorque usavam para o problema de Christopher?

— Ele e está um pouco confuso e acho que precisa de ajuda profissional — Enfatizou a palavra "profissional".

— Bem, pelo que Diego me contou, ele precisa de ajuda médica há muito tempo. Qualquer um percebe que Christopher tem depressão. Aliás, ele está muito mais feliz agora... — Dr. Num ergueu as mãos, agitado. — Não que eu o conhecesse bem. Em todo caso, a amnésia está funcionando para ele.

Dulce franziu a testa. Sabia que estava sendo preconceituosa, mas não havia menor chance de confiar naquele homem.

— Bem, não é para menos... — Dr. Num a estudou dos pés à cabeça, com um sorriso de cobiça. — Acho que você o está deixando feliz.

Dulce recuou um passo, Agora entendia por que aquele médico havia diagnosticado Christopher por telefone. Na certa, era como fazia a maioria dos exames de seus pacientes.

— Não acha que seria melhor se o levássemos ao hospital? Talvez ele precise de um psiquiatra...

— Ah, os psiquiatras... — Dr. Num estalou a língua com desgosto. — Eu mesmo me consultei com um, certa vez. Christopher ficará melhor com uma garrafa de uísque e uma prostituta. A bebida o deixará mais falante, e a prostituta ouvirá os problemas dele por um preço muito menor. Além do prazer que ela pode dar, é claro. — Ele sorriu, como se estivesse oferecendo uma solução brilhante. Dulce ouviu, boquiaberta, e seguiu na direção da porta.

— Pode me dar licença um minuto? — Sem esperar resposta, ela girou a maçaneta e, naquele momento, os dois irmãos entraram na sala.

Christopher parecia aborrecido, e Diego não escondia a tensão.

— Dulce, posso falar com você? — Deveria ser uma pergunta, mas ela percebeu nos olhos de Christopher que não havia espaço para recusa. Não que desejasse recusar. Ficou mais do que aliviada por se livrar dos comentários ofensivos do dr. Num!

Christopher tomou-a pela mão e saiu, fechando a porta atrás dele.

— Não quero que você seja examinada por esse médico — ele declarou por entre os dentes logo que ficaram a sós.

— Nem eu! — Dulce concordou prontamente, mesmo sabendo que o dr. Num não estava ali por causa dela. — Oh, Deus! Agora... — A porta se abriu, e Diego espichou o pescoço pela fresta.

— Dr. Num já terminou com Dulce. Agora ele quer vê-lo, Christopher.

— Ele já te examinou Dulce?

— Não. Ele só fez uma ou duas perguntas e ofereceu alguns — ela enviou olhar de censura para Diego. — ...conselhos profissionais.

Christopher suspirou, aliviado.

— Ele quer falar com você — Diego insistiu.

— Por quê? — Christopher ergueu as mãos, confuso.

— Bem, ele tem alguns conselhos para você também. — Christopher hesitou e caminhou na direção da porta. Fez uma pausa para fitar Dulce.

— Você está bem, não é?

— Sim. Estou ótima. — Diego fez um gesto para apressar Christopher e se afastou para lhe dar passagem. Porém, Dulce o chamou.

— Espere, Diego. Quero falar com você. — Dulce podia jurar que ele havia erguido os olhos para o teto, mas o sorriso que ostentava nos lábios era da mais singela candura.

Christopher entrou na biblioteca e ele saiu para a sala de estar.

— Esse é o seu renomado médico? — ela questionou com ironia. 

— Não se deixe enganar pelas aparências. Ele é o melhor.