— Por você. — Diego fez uma careta com expressão abobalhada. — Bem, eu ofereci um trabalho legítimo na boate, como nossa administradora. Mas ela só aceitou porque está desesperada por um emprego, e era exatamente o que eu contava.
— Dulce, trabalhar na boate? De jeito nenhum! — Christopher agarrou a lapela do casaco de Diego e o empurrou contra a parede.
— Vou entender como um não — Diego disse, com respiração ofegante.
— Você tem alguma idéia do que fez? Do que eu fiz? — Diego balançou a cabeça com veemência e se desvencilhou das mãos.
— Sim. Dei-lhe a chance de estar com a mulher que você ama, porque você não podia fazer isso por si. E é assim que me agradece? — Ele apontou para a gola amassada do casaco e ergueu a sobrancelha.
— Eu não amo Dulce.
— E eu acredito em Papai Noel — Diego retrucou com ironia. Christopher bufou e passou a mão pelos cabelos, irritado.
— Quantos anos você tem?
— Duzentos e oito, e ainda jovem.
— Eu desisto! — ele gemeu, seguindo para o apartamento. Ao entrar, foi direto para a biblioteca e apanhou o decantador de uísque, mesmo consciente de que não encontraria nenhuma resposta na bebida.
Além disso, já sabia o que fazer.
Porém, tinha de se acalmar antes de conversar com Dulce. Naquele momento, ela precisava descansar e se recuperar do que ele fizera. Para seu desgosto, Diego o seguiu.
— Ouça, eu fiz o que achei ser certo. E, se quiser saber, eu não me arrependi! — Christopher apanhou o copo e foi para perto da janela, de costas para o irmão.
Com um suspiro, contemplou as luzes da cidade. De alguma forma, pareciam mais atraentes quando achava que estava em Londres. Ou talvez simplesmente fossem mais bonitas através dos olhos de Dulce.
— Eu gostava mais de você quando estava com amnésia — Diego disse comum suspiro de desgosto.
Eu também, Christopher pensou, ainda sem se voltar.
— Aquele homem não existe, Diego.
— É claro que existe, ou jamais teria aparecido. Claro, seu amor por Dulce o deixou bem mais feliz. Você deve estar cansado de cuidar da família. Para ser honesto, eu estava cansado da sua atitude super protetora. Mas seu comportamento nos últimos dias era o do antigo Christopher — O olhar cáustico que Diego recebeu o fez acrescentar: — Ou quase... Mas você tem de admitir que está muito mais feliz do que nunca.
Dulce.
Ambos sabiam que ela era responsável pela felicidade de Christopher.
— Você me encontrou no beco? — ele indagou, mudando de assunto.
— Sim. Você tinha sido atacado por um vampiro, a julgar pelas mordidas no pescoço.
Definitivamente, ele fora atacado por um vampiro, Christopher concordou em silêncio.
— E Dulce estava lá?
— Sim. Estava inconsciente, e o cheiro de algum produto químico disfarçou a identidade do vampiro.
— Eu não tenho dúvida disso — Christopher afirmou com a voz desprovida de emoção. Como deveria se sentir por saber que o próprio irmão tentara matá-lo?
— Você se lembra do ataque?
— Sim.
— Foi um ataque aleatório de um vampiro decadente? — Christopher riu sem humor.
— Não. Posso lhe assegurar que não foi aleatório.
— Quem foi? — Christopherse afastou da janela, sentindo necessidade de se movimentar. Passeou de um lado para outro e parou diante da lareira. Desejou que o fogo estivesse aceso, pois estava com frio e um imenso vazio o atormentava. — Quem, Christopher? — Ele olhou para o copo, buscando forças para falar.
— Derrick. — Um pesado silêncio preencheu a sala pelo que pareceu uma eternidade, antes de Diego caminhar para perto dele.
— Derrick? Você tem certeza?
— Absoluta. — Christopher riu mais uma vez, e o som soou como um gemido. — Tenho certeza absoluta.
— Por quê? Como? Derrick não tem mais poderes do que você.
— Você ficaria surpreso com o que a raiva pode fazer.
— Mas por que agora? — Christopher não se importou em dizer em voz alta. Havia esperado muito tempo para ser capaz de pronunciar as palavras.
— Lola está morta. — Ela saiu para a luz do sol.
Os olhos de Diego se arregalaram com espanto. Lentamente, os lábios se curvaram num sorriso que traduzia alívio e regozijo.
— É mesmo? Aquela desqualificada finalmente se foi?
— Já era tempo — Christopher disse por entres os dentes. — Derrick foi me contar antes de acabar com a minha vida.