— Você recuperou a memória... — Não era uma pergunta, e sim, a certeza absoluta. Ele assentiu, e nenhum dos dois se mostrou satisfeito.
— Sim, na noite passada.
— E você está bem? — Christopher ergueu os ombros como se não importasse.
— Eu estou como sempre fui — declarou, mesmo sem saber qual era o significado das palavras.
— Você ficou deprimido por descobrir que Lupita está morta?
— Como você sabe sobre Lupita? — A pergunta denunciou irritação. —Diego? — Ela assentiu, olhando para o peito largo; incapaz de encará-lo. — Pelo que vejo, meu irmão tem se mantido muito ocupado...
— Ele só estava tentando protegê-lo — Dulce cedeu à urgência de defender Diego. — Contou-me sobre Lupita e Derrick para me ajudar a compreender oque estava acontecendo com você.
— E você compreendeu? — Ela inclinou a cabeça, com o coração doído pela frieza de Christopher.
— É claro que sim. A perda é algo terrível de se enfrentar, e eu sei muito bem do que estou falando. Sei também o quanto você ama sua família e como se sente responsável por eles. Ninguém pode culpá-lo por querer se esquecer.
Christopher a estudou com expressão impenetrável.
— Não me faça parecer tão nobre — declarou com amargura. Dulce se levantou e sentou-se no braço do sofá para ficar mais perto dele.
— Christopher, você não pode continuar a se culpar por ter se afastado de Derrick, e não pode mudar o que aconteceu com Lupita.
O músculo do maxilar se retesou como se ele estivesse apertando os dentes.
— Você sabe de alguma coisa sobre minha briga com Derrick? Sabe como Lupita morreu?
— Não, mas...
— Então, não deve presumir que eu não poderia evitar.
— Conheço você, Christopher. Sei que, se pudesse, teria evitado. — Ela pressionou a mão sobre o joelho perto do dela, numa urgência de tocá-lo e confortá-lo. Christopher se levantou como se tivesse levado um choque e foi para perto da lareira. Permaneceu de costas para ela, incapaz de encará-la. Dulce fechou os olhos,angustiada.
— Dulce... — Ela adorava ouvir seu nome naqueles lábios. Porém, naquele momento, era a última coisa que deseja ouvir. — Eu cometi um grande erro. — Ela fechou os olhos novamente, como se todo o medo que sentira desde a primeira vez que o tocara ganhasse vida diante dela. — Eu não sou a pessoa que você imagina. Não sou nem remotamente o homem que você acha conhecer. Eu... Eu não quero nenhum tipo de relacionamento com você.
As garras do pânico se cravaram na garganta de Dulce. Mas, imediatamente, o medo se transformou em raiva.
— Você deveria olhar para mim quando declara algo desse tipo, Christopher! — Por um breve momento, ela julgou que Christopher estivesse sofrendo, mas quando ele se virou, qualquer emoção ficou escondida por trás de uma máscara de frieza.
— Dulce, eu sinto muito por ter machucado você. — Ela balançou a cabeça em afirmativa, mantendo a expressão séria. No fundo,queria se desmanchar em lágrimas. Mas não podia chorar. Afinal, havia se preparado para aquele momento e sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria de confrontar a verdade.
No entanto, depois da noite anterior, ela passara a ter esperanças de que nada poderia separá-la de Christopher.
— Está agindo assim porque eu disse que te amo?
— Não. E porque sei que não podemos ficar juntos. É melhor terminarmos agora,antes de nos envolvermos.
— Então, fazer amor, dizer que te amo, nada disso tem algum significado! — Ela mordeu os lábios. Não queria discutir. Podia não saber muito a respeito de homens, mas não era tola a ponto de pensar que poderia obrigar alguém a amá-la.
No entanto, não era possível que tivesse se enganado. O que vivera com Christopher fora mais do que simples atração física.
— Se não sou a pessoa certa para você, quem poderá ser, Christopher? — A voz, tão fria quanto o olhar de Christopher, não parecia ser dela.
— Dulce, eu não quero entrar nesse mérito. Nossa relação jamais poderia ter começado. Devia ter acabado naquela noite, quando a deixei no hotel.
— Mas não acabou.
— Não, não acabou, e eu sinto muitíssimo por isso.
— Por quê? Por acaso você não se importa comigo? Ou será que é por que se importa demais?
Christopher a encarou. A conversa não estava seguindo o rumo que ele antecipara.
Esperava lágrimas, súplicas para que pudessem recomeçar...
Jamais antevira o ataque frio, carregado de fúria. Dulce sempre fora insegura. Mas agora, diante dele, os olhos avelãs brilhavam com determinação e o queixo empinado emprestava-lhe a aura de uma rainha, pequena e frágil, mas com a força descomunal de uma mulher que sabia o que queria.
Ela nunca estivera tão linda!