— Sou assim tão óbvia? — Ele retirou a mão e endereçou-lhe um sorriso de simpatia.
— Olhos tristes... Acho que foi o que mais notei em você naquele café.
— Meus olhos são tristes? — ela ecoou, intrigada.
— Muito — ele confirmou. — Por que tanta tristeza?
Dulce se calou por um momento, consciente de que não deveria falar sobre Christopher com um completo estranho. Na verdade, não podia comentar com ninguém.
Quem seria capaz de compreender uma história como aquela? Ela apanhou o guardanapo e abriu-o sobre o colo com um gesto casual.
— Eu terminei o relacionamento recentemente — resumiu, dizendo apenas parte da verdade.
— Eu sinto muito.
— Bem, ele estava... doente. E quando melhorou, decidiu que não deveríamos ficar juntos. Infelizmente, descobriu que não sou a mulher certa para ele.
Derrick ouviu com impaciência. A única coisa que realmente interessava era que Christopher estivera doente.
— Que tipo de doença ele teve?
— Um tipo de amnésia.
Um sorriso largo curvou os lábios de Derrick.
Christopher era incapaz de se aceitar!
Claro, se soubesse disso mais cedo, teria tirado o irmão de sua miséria, e ele jamais saberia quem o matara.
Ele estudou Dulce.
Não, era muito mais divertido se ele soubesse. Sua vingança seria bem mais gratificante.
— Você ainda tem sentimentos por ele depois de ter sido rejeitada?
— Sim. — Para desgosto de Derrick, o garçom parou diante deles e ofereceu-lhes o cardápio. Depois de fazerem os pedidos, Derrick ordenou duas taças de vinho.
— Eu sinto muito — disse quando o garçom saiu. — Foi presunçoso da minha parte escolher o vinho por você.
— Não tem problema. Eu não bebo muito, e não saberia decidir. Obrigada. — Ele sorriu, embora o que desejasse mesmo era revirar os olhos para o teto.
Somente Christopher se apaixonaria por uma tola como aquela!
— Você acha que esse homem ainda se importa com você? — perguntou no mesmo tom persuasivo com que abordara Dulce. Ela refletiu por alguns segundos e finalmente admitiu:
— Acho que sim, mas não acredito que ele saiba disso.
Então, ele ainda a amava.
Era tudo o que importava para Derrick.
Perdê-la agora arruinaria a vida dele.
Christopher sempre ficara magoado quando Derrick machucava qualquer mortal.
Mas não queria que o irmão ficasse magoado...
Queria sua completa ruína.
Queria que Christopher sofresse por toda a eternidade.
Derrick apertou os dentes. Queria que sofresse da mesma forma que ele sofrera por Lola. O garçom chegou com as taças de vinho e Derrick tomou um gole e afastou o copo. Era de uma safra medíocre, para dizer o mínimo.
— O problema com Christopher... É o nome dele — ela informou. — Christopher é um homem nobre, e acredito que tenha rompido comigo numa tentativa de me proteger, embora eu não esteja certa disso. — Ela suspirou e tomou um gole do vinho. — Ou talvez não. Pode ser que eu não queira acreditar em todas as palavras ásperas que ele me disse.
Derrick fingia ouvir, mas se fixara numa só palavra que ela dissera:
Christopher era nobre.
A constatação fez com que ele desejasse explodir. Pretendia fazer com que o irmão gritasse como um animal selvagem.
Christopher, nobre!
Ele quase riu da piada.
— Algumas vezes as pessoas podem enganar muito. Sei por experiência própria. — Derrick decidiu que aquela mulher tola e inocente precisava saber que o homem que ela amava não era nobre. Afinal, perderia a vida por ele. — Eu também já amei — disse com ar sonhador. — Lola era tudo para mim. Como todo apaixonado, queria que ela conhecesse minha família.
Dulce ouvia com a máxima atenção.
— Como mais novo, eu admirava meu irmão mais velho, e queria a aprovação dele em especial.
— É claro — Dulce murmurou.
— Só que meu irmão não só conheceu minha amada, como também descobriu que era tão magnífica que desejou-a para si.
— Oh... — Penalizada, Dulce estendeu a mão para tocá-lo, mas Derrick se encolheu antes do contato.
Não queria a simpatia dela.
Não era por isso que estava contando sua história. Desejava apenas que ela soubesse a verdadeira natureza do homem que amava.
— Ele forçou Lola a aceitá-lo. Quando a desprezou, ela foi me procurar, mas nunca mais foi a mesma. Como poderia, depois do que ele fez?
Os olhos de Dulce se encheram de lágrimas.
— Meu Deus, deve ter sido terrível! Eu sinto muito.
Derrick abaixou os olhos simulando gratidão, mas seu coração não passava de um bloco de concreto.