— Morávamos na Inglaterra quando Derrick conheceu Lola. — Dulce assentiu, esperando que ele continuasse. — Derrick decidiu se mudar para Londres. Tínhamos uma casa na cidade. Eu preferia a propriedade no campo, mas ele odiava a vida rural. Odiava o silêncio e a monotonia da vida pacata e previsível do interior. Derrick ansiava por conhecer a agitação da cidade. Eu não queria que ele fosse. Sendo o irmão mais velho, sentia-me responsável por ele.
Dulce conhecia aquela faceta de Christopher. Imaginou o que ele sentira por não conseguir deter o irmão rebelde.
— Não fazia muito tempo que Derrick estava em Londres quando todas as comunicações pararam. A princípio, não me preocupei. Mas, depois de dois meses sem nenhuma carta, decidi ir atrás dele.
Dulce franziu a testa. Uma carta, e não um telefonema ou um e-mail? Aquilo era muito estranho. Pouca gente se correspondia através de cartas na atualidade, especialmente sendo jovem. Porém, não disse nada.
— A casa na cidade proporcionava todo o luxo e conforto necessários. Nossos pais nos deixaram bem providos, e Derrick passou a esbanjar dinheiro e a viver como um homem rico. Quando cheguei, encontrei a mansão no mais completo caos, quase destruída pelas festas e orgias que meu irmão passou a promover. A maioria da criadagem tinha ido embora.
Mais uma vez, Dulce pensou nas palavras. Aquela história tinha o mesmo teor de quando Christopher acreditava ser um visconde.
— Derrick não se dignou sequer a olhar para mim. Estava pálido, apático, com olhar vidrado. Eu soube que ele estava contaminado por alguma coisa.
— Drogas? — Dulce sugeriu. Christopher riu sem humor.
— Pode-se dizer que sim. Lola foi a pior das drogas para Derrick.
— Como? O que ela fez?
— Ela o controlava. Meu irmão fazia tudo o que Lola dizia. — Dulce sentiu o peito apertar ante a amargura na voz.
— E Derrick disse que você também ficou obcecado por ela. — Christopher ergueu a sobrancelhas, e outra risada sem emoção saiu dos lábios dele
— Quando a conheci, devo admitir, fiquei fascinado pela beleza dela. Lola era uma mulher linda. Mas não levou muito tempo para que eu visse o que se escondia por trás da ilusão de beleza que brilhava na superfície.
— E o que se escondia? — Os olhos dele subitamente encontraram os de Dulce, e o olhar pareceu desorientado, como se tivesse voltado no tempo.
Christopher se levantou e parou diante da lareira. Passou a mão pelo rosto, e Dulce notou que tremiam ligeiramente.
— Ela não era boa pessoa — disse por fim, mas Dulce sabia que aquela descrição estava longe de representar o que ele queria dizer. Desejou fazer mais perguntas. Porém, anteviu que Christopher não responderia.
— Derrick sugeriu que você atacou Lola contra a vontade dela. — Ela hesitou por um segundo. — Na verdade, não foi bem um ataque. Pelo que eu entendi, foi um estupro.
Christopher balançou a cabeça com veemência, ofendido pelas palavras do irmão como se o tempo não tivesse passado.
— Não. Nunca a ataquei, tampouco a forcei. Mas... — Ele desviou os olhos. — Admito que fizemos sexo.
— Oh, Christopher... Não! — A admissão a desnorteou. Descrença, desapontamento e ciúme se confundiram dentro dela.
Christopher não poderia ter feito aquilo.
Jamais deveria ter magoado o irmão.
— Foi apenas um incidente — a voz soou baixa e trêmula, e ele deu-lhe as costas. — Eu fiquei doente comigo mesmo pela minha fraqueza. Deveria ter sido capaz de rejeitá-la. Dulce pestanejou.
Simplesmente não conseguia aceitar que aquele homem havia traído o próprio irmão, e que era o mesmo homem frio que a expulsara da vida dele naquele mesmo dia. Via apenas um homem que carregava excessiva responsabilidade nos ombros, por demasiado tempo. Via Christopher, e sabia do sofrimento dele por tudo que vivera no passado, mesmo que tentasse apagá-lo na lembrança.
Dulce tinha firme convicção, sem a menor dúvida, de que ele não estava contando a história toda.
Christopher não era fraco.
Jamais teria tocado na amante do irmão, e muito menos dormido com ela.
O que realmente acontecera?
Ela se levantou do sofá e aproximou-se de Christopher. Envolveu-o por trás, com as mãos enlaçadas no peito, e pressionou o queixo nas costas largas. Com um suspiro,repousou o queixo nas costas largas, desejando aliviar todo o sofrimento dele.Christopher se manteve imóvel, mas não a rechaçou.
— O que Lola o forçou a fazer? — Ele permaneceu impassível. Dulce deslizou as mãos sobre os músculos do torso e deslizou o queixo pela linha da espinha. — O que de fato aconteceu? — perguntou.