Fanfic: Aborrescentes | Tema: Amizade, romance

POV HELENA

   Estava sendo uma aula torturante pra mim, por que eu estava sozinha. Uma das poucas aulas que eu estaria sem meus amigos. O primeiro andar do 3º pavimento do colégio estava silencioso, exceto pelos gritos das garotas na sala 06, a sala de Biologia. “Mateus”, eu pensei. Resolvi mandar uma mensagem para a Thalie, que estava na aula com ele.

   “Mateusão sensação do pedação?” - enviei

   “Mateusinho fazendo charminho pra as menininhas nojentinhas!” – ela respondeu. Não consegui evitar o sorrisinho no meu rosto.

   “Positivo e operante comandante Nathalie?” - instiguei.

   “Sim, senhora. Câmbio desligo!” – ela acabou a brincadeira, o que me fez levantar o rosto.

   O professor Filipe estava me encarando com aquela cara gorda que só ele tem.

   - Senhorita Martins, é permitido usar celular na minha aula?

   - Eu – fiz uma pausa dramática. – não sei...

   A sala inteira riu. Óbvio que eu sabia que não podia. Era a única aula que o professor não permite celular, e por uma incrível coincidência, foi o único professor que me levou até a DIRETORIA, e a única matéria que eu tiro nota baixa. Todo mundo tira nota baixa. Olhei pra trás e todas as meninas tinham pegado os celulares e levantado, tentando livrar a minha cara, óbvio. Mas espera, o que? Não é possível... Até a Raquel está com o celular levantado! Raquel! A namorada do amor da minha vida está me ajudando? Mas e aquela briga que a gente teve na 7ª série? Será que ela esqueceu? Volto minha cabeça pra a frente e abaixo envergonhada. Levanto da cadeira por que sei que ele vai falar alguma coisa e me antecipo.

   - Pode levar. – estendo meu celular na direção do Chilique.

  - Eu não vou pegar seu celular pra você sair de vítima. – ele se afastou e foi em direção a porta.

   Espera, ele abriu a porta? Ele está me expulsando da aula dele? Como assim, Helena Martins nunca foi expulsa da sala de aula. Exceto aquele dia na aula de laboratório, que eu fiz uma mistura errada e acabei contaminando um trabalho do segundo ano. Fui andando em direção a porta quando Rayelle segurou meu braço.

   - Se você for eu também vou. – ela disse olhando pra cima, pra mim. A verdade é que nunca tinha percebido que ela é muito mais baixa do que eu.

   E mais um monte de garotas se levantou andando em direção à porta. E garotos também. Todos saíram exceto eu e... Ele. Eu sentei como se meu coração estivesse pesado demais para sustentá-lo.

  - Você sempre faz isso nas pessoas? – ele falou sentado. Eu me virei em direção a ele.

   - Isso... O que?

   - Faz com que elas queiram te agradar, mesmo você não dando a mínima pra elas?

   - Eu ligo pra as pessoas, tá? – elevei minha voz. “Meu Deus, que vergonha...”, pensei. – Eu faço trabalho voluntário nos finais de semana, faço doações de brinquedos e de dinheiro todo mês, e ainda faço doação de alimento para associações que recolhem moradores de rua. – sorri triunfante.

   - E o pessoal da escola? – ele rebateu

   - Você acha que esse restaurante daqui foi trazido por quem?

   - Oh, então eu devo te agradecer pelo maravilhoso prato de strogonoff que uma porção de 100 gramas custa 22 reais?

   - Olha, não sou eu que escolho a carne. Se eles cobram caro, não é problema meu.

   - Deveria. –ele se levantou

   - Perdão? – olhei pra ele espantada

   - Quer ser a melhor aluna que esse colégio já teve? Lute pelo preço da comida! Lute pela saída do Chilique! Lute pelas aulas serem em um horário onde você possa fazer suas unhas sem problemas. – ele bateu a porta.