Fanfic: Jogo da Amizade
O sol já estava baixo no horizonte, os primeiros sinais de cidade foram chegando e, com o tempo, os rapazes puderam se deslumbrar com a visão da imensa selva de pedra que era o Rio de Janeiro. Montanhas e prédios de se perder de vista, as vicinais movimentadas por conta do horário de pico, as calçadas com movimento constante de pedestres e todo o emaranhado de motos à frente deles. Fernando se imaginou morando em uma metrópole como essa e se sentiu diminuído, como se eles fossem apenas uma pedra no meio do oceano. Ele não estava tão errado.
– Pra onde é a praia mais próxima? – perguntou Elvis olhando para uma grande placa informativa no alto da rua.
– Vamos para a casa da Kyara primeiro. De lá procuramos um hotel legal.
– Se ela atendesse o bendito celular... – murmurou o amigo do banco do passageiro, enquanto abria outra caixa de chocolate.
– Ligue o GPS do meu celular, então. O endereço está aí no porta-luvas, em uma cadernetinha.
– Você tinha um GPS e só foi me dizer agora? – perguntou Elvis cético, vasculhando o porta-luvas atrás da caderneta.
Seguindo as orientações de Fernando, o companheiro foi selecionando as configurações certas para que o aparelho os levasse com sucesso para o destino. Em alguns instantes, ouviu-se uma voz eletrônica vindo do celular nas mãos de Elvis.
“Siga trezentos metros e vire à direita”
Um sorriso chegou no rosto dos dois e Elvis comentou: - Seja feita a sua vontade...
– Xena... – completou Fernando.
– Que?
– Xena. É o nome dela – disse casualmente.
– Você deu um nome pra voz do seu GPS?
– E por que não daria? Acho que todos têm direito à uma forma de identidade.
– Mas... Xena? – disse ele por cima da própria risada.
“Vire à direita”
– Sim, olha como a voz dela é sexy. Você nunca se excitou com a Princesa Xena? Passava na Record, eu acho.
– Eu sei quem é a Xena. Mas a voz desse GPS não é nada sexy.
“Siga em frente por aproximadamente quatrocentos metros” – disse a voz eletrônica, fazendo os dois se calarem enquanto ela dava as coordenadas.
– Ela tem voz de puta – atacou Elvis.
– Não ofenda a Xena. Ela já me ajudou muito, seu ignorante. E está nos ajudando agora – apontou Fernando.
– Saaanta Xena! Depois lhe dou uma gorjeta – disse Elvis falando com o celular.
– Olha, - começou Nando, segurando um riso – eu só dei um nome à ela, não significa que fico falando com ela.
– DIRIGE ESSA PORRA, VAI! – esbravejou Elvis gesticulando para o volante.
– Ei, não xingue o Thor.
O amigo olhou para o outro no volante com cara de quem estava tentando entender a situação.
– Seu carro... – disse vagarosamente sobre uma cara de taxo – seu carro tem um nome...
– Thor. É o nome do cachorro da Kyara. Gostei do nome – disse ele explicativamente – e decidi que combina com o jipe.
– Fala sério. Achei que te conhecia – comentou Elvis, sempre de bom humor.
“...depois à esquerda”.
– O que? – especulou Nando, tentando olhar para o GPS.
– Olhe pra frente que eu me entendo aqui!
– O que a Xena disse antes?
– Espera, estou vendo o caminho – informou enquanto analisava o mapa e o caminho traçado por Xena – Acho que é à esquerda agora... E depois esquerda, de novo.
– Assim estaremos voltando.
– É que tem que tem que pegar um retorno. VIRE AÍ, NANDO!
O carro fez uma curva brusca um pouco atrasada para a esquerda saindo de uma das ruas principais. Os dois fizeram um coro de “Uooooow” enquanto a curva era ministrada até terminar.
– Esquerda, né?
– Isso, de novo.
Então a voz eletrônica anunciou na mesma voz monótona de sempre:
“Recalculando rota...”
– ÃN? – resmungou Fernando com a mão na cabeça fazendo careta para o amigo – Esquerda, né?! – e um silêncio se fez à espera de Xena.
“Vire à esquerda, após cem metros”.
Os dois caíram numa risada histérica, com certo nervosismo.
– Só pode ser brincadeira. Estamos voltando para a avenida, seu Zé Mané.
– Culpa da Xena!
– Culpa de quem está com a Xena em mãos.
– Culpa de quem está com o Thor em mãos!
“...frente na rotatória em direção ao norte”.
Um novo silêncio se instalou enquanto os dois tentavam traduzir a informação do GPS. Não havia uma rotatória na visão de Fernando, e Elvis olhava para o nada enquanto absorvia a informação dada.
– Você sabe – começou ele pausadamente – pra onde fica o norte?
Fernando olhou bravo para o próprio celular nas mãos de Elvis:
– AH, VÁ SE FODER, XENA! – berrou tomando o celular do amigo e jogando pra dentro do porta-luvas – Vamos confiar na intuição do Thor – sentenciou Fernando.
Na mesma hora, um som conhecido se fez ouvir de onde o celular fora jogado. “...Rangers tem a força. Power Ranger são heróis! Juntos eles formam um poderoso Megazord...”
– Tem gente ligando! – disse correndo, enquanto dava sinal para que Elvis pegasse o telefone.
– Puta que o pariu, Power Rangers? ALÔ!?
Fernando ficou na expectativa enquanto Elvis falava.
– Já chegamos no Rio... Calma, estamos bem, Kyky – houve uma pausa – Ela está te mandando um beijo, Nando – disse ele comicamente – Mas então, a Xena nos deixou na mão, como chegamos aí? – outra pausa rápida – Não importa quem é Xena, Kyara!
Fernando ria com a situação e decidiu parar o carro em qualquer lugar que pudesse, esperando pacientemente Elvis explicar onde eles estavam para a amiga.
– Vamos reto aqui, não estávamos tão errados. Passa por um pontilhão, direita, pega a avenida e aí é só procurar uma das ruas transversais com o nome – disse Elvis repetindo para si mesmo em voz alta.
– Estamos no caminho certo? – perguntou Fernando.
– Sim.
– Saaaaaaabe demais, muleque! Aumenta o som!!! – comemorava ele, aumentando um pop rock nacional.
Kyara estaria esperando no cruzamento da avenida com sua rua. Novamente um nervosismo afetou o estômago de Nando, sabendo que em poucos minutos encontraria com sua amiga pessoalmente depois de tanto tempo. Mas dessa vez ele não queria ser pego desprevenido, como aconteceu com Elvis. Por isso já foi treinando sua mente e se preparando psicologicamente para o encontro. Tentou pensar em cada gesto que faria ao vê-la, em cada frase que diria. Ele olhava para Elvis, que transpassava calma e leveza, e desejou que parecesse assim também. Contudo, mal sabia ele que Elvis acabara de pensar exatamente a mesma coisa, olhando para o amigo. Elvis queria poder ler a mente dele, para saber o que se passava ali, para poder se comportar tão tranquilamente como o companheiro se portava.
– ALI! – apontou Elvis para uma mulher loira parada na esquina de sua rua acenando com uma das mãos, acompanhada por um de seus amores: Thor.
Uma euforia tomou conta dos três. Uma agitação que não acontece com muita frequência na vida de ninguém, não por um motivo tão particular como este. Afinal, quantas vezes uma pessoa normal pode passar por uma experiência dessas? Eles eram privilegiados. O momento a seguir ficaria registrado por muito tempo em suas memórias, senão pra sempre.
O Troller diminuiu a velocidade e encostou ao lado da amiga.
– Quanto ‘tá’ o programa, moça? – Nando disse em voz alta, esticando-se para ver a loira que se aproximava pelo lado a janela do passageiro. Elvis soltou uma gargalhada e Kyara se apoiou com o cotovelo na janela, sorridente e fazendo graça à piada do amigo. Ela fez menção em falar algo, mas Fernando abriu a porta e saiu do carro para ir cumprimentá-la do jeito que queria: um abraço de urso.
Ele deu a volta no jipe e Kyara o acompanhou com os olhos. Nos últimos dois passos, Nando correu e a envolveu num abraço louco, há muito desejado. Elvis desceu do carro e os envolveu em um abraço também. Os três quase se desequilibraram, mas riam para esbanjar as emoções.
– KYARAAAAAAAAAAAAAA!!
– NANDUUUUUUUUUUU!!
– KYARAAAAAAAAAAAAAA!!
– ELVUUUUUUUUUUUUU!
– Você trouxe o Thor!
– E você também – e os amigos se divertiam com o trocadilho.
– Hello, Thoooor – disse Elvis dando carinho no bulldog branco.
– Este é o indivíduo que a faz sair no meio da conferência para levar pra fazer xixi na rua!
– Antes fosse só xixi!
– Que nojo!
– Mas eu limpo, tá! Sou eficiente – disse ela fazendo pose de quem vai tirar foto – E cachorros são mais higiênicos que humanos, viu.
Nessa hora, justamente nessa hora, Thor se senta e começa a lamber suas partes íntimas como se não houvesse amanhã.
– Claaaaaaaaro que são! – alguém disse e todos concordaram com certa dúvida estampada na cara.
– THOR! Seja educado – disse ela dando carinho nele com o pé, para que ele parasse com o ‘ato higiênico’.
– Então – Elvis disse antes que o silêncio os atingisse –, onde tem um hotel perto de sua casa?
– Primeiro vamos passar em casa, tem uns familiares lá, e eles precisam conhecer quem vai nos ajudar com os preparativos do casamento – disse ela dando uma piscadela para os dois.
– Oi? Como é? – indagou os dois ao mesmo tempo.
– Vocês não vão? – perguntou ela imitando tristeza.
– E quem resiste a um pedido desses, hein? – finalizou Nando.
Os três caminharam de volta para o carro:
– Thor, este é o Thor, seu xará. E, só pra constar: xarás não mijam em xarás – completou Fernando.
Foi preciso uma comitiva e um longo debate para socar as malas e caixas térmicas de uma forma que coubesse Kyara e Thor no banco de trás. Depois de tudo arrumado, todos se sentaram.
– Pra onde?
– Siga à direita!
Elvis e Nando caíram na risada quando o comando os fez lembrar do GPS.
– Está pior que a Xena, hein.
– Quem é essa Xena?
– Depois te apresento... é por aqui?
– Sim.
– Autobots! Vamos rodar – disse Fernando marotamente.
Autor(a): diegoryder
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Ao som de um reggae particularmente estranho, o jipe estacionara frente à casa da carioca, arrastando o pneu na sarjeta da calçada, causando diferentes reações aos passageiros; Elvis soltou um “Aaaaaai” acompanhado de uma careta gozadora na direção do amigo, como se quisesse dizer “seu barbeiro”; Kyara deixou ...
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