Fanfic: Jogo da Amizade
O quarto estava claro, um pouco bagunçado, mas as cortinas e tapete brancos davam um ar de limpeza ao extremo. Fernando se remexeu quando a luz do sol atingiu seu rosto suado e vermelho. De cara inchada, ele se sentou sobre a cama de lençol também branco e olhou á sua esquerda, vagarosamente, ainda sonâmbulo. A cama era enorme, por sinal. Um relógio rosado na parede à sua frente marcava quase onze. Onze da manhã? Pensou ele. Mas recebeu uma bronca do próprio inconsciente: Claro que é da manhã, está de dia, seu nóia.
Foi então que Fernando deu um pulo da cama: quando se virou para sua direita e viu Elvis dormindo ao seu lado. Neste momento ele também percebeu que estava apenas com sua cueca Box verde. De olhos arregalados e bem acordados, ele iniciou uma busca desesperada por suas roupas. “Por que eu estou aqui? Alias, onde eu estou?”. Pensava ele absorvendo um milhão de pensamentos ao mesmo tempo. “E por que o Elvo estaria do meu lado?”. Ele ficou estático com o pensamento e paralisou onde estava, coçando a cabeça enquanto puxava memórias da noite anterior.
“Festa na praia... Fogueira enorme... Elvis comigo, Paty também... Cerveja... Vodka... Não, muuuita vodka. Batidinha de morango, de kiwi... Som alto... Eu dançando com a Paty. Puts, será que eu peguei a Paty? Isso ainda não explica o porquê do Elvis estar onde está. E nem explica como eu vim parar aqui...”
Ele resolveu que não conseguiria se lembrar de mais nada se ajuda. Ele puxou o pé do amigo que estava dormindo, chacoalhou e puxou de novo chamando por seu nome até tirar um resmungo do dorminhoco.
– Que é!? – disse enfiando o rosto no travesseiro.
– Levanta, seu viado! Amanheceu!
– Minha cabeça dói, me deixa – dizia ele com dor na voz.
– Fala sério – resmungou Nando, se virando na direção da porta. Alguém estaria ali para lhe explicar tudo.
Mas antes que pudesse chegar à porta do que parecia ser um corredor de alto padrão do outro lado, ele ouviu passos correndo e aumentando em sua direção. De repente Paty surge acalorada na porta com expressão de terror. Ela entra assustada e encosta a porta o mais silenciosamente possível fazendo sinal com o dedo na boca para o rapaz de cueca verde não fazer barulho.
– Minha mãe chegou! FODEU! Se vista e saia daqui!! AGORA!!
– O que? Sua mãe? É sua casa?
– Não faz pergunta! Se arruma logo, caraio! – sussurrava ela ferozmente, puxando o lençol do Elvis e dando um tabefe em sua bunda. Ele também estava apenas de cueca Box, branca. O rapaz se levantou da cama aturdido e alarmado com a violência da linda garota de pijama do Bob Esponja.
– Já procurei! Não sei onde minhas roupas estão – explicou Fernando vendo a garota caçando suas roupas debaixo da cama. Ela achou a calça e a camisa de Elvis e jogou em sua direção.
– MERDA! Suas roupas devem estar na sala!!!
– As minhas? – perguntou espantado o garoto. Por que estaria longe de suas roupas?
Paty olhou pela janela e viu o carro de sua mãe estacionado no lugar reservado do apartamento.
– Minha mãe ainda deve estar no elevador! SE ESCONDAM! – desta vez ela quase berrou, saindo em alta velocidade do quarto.
Fernando olhou em dúvida para o amigo, mas Elvis já tinha corrido para debaixo da cama!
– Fala sério, se a mãe dela resolver procurar, aí vai ser o primeiro lugar!
Elvis tentou sair de debaixo da cama enquanto ainda vestia a calça e um baque se ouviu da cama: - Argh! Minha testa!
Fernando olhou em volta e os únicos lugares para sair de vista eram o banheiro e o guarda-roupa. “Vou pro banheiro!”, pensou ele.
– Quem está aí, Patrícia!? – disse uma voz alterada no corredor.
– Não tem ninguém aí, mãe! – respondeu uma voz chorosa da garota.
Fernando entrou em choque. Com certeza seria caçado até a morte nesse quarto. Então ele correu para a janela sem grades e olhou para baixo: estava no primeiro andar. Havia apenas o térreo abaixo dele. Uns seis metros? Calculou ele em mente. Mas ele não tinha a intenção de pular. Ele subiu pelo parapeito da janela e, de algum jeito, se pendurou do lado de fora, apoiando os pés em uma espécie de calha de concreto da parede externa. Do lado de dentro, apenas seus dedos das mãos eram visíveis. Mas isso ainda o preocupava. Ele olhou para trás, havia outro prédio não muito distante de onde ele estava pendurado, mas sem chances de ele pular.
Ele olhou para o outro lado e viu que havia uma laje de cobertura do estacionamento do térreo e calculou que era bem possível chegar ali. As vozes de dentro do quarto eram mais audíveis agora. Ele se arrastou até o canto esquerdo da janela e esticou a perna tentando alcançar a laje abaixo, sem sucesso. Era um pouco longe. “O jeito vai ser pular”.
Então dois gritos femininos foram ouvidos de dentro do quarto, isso foi o suficiente para assustar Fernando e o fazer ter adrenalina em alta para dar um impulso horizontal com os braços enquanto esticava tudo para alcançar a laje. Neste momento, segundos viraram horas infinitas, ao mesmo tempo pareceram não existir, até seus pés pousarem na base que tanto procuravam, e logo todo seu corpo atingira a laje. Agora ele estava em cima da cobertura do que provavelmente seria a portaria do prédio. Uma onde de triunfo o inundara até uma voz o alcançar de cima:
– HEY! SEU MOLEQUE! SEU TARADO! VOLTA AQUI SE FOR HOMEM – berrava a mulher gorda da janela. Logo Paty surgira atrás dela, preocupada.
– Você dormiu com ele, dona Patricia?? Eu vou cortar o bilau dele e te colocar de castigo...
De repente Fernando vê a coisa que mais queria ver naquele momento. À alguns metros da portaria, no estacionamento, lá estava seu Ford Troller verde escuro estacionado, novinho em folha, ainda sem a capota. Sem pensar duas vezes, o garoto pulou de cima da portaria, sentindo doer seus calcanhares. Olhou à sua volta e não havia mais ninguém. Ele foi correndo até o jipe sentindo uma enorme decepção se apoderar dele: as chaves estariam com ele, se suas calças também estivessem. Mas quando estava chegando perto do carro, o apito do alarme de destrava apitou, ele olhou para os lados e viu Elvis correndo pelas escadarias com a chave e suas roupas em mãos.
Um sorriso estridentemente grande surgiu no rosto dos dois. Elvis jogou de longe o chaveiro para o amigo, que pegou com êxito e correu para ligar o carro. Thor reviveu com o ronco do motor e começou a dar ré, ao mesmo tempo que Elvis jogou a roupa do amigo no carro e se pendurou no jipe, pulando pra dentro logo em seguida, com o carro em movimento. O portão ainda estava aberto, mas começou a se fechar logo em seguida.
Fernando fez uma curva extremamente acentuada, fazendo os pneus rabearem enquanto uma fumaça traçava o caminho atrás.
“Wooooooooooooooooooow”
– Piiiiiiisa nisso aííííí!!!!
Por pouco, o portão não acerta o retrovisor do lado do passageiro. Atrás deles, Elvis viu a mulher rabugenta descendo as escadas fazendo escândalo e erguendo os braços sobre diversos palavrões. Ainda com a mente à mil, os garotos riam, gritavam e comentavam o que havia acontecido.
– Puta que o pariu!!! O que foi isso??? – exclamou Fernando, ainda tremendo o corpo todo.
– Que mulher louca, mano!
– Ela queria arrancar meu bilau!!!
– Isso porque você não viu o tamanho da vassoura que ela achou lá dentro!
– Como você saiu? Achei que tinha ficado preso na cama.
– Nem eu sei direito. Só sei que enquanto ela gritava com você pela janela, eu me arrastei pra porta do quarto e me mandei. Nem sei se ela sacou que nós dois estávamos lá dentro.
– Pegou minhas coisas? Minha roupa? – dizia o garoto loiro enquanto olhava para o banco detrás – Elvis, cadê meu tênis?
– Desculpa, cara, só peguei o que estava à minha vista. Não tive tempo nem de fechar a porta!
– Ah, fala séééééério! Meus tênis!!! Porra! Perdi meu ‘but’ – dizia ele lamentavelmente.
– A sorte é que a chave e o celular estavam no bolso.
– E A CARTEIRA?
– Está no porta-luvas, relaxa – disse o Elvis abrindo e conferindo.
– Meu tênis, velho...
– Relaxa, depois a gente pede de volta.
– O QUE? Não volto aqui, nem fodendo! Quero meu tênis...
– A gente vai encontrar com elas no casamento, provavelmente, não acha?
Fernando ficou pálido, quando se lembrou que haveria um casamento, e que todos estariam lá, inclusive Paty e sua mãe.
– Eu não vou nesse casamento – sentenciou.
– Está louco? Kyara mataria a gente!
– Eu disse que “eu” não vou.
– Eu não vou aparecer lá sozinho. E largue de frescura! Viajar quase mil quilômetros e não ir pro casamento da garota?! Enlouqueceu?
– TA OKAY!! Eu vou sim! Já parei. Que estresse. Mas diz aí, como a gente foi parar lá?
– Fernando disse, e Elvis o olhou com uma expressão horrorizada para o amigo:
– Você não se lembra de nada?
– Não? Do que eu deveria me lembrar?
– Nem te conto!
– Conta, porra! Por que você estava dormindo na mesma cama que eu?
– Na verdade – começou Elvis, ficando vermelho – dormimos os três juntinhos.
– O QUE? MAS... Como assim?
– Dormimos, ora.
– Não me enrola, Elvis! Quando você diz dormir... Você quer dizer... Dormir, de dormir, ou dormir... ãn... com algumas adições no meio?
Elvis o olhou marotamente num sorriso e Fernando sacou a situação, fazendo uma careta.
– PUTA MERDA! – disse ele boquiaberto – Nós... Três? Eu, você e ela?
– Pois é!
– Caralho! QUE NOJO, ELVIS! Como você pôde???
– Ei!!! Não fiz nada demais! Nem encostei em você!
– Eu REALMENTE espero mesmo isso. Para o bem de nossa amizade.
– Você não corre esse risco, tá!
Uma pausa se fez, até que Elvis continuou:
– Ei – disse vagarosamente – Não sou mais virgem.
Fernando soltou uma gargalhada histérica seguida por Elvis enquanto o carro parava no sinal vermelho.
– Não acredito que estou ouvindo isso, cara – dizia Nando entre risadas.
Então um silêncio se instalou entre eles e só se ouvia o barulho do trânsito à sua volta, até que alguém gritou da calçada:
– De cuequinha!!! Vem aqui, vem! Psiu, gatinhos!
Fernando fez um sorriso no rosto e deu um tchauzinho enquanto o sinaleiro ainda estava vermelho.
– Pare com isso! Já chega o que a gente passou até agora. Vamos pra casa da Kyara pegar a capota e nossas malas pra procurar um hotel. Quero dormir – terminou Elvis, sem dar chances para discutir.
– Você quem manda, chefe – disse o motorista fazendo uma posição de ‘sentido’ com a mão na testa.
– Você sabe chegar lá?
– Não tenho a mínima ideia.
Então os dois se entreolharam e falaram juntos:
– Xena!!!
Autor(a): diegoryder
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