Fanfic: A Nobreza.

Sophia se sentou para fazer ponto cruz enquanto Ian a olhava com carinho.
Laís viu uma ternura nos olhos dele, uma ternura que ela queria que o pai dos seus filhos os olhasse, uma ternura que ela sabia que Christopher não era capaz de sentir. Estava pensando nisso quando ouviram um gritinho de Sophia. No mesmo instante Ian estava abaixado na frente da menina. Sophia espetou o dedo na agulha, e agora olhava atônita pro dedo, como se tivesse perdido uma aposta. —Não coloca na boca! —Mas era tarde, Sophia já tinha colocado o dedinho furado na boca e agora ria olhando Laís. Ian riu e alisou o braço da menina. Laís balançou a cabeça negativamente mas riu.
Logos todos se recolheram. Laís e Christopher foram dormir sem falar um com o outro. De madrugada caiu uma tempestade, com raios, trovões, e muito vento. Laís acordou assustada com um raio, desde pequena sempre teve um medo absurdo de chuva. Ao erguer a cabeça, viu que mais uma vez estava abraçada a Christopher, que dormia. O quarto era iluminado por dois abajures, um de cada lado da cama. Ela colocou um cotovelo na cama, se apoiando no braço, pra encarar o marido. Parecia tão humano quando dormia. Era surreal. Um bom tempo depois, involuntariamente, passou a costa das mãos pelo rosto dele. Era macio, agradável. Um sentimento que ela vinha refreando há muito tempo lhe açoitou dentro do peito. Como podia ter se apaixonado por aquele homem? As lágrimas desceram por seu rosto, descontroladas, enquanto ela acariciava o rosto dele.

—Porque você está chorando? —Christopher perguntou, ainda de olhos fechados, a voz rouca pelo sono fez Laís se arrepiar. Ela já chorava descontroladamente, porém, em silêncio. —Não é nada. —Ela se afastou dele, mas sua voz embargada era uma ótima delatora. Ela sentou na cama, e ia rapidamente levantando, quando sentiu a mão forte em seu braço. — Ninguém tem uma crise de choro no meio da noite por nada. —Ele continuou segurando-a, firme, sentado na cama. A menina soluçou mais uma vez. —Me diga, o que houve? —Christopher, porque você me trata assim? O que eu fiz pra você? —Ela virou o rosto lavado de lágrimas pra ele. —Eu te trato do meu jeito. Eu sou assim. —A voz fria dele, só fez a menina chorar mais. — Não é. —A voz dela falhou, enquanto mais lágrimas desciam. —Você não é assim. Essa é só a máscara que você usa pra todo mundo. —Ela passou a mão no rosto dele, mas o rosto dele não era mais macio. Era duro, e frígido. —Mas, Cristo, eu sou sua mulher. Você não precisa ser assim, pelo menos não comigo. —Era por isso que você estava chorando? —Ele perguntou, duro, afastando a mão dela.
—Estava chorando porque quero que o meu casamento dê certo. —Ela disse, agora contendo as lágrimas. Não queria parecer uma menina imatura. —Chris, vamos tentar. Veja Ian, o amor dele por Felippa é tão grande que sobrevive a distância. —Christopher a encarava. — Diego e Mariah se dão absurdamente bem. Nós podemos ser assim também. Eu sei que tem alguém aqui dentro. —Ela tocou o peito dele, e outra vez ele tirou a mão dela. —E esse alguém é capaz de me fazer feliz, nunca de me tratar como uma estranha.

—O que você quer que eu faça? Que eu cerque você, fique te olhando com os olhos brilhando como se estivesse doente, 24 horas por dia, tal como Diego? —Ele perguntou debochado. Laís se levantou e ia rumando ao banheiro, totalmente deprimida, quando a voz dele lhe alcançou de novo. —Ou prefere que eu te mande pra França, pra poder dizer que eu sou capaz de superar a distância? —Ele sorriu venenoso.
—Eu só quero poder dizer que te amo, sem me sentir uma idiota por fazer isso. —Ela disse com a voz cansada, se virando pra ele. Aquela com certeza não era sua expectativa pro momento.
Por um momento, a máscara de Christopher caiu. Ele parecia não saber o que dizer. Um fio de esperança brotou no coração dela. Talvez estivesse dando certo.