Fanfic: A Nobreza.

Pode ver também sua atrocidade, marcada debaixo da fina camisola que ela vestia. Ela ressonava levemente, calma. Tinha uma mão perto do rosto, e alguns fios de cabelo caiam por ali. Ele ergueu a mão e, levemente, tirou os fios, deixando o rosto dela livre. Observou-a por um instante. Sua expressão era tão inocente. Parecia fraca, mas ele tinha certeza de que Ian estava cuidando dela o melhor possível.
A expressão dela era tranquila, despreocupada, ao contrário de Christopher, que era semelhante à de uma pessoa que estava sendo torturada. Seu maxilar estava contraído, seu cenho estava franzido, e os olhos carregavam uma dor que ninguém poderia amenizar. Ficou ali, de pé, olhando-a, por horas a fio. 
Enquanto a madrugada e a chuva se embaraçavam lá fora, Ian foi ao quarto. Christopher se tirou do caminho, ocultando-se da visão de Ian, para observá-lo. Ian foi até Laís silenciosamente. Pegou a coberta que estava aos pés da cama e cobriu-a até a cintura. Laís não se moveu. 
Ele deu um beijo de leve na testa dela e saiu, bocejando, e ainda sem saber da presença do irmão ali. Christopher ficou lá, velando o sono de Laís até amanhecer. Quando a chuva cessou, e o céu começou a clarear, ele foi embora.

—Agora escutem aqui, vocês dois. —Diego rosnou, enquanto segurava Ian, que mais uma vez tinha brigado com Christopher. Dessa vez Diego interferiu antes que os dois se embolassem, mas por pouco. —Já chega dessa situação. Vocês se matarem não vai mudar o que já foi feito. Eu não quero ter que tomar medidas sérias em relação a isso. Vocês dois não são mais crianças. Entendidos? — Perguntou sério, e ninguém ali teve coragem de desafiar a ira de Diego.
Juntos, Christopher, Diego, Mariah, Ian e Sophi terminaram de tomar café. Após tomar café rapidamente, Ian preparou uma bandeja pra Laís e saiu da sala.
—Buon giorno. —Ian disse sorrindo, ao entrar no quarto da loura.
—Molto bene. —Respondeu, sorrindo abertamente pra ele.
Ian ajudou Laís a se sentar. Logo ela tomava café ao lado dele, e às vezes até conseguia rir.
—Eu vou precisar sair, tenho que resolver uns problemas. —O sorriso de Laís se fechou. —Não fique assim. —Ele acariciou o rosto dela. —Antes do almoço estarei de volta. —Sorriu torto, e Laís esqueceu do que estava reclamando.

Os dias foram se passando. O empregado que Ian mandou a Alemanha voltou, trazendo uma caixa do creme que foi buscar.
—Olha o que eu trouxe. —Disse entrando com o pote com um gel transparente.
—O que é isso? —Perguntou, olhando-o da cama
—Segredo. —Ele não queria dar a Laís a ideia de que ela possivelmente fosse ficar marcada. Só faria isso em última instancia.
Quando Ian abriu o pote, um cheiro forte pairou pelo ar. Lembrava menta, Laís não sabia direito, mas ardia no nariz. Laís cerrou os olhos quando Ian abriu o feixe traseiro da camisola, deixando suas costas nuas. Quando a mão dele, coberta pelo gel, tocou suas costas, ela esperou pela dor, mas ao invés disso o que veio foi alivio. Ela abriu os olhos devagar, ainda sentindo. A mão de Ian era fria sobre sua pele, mas o próprio creme amortecia a dor.
—E então? —Perguntou olhando ela, ansioso. —Dói?
—Não. —Disse, sentindo o alivio que vinha das mãos dele. — É bom. —Ian sorriu.
—Ficará boa em breve, minha Laís. E voltará a correr feliz com nosso Carllo, do jeito que eu gosto de te ver. —Laís sorriu, fechando os olhos.
O tempo continuou passando. Laís foi melhorando relativamente. Suas costas já estavam praticamente cicatrizadas. Só havia umas marquinhas leves, que ao passar do tempo foram sumindo, graças ao empenho de Ian.

Christopher passava as noites velando seu sono, sem que ela soubesse. O médico voltou a visitá-la.
A chuva, o vento e os trovões dançavam lá fora. Ela estava deitada de barriga pra cima, com os cabelos esparramados pelo travesseiro, e os braços ao lado do corpo. O quarto estava escuro, Ian já havia ido dormir. Laís estava pensando sobre Christopher, sobre o que fizera com ela, sobre Amanda, sobre a adoração na voz dele quando chamava por ela. A injustiça era tão grande! Laís não tinha culpa, não pediu por esse casamento. E ainda, de brinde, Christopher quase mata ela por ter descoberto o maldito sótão. O ódio tomou conta dela. E então uma dor diferente a tomou. Era uma dor que cobria todo o seu corpo, desde as raízes do cabelo até os dedos dos pés. Uma dor semelhante à de um hematoma sendo pressionado. Laís ofegou, franzindo a sobrancelha.
Ainda de olhos fechados, flexionou a mão, mas descobriu que doía mais ainda. Passaram-se horas assim. Laís pensou que finalmente a morte tinha vindo lhe buscar, e teve ainda mais ódio. Que motivo idiota pra se morrer! Mas então, quando o dia foi amanhecendo, a dor foi passando, aos poucos. Laís abriu os olhos. Tudo parecia bem mais definido, agora que ela já tinha sua cabeça resolvida. Odiava Christopher. Ele iria pagar.