Fanfic: *Eu Nunca Te Disse*(Vondy) | Tema: Vondy

Dulce

Eu não sabia dizer se estava louca ou bêbada. Talvez os dois. Por que fiz aquilo? Eu estava, sei lá porque, me jogando para cima do Ucker. Meu Deus! Quando me dei conta, eu queria fugir, me esconder, mas não consegui sair correndo. Aproveitei-me do abraço para passar meu rosto bem próximo ao seu, sentir sua respiração, o calor da sua pele em contato com a minha. Eu estava fria, pela água, mas por dentro me sentia queimando. Resolvi me afastar antes que piorasse as coisas. A solução que encontrei? Beber mais! Fui me trocar, porque estava sentindo muito frio. Peguei a ultima dose de uísque e me sentei na borda da piscina.
__Ucker, vem! Saideira!
Ele evitou ficar muito perto de mim, tomou o seu copo andando pelo quintal, enquanto eu praticamente tomei a minha de uma vez. Estava nervosa, confusa. Será que o que me abalava tanto era o fato de Ucker ser meu amigo, ser homem? Eu nunca tive curiosidade. Sempre que ia para festas com ele, vários meninos vinham falar comigo. Da primeira vez, Ucker ficou longe, observando. Depois eu disse a ele que isso me deixava um pouco sem graça. Então, todas as vezes que algum menino vinha falar comigo, o Ucker passava seu braço pela minha cintura e dava um de namorado ciumento. Divertíamos-nos muito.
Fomos para o quarto em silêncio, mas eu sabia que o Ucker estava desconfortável com a situação. E já veio me mandando ir para o outro quarto. Eu não queria, queria dormir ali, com ele. Eu já estava na cama e o puxei para deitar comigo.
Era para ser como sempre, eu iria abraçá-lo, deitar em seu ombro e dormir. Berber dava sono, não dava? É, não foi o que aconteceu. Eu queria sentir todo o seu corpo bem perto do meu. Sentir seu calor, seu cheiro. Eu estava louca. Mesmo. Queria sair correndo, de novo. Encostei mais meu rosto ao dele e foi inevitável... Encostei meus lábios devagar em seu queixo, e dei um beijo suave. Ele acariciava todo o meu rosto. E a cada centímetro de contato, minha pele ardia, e eu parecia me sentir mais viva. Não consegui mais me conter. Eu precisava sentir o gosto de seus lábios. Precisava. Nunca mais teria coragem. E nem sei por que eu precisava tanto disso. Mas naquela hora, parecia uma coisa extremamente vital para mim. Encostei delicadamente meus lábios nos dele. Eu não teria coragem de beijá-lo. Se ele recuasse, acho que eu sairia correndo. Mas não. Ele abriu um pouco os lábios e retribuiu meu beijo. Acho que soltei um gemido involuntário nesse momento. Parecia que eu esperava esse beijo por anos. Quem sabe oito anos. Entreguei-me completamente. Um beijo tão doce, tão calmo, e ao mesmo tempo tão ardente. Era uma loucura. Era a minha loucura se tornando real e envolvendo o Ucker. Era isso, eu queria envolvê-lo. Era um sonho e eu não queria que acabasse. Não consegui tirar minhas mãos de seu rosto, com medo que eu, ou ele, acordássemos daquele sonho tão perfeito e tudo acabasse. Não poderia acabar. Eu não suportaria. As mãos de Ucker percorriam todo meu corpo, quentes, exigentes. Aos poucos, acabamos sentados na cama. Eu estava sobre seu colo com minhas pernas em volta da sua cintura. Só desgrudávamos nossos lábios quando ele descia os seus pelo meu pescoço, me causando arrepios indescritíveis. Mas eu precisava daquele beijo. Precisava decorar cada pedacinho da sua boca, decorar seu gosto. Perdi-me em seus lábios, perdi a noção do tempo, do juízo, do risco que estávamos correndo, na casa dos pais dele, com a porta do quarto destrancada. Eu poderia ficar ali para sempre. Foi o beijo mais perfeito, mais desejado e com mais amor contido sendo extravasado que eu já tive. Desejado? Amor contido? Louca! Acho que daqui vou direto pra um hospício.
Despertei daquele sonho com meu celular tocando insistentemente. Levei um tempo para entender o que era aquele barulho, mas quando entendi eu realmente acordei e pulei do colo de Ucker, sai do contato da sua pele quente e macia, para ir atender. Era o Matt. Eu estava sem ar, sem chão. Perdida. Tinha acabado de trair meu noivo, com o meu melhor amigo. E por que ele tinha que me ligar àquela hora?
__Alô! – disse mecanicamente. Acho que o que ele entendeu foi “eu tava aqui beijando o Ucker e você me atrapalhou”.
__Dulce, tá tudo bem? Eu tive um sonho ruim. Não deu pra ver muito bem o que acontecia, mas você e o Ucker estavam em perigo. Fiquei tão preocupado que não consegui esperar até amanhã para te ligar. Senti-me tão mal.
É, em perigo mesmo, Matt. Droga. Que loucura. Como eu vou olhar para o Ucker agora? Por que isso aconteceu, caramba?
__Tá tudo bem sim, Matt. A gente já tava... É... O Ucker tá dormindo no quarto dele, e eu em outro quarto. Acho que tá tudo bem com a gente. – respondi mecanicamente, de novo. Eu estava assustada e sem reação.
__Então tá bom. Divirtam-se. Qualquer coisa me liga tá? Pode ser a hora que for.
Óbvio. Porque só eu estava aqui beijando meu melhor amigo. O Matt estava em sua cama dormindo e sonhando comigo.
Eu queria morrer. Queria um buraco pra me colocar dentro e não sair nunca mais. Queria poder fugir, para sempre. Só depois que desliguei o telefone percebi que o Ucker havia saído do quarto.
Ele devia ter ido dormir no quarto ao lado. No quarto que eu deveria dormir. Eu deveria ter deitado lá quietinha quando ele falou. Ia nos poupar de tudo isso. Agora, a gente ia ter que conversar. E, foi uma loucura, pura carência dos dois. Espero, de verdade, que isso não atrapalhe nossa amizade. Nem meu casamento.
Deitei na sua cama mesmo. Chorei, chorei muito mesmo. Minhas lágrimas molharam todo o seu travesseiro. Mas era tudo o que eu podia fazer. Não consegui dormir nem por um segundo. Pensava em tudo o que aconteceu. Pensava no Matt, mas minha mente se fixava naquele beijo. Tão carinhoso, tão doce, tão sincero. Tão insano! Eu com certeza ia enlouquecer, ou já estava louca.
Quando dei por mim, os primeiros raios de sol começaram a iluminar o quarto. E eu ainda estava lá, chorando, abraçada ao travesseiro dele. Engraçado que, mesmo ele frequentando tão pouco a casa dos pais, seu cheiro estava no travesseiro e nos lençóis. Comecei a pensar em como seria quando nos encontrássemos pela manhã. E concluí que eu devia ir falar com ele, antes que todos acordassem e a situação ficasse insustentável.
Sem me importar com a minha aparência, com os olhos vermelhos e o rosto todo inchado, levantei e fui para o quarto ao lado, onde com certeza ele estaria. Dormindo, ou tão assustado quanto eu. Eu não sabia, mas precisava falar com ele. Precisávamos esclarecer tudo antes que nossos pais acordassem.
A porta do quarto estava aberta, mas o ele não estava ali. Desesperei-me. Ele estava meio bêbado também. Será que havia saído de casa no meio da madrugada? Como eu explicaria isso quando todos acordassem? Saí procurando ele em cada canto da casa. E nada. Ele não estava em lugar nenhum.
Quando cheguei no quintal, ele estava lá. Deitado, abraçado em seu próprio corpo. No chão frio na beira da piscina. Senti-me culpada por aquilo, e fiquei ainda pior quando vi que ele estava molhado. Sem dúvidas ele havia adormecido ali depois de nadar um pouco. Ele ia adoecer desse jeito. Enchi-me de carinho e culpa, e o chamei delicadamente.
__Ucker, Ucker, acorda! Você vai ficar doente desse jeito. Vem, vamos entrar.
Ele abriu os olhos, confuso e assustado. Eu acariciei seus cabelos e o levantei devagar. Com carinho o ajudei a levantar e o levei até o banheiro e ordenei que tomasse um banho quente. Depois conversaríamos.
Esperei no quarto ao lado do dele. Não estava pronta para ver ele se trocar. Não sabia bem quais as reações do meu corpo se isso acontecesse na minha frente. Depois de um tempo, ele entrou no quarto, com um pijama lindo de ursinhos, e sentou-se ao meu lado na cama.
__Ucker, você é louco! Onde já se viu, dormir molhado, no chão, com aquele vento?
Ele começou a chorar e eu me desesperei. Queria mesmo me entender com ele. O abracei. Foi algo involuntário. Senti meu corpo todo se arrepiar, mas só por um breve instante, porque logo depois percebi que ele ardia em febre. Deitei ele na cama, procurei um remédio na minha bolsa e fiz com que ele tomasse. Fiquei ali, afagando seus cabelos, até ele adormecer.
Estava preocupada, e não consegui fazer nada além de ficar velando seu sono por horas, até que ele acordou novamente. Eram quase 10 da manhã e logo minha mãe ou a dele apareceriam para nos acordar. Ele estava sem febre, mas visivelmente começando a ficar gripado. Sentou-se na cama e soltou um gemido de dor.
__O que foi, Ucker?
__Minha cabeça. Não é nada. Eu estou bem.
__Está ficando gripado, e de ressaca. Seu sem juízo. Onde já se viu dormir molhado daquele jeito?
__Você já falou isso, Dulce – se levantou emburrado, visivelmente tentando fugir de mim.

__Ucker, sobre ontem à noite. Sabe, foi um erro. Estávamos bêbados, carentes sem dúvida, e eu vou me casar, em seis semanas. Eu amo o Matt, e você é meu melhor ammigo. Foi um erro, mas não quero que isso prejudique nossa amizade. E também não quero que ninguém fique sabendo, tá bom?
Vi seus olhos se encherem de lágrimas, os meus também, claro, mas ele se virou rapidamente.
__É Dulce, um erro. Não vou me esquecer, pode deixar.

E saiu do quarto. Eu fiquei ali, chorando por mais alguns minutos, até me lembrar que precisava sair do quarto, tomar um banho e fingir que meu mau humor e minha cara horrível eram culpas da ressaca, que nesse momento, era o que eu menos sentia.