Fanfic: *Eu Nunca Te Disse*(Vondy) | Tema: Vondy

Ucker

Eu estava totalmente alienado do mundo. Ligava para meus pais todos os dias e mentia que comia alguma coisa. Mentia também para o Miguel, tio Fernando e tia Ellen que ligavam várias vezes ao dia. Os pais de Dulce até passaram lá um dia de surpresa e acabaram me levando para comer alguma coisa, não tinha nada em casa. Não pude dizer não.
Não falamos nada da Dulce, aliás, nem falamos muito.
Dia seguinte aquilo teria que acabar. Não que eu já quisesse levantar, mas tinha que trabalhar. Eu tinha tirado uns dias depois do casamento para poder ir para casa dos meus pais, mas esses dias chegavam ao fim. Dia seguinte teria que cobrir um evento a tarde inteira.
Dormi cedo. Acordei e tomei um banho demorado. Precisaria de forças para agüentar o dia inteiro.
__Você está péssimo!
__Está tudo bem?
__Você dormiu essa noite?
__Aconteceu alguma coisa?
Foram algumas das coisas que me disseram no trabalho.
__Oi, Ucker! Como você está? – era Miguel me ligando.
__Estou cansado das pessoas me perguntarem isso.
Silêncio.
__Olha, que tal a gente assistir filmes bem violentos e comer muita pizza para você ficar feliz? O que acha?
__Eu não sei... acho que isso não vai melhorar meu humor.
__Eu estou voltando da viajem hoje ou amanhã e assim que chegar passo na sua casa, nem que seja só para te dar um abraço, okay?
__Tudo bem.
Desligamos.
Peguei minhas coisas e a tarde fui cobrir um evento. Fiz tudo mecanicamente.
Encontrei Any e Geovanny quando estava saindo do trabalho.
__Ucker, que bom te encontrar! – Geovanny acenou para mim, apesar da mínima vontade fui até eles. __Nem acredite nessa mentira, Ucker. Ele só quer arranjar alguém pra substitui-lo no bolo que ele vai me dá. – Any disse me dando um abraço. __Então suponho que você me queira como candidato, não é mesmo Leo? – perguntei já temendo a resposta. __Ah vocês sabem que um médico não pode simplesmente adiar um chamado. E como não quero deixar Any jantar sozinha, você seria a pessoa perfeita para fazer companhia a ela. Então o que me diz?
Acabei aceitando. Ia ter que comer alguma coisa mesmo para não acabar desmaiando.
__Então como você estar com todo esse lance do casamento? – Any perguntou quando nos sentamos. E essa era a razão por eu ter temido a resposta de Geovanny, ao contrario das outras pessoas Any não temia pergunta nada a ninguém.
Não disse nada.
__Sua cara e seu silêncio responderam minha pergunta.- disse me avaliando com uma sobrancelha erguida.
__Só ainda não superei... – disse apenas.
__Você precisa sair dessa, Ucker! – falou sem rodeios.
Eu não queria dizer nada.
__Já são oito anos! Já chega! Você não está cansado de sofrer? – falou sem se importar se aquilo iria doer ou não. Uma coisa que eu até admirava nela, sua sinceridade.
Meus olhos foram ficando marejados. Eu não queria ouvir aquilo. A verdade doía demais.
__Você tem que aceitar que ela não te ama.
Levantei da mesa bruscamente e fui embora sem comer nada.
Ouvir a verdade doía. Eu não estava pronto para a verdade
Assim que cheguei em casa liguei para minha mãe e ela ficou feliz em saber que eu já tinha ido trabalhar. Não contei a ela que tirei uns dias de folga e que teria o fim dessa semana e a semana inteira que vem livres, senão ela ia querer que eu ficasse lá por todo esse tempo, e eu queria ficar sozinho.
__No fim de semana eu vou para aí... – eu disse.
__Que bom, querido! Vamos esperar ansiosamente por você.
__Tudo bem, eu ligo quando souber que horas chego aí.
Nos despedimos e assim que botei o telefone no gancho ele tocou novamente.
__Oi, Ucker.
__Oi, tio Fernando.
__Está melhor?
__Sei lá... – fiquei em silêncio – Você tem noticias dela?
__Não, Ucker, só sei que ela chegou bem.
Senti vontade de chorar de novo imaginando eles dois se divertindo.
__Olha, amanhã você trabalha?
__Não. Eu decidi tirar uns dias de folga. Na verdade eu só volto no fim da semana que vem porque preciso cobrir um evento importante.
__Eu e a Ellen vamos passar aí amanha a noite e vamos jantar, tudo bem?
__Tudo bem – respondi. 
Eles estavam sendo tão gentis comigo, não podia dizer não.
Nos despedimos e quando desliguei o telefone fiquei pensando no que Any disse. Ela estava completamente certa. Eu precisava aceitar o fato de que a Dulce não me amava e já estava na hora de parar de sofrer. Sim eu já estava cansado de sofrer.
Deitei e quando estava quase adormecendo ouvi a campainha tocar. Pensei em não atender, mas tocou novamente. Eu vou bater no Miguel!