Fanfic: Escrava do amor | Tema: Vondy

A porta da sala de espera abriu-se, e Dulce observou Belinda entrar, com os longos cabelos pretos espalhados nos ombros. Mas foram os grandes olhos azuis, arregalados, que chamaram sua atenção.

— Belinda! — exclamou, alarmada. — O que foi?

— Ela acabou de sair da cirurgia! Está horrorosa! Tubos por todos os lados! Papai me trouxe até aqui e foi ver o que pode descobrir sobre o estado dela.

— Oh, Belinda! — Dulce sussurrou, abraçando a garota, que começou a chorar. — Eles disseram por que demoraram tanto?

— Um cisto no ovário, ou algo parecido. — Belinda contou soluçando. — Disseram que o cisto estava lá há tempos e a cada ano piorava. Mas ela nunca me disse nada. É tudo sua culpa!

Empurrou Dulce com força, fitando-a com raiva.

— Apareceu na minha festa de aniversário só para se exibir! — acusou.

Dulce encarou-a, incrédula.

— Belinda, eu nunca...

— Você é a culpada! Fez com que minha mãe se sentisse tão triste, que ela não contou a ninguém que estava doente. Aí você sumiu e deixou papai tão irritado, que ele gritou com todo o mundo, inclusive com minha mãe!

Belinda fez uma pausa.

— Ele nem deu a ela uma carona de volta a Londres porque estava ansioso para reencontrar você! — gritou. Então, quando mamãe tentou contar que estava doente, voou para Zurique atrás de você! Eu te odeio! Como pode se intrometer na vida de um casal?

Pálida e trêmula, Dulce pestanejou, atônita.

— Mas seus pais não são mais marido e mulher — defendeu-se.

— Talvez não agora, mas serão, assim que você desaparecer!

Dulce moveu a cabeça numa negativa.

— Não sabe o que está dizendo — replicou.

— Não sei? — retrucou Belinda. — Eles ainda dormem juntos, sabia? Toda vez que ele vai lá em casa, vai para a cama com minha mãe.

Não, isso não é verdade, Dulce disse a si mesma, incrédula.

— Ficou abismada, não? — Belinda prosseguiu. — A idéia de meu pai indo para a cama com minha mãe deixou-a perturbada? Por que acha que quando ela liga ele vai correndo? Porque os dois ainda se amam. E um dia, casarão de novo!

— Chega! Aceito que esteja perturbada, mas, se seu pai ouvir você falando assim, é ele quem vai ficar abismado.

— Acha que estou mentindo, não é? Mas não estou.

— Sei que está. Seu pai tem respeito por mim e por sua mãe. Não acha melhor concentrar suas energias em desejar a melhora de sua mãe, em vez de mostrar seu ódio por mim?

— Vou me livrar de você, vou tirá-la de nossas vidas, nem que seja a última coisa que eu faça!

A porta da sala de espera abriu-se e Christopher entrou. Lulu olhou-o e jogou-se em seus braços.

— Oh, pai! Ela disse coisas horríveis! Disse que a mamãe vai morrer, e que quando você se casar com ela, fará com que eu nunca mais o veja!

Dulce olhou para Christopher, esperando que ele percebesse que a filha estava mentindo.

— Mande-a embora, pai! Ela me detesta. Por favor, mande-a embora!

Christopher olhou para Dulce.

— É melhor ir — disse.

Roberta ficou observando-o, pasma, e teve a impressão e que podia ouvir a risada triunfante de Belinda por trás daquelas lágrimas falsas.

— Christopher — murmurou. — Você...

Tentou defender-se, mais era tarde demais, pois Christopher estava com a atenção voltada para a filha, levando-a para fora da sala de espera.

Ficou olhando para a porta fechada por um longo tempo, antes de tomar total consciência do que Christopher fizera.

Dulce acreditava que Christopher descobriria que a filha mentira, quando voltasse a pensar com clareza. Mas e ela? Seria capaz de conviver com o ódio de Belinda?

Olhou para as mãos ainda trêmulas e refletiu que não podia continuar a ser tratada daquela maneira, sem o direito de protestar e defender-se.

Respirou fundo, contendo a vontade de chorar.

Dulce chegou no apartamento de Maite e não a encontrou lá, pois àquela hora a amiga ainda estava no trabalho. Ficou grata por não ter de explicar por que voltara de Zurique tão cedo e rapidamente fez as malas, escreveu um bilhete, pegou a chave de seu carro e saiu. Decidira ir para a casa dos pais, que estava vazia.

Parou no caminho apenas para fazer compras num supermercado.

A casa encontrava-se limpa e arrumada, pois os Saviñón tinham uma empregada que, duas vezes por semana, ia lá fazer a limpeza.

Dulce deixou a bagagem no vestíbulo, voltando para carro para buscar as compras. Depois, guardou o veículo na garagem.

Minutos depois, preparou uma xícara de café instantâneo e sentou-se à mesa da cozinha. Já era final de tarde, e noite não demoraria a chegar. Não havia nada que pudesse perturbar a tranqüilidade de Dulce.

Oxfordshire era na zona rural, e a casa mais próxima, ficava a meio quilômetro de distância. O silêncio era algo que ela não experimentava havia um bom tempo, na tumultuada e barulhenta Londres. Por mais estranho pudesse parecer, ela se sentia calma, recusando-se a qualquer inquietude penetrar em sua mente.

Estou fisicamente cansada por não ter tido uma boa de sono, e emocionalmente exausta das muitas batalhas com Christopher, pensou.