Fanfic: ANJO MAU: inocentes | Tema: TVD, PLL e muitos outros
Paranoia
“Qual foi a pior coisa que você já fez?”
“Qual foi a pior coisa que você já fez?”
“Qual foi a pior coisa que você já fez?”
Essa pergunta não pertencia aos meus pensamentos, mesmo assim ecoava na minha mente como se fosse uma música daquelas que não saem da cabeça. Parecia loucura, mas era como se uma voz masculina estivesse dentro do meu cérebro repetindo aquela pergunta.
“Qual foi a pior coisa que você já fez?”
Esgueirei-me pela sombra de uns arbustos tentando não ser vista por qualquer um que estivesse na janela. Já passava das 2 horas da madrugada. Felipe me devia muito por ter me feito entrar nessa. Muito mais do que ele poderia supor e eu torcia para que Edu estivesse esmurrando a cara dele naquele momento, como prometera mais cedo.
A voz ecoava mais forte agora. Corri até a próxima quadra e parei diante de um terreno baldio. Girei 360° procurando. Eu estava enlouquecendo e a culpa era de Felipe. Edu precisava quebrar a cara dele!
No terreno ao meu lado havia uma pilha de tijolos e pelo canto do olho tive a impressão de ver uma sombra, alguém agachado, me observando. A teia de pensamentos paranoicos desenhou uma cena na minha cabeça: ali estava o cara, usando um casaco de capuz preto, com um sorriso maléfico, preparando-se para me alcançar; suas pernas eram longas e ele me alcançaria tão fácil... Iria me arrastaria para trás daquela pilha de tijolos e...
Lutava para vencer a dormência que havia se espalhado por meus joelhos. “Qual foi a pior coisa que você já fez?”
De algum lugar do terreno baldio, provavelmente de trás da pilha de tijolos, um galho se partiu. Não poderia ser apenas paranoia minha, realmente tinha alguém ali se arrastando, partindo galhos e folhas secas.
Respirei fundo e corri o mais rápido que pude. Ouvia passos bem atrás de mim, solas duras batendo no asfalto, contudo o medo não me permitia virar e olhar quem era. Rapidamente meus pulmões se esvaziaram, porém forcei o ar a entrar de novo e continuei correndo. A menos de duzentos metros dali se localizava o ultimo bairro da cidade, o mais vazio. Se o cara estivesse mesmo me perseguindo, eu só estava me cansando, pois eu não poderia correr até o local da reunião com minhas pernas curtas.
O pânico estava tomando conta dos meus joelhos de novo, mas o mantive para baixo e continuei. Faltavam menos 50 metros para a esquina que dava para o último bairro. Se a distancia entre mim e os passos fosse maior, eu alcançaria uma casa e gritaria por socorro.
Entretanto não dava tempo...
No mínimo ele teria uma faca...
Mais dois passos e me joguei pela esquina, pronta para gritar. Eu não ia ser pega e estuprada sem fazer um escândalo.
A luz do poste daquela área estava apagada e eu mal podia ver onde pisava.
Virei à esquina e bati de frente com alguém forte e alto. O impacto com seu corpo foi o suficiente para me derrubar na calçada fria e a escuridão não me deixou ver quem era. No mesmo instante suas mãos estavam em volta de mim, segurando meus braços, apertando meus pulsos e no meio do pavor que me cegava, eu mirei meu joelho e o impulsionei contra o meio das suas pernas, ao mesmo tempo em que tentei debater meus punhos contra o peito dele.
Como que para aumentar o pavor, minha agressão não lhe causou nem cocegas.
“Qual foi a pior coisa que já te aconteceu?” A pergunta mudou, mas a voz que estava dentro do meu cérebro era a mesma. A pior coisa que já me aconteceu iria acontecer agora, se eu não fizesse nada, se eu não gritasse, se eu não lutasse. Espirei o ar para os pulmões e me preparei para pedir ajuda, porém, para meu horror, ele tapou minha boca com uma das mãos. Tentei mordê-lo, porém fracassei.
Uma lágrima gorda escorreu do canto do olho e eu sabia que ele teria que soltar minha boca para terminar sua perversão e seria aí que eu o morderia. Ele não iria machucar-me e sair ileso. Tudo se passou em menos de dois minutos, todavia meu cérebro registrava tudo.
Então ele se inclinou ainda mais para perto de mim e disse numa voz baixa, porém conhecida.
— O que diabo andou cheirando? — Ele perguntou tentando analisar meu rosto naquela escuridão. Fiquei petrificada porque eu sabia quem era ele — Droga, menina! Seus pais sabem quem você não está em casa? — Ele perguntou, entretando foi esperto o bastante para não me soltar.
Balancei a cabeça negativamente e ele continuou.
— Vou soltá-la, mas prometa que não vai gritar. — Fiz que sim com a cabeça e ele tirou a mão da minha boca largando meus braços.
— Seu doente! — Gritei enquanto me arrastava de costas na calçada — Não encosta em mim de novo!— Por favor, Melissa! — Ele me alcançou e prendeu meus pulsos a calçada, me impedindo de fugir — Você não pode estar tão chapada desse jeito! Sou eu! Guilherme Wajman, seu professor.
— Eu sei quem é você! — Respondi com rispidez, como eu não saberia quem era ele? Nunca tinha ouvido nessa vida uma voz tão aveludada quanto a dele. Ele era nosso jovem professor de História do RN há menos de dois meses, não o conhecia muito, porém não imaginava que ele tivesse por hobbie... — Mas não sabia que gostava de perseguir suas alunas!
— Você está começando a me assustar. — Ele falou lentamente — Onde foi a festa? Quem te deixou desse jeito?
— Não finja! — Falei num tom duro — Você saiu de trás daquele monte de tijolos e me perseguiu até aqui.
Depois da acusação ele ficou imóvel por um tempo, como se pensasse. — Tinha alguém te perseguindo mesmo... Ou você está sob efeito de drogas?
— Não usei droga nenhuma! E não finja, eu sei que era você!
— Melissa, — ele falou com cuidado, como se conversasse com um paciente de um manicômio — eu vim de uma direção oposta a sua! Que motivos eu teria para te perseguir?
— E o que você faz andando a essa hora da madrugada por aqui? — Continuei com o tom acusatório, mesmo assim que motivo ele teria? E não teria como ser ele, não dava tempo dele dar a volta no quarteirão tão rápido.
— Te pergunto o mesmo. — Ele disse e estendeu a mão para mim. Aceitei e ele me pôs de pé — De vez em quando eu faço bico como vigia noturno. Se você fugiu de casa vai se meter numa encrenca quando for pega.
— Vigia noturno? — Resolvi guardar essa informação para uma discussão posterior — Se não foi você, então quem foi? — Ignorei o comentário dele.
— Tinha mesmo alguém te perseguindo? — Ele olhou em volta — Não é coisa da sua cabeça?
Cruzei os braços e disse com orgulho — Não estava imaginando aqueles passos bem atrás de mim, ele deve ter fugido quando viu você... — Enquanto eu falava, ele deu um jeito de me jogar rapidamente para suas costas como se para me esconder de alguém.
Poucos segundos depois um carro virou a esquina da quadra da frente e passou em alta velocidade.
— Quer que eu dê uma olhada por aí? — Ele perguntou soltando-me de suas costas.
— Não vai me fazer um monte de perguntas sobre para onde eu vou, nem o que vou fazer?
Ele sorriu e me pegou pelo antebraço, me levando pela rua.
— Você iria responder todas as perguntas com um mal-educado “NÃO É DA SUA CONTA!”. Então... De que direção você veio?
Pensei em responder a provocação dele, porém o que ele tinha dito era verdade. O mostrei de que rua eu tinha vindo e ele me levou para lá.
— Eu o vi agachado atrás daqueles tijolos. — Apontei na direção. Não tinha visto mesmo que era alguém, mas não dizer que era imaginação minha.
Guilherme parou e segurou meu antebraço com força. Dali, na luz amarelada dos postes, eu podia ver seu rosto, seus olhos preocupados vasculhando a área e seu maxilar trincado. Através da camiseta cinza dava para ver o quanto seus músculos estavam tensos.
— O que foi? — Perguntei baixinho — Viu alguma coisa?
Entretanto ele fez sinal para que eu não fizesse mais barulho. Ainda segurando forte no meu antebraço, ele me arrastou para dentro do terreno baldio e escuro. O pânico invadiu minhas ideias e meus sentidos. Era só um truque! Era ele que estava me perseguindo! Droga! Minha mente gritava! Como eu fui cair na conversa dele?
Ele era um bom professor, tinha 20 e poucos anos e era razoavelmente bonito (ok! Ele era mais que razoavelmente bonito, ele era um dos caras mais lindos que já tinha visto), mas se ele pensou que ia levar-me para lá, se aproveitar de mim e depois me ameaçar para eu não contar nada a ninguém, estava enganado. O escândalo ia ser feio.
Porém, ao invés de me arrastar mais para o fundo do terreno, ele largou meu braço e seguiu sozinho, em passos lentos e silenciosos, virou para mim e sussurrou: — Está ouvindo?
— Não! — Respondi. A adrenalina fazia meu coração fazer tanto barulho que eu não conseguia ouvir mais nada além dos batimentos.
Numa fração de um segundo ele voltou até mim, agarrou minha cintura e me arrastou para o lugar mais ao fundo e mais escuro do terreno, tapou minha boca com a sua mão e me apertou contra o muro.
Guilherme ficou na minha frente como se seu corpo funcionasse para mim como uma barreira protetora. Devagar ele tirou a mão da minha boca e colocou no muro, ao lado do meu corpo, se inclinou enterrando o rosto na minha clavícula, sua respiração quente e acelerada batia contra minha pele. E então eu pude ver do que ele me escondia.
Não era apenas um. Eu não estava ficando louca e não era paranoia minha, realmente havia alguém me perseguindo, porém, para a minha sorte, não era o professor. Dois homens vasculhavam o terreno, chutando folhas e olhando por baixo de detritos, como se procurassem alguma coisa pequena no chão. Um deles vestia um casaco de capuz preto, como eu supunha, e o outro usava um boné escuro. Não era possível ver claramente o rosto de nenhum deles, porém eu podia jurar que o cara de capuz era bem parecido com um rapaz da minha escola, Taylor Inácio. Não consegui reconhecer nenhum dos traços do rapaz de boné. À medida que eles foram se aproximando de onde estávamos o medo triplicou de tamanho.
Eles eram dois, o professor era apenas um, então quando eles notaram nossa presença ali, fiz a primeira coisa que passou por minha cabeça. Apertei meus lábios contra os de Guilherme e o puxei para mais perto de mim, enroscando minhas mãos em seu pescoço, para que os dois caras pensassem que éramos um casal dando uns amassos. Guilherme soltou as mãos do muro e as colocou em minha cintura, correspondendo ao beijo com mais desejo do que precisava. Seus lábios eram quentes e tinham um gosto adocicado; sua língua procurou a minha, enquanto uma das mãos dele deslizava pela lateral do meu corpo. Instantaneamente pensei que aquilo tudo não era necessário.
Aí veio a risada debochada, e eu a conhecia perfeitamente, graças a minha obsessão por ele. Era a risada de Taylor, o cara do terceiro ano por quem eu tinha uma “leve queda”.
— Vamos embora Brian, estamos atrapalhando. — Taylor riu de novo e foi se dirigindo para a rua.
O outro garoto, Brian, o seguiu e eu pude ouvi-lo murmurar num tom bem revoltado — Precisava dizer meu nome?
Guilherme se desgrudou de mim e imediatamente fiz o mesmo, retirando minhas mãos de seu pescoço.
Ficamos nos encarando na escuridão por um instante constrangedor e era como se ele estivesse decidindo se me beijava de novo, ou não. Devia ser apenas paranoia minha, graças a Felipe.
— Eu só te beijei para que eles... — Tentei dizer, contudo não consegui concretizar a frase.
— Funcionou. — Ele completou.
— Aquele era Taylor Inácio, do terceiro ano. Terei sorte se ele não tiver me reconhecido... — Murmurei — Mas não sei quem era o outro, nunca ouvi falar...
— Não era o rapaz da escola. — Guilherme falou num tom seco, como se seu maxilar ainda estivesse trincado — Nenhum dos dois são estudantes.
— Como você sabe? Era a voz dele, era ele!
— Apenas sei que não era e... — Mesmo na escuridão eu sabia que ele estava olhando diretamente para os meus lábios — você tem que ir para casa.
— Obrigada, mesmo assim não posso. Tenho que fazer uma coisa. — Falei baixo e comecei a seguir em direção a rua — Desculpa pelo beijo.
— Não pode sair por aí sozinha. Aqueles caras não são da escola e um deles te perseguiu mais cedo! E se ele voltar o que você vai fazer?
— Você os conhece. — Não foi uma pergunta, pois eu já sabia da resposta — Desculpe desapontá-lo, mas eu preciso mesmo ir, e não é para minha casa. Eu agradeceria se não contasse a ninguém.
— Me diga onde precisa ir e eu te levo. E não se preocupe com seu segredo, está bem guardado comigo. — Ele falou num tom duro demais para nossa pouca intimidade.
— Não posso ir com você. Vou ligar para alguém. — Dei mais alguns passos e peguei o telefone celular do bolso do jeans. Liguei para Felipe. Vir buscar-me era o mínimo que ele poderia fazer. Enquanto esperava pela carona, me voltei para Guilherme, ele estava parado bem ao meu lado, com os braços cruzados. Engoli seco e sussurrei — Obrigada e... Desculpa por desconfiar que era você que... Que estava me seguindo...
— Não há problemas... Eu também achei que você estivesse drogada.
Sorri sem vontade — E me desculpa pelo beijo.
Essa ele não respondeu, apenas continuou me encarando de um jeito que me deixava ainda mais paranoica, desejando que Felipe chegasse ali naquele mesmo momento.
Quando meu amigo chegou, Guilherme já tinha ido embora.
— Em que confusão você se meteu? — Felipe perguntou enquanto passava o capacete reserva para mim.
— Nenhuma. — Coloquei o capacete e subi na moto — Só fiquei com medo de ir sozinha.
— Melissa Zilver com medo? — Ele debochou e entrelacei minhas mãos em volta da sua cintura.
— Seu pai sabe que você anda de madrugada com a moto dele? — questionei aborrecida.
— Claro que não! — ele respondeu dando partida e percorrendo a distância numa velocidade absurda.
Quando paramos no terreiro daquela mansão enorme, afastada da cidade, abandonada e com fama de ser mal-assombrada, Bella, Carla e Breno já estavam lá, sentados nos degraus das ruínas do que antes já fora uma escadaria chique.
— Demoraram! — Bella murmurou já estressa.
— Vocês não sabem o quanto Breno nos perturbou com a ideia de que tinha um fantasma nos observando. — Caah praticamente choramingou.
— Mas é verdade! — o garoto loiro com cara de anjo riu.
— Edu ainda não chegou. — Felipe nos defendeu.
— É fácil para vocês duas, é só trancar a porta do quarto, pular a janela e o muro da escola! — Eu disse. Realmente era bem mais fácil fugir pelos muros sem vigilância do internato da Escola Católica de Martins do que despistar os meus pais.
Como que para acabar com nossa discussão, Edu chegou numa moto honda, encostando-a próxima a de Felipe.
— E aí, moleque, — Edu disse para Felipe quando tirou o capacete e se aproximou de nós — o que quer primeiro, conversar ou levar uma surra?
— Ou My God! — Caah gritou quando Felipe demonstrou que iria entrar na briga! — Parem os dois! Precisamos continuar com a caça!
— Fala isso porque não foi você que foi empurrada por ele. — Bella disse — Ele praticamente me atirou no chão porque estava nervoso com o pai dele!
— Já pedi desculpa e já disse que foi sem querer. — Felipe falou sem nenhuma sombra de arrependimento na sua voz.
— Dá para deixar essa putaria para depois e se concentrar no bem comum? — Falei sem paciência, já tinha vivido emoções fortes demais para uma madrugada e sabia que mais ainda estava por vir. Apesar de ter desejado que Felipe levasse uma surra, isso podia ficar para depois.
Bella abriu a porta e entramos juntos. Os meninos usavam lanterna para clarear a mansão.
— O duro é ter que passar por tudo isso de novo... — Bella resmungava.
— Bella, olha só, é como um filme de terror! Eles não podem te fazer mal! São apenas imagens. — Disse a Caah.
— São apenas almas sem corpos. — Falei irônica com ironia e mais aborrecida que o normal. Aborrecida porque minha mente insistia em dar uma salto para o momento daquele “beijo técnico”.
Em cidades pequenas como a nossa há sempre histórias antigas, lendas, que nossos pais contam e que acabamos tomando como verdades. E a lenda que nos impulsionava a passar nossas madrugadas naquele casarão antigo, do tempo dos escravos, era sobre botijas.
Botija é uma espécie de tesouro e quem as descobre fica rico pelo resto da vida. Bem, isso é o que meus pais me contavam, que ouviram dos seus pais e que provavelmente seus avós contavam.
E uma botija só é oferecida através do espírito da pessoa que a enterrou, ou seja, uma alma penada, presa entre dois mundos, que vem te assombrar até que você desenterre o ouro. Geralmente é ouro. E você não pode contar a mais ninguém, se não a botija “desencanta”, desaparece e você perde a oportunidade de ficar rico facilmente.
As histórias que se contam são sobre alguém, que conhece alguém, que tem um primo...
Só que dessa vez o “felizardo” foi Felipe.
Ele recebeu num sonho a visita do primeiro dono da casa que estávamos invadindo. E o encanto só valia se ele fosse desenterrar o “troço” junto conosco.
Claro que a princípio isso nos soou bizarro, ultrapassado e cheio de superstição, porém quando se mora numa cidade pequena, que não oferece muitas alternativas de lazer, qualquer coisa vale para fugir da rotina. Inclusive procurar um tesouro numa casa abandonada, seguindo pistas mais esquisitas que a própria lenda.
Seguimos pelas escadas de madeira, que rangiam a cada passo que dávamos, para o andar de cima. Encontramos a última pista riscada no chão do quarto principal.
“Privada da privacidade, dou a ela um pouco de liberdade”.
Nossa maior dificuldade era o fato de que as pistas eram muito metafóricas e há quase uma semana que tentávamos descobrir o que aquela frase queria dizer.
Todavia, coincidência ou não, na aula de História do RN, o professor Guilherme estava falando sobre como era o tratamento dos senhores de Engenho para com suas filhas, e Eduardo aproveitou a deixa para fazer um monte de perguntas sobre o assunto, tentando descobrir aonde aquela pista queria nos levar e o professor acabou nos contando que o quarto da filha dos senhores, era aberto, não havia paredes, era como um hall entre os aposentos do casal e o quarto dos filhos.
— Mas por que, professor? — Caah começou a questionar também.
— É que naquela época as moças não podiam ficar sozinhas num recinto, para não... Como eu posso dizer... Se tocar, (se a direção da escola soubesse que ele mencionou masturbação, mesmo sem pronunciar a palavra, provavelmente ele levaria uma advertência), então o quarto delas era aberto para que todos os membros da família pudessem observar o que a moça fazia no quarto.
— E como elas se trocavam? — Perguntei tentando ajudar — Na frente de todo mundo?
— Não, Melissa. No quarto havia uma espécie de biombo, onde as moças podiam se trocar.
E foi aí que descobrimos.
“Privada da privacidade, dou a ela um pouco de liberdade”.
Terminando de subir as escadas e fomos direto para o biombo de madeira. Enquanto revistávamos cada palmo dele com as lanternas, ouvíamos uns gemidos baixinhos.
— Acho que alguém está... — Disse Felipe com sarcasmo na voz — Como disse professor Guilherme, se tocando.
— Não fala isso! — Bella gritou. — Idiota!
— É! Seu estúpido, não brinca com essas coisas. — Carla levava isso tudo muito a serio. — Respeite os mortos!
Às vezes nos tratávamos tão mal que eu não entendia como ainda éramos amigos.
— Achei aqui! — Disse Edu, ajoelhado no chão, com a lanterna apontada para a borda mais inferior do biombo.
— “Em meu esconderijo repousava a perdição”. — Lemos todos juntos.
— Será que é alguma cama? — Carla perguntou.
— Acho que não! Por que aqui está falando de esconderijo. — Breno olhou em volta — deve ser algum esconderijo secreto.
— Deve ser isso mesmo. — Reafirmou Bella — E se todos chegassem na hora combinada poderíamos procurar um pouco antes de ir embora.— O importante é que pulamos um nível. — Felipe murmurou — Em breve vamos descobrir o que nos espera.
— Então vamos embora? — Disse Edu e fomos saindo da casa. Felipe fechou a porta.
— Posso te levar em casa? — Breno perguntou e eu quase aceitei, já que ir de moto era bem melhor que correr a pé no mato escuro, com dois malucos a solta na cidade.
— Não, leva Carla. — Respondi. Sabia que Caah tinha uma queda por ele, porém não tinha coragem de admitir e eu não ia ficar andando por aí com ele — Você me leva de volta Felipe?
— Claro.
E saímos dali.
Ainda ouvi Edu gritar que aquela surra ainda estava pendente, porém o fato é que eu nem queria imaginar no tamanho da encrenca que íamos nos meter se descobrissem que estávamos invadindo e depredando um patrimônio da cidade.
O vento gelava meu rosto enquanto cortávamos pela noite fria. Segurava a cintura dele enquanto voltávamos à cidade, fazendo o próprio caminho por trás das casas adormecidas. Evitei olhar para os lados e ver aqueles dois caras escondidos em alguma sombra.
Chegamos aos fundos da minha casa e o Felipe (não sei como não esperei por isso) me pediu um beijo.
— Já beijei outra pessoa hoje. — Confessei
— Homem ou mulher?
— Homem! Mais que pergunta idiota! Que tipo de pensamento imundo se passa na sua cabeça?!
— Não é difícil imaginar a cena... — Ele riu um pouquinho. — Posso saber quem? — Eu fiz que não com a cabeça e ele me olhou feio — Você não presta, sabia?
— Não fala assim comigo! — Senti vontade de empurrá-lo da moto, mas já chegava de confusão por hoje.
— Fez sua cama, agora deita nela! — Dito isso ele deu partida na moto e se foi.
Enquanto me equilibrava em cima de umas tábuas, para pular o muro de casa, ouvi aquele eco novamente no meu cérebro “Qual a pior coisa que já te aconteceu?”
O medo me deixou gelada, apavorada, os passos estavam ali de novo. Tomei o folego e olhei para trás. Lá estavam os dois garotos.
— Melissa, — o cara com a voz do Taylor falou primeiro, seu capuz estava abaixado e ele era tão idêntico ao Tay... — você é mesmo tão doce quanto o mel?
— Já vamos descobrir. — O outro garoto disse dando o primeiro passo na minha direção.
Continua no próximo capítulo.
Autor(a): zafiacap
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