Fanfics Brasil - Something Has Started Quarto 813

Fanfic: Quarto 813 | Tema: One Direction


Capítulo: Something Has Started

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Oh! poderei chamar clarão há esta hora?


Ó meu amor! Querida esposa!


A morte que sugou todo o mel de teu doce hálito poder não teve em tua formosura.


 Não; conquistada ainda não foste;


A insígnia da beleza em teus lábios e nas faces ainda está carmesim,


Não tendo feito progresso o pálido pendão da morte.


 Ah! Querida esposa, por que ainda és tão formosa?


-William Shakespeare – Romeu e Julieta.


Westshire, 1813.


Frio.


Era só isso que Joselyn conseguia sentir. O frio que penetrava no fundo de seu âmago e ricocheteava por dentro de seu corpo. As árvores se contorciam, dançando uma marcha fúnebre, maleáveis diante da superioridade do vento. O uivo dos cães agora já não mais incomodava os ouvidos da jovem, que corria desesperada pela floresta negra e exânime. A brisa congelante fez com que os olhos da jovem lacrimejassem, e a lanterna flamejante, cuja qual era seu último anseio por luz, apagou-se, deixando a bela moça em plena negritude.


Um quebrar de gravetos atrás de seu corpo esbelto deu a perceber que a jovem não estava sozinha. Pôde ouvir seu coração disparar, e sentiu o fogo queimar-lhe a pele, de tanto medo. Um vulto distinguiu-se em frente à ela e a moça se pôs a correr.


- Não... – ela sussurrou. – Não agora...


Pôde sentir o caçador em seu encalce, contudo os pés da jovem não falharam, conduzindo-a por entre as árvores da floresta, seus olhos atentos à tudo que não podiam ver, os sentidos aguçados com a epinefrina que lhe era disparada por entre as veias. As batidas de seu coração eram tão audíveis que ela desconfiou que o próprio caçador pudesse ouvi-las.


Joselyn girou seu corpo para à esquerda e seguiu caminho para o único lugar onde estaria a salvo. O santuário.


Seu longo vestido de renda branca agora se enchia de terra, e seu belo rosto estava coberto com míseros cortes, causados pelo contato direto com as árvores. Os grandes cachos lhe caíam pelo rosto, desarrumados e revoltos, balançando com o vento que lhe soprava o rosto.


Os pulmões imploravam por ar, desesperados, como se soubessem que aqueles eram os seus últimos minutos.


As sombras se eletrizavam, desvairadas, escorregadias e traiçoeiras, esperando por um mísero tropeço ou vacilo da jovem.


Joselyn aliviou-se quando suas mãos tocaram a porta do santuário, e tal se abriu, permitindo que a jovem adentrasse à uma sala imensa, que emanava uma suave luz de velas. A jovem fechou a porta logo atrás de si, soltando seu peso sobre ela, indo de encontro ao chão.


As pernas tremiam diante do grande esforço ao qual foram submetidas. O rosto, cheio de cortes e machucados, escorria sangue. Eram como lágrimas de sangue, manchando-lhe o vestido de renda.


Ouviu um barulho e abriu os olhos, congelada pelo medo, mas tudo o que viu foi um jovem garoto de cabelos ruivos e olhos violeta iguais aos dela.


-Will!


Ela correu até ele, que a olhava de modo espantoso, preocupado com o sangue que escorria por seu rosto. O menino a abraçou fortemente, e colocou as mãos em ambos os lados do rosto dela, o segurando com cuidado.


-Jose? O que aconteceu?


Os olhos da menina marejaram-se, passando do brilho intenso do violeta para um vermelho escarlate. A marca em sua testa brilhava, como se estivesse sido feita à poucos minutos pelo fogo em brasa.


-Eles sabem, Will, eles sabem de tudo! Eles vão nos queimar!


William segurou a amada em seus braços, como se pudesse controlar a situação e salvá-la do inevitável. Abraçou-a como se o mundo não existisse e como se eles fossem apenas um casal normal, como todo o resto de sua vila. Os cachos da menina se alvoraçavam ao seu redor e ele mergulhou-se em meio deles. Ao seu redor, as velas trêmulas davam seu último suspiro, assim como o casal que, no centro periférico do templo, trocava seu último beijo de amor.


Batidas na porta do templo se tornaram crescentes. Logo, ela apareceria. Apareceria e, como em todas as vezes que ela aparecera, queimaria tudo ao seu redor, inclusive o casal que agora trocavam lágrimas e carícias. William respirou fundo, suspirando ao perceber que aquilo era o fim.


Os dois sentaram-se ao centro do santuário, acendendo as velas e fazendo um último e secreto feitiço. Um feitiço que passaria despercebido por 200 anos. Um feitiço que jamais seria notado, durante uma história tão sanguinolenta como a história da Terra. Um feitiço que mudaria a história por si só.


Joselyn, com um estalar de dedos, proclamou mais um feitiço, fazendo o chão abrir-se aos seus pés. Em um movimento tão rápido quanto pensar, um baú foi aberto em frente aos seus olhos.


-Já sabe o que fazer, Will. – os olhos cor-de-sangue da menina fitaram os violeta do jovem moço que a adorava em silêncio. Joselyn nunca havia parecido tanto com uma Guardiã do que agora. Os cabelos negros cacheados voando em torno de seu rosto pálido como a Lua, com sua marca vermelha-escarlate brilhando em sua testa, devido ao seu dia de elevação, que estava muito próximo. O vestido branco estava rasgado em seu colo, deixando-a com um ar ainda mais determinado e até... Perigoso. O menino acenou com a cabeça e virou-se, rapidamente. – Vá! Depressa! Antes que eles a encontrem!


O jovem correu e saiu desceu o alçapão do templo, que o levou para um grande túnel subterrâneo, iluminado por uma tocha. William correu pelo túnel, sabendo, exatamente, aonde ele o levaria. Correu como nunca antes, deixando para trás a menina que amava mais do que a própria vida. Temia por Joselyn, temia por sua família, temia por sua pequena Rose.


Saiu do túnel após minutos correndo, e tomou cuidado para que ninguém o visse, enquanto passava sorrateiramente pelas ruas do pequeno e esquecido vilarejo de Westshire. Subiu a rua principal, batendo, desesperadamente, na porta da casa de seu mentor, Joseph.


Esperou, impacientemente, até que a feição velha e enrugada de seu mentor parecer por uma fresta na porta. Quando seus olhos encontraram-se com o do jovem, ele os arregalou e abriu mais a porta, esperando não ouvir o que seu instinto falava que ouviria.


-Joseph, aconteceu o que temíamos.


O velho colocou o dedo indicador enrugado nos lábios e fez sinal de silêncio, puxando o jovem para dentro de sua pequena casa. O interior da casa era escuro e cheirava a mofo, devido ao excesso de livros que a pequena casa suportava. Quando criança, William chegou a pensar que a casa, um dia, explodiria, de tanto livro.


O velho homem subiu as escadas com uma capacidade sobre-humana e desceu com um pingente dourado envelhecido, que tinha um uma estrela de cinco pontas encrustada. Junto do pingente, haviam treze páginas escritas com letras de mão formosas, cada uma com uma assinatura.


-Vamos, eles estão esperando.


O sinal fora dado por Joselyn, agora ele percebia. A moça havia conseguido, afinal.


William desceu pela escada íngreme da casa do senhor até um subsolo, onde reconheceu cinco rostos familiares. Abraçou cada um de seus amigos, que pareciam inconsoláveis. A última a ser cumprimentada, fora Lisa, a amiga mais próxima de Joselyn, uma Guardiã poderosa e enigmática.


-Nós sabemos o que fazer, William. – ela sussurrou, com sua voz poderosa, fazendo todos os outros jovens a observarem.


Ela caminhou até o meio, mandando todos fazerem um círculo. Com as mãos acima da cabeça, ela pronunciou algumas palavras em latim, bateu uma palma na outra e estendeu o pulso, fazendo um pequeno corte ali.


Com um estalar de dedos, um pequeno prato de ouro apareceu em sua mão. Ela depositou uma gota de seu sangue ali dentro, e assoprou o prato, que fez seu trajeto à cada um dos integrantes do círculo. Os quatro jovens, amigos do casal, depositaram uma gota de sangue ao conjunto, e, quando o prato parou à frente de William, ele não se demorou, entregando ao pacto, mais uma gota de sangue mágico.


O conjunto tornou-se púrpura, como se se gabasse para o mundo de quanta magia possuía. Era difícil para William observar todos aqueles rostos queridos e amados, enquanto sabia que todos eles estavam tão condenados quanto ele próprio.


-Corra, jovem William. Corra antes que seja tarde. – Lisa sussurrou ao seu ouvido e ele se colocou à correr como nunca antes.


Mesmo estando abatido fisicamente, pela perda do sangue tão cheio de poder, Will nunca esteve tão psicologicamente preparado para qualquer luta. Suas pernas eram tão ágeis quanto o cair da chuva, e seus movimentos tão suaves quanto o de uma brisa de verão. O brilho do sol não era tão radioso quanto sua forma ao se mover pela floresta adormecida. Em poucos segundos, estava de volta. Contudo, assustou-se ao ver que todas as luzes do túnel haviam sido apagadas.


-Não... Por favor, não...


Correu mais uma vez, e chegou até o círculo formado no salão. Sua amada Joselyn estava jogada ao chão, fraca e relutante. Ela estava morrendo.


Will caiu aos seus pés. Chorou, beijando seu rosto e a abraçando. Seu rosto pálido estava febril e sem vida. Os olhos vacilantes e vazios, miravam o nada e o tudo à sua volta. A cor de sangue havia se esvaído, sobrando apenas o violeta oco. Os lábios estavam ressecados e sem cor. A cor, que antes lhe caía sobre as maçãs do rosto, havia se esgotado e até os cabelos pareciam mortos.


Excesso de poder, esgotamento da mente”, as palavras do lema de seu mentor lhe subiram à mente. Mas Joselyn não morreria. Não agora. Havia ainda, uma última missão, um último feitiço, que ela precisava conjurar.


Fez um corte no pulso da moça que, um dia, dera a luz à sua filha, a pequena Rosalie. A moça que, um dia, vivera, rira e o beijara com tanto amor que um mero mortal não suportaria. Nunca ninguém amaria como os dois se amaram, William estava certo disso.


Juntou o sangue poderoso de Joselyn aos dos amigos e as treze páginas, junto ao medalhão. Colocou tudo dentro do baú, que ainda se estendia, bem acima do buraco cavado por Jose e o enterrou com um piscar de olhos.


Era como se ninguém nunca tivesse passado por ali.


Abraçou Joselyn mais uma vez. Disposto à morrer por ela. Disposto à morrer por seus amigos. Disposto à morrer por Joseph. Por sua família. Contudo, ele sabia que não era por todos eles que ele estava ali. Estava ali por sua pequenina Rose. Pela bebê que mal conhecera, contudo que amara com todo o seu ser. O amor de William e Joselyn pela filha ultrapassa ainda, as barreiras de “amor” do sobrenatural. Os dois amaram a pequena menina como o ar substancial que enchiam seus pulmões. E ambos estavam ali, morrendo por ela.


A porta da frente do santuário explodiu-se, e William soube que ela tinha chegado.


Teve forças suficiente para encarar seus olhos frios e amarelos, tão congelantes que eram capazes de congelar William com a leveza de uma flor.


A mulher diabólica sorriu em direção ao casal.


Seu sorriso era como o aperto de mão gélido e cruel do próprio Diabo, seus olhos eram a porta de abertura para a própria ardência e condenação perpétua do inferno. Seus cabelos ruivos eram o reflexo das próprias chamas infames corrompidas pelo pecado, que queimavam em torno do lume eterno.


William deixou a última lágrima tocar o chão e logo, o lugar inteiro queimou. Selando último pacto que o casal fizera, para sempre.


Á milhares de quilômetros dali, uma índia dava a vida à uma criança. 



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Autor(a): bellaredivo

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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"When you were here before(Quando você estava aqui antes)Couldn`t look you in the eye(Não podia te olhar nos olhos)You`re just like an angel(Você é como um anjo)Your skin makes me cry(Sua pele me faz chorar)"- Creed, Radiohead. Westshire, 2013.   Respira. “Calma, Angie, tudo o que você precisa fazer é respirar ...



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