Fanfic: Quarto 813 | Tema: One Direction
"When you were here before
(Quando você estava aqui antes)
Couldn`t look you in the eye
(Não podia te olhar nos olhos)
You`re just like an angel
(Você é como um anjo)
Your skin makes me cry
(Sua pele me faz chorar)"
- Creed, Radiohead.
Westshire, 2013.
Respira.
“Calma, Angie, tudo o que você precisa fazer é respirar.”
Respirar o caralho. Como me acostumar a uma escola onde todos me olham como se eu fosse um E.T? Bem, talvez eu fosse. Comparada às meninas que estudavam aqui, eu realmente era. Primeiro: Eu não uso óculos. Segundo: Eu não uso sapato de boneca. Terceiro: Eu, definitivamente,não uso suéter combinando com minha saia xadrez.
Essa escola era realmente ridícula. E daí que eu uso all star? E daí que eu uso camisa ao invés de suéter? E daí que eu ouço Nirvana?
Quer saber? Foda-se. Fodam-se essas menininhas que acham que só porque eu uso all-star eu sou maloqueira. Fodam-se meus pais que pensam que eu preciso vir para esse colégio para dar jeito na minha vida. Foda-se Kyle, meu ex-namorado, que me traiu com a minha ex-melhor amiga. Fodam-se todos.
Esbarrei em algum menino que devia estar na quinta série, e ralhei, sem me importar.
-Puta que pariu, olha pra frente, caralho!
Recolhi meu material e quando me levantei, percebi que um senhor engomadinho de paletó e gravata borboleta me olhava de braços cruzados.
-E o senhor é quem? – eu perguntei, sem me importar. Como eu já falei, “foda-se”.
-Srta. Lewis? – ele perguntou. Seu hálito de caatinga infectando meu nariz.
-Acho que sim, né? – revirei os olhos, mascando o chiclete.
O velhote sorriu de lado, me fazendo ficar com nojo e deu uma piscadela.
-Siga-me.
“Se esse cara quiser me estuprar, eu juro que faço ele se arrepender de ter nascido com bolas”, pensei.
Todas as pessoas que estavam no corredor me encaravam de olhos arregalados. Quase que eu gritei: “Nunca viram alguém xingar na vida?”, mas me contive. O corredor cinza da Brey School dava um ar de prisão à todos que estavam lá dentro, mas dentro de mim, aquilo era multiplicado por mil. Eu não queria estar ali. Queria voltar para Malibu, para a minha vida perfeita, amigos perfeitos, e tudo perfeito na Califórnia. Queria meus sapatos altos, meus bronzeamentos artificiais e, principalmente, queria meu iPhone de volta.
Seguimos pelo corredor até virarmos à direita para – pasme! – outro corredor cinzento.
Como você já deve ter percebido, corredores cinzentos eram difíceis de ver na Brey.
Entramos por uma porta de madeira clássica que tinha os escritos “Diretor Swickey” em dourado na frente.
“Ah, tá. Entendi qual é a do velhote”.
Nem esperei ele autorizar e me sentei na cadeira confortável em frente à grande mesa de madeira de macieira repleta de treco-trecos.
-Pois bem, Srta. Lewis. Eu estava no corredor na hora do incidente, então só quero que você se explique.
Fitei seus olhos cinzentos com sarcasmo e revirei os olhos.
-Fiquei com raiva do garoto e o xinguei, mas parece que isso foi demais para a sua estúpida escola santa. – observei minhas unhas, dando de ombros.
-Primeiramente, gostaria de agradecer sua sinceridade. Contudo, acho que a senhorita não está entendendo onde está. – como eu nada disse, ele continuou com seu sermãozinho de bosta. – Essa aqui é uma escola lendária e muito honrosa. Sua reputação é exemplar e temos orgulho de nossos alunos, que se formam não só com uma formação intelectual completa, mas com a disciplina e ética que devem ter.
Ele falou por mais uma meia hora – não, mentira, não foi tudo isso, mas ok – e tudo o que eu poderia pensar era que o sotaque dele me irritava.
Eu odiava sotaques britânicos. Odiava-os mais do que tudo. Era irritantemente irritante o jeito com o qual eles forçavam o “t” ou, simplesmente ignoravam o “r” das palavras.
-Entendeu, Srta. Lewis? – ele terminou. Despertei-me de meu sonho sobre sotaques britânicos irritantes e olhei para ele, acenando com a cabeça.
-Não quero mais que se repita. E, se isso se repetir, serei forçado a agir, de verdade.
Continuei acenando positivamente, deixando tudo o que tinha ouvido, sair pelo outro ouvido.
-Fiquei sabendo que você está se instalando no dormitório 813. Admiro sua coragem. Foi uma das únicas que aceitou o quarto.
Soltei uma gargalhada.
-Está falando da história da tal “bruxa” que foi enforcada lá? – ri mais ainda ao transformar meu pensamento em palavras. – Fala sério, você não acredita nisso, né?
-Você acredita? – ele rebateu, sorrindo sorrateiramente.
Soltei mais uma gargalhada. Britânicos e suas lendas estúpidas. Eu preferia estar morta.
-É claro que não! Superstições são um monte de bosta inventadas! O senhor não espera que eu fique com medo de meros fantasmas, não é? Ainda mais bruxas.
O velho soltou uma risada baixa e indicou a porta com os dedos.
- Já tem o horário das aulas, Lewis? – ele perguntou.
Levantei-me e deu uma piscadela, saindo pela porta ainda rindo.
Bruxas, vê se tem cabimento. Até parece que aquilo era real. Fala sério.
Andei pelo corredor – tenho certeza que você já sabe de que cor ele era – e procurei pelo meu armário. Não fiquei nada surpresa ao ver que o meu armário era – pasme, pela segunda vez – o de número 113. “Você só pode estar de brincadeira comigo”. Parece que, não bastava eu estar presa em uma cidade esquecida por Deus, eu ainda tinha que estar presa em uma cidade supersticiosa pra cacete.
Abri o armário rindo e vi duas meninas me observando com medo, na esquina do corredor.
-Búuu! – gritei para elas, ouvindo as meninas gritarem e saírem correndo. Soltei uma gargalhada e quando me virei para a porta do armário, vi que um menino de olhos muito verdes me observava.
- Acha que é legal assustar criancinhas? – a voz dele saiu perto demais do meu ouvido.
Fechei a porta do armário e me virei para vê-lo.
Uau. Não é que agora eu até estou gostando um pouco mais dessa escola?
O menino era, simplesmente, um arraso. Os cabelos dele eram cacheados e seus olhos, de um verde que eu nunca tinha visto. Ele estava vestindo uma camiseta preta, dando uma vista plena à seus braços cheios de tatuagens. Ele me dirigiu um sorriso torto e eu acho que derreti por dentro. A mão dele se estendeu, e eu a aceitei.
-Eu sou Harry. Harry Styles.
Sorri para ele, inclinando minha cabeça para o lado.
- Angeline. Angeline Lewis.
O sorriso dele se estendeu ao olhar minha mão e ver a pequena tatuagem que residia ali.
- Então? Você acha legal assustar criancinhas, Angeline? - ele perguntou, sua voz rouca me atingindo como uma melodia suave e erótica ao mesmo tempo. Aquilo, definitivamente, era música para os meus ouvidos.
- Acho.
Ele deu uma risada torta, ainda mais linda e provocativa, chegando bem perto.
- Gosta de causar medo nas pessoas?
Eu ergui uma sobrancelha, percebendo que ele estava perto demais. Tudo bem que ele era um gato, mas não era só chegar e levar, né?
Empurrei-o com o indicador, fazendo-o voltar para seu devido lugar.
- Talvez, mas isso não é da sua conta. - soltei minha mão da dele, achando-o folgado.
Ele deu a mesma risada, mais uma vez e pairou bem perto de mim.
- Que cruel.
Ouvimos passos no corredor e ele olhou para o lado.
- Foi legal te conhecer, Angeline. – ele deixou que os olhos dele focassem bem os meus e eu senti um arrepio estranho. – Bonita tatuagem.
E sumiu. Simplesmente, em um segundo, ele tinha sumido. Pisquei forte para ver se eu tinha visto direito. Mas ele tinha simplesmente sumido.
- Você está ficando louca, Angeline. – sussurrei para mim mesma, quando voltei minha atenção para meu armário. Pulei mais uma vez quando ouvi uma voz fina atrás de mim.
-Não, você não está. Mas vai ficar, se continuar a vê-lo.
Virei-me para dar de cara com uma menina de cabelos cor-de-rosa e olhos azuis como o céu. Vestia um suéter preto e tinha a saia muito curta. Os cabelos eram longos e cacheados, sendo irritantemente bonitos da cor exótica com que ela o pintara. Usava uma maquiagem pesada e um colar com um pingente que eu achei estranho. Era uma garota muito, muito bonita. E – pasme, pela terceira vez. Tudo bem, parei – usava um all star branco de cano alto.
- Pai amado! – dei um pulo para trás. – E posso saber quem você é?
Ela sorriu, estonteante com seus cabelos cor-de-rosa.
-Meu nome é Cassandra, mas você pode me chamar de Cassie. – ela jogou os cabelos para trás. – É como todos aqui me conhecem.
Era impressão minha ou o corredor ficara frio de repente? Apertei meus braços ao redor do corpo, sentindo arrepios ainda constantes, desde que o tal menino sumira.
-Tá, ok. Só uma perguntinha, você vai sumir também? Porque eu não tô muito afim de me considerar louca.
A menina riu. Seus dentes eram perfeitamente posicionados e seus lábios, pintados de vermelho, eram bonitos e recheados. Fala sério, eu que chamava Angeline não tinha os lábios cheios daquele jeito.
-Não, Angeline, eu não vou sumir. – ela piscou com os olhos azuis. – E eu você não está louca.
Suspirei, aliviada. Realmente não estava afim de encarar mais uma pessoa sumindo na minha frente. E ainda não estava 100% certa de que aquele menino, o tal de Harry, realmente estivera lá.
- Péra. – olhei para os olhos azuis da menina de novo. – Como você sabe o meu nome?
Cassie sorriu e tirou um papel da bolsa. Entregou-o a mim e antes que eu pudesse começar a ler, ela gritou.
- Você é a minha colega de quarto!
Ops. Então Cassie era a outra única menina que tinha aceitado ficar no quarto 813. E eu pensando que ia ficar com o quarto só pra mim. Merda.
- Legal, não é? – ela falou.
- Ah... Claro. – virei-me de costas, guardando os materiais.
- Nossa! – ela se aproximou do meu armário, assoviando. Os olhos arregalados em surpresa e admiração, os lábios abertos em um meio sorriso. Fechei os olhos, fazendo uma reza mentalmente para que ela não desse ênfase no negócio do número 13 e em como eu era louca de aceitar um número daqueles. Mas então lembrei-me de que ela era minha colega de quarto, a outra maluca que tinha aceitado ficar no quarto 13.
-Seu armário é o número 113! Que demais! - ela pulou, dando palminhas.
É, parece que não rezei o suficiente. Contei, mentalmente, até dez para ela tirar o celular de dentro do bolso e tirar uma foto, contudo, ela não o fez.
Esbocei um sorriso falso e fechei o armário.
-Vamos, vou te levar ao nosso dormitório, tenho certeza de que você vai amar e que nós vamos ser grandes amigas...
Respirei fundo e segui meu caminho, olhando para os lados procurando aqueles mesmos olhos verdes que não saíam da minha cabeça, não importava o que eu fizesse.
Autor(a): bellaredivo
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).