Fanfic: O Solteirão-ADAPTADA-Laliter | Tema: Laliter

O sol brilhava pelo painel de vidro frontal, banhando Mariana com um agradável calor. Um cenário perfeito para a vitrine tropical que ela arrumava. Amarrou o cordão do biquíni ao redor do manequim em destaque. Virou-se para a assistente. “Então, o que acha?”

Euge Suarez, a melhor amiga de Mariana desde a infância, riu. “Gostaria de ter um corpo assim.”

“Você é assim.” Mariana olhou para a figura de Euge e para os seios salientes.

Yorkshire Falls era uma cidade pequena, a quatro horas de Nova York, longe o suficiente para permanecer uma cidade pequena e perto o bastante para tornar a viagem à grande cidade proveitosa, caso se tivesse um bom motivo. Aparentemente, a plástica nos seios era razão suficiente para Euge.

“Você também poderia ser, nem precisa muita imaginação.” Euge apontou o manequim. “Espie a figura e se imagine como ela.” Contornou a forma curvilínea com as mãos. “Uma plástica nas mamas seria um começo, mas uma medida a mais no volume chamaria muito mais a atenção dos homens.”

Mariana respirou fundo. “Considerando o interesse que esta loja tem despertado, não preciso atrair mais atenção alguma.”

Quanto aos homens, ela não saíra com nenhum desde Nova York, seis meses atrás. E, apesar de às vezes se sentir sozinha, não queria realmente recomeçar a rotina de encontros, as longas refeições com silêncios contínuos e o obrigatório beijo de boa-noite, quando sempre tinha de segurar a mão errante do parceiro antes que a bolinação realmente começasse. Se bem que, se algum dia pretendesse preencher a vida com uma marido e filhos além da carreira, precisaria voltar aos encontros.

Mariana franziu o cenho. “Prefiro que um homem...”

“Se interesse pela sua mente em vez do rosto e corpo”, Euge papagueou, com as mãos na cintura.

Mariana assentiu. “É isso mesmo. Devolveria qualquer homem o mesmo respeito.” Sorriu. “Estou começando a parecer uma agulha de vitrola enroscada?”

“Talvez um pouco.”

“Diga-me uma coisa. Por que os homens que me atraem se interessam apenas pela ‘embalagem’ e não ficam muito tempo?”, perguntou Mariana.

“Porque você saiu com os homens errados? Ou talvez porque não lhes dê uma chance. Além disso, está provado que, no princípio, é a embalagem que atrai o homem. Um rapaz esperto, o rapaz certo, irá conhecê-la e então poderá despejar nele todo o brilhante poder do seu cérebro.”

“Os homens que primeiro se interessam pela aparência são muito superficiais.”

“Lá vai você de novo, chegando a conclusões generalizadas. Peço permissão para discordar”, Euge colocou as mãos na cintura e fez uma cara brava para Mariana. “É o pacote que provoca a primeira impressão”, insistiu.

Mariana refletiu como Euge podia fazer essa afirmação quando era prova viva de outra. Se Euge achava que um homem é atraído primeiro pela embalagem, para depois conhecer e apreciar a mulher pelo que ela é, por que fizera cirurgia plástica após conhecer o noivo? Mariana gostava demais da amiga para embaraçá-la com a pergunta.

“Veja esta loja, por exemplo.” Euge varreu o ar com a mão. “Você vende a embalagem e, portanto, é responsável por refrescar muitas relações e casamentos que se tornaram insípidos.”

“Isso não se pode negar.” Mariana recebera a mesma informação de muitas de suas freguesas.

Euge sorriu. “Metade das mulheres nesta cidade está contente, graças a você.”

“Não diria tanto.”

A amiga deu de ombros. “Como queira. O ponto é: a idéia que transmite é que a embalagem é importante, não é?”

“Prefiro pensar que induzo à idéia de que é bom ser autêntica.”

“Estamos nos repetindo, mas vamos parar por aqui. Já contei que David oferece pacotes? Olhos e queixos, plásticas de mamas e implantes.”

Mariana levantou os olhos. No que lhe dizia respeito, Euge era perfeita antes de fazer a cirurgia e não entendia o que havia levado a pensar que devia mudar. Era óbvio que a amiga não diria. Estava apenas anunciando os serviços do futuro marido.

“Alguém já disse que fala como um anúncio de um cirurgião plástico?”

Euge sorriu. “Naturalmente. Pretendo me casar com o homem. Por que não incrementar seus negócios e nossa conta corrente conjunta ao mesmo tempo?”

As palavras venais de Euge destoavam da doce e simples mulher que Mariana sabia que ela era. Mais uma sutil mudança em Euge que Mariana reparara desde o retorno. Assim como Mariana, Euge nascera e se criara em Yorkshire Falls, e, como Mariana um dia fizera, deixaria a cidade em breve.Mariana desejava que a amiga se deleitasse com as luzes e a cidade grande. Lembrava-se de sua própria experiência com sentimentos contraditórios.  A princípio gostara das ruas cheias, do ritmo acelerado, do brilho da luz e da vida intensa mesmo tarde da noite. Mas, quando a novidade se esvaiu, um vazio cresceu. Após morar e viver em uma comunidade intimamente entrelaçada como Yorkshire Falls, a solidão se tornou imensa. Algo com que Euge não teria de se preocupar, pois estava mudando-se para Nova York para ficar com o marido.

“Você sabe que nunca conseguirei substituí-la”, disse Mariana com melancolia. “Você é uma assistente perfeita.” Quando Mariana resolveu deixar o emprego de gerente de vendas em uma luxuosa butique de Nova York e abrir o Sótão da Mariana na cidade natal, não foi preciso mais que um telefonema para convencer Euge a abandonar o emprego de recepcionista em uma imobiliária e vir trabalhar para ela.

“Terei saudades de você também. Este emprego foi o mais gratificante que já tive.”

“Porque, finalmente, você está usando seus talentos.”

“Graças à sua visão. Este lugar é incrível.”

Mariana corou. Preocupara-se com as possibilidades de uma butique de luxo ter sucesso na pequena e interiorana cidade. Foi Euge quem a estimulou e apoiou emocionalmente durante a fase de pré-inauguração. A preocupação de Mariana não tinha fundamento. Graças à televisão, Internet e revistas, as mulheres de Yorkshire Falls estavam prontas para a moda. A loja foi um sucesso, mesmo que destoando das lojas antigas remanescentes.

“Falando em talento, gostei desta cor verde-água em lugar do preto.” Euge manuseou os cordões amarrados em volta do manequim.

“É a cor exata das águas das ilhas Figi. O mar Koro e o Pacífico Sul.” Mariana fechou os olhos e imaginou o cenário visto nas revistas que tinha no depósito do escritório.

Não que pensasse em viajar, mas o sonho dos lugares distantes sempre a atraiu. Quando jovem, fotos de locais paradisíacos alimentavam a esperança de que o pai errante voltasse e dividisse com ela o que imaginava ser uma vida cheia de glamour e brilho.

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