Fanfic: milonga... | Tema: portiñon

- Abril de 1990 - Segunda feira

Era cedo quando a Dulce bateu na minha porta, ela já estava bem, ainda
enfaixada, mas bem. Eu estava arrumada, não havia dormido a noite inteira.
Observei seus olhos, seu rosto lindo que me enchia de força e tentei tomar o
máximo de força que conseguia e lhe transmitir o mesmo tanto. Ela me deu um
selinho rápido e eu dei um pequeno sorriso. No caminho, ela me explicou que a
mãe dela havia chegado bem cedo, e que soube porque a enfermeira viu nós duas
nos beijando em algum lugar que ela não quis dizer, e que só não havia contado
antes porque não tinha causado problema até aquele momento. Nossos braços
estavam dados enquanto passávamos pelos corredores vazios da escola. Todo mundo
ainda dormia, meu coração parecia bater tão alto que eu tinha medo que ela o
escutasse e se arrependesse de ter me dado tanto valor, visse que eu era tão
fraca, e que eu queria sair correndo. Quando chegamos perto da sala em que a mãe
dela estava ela parou e olhou meu rosto. Apertei suas mãos e meus olhos, estes
ficaram cheios de lágrimas, mas eu apenas respirei fundo.

— Nós sabemos quem somos, isso que importa, certo? Ela
falou, e pela primeira vez eu a vi tão fraca como eu. Como se ela precisasse
acreditar no que estava me dizendo pra abrir aquela porta. Assenti e ela
respirou fundo, girou a maçaneta e a porta se abriu. A mãe dela me observou dos
pés a cabeça e meu corpo ficou arrepiado, meu coração gelado. O olhar dela não
era nada bom.

— Então você é a famosa, Anahí? Perguntou num tom
esnobe, seus óculos cor de rosa na ponta do nariz. Não se levantou para me
cumprimentar, e eu não consegui me mexer até ela.
—
Sim.. Murmurei e ela balançou os ombros, apontou duas cadeiras em sua
frente e sentamos. Agradeci em pensamento por ela ter feito aquilo, não iria
conseguir me manter em pé.

— Vocês vão me explicar
como isso começou? A Dulce balançou a cabeça e quando ia começar a falar,
a mãe a interrompeu. — Quero ouvir da querida, Anahí.
Seus olhos ficaram fixos nos meus e eu me sentia como se ela estivesse me
furando. Respirei fundo, e a respiração saiu um pouco cortada. Eu estava com
medo de fazer qualquer barulho.

— A gente se conheceu
aqui e.. Nos apaixonamos. Sua filha é muito boa comigo, e somos felizes
assim.. Ela deu um sorriso esnobe, e eu suspirei. —
Eu não quero ficar longe dela, minha mãe a adorou, sabe que somos norma--


— Sua mãe apoiou uma coisa dessas? Seu tom de
voz se tornou mais alto e eu balancei a cabeça positivamente. — Deve ser mulher da vida que nem você. Suas palavras
entraram cortando pelos meus ouvidos.

— Mãe, por
favor.. A Dulce tentou fazer com que a mulher se calasse, mas isso apenas
a deixou mais irritada...