Fanfic: milonga... | Tema: portiñon

 Maio de 1990 - Sábado.

Acordei bem cedo naquela manhã. Estava muito ansiosa, todas estávamos, deve ser
por isso que a semana acabou tão rápido. Eu tinha hora no salão com a Reeh, a
Dulce não queria deixar que eu a visse, pior que noiva.

Quando chegamos
lá, a Reeh tratou de cortar os cabelos até os ombros. A moça me sugeria mil
coisas e eu não aceitava, morria de dó dos meus cabelos. Acabei deixando que ela
fizesse baby liss, e pintei as unhas de um azul mais forte que o vestido. Eu nem
vi as horas passarem enquanto eu era maquiada. Eu adorava ir no salão, me sentia
linda, e isso era muito bom pra mim. Quando voltamos para o colégio, já era 18h,
no salão já soava uma música baixa, apenas para esquentar o ambiente. Eu e a
Reeh corremos para os nossos quartos para nos arrumar. A Reeh tinha pintado o
cabelo de preto, porque se vestiria de branca de neve. Achei ela extremamente
linda. Coloquei o vestidinho azul, e ela prendeu a asa nas minhas costas. Minha
sapatilha era branca, com um salto baixinho. Ela saiu correndo e pegou sua
câmera, tirou várias fotos da gente, e disse que revelaria depois.

Deviam ser 20h30 quando escutamos batidas na porta. A Reeh correu até ela para
abri-la e eu fiquei arrumando alguns enfeites que faltavam.

— Uaau.. Ela murmurou ao abrir a porta, sai correndo para
ver e quase morri ao ver a Dulce. Seu vestido era lindo, enorme, parecia uma
feiticeira de verdade.. Mas era incrivelmente mais sexy.

— Isso tudo é pra mim? Perguntei, ela se aproximou e selou
meus lábios, me marcando com o seu batom roxo.

— Não
sei se eu tô pra bondade hoje. Falou, soltei um riso alto e bati no seu
ombro. Saímos apressadas para a festa, queria muito ver as outras
meninas.

O salão estava maravilhoso, cheio de luzes coloridas, músicas
que eram sucesso. Meninas felizes. Nós estávamos felizes.

Ficamos
sentadas em uma roda com outras garotas, estávamos todas comendo, ouvindo
música. Como se não houvesse nenhuma rivalidade entre nós. Me senti bem. A noite
ia passando e mal percebíamos. Logo o som foi trocado, e uma música bem
romântica e linda começou a soar. As meninas foram dançar umas com as outras sem
se importar e a Dulce me observou alguns segundos.

—
Vem comigo, vai? Chamou, eu fiquei mexendo no meu vestido.

— Não sei se posso, moça. Meu pai disse que não posso dançar
com desconhecidos. Ela riu, e eu observei seu rosto
sorrindo.

— Posso te contar um segredo? Falou,
eu assenti. — Seu pai não tá vendo. Piscou, eu ri e
dei minha mão para que ela segurasse. Fomos caminhando até o meio da pista e ela
me puxou com carinho até que nossos corpos se encontrassem. Apoiei uma das mãos
no seu ombro, e a dela segurou minha cintura. Fiquei olhando seus olhos enquanto
nossos corpos balançavam devagarinho ao som daquela canção. De repente, eu
sentia como se não houvesse mais nada ali além de nossos corpos juntinhos.
Encaixei meu rosto em seu pescoço e fechei os olhos, fiquei sentindo seu
perfume, seus braços envolveram minhas costas e eu abracei sua cintura.


— Sabia que não existe mais nada que eu ame tanto na
vida? Falei em seu ouvido, pude sentir seu coração bater mais forte e
sorri maravilhada por isso.

— Não me faça chorar,
vai.. Comentou, rimos baixinho e continuamos apertadinhas em uma dança
que já havia virado abraço. Fomos interrompidas por uma menina que cutucava meu
ombro. Observei seu rosto e ela sorriu de leve.

—
Dulce, estão chamando você na diretoria. Comentou, fiz um pequeno bico. A
Dulce beijou minha bochecha e saiu correndo para saber o que era.

Eu estava muito calma até ver a Dulce passar por aquela porta e vir em minha
direção. Seus olhos pareciam fogo e ela me segurou com força pela mão. Me puxou
na direção do jardim. De repente tudo fez sentido.. Era o fim.

Paramos em
um lugar do jardim onde não havia som. Ela soltou minha mão e eu parei na frente
do seu rosto. Tentei me manter controlada, eu ainda não sabia o que era. Não
podia sofrer antes do tempo.

— O que aconteceu?
Perguntei com a voz falhada. Ela me observou e suspirou.

— Minha mãe.. Veio me buscar.. Apertou os olhos e eu senti
meu coração parar. Respirei fundo diversas vezes, ainda queria me negar a
acreditar.

— Você não vai né? Tentei pensar
que havia solução, mesmo que a verdade estivesse exposta na sua cara. Ela olhou
a lua cheia e mordeu o lábio inferior, lágrimas percorreram seu rosto e eu ainda
tentava segurar o desespero. — Você não vai né?
Perguntei mais uma vez, ainda esperava uma solução. Ela me olhou nos
olhos, os seus pareciam torneiras que nunca parariam de molhar onde estivessem.
Assentiu devagarinho e eu balancei a cabeça negativamente