Fanfic: Jogando Com o Amor - AyD | Tema: portiñon

Dulce sempre achou o pai um tanto nervoso e fraco demais. Fora dos tribunais,
ele sempre tinha dificuldade de se expressar. Parecia um adolescente falando e
cheio de trejeitos sem graça.
Naquela noite ele contou coisas que Dulce nem
desconfiava. Sabia que o casamento dos pais não ia muito bem, mas nunca pensou
que Paulo tivesse outra família. Ou pior, tivesse se negado a assumir
inicialmente sua outra filha.
A jogadora de vôlei não sentiu raiva do homem
parado ali na sua frente, esperando uma reação agressiva por parte dos filhos.
Sentia pena. Pena por ele ter sido tão covarde com uma mulher maravilhosa feito
sua mãe. E mais ainda por não querer responder as conseqüências de seus atos.

Hugo adorava a mãe. Mas achava Carmem rigorosa demais. Para ele, aquela
traição do pai era algo até explicável, já que a mãe passava o dia todo enfiada
naquela droga de livraria. Paulo era homem, tinha suas necessidades e se a
mulher não estava lá para saciá-lo, natural que ele procurasse outra na
rua.
Dulce sorriu ao perceber que todos aguardavam a sua opinião. Hugo ficar
do lado de seu pai, era algo mais que esperado para Carmem. Sua relação com o
filho nunca fora muito boa.

Você não vai dizer nada, Dulce? – perguntou ela a filha.

-O que eu tenho
pra dizer, mãe? – falou Dulce se levantando e encarando o pai com desdém – Eu
não tenho raiva de você. Nem mágoa. Só acabei de ter certeza que você é um
canalha de marca maior. Coisa que eu já achava há tempos!

-Não vou
permitir que você fale assim comigo, menina! – disse Paulo se irritando – Ainda
sou seu pai! E vai ter que me respeitar!

-Você mesmo não se deu ao
respeito, Paulo! – disse a jogadora de vôlei dando ênfase à última palavra. Toda
a raiva acumulada que tivera durante o dia pareceu aflorar em Dulce. Ela sabia
que falava palavras duras para o pai, mas não era ele o motivo daquela mágoa
toda. – Então não venha bancar o pai agora comigo! Eu não sou tão idiota e
machista quanto o Hugo, para aceitar assim as suas canalhices e te tratar da
mesma forma! Você traiu a minha mãe! Teve uma filha e ainda por cima escondeu
isso da gente por dois anos! Que espécie de homem é essa? Eu sei exatamente qual
é! Covarde!

Carmem se interpôs entre Paulo e a filha, para impedir que
ele agredisse Dulce.

-Melhor você subir, filha! – disse ela – Quando
vocês dois estiverem de cabeça fria, vocês conversam!

-Eu não tenho mais
nada para conversar com essa menina desaforada! – Paulo disse com raiva – Se
você acha que tem um pai covarde, talvez prefira ficar sem nenhum,
Dulce!

Sem alterar a voz e mais calma do que nunca a atacante sorriu.


-Acho que essa foi a melhor idéia que você já teve essa noite!

Emburrado e irritado, Paulo saiu da casa, seguido de Hugo.

“-Melhor
acalmar o velho e impedir que ele dirija assim!” - pensou o nadador.


Carmem observou a filha subir para o quarto. Imaginara que Dulce a
apoiaria, mas nunca que ela seria fria daquela forma com o pai. O relacionamento
dos dois sempre fora bom até ali. Havia alguma coisa a mais chateando e
preocupando Dulce.
Talvez por isso não se surpreendeu quando a filha, já
tarde da noite, bateu na porta de seu quarto.

-Posso dormir com você,
mãe? – perguntou a garota da porta, com o lençol nas mãos.

Carmem
sorriu.

-Claro que pode, meu amor. Deita aqui comigo, vai.

Pela
primeira vez no dia, Dulce se sentiu confortável e protegida. O abraço carinhoso
da mãe, as carícias dela em seus cabelos, a fizeram relaxar.

-O que está
havendo, filha? – Carmem perguntou entre um cafuné e outro, beijando o rosto de
Dulce – Você foi muito grossa hoje com seu pai. E nós sabemos que você não é
assim.

-Só alguns problemas, mãe. Nada demais.

-Certeza?


-Uhum!

-Quando quiser conversar. Não esqueça que eu estou
aqui.

Dulce sorriu e beijou delicadamente o rosto da mãe.

-Eu sei,
Dona Carmem. Mas esses problemas eu que tenho que resolver.

-Tá certo.
Depois peça desculpas a seu pai. Ele ficou mesmo chateado.

-Depois eu
peço sim. Pode deixar.

Mesmo sentindo que a filha não lhe dissera tudo,
Carmem não insistiu. Sabia que Dulce estava crescida e tinha mesmo que saber
resolver seus problemas sozinha. Era a ordem natural das coisas.
Sem mais
papos e muito carinho, as duas adormeceram juntinhas, mergulhadas em toda a
tranqüilidade que um abraço materno pode conter.