GENTE PRESTA A ATENÇÃO NAS DATAS E NOS HORARIOS !!!
Capítulo 1 – Da próxima vez eu acerto mais embaixo.
Segunda-feira, dia 2 de Novembro, 10:57, intervalo do Elite Way.
Guys:
- Jennifer? –Afonso perguntou, colocando metade do cachorro-quente na boca. Continuou, com a maionese escapando por entre seus dentes. – Ela é gostosa e não é nada parecida com uma Miss Inteligência. Ontem na aula de geografia ela disse que o Canadá ficava na África do Sul e que os Judeus eram uma raça de chipanzés extinta. Cai fácil na sua conversa.
- Não… – suspirei, cansado de tentar achar a garota certa. Porque a garota certa para o que eu precisava parecia não existir. Ou talvez existisse, mas em algum universo paralelo onde macacos fossem os seres superiores e os humanos não passassem de meros escravos.
Espera aí. Isso é um filme, não é?
- Joanne? –Derick sugeriu, apontando com a cabeça para a morena, que jogava vôlei na quadra com as amigas. – Ela sabe jogar vôlei.
- E o que diabos isso tem a ver com o que eu estou procurando, Derick? – perguntei, curioso.
- Sei lá, eu só queria parecer participativo… – ele respondeu, dando de ombros.
- Não… Eu preciso de alguém que ninguém conheça! Alguém que seja boa em convencer as pessoas… Alguém como…
- Dulce Maria? – Christian perguntou, distraído, olhando meio vesgo para o horizonte. Segui seu olhar, e percebi que ele observava uma garota esquisita; ela andava olhando para baixo, com uns cinco livros enfiados embaixo do braço, e o cabelo preso em um rabo de cavalo alto, com fios soltos por toda a volta da cabeça. Ela parecia meio alheia ao resto do mundo, o que era um pouco engraçado.
- Dulce Maria? – Derick perguntou, estranhando. Eu sabia que ele tinha estranhado a sugestão, porque sua sobrancelha quase tocou o começo da testa. Era uma coisa bizarra de ser ver, mas com o tempo você se acostumava. – O que Dulce Maria poderia fazer por nós? Pelo Ucker, na verdade… Ela é só uma punk esquisita!
Olhei direito para ela. Usava um blusão masculino da Hurley preto por cima da camisa branca do uniforme e a calça de moletom azul escura com um “M” vermelho estampado. A calça era um pouco larga demais pro padrão tô-usando-apertado-assim-porque-quero-que-você-olhe-pra-minha-bunda das alunas, o que era uma combinação engraçada para uma garota. Principalmente uma garota do Elite Way. Seu cabelo caía nos olhos e ela andava apressada, com passos firmes, enterrando suas Vans preto Old School na terra. A música alta do fone em seu ouvido podia ser escutada à metros de distância por um velho surdo, e não foi difícil reconhecer o som das duas únicas notas de “I Wanna Be Sedated”. Sua mochilha preta estampada com arames farpados batia em suas costas, e os vários bottons e chaveiros brilhavam à luz solar.
- É, Chris, no que ela pode me ajudar? – perguntei, interessado, me ajeitando no banco de concreto.
Como se isso fosse possível.
- Líder do Grêmio Estudantil, capitã do time de Handball, está sempre nas listas de melhor aluna da sua sala, ano e escola. – ele foi listando, como sempre fazia. Chris era filho único e mimadinho, então como bom organizadinho e veadinho que era sua maior diversão eram prestar atenção nos outros e fazer listas. E, claro, tocar com a gente na Phoenix. Mas, mesmo sendo mimado, era um cara legal. E pegava mais garotas que eu, Derick e Poncho juntos. – Além do mais, você viu a cara dela? Ela dá medo… Se ela não convencer com palavras, convence com um rosnado.
Olhei de novo para onde ela estava havia cinco segundos mas ela não estava mais lá.
- Algum de vocês a conhece? – perguntei, me levantando.
- Não. – eles disseram em uníssono.
- Vocês não prestam pra nada, eim!? – disse, virando os olhos. Andei decidido até a estradinha de terra que dava ao outro pátio – o pátio dos nerds, losers e afins – quando Poncho me chamou de volta.
- Você não vale nada mas eu gosto de você. – gritou, piscando o olho direito pra mim e mordendo o lábio inferior de um jeito provocativo. Pelo menos essa era a intenção, porque pra mim pareceu um porco babando no próprio beiço.
- Aaaah, tá cantando música de mulherzinha, tá? Tá piscando que nem mulherzinha, tá? – perguntei, fazendo todos rirem. Joguei o resto da minha esfiha de carne em Poncho, que jogou o papel do seu cachorro quente em Chris, que jogou o celular – falei que ele era rico e mimado – em Derick, que jogou a primeira coisa que viu na frente em mim. E a primeira coisa que estava na sua frente era Poncho.
Era fácil planejar alguma coisa com eles por perto. Porque, no final das contas, eu não planejava porra nenhuma…
Mas eu precisava mesmo da ajuda de alguém, e, de algum jeito, aquela garota chamou minha atenção… Qual era mesmo o nome dela? Kelly? Amanda? Mary? Ah, sim, Dulce! Ela era uma daquelas garotas que só de olhar você sabe, você percebe, que ela convence qualquer um. E era de uma pessoa assim que eu estava precisando. Então, consequentemente, eu precisava dela, senão adeus Phoenix, adeus escola pública adeus guys e adeus sonhos de uma noite de verão.
E, se para não perder tudo o que eu mais gostava no mundo teria que chavecar uma nerd punk, eu o faria.