Fanfic: Voltando Para Casa - AyA (Finalizada) | Tema: PonchoyAnahí

Anahí ainda estava com os cabelos molhados do banho quando ouviu uma batida à porta.  Fez uma pausa enquanto digitava uma mensagem de texto para enviar a Justin, ex-astro pop e antigo cliente, a fim de saber se poderia vesti-lo para uma concorrida festa anual.

- Está aberta, entre.

A mãe se adiantou pelo quarto com duas canecas de café com motivos natalinos, naturalmente, e o aroma de bebida recém-preparada. Impregnou o ar.

- Obrigada. – ela se virou para a cômoda tomada por sua bolsa, joias e vitaminas. Tomou três cápsulas de suplementos e, em seguida, abriu a embalagem de uma barra de proteína. – Hora do café da manhã. Saúde!

Enquanto brindavam com as canecas, a mãe observou os frascos com estranheza.

- Que tal uns ovos mexidos com torrada?

- Obrigada, mas tenho tudo o que preciso aqui mesmo.

- Tenho uma ótima salada de frutas na geladeira com maçãs vermelhas e verdes. As cores do Natal! E deve haver umas quatro caixas de cereal matinal com alto teor de fibras do seu pai na cozinha. Não quero me intrometer, mas notei que você se alimenta tão mal, filha!

- Estou bem assim, não se preocupe. – assegurou Anahí, mas abraçou a mãe, grata por seu carinho. – Sabe de uma coisa? Eu amo você. E estou feliz por estar em casa.

- Oh, querida, eu também amo você. – Marichelo a abraçou mais uma vez, sentou-se na cama, sorveu um gole de café e a estudou com um olhar sério. – Agora, conte-me o que há de errado, por que você não apareceu para nos visitar apenas pela diversão.

Às quatro e meia, Anahí estava cercada por uma pilha de roupas descartadas que havia retirado do armário do quarto de hospedes com a permissão da mãe. Sentada junto à antiga maquina de costura, enxugava o suor da testa. Suor de verdade. E ali em Michigan, onde fazia mais frio do que no dia mais frio de Los Angeles!

Havia costurado muito quando se formara na faculdade de Moda como estilista, pois adorava fabricar as próprias criações. Agora que trabalhava exclusivamente com consultoria de moda, não costurava mais... Com exceção do ultimo vestido de Belinda, claro.

- Você parece Marichelo nos velhos tempos.

Ao som da voz do pai Anahí virou a cabeça na direção da porta e sorriu.

- Sua mãe também costumava ficar horas nessa maquina... – Henrique Portillo abriu caminho pelas peças de roupas que ela espalhara pelo chão, depois de lhes soltar as costuras a fim de reutilizar os tecidos em sua nova criação. – Ainda mais se algo a estava incomodando. – sentou-se na beirada da cama e dirigiu à filha um olhar significativo.

Aos sessenta e oito anos ainda era um homem atraente, com uma postura que indicava integridade e um par de mãos capazes de consertar aparelhos eletrônicos enguiçados com tanta facilidade quanto preparar panquecas caseiras, sua marca registrada. Aficionado por tecnologia, porém aposentado, seu passatempo era recolher computadores e outros aparelhos eletrônicos que a comunidade não queria mais, consertá-los e, então, doá-los como presentes de Natal para crianças e adolescentes carentes de Kismet e arredores.

Continuou a observá-la com ar preocupado.

- Algo está incomodando você, filha. Sei que está acontecendo alguma coisa, mas sabe que sou teimoso o bastante para não parar de apoquentá-la até que me conte o que é.

Anahí sustentou o olhar do pai, sabendo que ele falava a sério. Naquela manhã, conseguira contornar as perguntas da mãe sobre seu retorno a Kismet descrevendo sua necessidade de produzir um casaco de inverno apropriado para ir cortar o pinheiro de Natal com Poncho e seu amigo Christopher.

- Por exemplo, por que está evitando o Natal? – persistiu Henrique.

Era verdade. Vinha evitando tudo relacionado a Natal, como se ainda precisasse manter o boicote que costumava fazer por causa de Belinda, que só permitia que se tomasse conhecimento da festa logo após seu aniversário. A diferença era que agora ela não sentia imbuída do menor espírito natalino depois de tudo que acontecera.

- Como posso evitar o Natal aqui? – deu ombros, apontando os vários enfeites e objetos com motivos natalinos em seu antigo quarto. – Esta casa até parece o quartel-general do Papai Noel.

- Sua mãe exagera um pouco, concordo. Mas ela ficou tão empolgada com o fato de você voltar para casa para uma visita... E eu também. Quando recebemos seu telefonema, passamos a tarde inteira comprando enfeites.

Envergonhada, Anahí baixou a cabeça e fingiu se concentrar no tecido sob a agulha da máquina.

- Alguma coisa aconteceu em Los Angeles, querida? – insistiu o pai.

- O que poderia ter acontecido? A vida é ótima.

Ou voltaria a ser, assim que ela a colocasse de volta no eixo.

- Sabe que pode contar conosco sobre qualquer coisa.

- Eu sei. Obrigado. – tomada por uma grande onda de afeto pelo pai, Anahí teve de se esforçar para conter as lágrimas. – Agora, tenho de terminar este casaco ou acabarei congelando esta noite.

- Sim, sua mãe me contou que vai cortar um pinheiro com Poncho Herrera. – Henrique se levantou com um suspiro. – É um bom homem. Ele tinha tudo na FNL... Mas não hesitou em deixar o sucesso para trás para voltar para casa e dar apoio à irmã.

- Está falando de Dulce? – ela franziu a testa.

- Ela mesma. Sempre foi uma boa garota... Boa demais para acabar grávida, abandonada e de coração partido, tudo na mesma semana. Mas foi o que aconteceu. 

Muito tempo depois de o pai ter saído do quarto, Anahí ainda pensava no que tinha acabado de ouvir. Então Poncho abrira mão do estrelato na FNL pelo bem da irmã.