Fanfic: Voltando Para Casa - AyA (Finalizada) | Tema: PonchoyAnahí

Em seu quarto na casa dos pais, Anahí rabiscava em sua antiga prancheta de desenho, que havia encontrado ao acaso no fundo do guarda-roupa. Apesar do frio, desenhava vestidos esvoaçantes. E não conseguia tirar uma imagem tentadora de Poncho despindo cada um deles de seu corpo.

- Gostou de Poncho Herrera, não? Ele é um amor de pessoa, sem dúvida.

Ao som da voz da mãe, Anahí virou-se na direção da porta aberta. Marichelo segurava uma pequena bandeja com uma caneca e um prato de biscoitos natalinos recém-assados.

- Vocês dois demonstraram uma química incrível naquele jogo de cartas.  – ela prosseguiu num tom casual. – Quase tão boa quanto a minha e de seu pai... O que é isso? Coleção nova?

Apanhada em flagrante, Anahí teve de se esforçar para não arrancar a folha do grande bloco e amassá-la. Mas era tarde demais.

- Sou consultora de moda para celebridades agora, lembra-se? Não sou mais estilista. Não faço mais coleções.

Marichelo pousou a bandeja no criado-mudo e se curvou para examinar os desenhos.

- Estilista é o que você realmente é em seu coração.

Anahí sacudiu a cabeça. Apesar dos prêmios na faculdade de Moda, dos sonhos de criar roupas para as pessoas, e de suas esperanças juvenis de se expressar com tecidos e brilhar na alta-costura, no momento suas ideias andavam frágeis demais para serem traduzidos.

- Você tem talento, querida. Tem talento demais para se sentir feliz como uma compradora de luxo para aquelas estrelas mimadas para as quais trabalha.

- Com quem trabalho, mamãe. Sou parceira delas, não uma funcionaria.

A mãe se manteve em silêncio, com uma expressão estranha no rosto.

- De qualquer maneira, estou de férias no momento, certo? – Anahí guardou os desenhos no armário. – Acho que vou até o Clube do Alce para ajudar no comitê de decoração que promoverá a parada de Natal. Quer ir comigo?

- Um momento entre mãe e filha? – um sorriso amplo iluminou rosto de Marichelo. – Pensei que nunca mais iria me pedir isso!

Entrar no Clube do Alce de Kismet era como voltar no tempo. Abrigado por uma imensa construção de madeira a poucas quadras da marina, o lugar ainda evocava antigas lembranças de todos os tipos de reuniões e eventos comunitários.

No quadro de avisos, havia uma lista de incumbências relacionadas à parada de Natal e à inauguração da árvore oficial. No centro, entre os voluntários que se reuniam ali diariamente, havia bancadas repletas de materiais destinados à decoração dos carros alegóricos, além de muitas fantasias.

O casal responsável avistou Anahí e sua mãe. Ambos os lideres deixaram o que estavam fazendo e rumaram na direção delas.

- Olá, Marichelo! É tão bom ver você! – a mulher chegou primeiro, sorridente. – Ainda bem que podemos contar com seu talento no comitê. Ainda faz trabalhos artesanais como passatempo?

Marichelo concordou com um gesto de cabeça, enveredando por uma conversa animada com a velha amiga. Antes que Anahí pudesse ir além de ler o nome “Ruth Herrera” no crachá feito a mão, o líder chegou até ela.

- Olá. – exclamou, apertando sua mão de um jeito rápido e forte que quase a atordoou. – Meu nome é Armando. Deve estar querendo trabalhar como voluntária... Excelente!

Surpresa com a atitude autoritária, Anahí não respondeu a principio. Ele parecia familiar e muito charmoso, porém não soube dizer de onde o conhecia. Sorriso largo, olhos verdes, cabelos grisalhos, maneira firme de segurar a prancheta...

- Não a irrite, Armando. – Ruth Herrera revirou os olhos. – Esta é Anahí Portillo. Não se recorda dela? Os Portillo foram nossos vizinhos durante trinta anos!

- Eu sei, Ruth. Não sou nenhum idiota. Além do mais, consigo enxergar muito bem uma garota bonita.

- Aposto que sim!

- Especialmente uma consultora de moda de fama internacional!

Ruth o cutucou com o cotovelo, e o casal ainda trocou farpas por mais alguns momentos, enquanto Anahí se dava conta de que estava frente a frente com os pais de Poncho. Lamentou o fato de duas pessoas tão simpáticas estarem com o casamento em risco. Observando-os, teve quase certeza de que queriam se reconciliar apesar da discussão. Entendia as pessoas. Era um dos motivos pelos quais era boa em seu trabalho.

Lançando um ultimo olhar de desdém ao marido, Ruth conduziu Anahí e Marichelo à mesa de guloseimas natalinas e café, passando pelos grupos de voluntários que desembaraçavam cordões de lâmpadas, pintavam faixas e cartazes, e consertavam alguns dos que pareciam ser os enfeites oficiais de Kismet. Marichelo recebeu vários sorrisos, e muitos sorriram para Anahí também, acenando quando a reconheciam. O clima acolhedor a envolveu e ela se sentiu feliz por estar compartilhando aquela experiência com a mãe.

Enquanto trabalhava, ora com o grupo de voluntários, ora com outro, ajudando no que tinha mais habilidade, Anahí continuou observando os Herrera, que, entre as várias tarefas, paravam a cada pouco para implicar um com o outro. Teve cada vez convicção de que o casal queria reatar, especialmente pela maneira como estavam vestidos. Ruth usava um terninho de lã e saltos altos nada práticos para um dia de atividades como aquele. Armando vestia jeans e um suéter justo que atestava sua boa forma.

O único problema, ponderou, era que se tratava de amadores nesse quesito. Alguém precisava ajudá-los a transmitir a mensagem certa através das roupas para que alcançassem a reconciliação. E aquela pessoa seria ela.

Tomada por aquela súbita inspiração, Anahí decidiu que tinha uma missão importante: uma missão de Natal.

Quando notou que Armando e Ruth se provocavam de novo, respirou fundo e abriu um sorriso mais contagiante antes de atravessar o imenso salão.