Fanfic: Voltando Para Casa - AyA (Finalizada) | Tema: PonchoyAnahí

Nevava no dia da apresentação de Natal de Alice. Grandes flocos de neve flutuavam do céu para cobrir as árvores, estabelecimentos e casas de Kismet, criando uma paisagem de Natal maravilhosa, e um milhão de vezes mais autentica do que qualquer coisa que Anahí já criara para Belinda. Certas coisas simplesmente não podiam ser artificiais. Assim como o amor verdadeiro.

Por sorte, o mau tempo não afugentou a plateia para a peça de fim de ano da turma de educação infantil naquele inicio de noite. Quando Anahí chegou, tremendo de frio, mas para lá de entusiasmada, o corredor que levava ao ginásio da escola estava apinhado.

Desenrolando o cachecol, esticou o pescoço, tentando avistar Poncho em sua fantasia de Papai Noel. Porém viu apenas amigos e vizinhos, todos ansiosos para assistir ao espetáculo de Natal que os coleguinhas de classe de Alice haviam planejado. Evidentemente, as ligações eram fortes em Kismet. Ninguém queria perder um evento anual.

Anahí avistou Dulce junto à entrada do ginásio, atrás da qual se podiam ver inúmeras fileiras de cadeiras dobráveis além das arquibancadas. As pessoas seguiam para ocupar seus lugares, passando por ela com sorrisos e comentários.

Ao se ver sozinha, a moça se abanou com o programa e olhou com ar expectante a multidão barulhenta.

- Olá! Desculpe o atraso. – Anahí abraçou a amiga. – Parece preocupada. Alice está muito nervosa?

- Não, nem um pouco. Ela ensaiou bastante seu papel com Christopher e está perfeita. Eu é que não consigo me controlar este nervosismo de mãe superprotetora.

Anahí a seguiu até o interior do ginásio ouvindo a música de Natal tocada sem tanta afinação pela banda de alunos, em meio a risos, expectativa e um batalhão de pais com câmeras a postos. Sorriu ao pensar que aquele era o evento menos sofisticado a que já comparecera na vida.

Mas estava adorando cada minuto. Adorou as crianças acenando do palco em suas fantasias coloridas. Adorou a peça, apresentada com certa hesitação pelos pequenos, incluindo a sorridente Alice. Adorou Poncho, rindo como o Papai Noel ao lado do duende gigante de sua fábrica de brinquedos, Christopher.

Ninguém era perfeito, claro. Houve algum esquecimento de falas, algum improviso... Mas ninguém se importou. Todos estavam ali apenas para aplaudir as pessoas amadas. E foi o que Anahí fez, com todo o entusiasmo.

Quando, enfim, Poncho conseguiu chegar até o canto do ginásio onde ela estava sentada, ainda encarnando o Papai Noel para as crianças e pais que queriam cumprimenta-lo e tirar fotos, ela sentiu-se tomada de coragem de fazer o que deveria ter feito logo de inicio.

- Você foi incrível – elogiou quando ele sentou-se a seu lado e, olhando ao redor com cuidado, tirou a barriga falsa. – Há algo que tenho que de dizer a você, Poncho... Algo sobre mim.

Os olhos verdes brilharam acima da barba branca.

- Você tem um fetiche pelo Papai Noel... Eu sabia!

- Não é nada disso. – ela riu, embora ele estivesse irresistível no papel. – É algo que venho querendo dizer há algum tempo. – uma súbita onda de pânico a invadiu e Anahí teve de se esforçar para vencê-la. – É sobre a minha vida em Los Angeles. Ninguém em Kismet sabe sobre isso, mas...

- Sabe que pode me contar qualquer coisa. – Poncho pegou sua mão, parecendo preocupado.

Era o que o pai e mãe haviam dito várias vezes, porém ela ainda não tinha conseguindo se abrir com nenhum dos dois. Depois que fizera amor com Poncho, havia estado prestes a contar sobre seu passado recente em Los Angeles, mas tinha ficado com medo. O que ele pensaria dela? Sem o seu trabalho fabuloso e sua vida deslumbrante, era apenas mais uma garota, sem nada para torna-la especial. Mas talvez Poncho entendesse, afinal.

- Eu tinha um importante trabalho como personal stylist em Los Angeles. Trabalhava com todos os tipos de celebridades. Tinha uma casa maravilhosa e um carro de luxo, e choviam convites para os melhores eventos. Nada abria na cidade se eu não estivesse lá para o tapete vermelho. Pergunte a quem quiser.

- Eu sei – Poncho assentiu. – Christopher me contou. Ele já havia pesquisado sobre você no Google. Desde que se tornou famosa em Hollywood, virou uma lenda aqui... Mas ou menos como eu. – afagou as costas dela, tentando aliviar sua ansiedade.

Anahí respirou fundo, rezando para que os bons momentos entre ambos não terminassem, uma vez que Poncho se desse conta de seu gigantesco fracasso.

- Pois bem, agora não sou mais ninguém. A maioria dos meus clientes me despediu e os que não o fizeram vêm evitando meus telefonemas há semanas.

Pronto. Tinha contado. Observou Poncho, ressabiada, mas ele não parecia chocado.

- Agora, ninguém quer me contratar, nem participar de uma reunião comigo. As pessoas nem sequer retornam minhas ligações. E tudo por causa de uma atitude intempestiva que tive quando apanhei minha maior cliente, a estrela pop Belinda, na cama com o meu namorado.

Mordeu o lábio, embaraçada. Adiara tanto aquele momento. Não era fácil confessar que havia sido traída e estava desempregada.

Poncho apertou os lábios numa expressão ameaçadora que não combinava nem um pouco com o traje de Papai Noel.

- Foi o tal Aaron?

- Sim. Fiquei tão arrasada. Essa é a minha única desculpa. Era óbvio que não estava pensando com clareza quando quis me vingar de ambos. Eles foram debochados, cruéis comigo... Foi por isso que agi daquela forma.

Poncho inclinou a cabeça com interesse, quase com admiração. Não parecia nem um pouco horrorizado com o fato de ela ter perpetrado uma pequena vingança. Seria possível que ele não a julgasse por sua derrota?

Encorajada, Anahí continuou:

- Vesti Belinda e Aaron com roupas horríveis para a superfesta de aniversário dela. – contou, descrevendo os trajes da dupla.

- Não me parece tão mau. – Poncho deu de ombros.

- Pois foi um escândalo. Belinda foi execrada pela mídia e, é claro, a coisa sobrou para mim. Estou arruinada em Los Angeles. Cometi um erro terrível e estou tentando repará-lo, mas não sei se vou conseguir. – respirando fundo mais uma vez, ela o fitou nos olhos, pronta para admitir a pior parte: - Provavelmente eu serei uma mulher comum pelo resto da vida.

Poncho a tocou na face, sustentando seu olhar por um longo tempo.