Fanfic: Voltando Para Casa - AyA (Finalizada) | Tema: PonchoyAnahí

Ironicamente, essa era uma das qualidades que Anahí admirava nele. Poncho tinha integridade, algo que parecia faltar em muita gente que ela conhecia. Como pudera ficar furiosa com ele por ele ter exercido tal característica?

Pensou em todas as coisas que ele havia feito ali: sua missão de resgate a Sra. Bender, sua participação ativa no comitê de decoração de Glenrosen, a contratação de amigos e vizinhos para a loja, a interminável ajuda aos conhecidos, a paixão pela sobrinha...

Poncho era, de fato, o sujeito a quem se recorrer em Kismet.

- Poncho deve ter sofrido ao perceber que não estava conseguindo abrir mão de você – concluiu Ruth. – Mas, no fim, sua consciência não permitiu que ele fosse adiante com seus planos. Ele ficou num beco sem saída.

Anahí engoliu em seco. Eu digo que estou perdido, ele havia dito quando ela havia anunciado que talvez ficasse em Kismet por algum tempo. Tudo fazia sentido agora... A não ser por um importante detalhe.

- Isso daria uma bela história se Poncho me amasse. Como não é o caso, eu diria que terminou aqui. Venci nossa aposta.

- O quê? – Ruth soltou o canudinho do suco.

Anahí rasgou a passagem de ônibus de Greyhound.

- Agora vai ter de me levar de carro ao aeroporto. Vou dar um telefonema, ir ao toalete...

- Ei, isso não é justo!

- Por quê? Eu ouvi o que tinha a me dizer. Era o que eu precisava para vencer.

Em pânico, Ruth lançou um olhar ao celular, cujo toque indicava a chegada de uma mensagem de texto.

- Nossa comida nem sequer chegou.

- Eu sei, não há pressa. Também não pretendo viajar até Grand Rapids sem sustento. – Anahí sorriu, tristonha.

Nesse meio tempo, planejava ligar para Maite, implorar a ela um emprego comum no tal seriado ou em outro programa, e recomeçar. Da maneira certa daquela vez. Sem esnobismo, busca pela fama ou deslumbramento.

- Volto num minuto. – avistando o toalete, pegou a bolsa.

- Espere! – exclamou Ruth. – Poncho ama você, Anahí. De verdade.

Ela sacudiu a cabeça.

- O único que pode me dizer isso é Poncho. E ele não está aqui, está?

Ruth mordeu o lábio, tornando a olhar para o celular. Com ar desolado, Anahí se levantou. Graças à explicação de Ruth, ao menos entendia as coisas melhor agora e sabia que não tinha sido completamente ingênua. A situação com Poncho havia sido complicada. E agora, ela estava fugindo.

Franziu a testa. De onde surgira aquele pensamento? Então, a constatação a atingiu em cheio. Era o que estava fazendo. E de novo. Como sempre fizera.

- Não – murmurou para o reflexo no espelho do banheiro, tomando uma súbita decisão.

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Os minutos que Poncho passou dirigindo pelos escorregadios três quilômetros entre a loja e a rodoviária Greyhound de Kismet foram os mais longos de sua vida. Ansioso, examinou as ruas e calçadas em busca de qualquer sinal de uma mulher de rebeldes cabelos castanhos, jeito atrevido de caminhar, e um par de óculos escuros que, ele agora sabia, ocultavam uma magoa que ela estivera tentando esconder o tempo todo. Anahí. Só de pensar nela seu coração já disparava.

Tenso, dobrou a esquina e procurou um lugar para estacionar diante do Xícara e Café. Tomara que não fosse tarde mais. Saltou do carro e olhou pela grande vidraça do restaurante. Pensou ter avistado Anahí de relance, mas, um instante depois, ela desapareceu.

Devia estar tendo alucinações. Levando em conta o trauma que tinha sofrido ao perde-la, não era de admirar. Na verdade, não sabia o que faria se não a encontrasse para, de algum modo conseguir convencê-la a ficar. Mas como alcançar a façanha?

Caminhou pela calçada até a entrada do restaurante, vasculhando a mente. Já havia mostrado a Anahí o melhor de Kismet: as pessoas, a parada, a praça da cidade com suas luzes e decoração natalinas. Tinham estado nas áreas de bosques vizinhas, no Pé-Grande, na apresentação de Natal de Alice e no comitê do bairro de Glenrosen. Não havia nada especial o bastante em Kismet para segurá-la ali. Nada exceto ele. Droga.

Sem plano algum, abriu a porta do restaurante e correu os olhos pelos fregueses à procura de Anahí. Seria fácil de avistá-la. Ela era dona de um forte magnetismo que atraia a todos. Não demoraria a vê-la.

Tornou a verificar as mesas e viu a mãe acenando para ele, aflita, chamando-o para a mesa onde estava sentada... Sozinha.

Anahí já tinha partido, compreendeu Poncho. Havia chegado tarde demais. Desapontado, deixou os ombros cair. Então, respirou fundo e rumou na direção da mãe.

De repente, um estranho formigamento iniciou-se em sua nuca e, com a sensação, ele parou.

Olhou para o lado, para além do balcão comprido com suas banquetas cheias de fregueses, e lá estava ela.

Anahí! Ao vê-la, soube que havia feito à coisa certa. Não havia ninguém como ela, ninguém capaz de fazê-lo sentir-se completo de novo, ninguém capaz de fazê-lo sorrir com a mesma felicidade que sentia no momento.