Fanfic: Voltando Para Casa - AyA (Finalizada) | Tema: PonchoyAnahí

- Obrigada pela carona... E tudo mais. – ao lado das quatro malas, Anahí bateu as botas no chão coberto de neve da varanda dos pais.

Era pequena, nada que se comparasse à entrada palaciana da casa de Malibu, mas era um alivio finalmente estar ali.

- Não há de quê. – Poncho abriu um sorriso, encolhendo-se sob o frio cortante da manhã.

Depois de ter descarregado a bagagem, havia atirado o casaco e a camisa de flanela na cabine da caminhonete e, em seguida, a acompanhara como um cavalheiro até o terraço. A camiseta branca e simples delineava os músculos do peito.

– A viagem acabou se tornando mais interessante do que imaginávamos, não?

- Sim. – Anahí curvou os dedos em torno do gradil da varanda. – Quanto a isso... – interrompeu-se, mal conseguindo concatenar os sentimentos em relação ao tempo que haviam passado juntos.

O encontro inicial deles podia ter sido um tanto espinhoso, mas depois... Bem, só o que podia dizer sobre “o depois” era que tudo parecia diferente entre os dois, agora que ela se permitira relaxar. Após a semana difícil que havia tido, a atenção e delicadeza de Poncho permaneceram incríveis.

- Admita – prosseguiu em defesa própria – Estávamos presos na neve. Não podemos ser responsabilizados por... Você sabe.

Poncho lançou-lhe um olhar duvidoso. Ela o encarou de volta por autoconfiança, agora que estavam para se despedir. Passara a noite numa cabine de caminhonete. Isso tinha de contar como algum tipo de penitencia por seu momentâneo deslize. Depois de tudo que lhe acontecera ao longo da semana anterior, merecia relaxar um pouco.

Como se lesse seu pensamento, Poncho se aproximou mais, e ela recuou um passo. Mas tudo o que ele fez foi fechar o zíper do casaco rosa e correr os nós dos dedos por sua face.

- Espero que a experiência toda tenha ensinado a você uma lição importante.

- Duvido. – ela sorriu.

- Não venha mais para Michigan no inverno quando não estiver preparada.

Como se algum dia ela fosse estar preparada para alguém como ele!

- Foi uma sorte não ter morrido congelada. Na próxima vez em que eu a vir, espero que esteja usando algo mais quente.

O tom autoritário e provocativo a fez querer bater continência. Ou beijá-lo. Depois de tudo... Anahí não teve certeza do que seria.

- Provavelmente, você não me verá. Planejo ficar o tempo todo fechada aqui. – fez um gesto na direção da casa em que crescera: Um chalé de três quartos, agora enfeitado com luzes de Natal e uma guirlanda na porta.

- Não vai à parada de Natal?

- Não.

- Nem à cerimônia municipal de iluminação da árvore, no centro?

- Não.

- À reunião do comitê de decoração de Glenrosen? – ao vê-la sacudir a cabeça, ele franziu a testa. – Mas tem de ir. É a tradição.

- Não para mim. – sentindo-se pouco à vontade, mas estranhamente relutante em se despedir dele, Anahí abraçou sua Hermes. – Posso passar sem esses festejos bregas de fim de ano do Meio-Oeste, acredite.

Poncho tornou a franzir o cenho. Ofendia-se, notou Anahí, quando ela falava qualquer coisa contra Kismet. Mas não podia evitar. Era à força do hábito. Além do mais, de que outro modo alguém perceberia que ela havia dado um longo passo além daquele lugarejo?

Abriu um sorriso, querendo se desculpar.

- Não tenho nem roupa decente para participar dessas festas... – justificou-se. – Divirta-se por mim, está bem?

Não dispor de um traje apropriado para um evento era o pretexto perfeito. Ninguém em Los Angeles argumentaria.

Poncho apenas retribuiu o sorriso e ela sentiu um inesperado arrepio. Com certeza de frio, disse a si mesma. Contudo o fato era que ele lhe causara um grande impacto... Sob a luz do dia, e com o branco intenso da neve ao fundo, os olhos verdes de Poncho pareciam ainda mais brilhantes, o rosto de traços marcantes ainda mais bonito, iluminado pelo sorriso caloroso. Os cabelos escuros em desalinho eram o complemento perfeito. Sem mencionar o corpo virial de tirar o fôlego...  Era um apena que seu hábitat natural fosse aquele fim de mundo.

Dando-se conta de que o encarava, Anahí desviou o olhar. Por sorte, o celular dele tocou, poupando-a de ter de vasculhar a cabeça em busca de algo adequado para dizer.

- Desculpe, tenho de atender. – desculpou-se Poncho, olhando para o visor do aparelho. – É a minha irmã. – afastando-se em direção à velha caminhonete. – Foi bom ver você outra vez, Anahí... Quem sabe nos vemos dentro de uns dez anos? – provocou, rindo. Fez uma pausa para atender o celular e a voz grave se fez ouvir na quietude da rua. – Oi irmãzinha. Sim, fui ao aeroporto ontem à noite, mas acabei ficando preso durante horas no trânsito de madrugada.

Oh, Deus. Ele estava conversando com a irmã sobre a noite anterior! Anahí agitou os braços freneticamente, num sinal desesperado para que ele não contasse nada sobre o que havia acontecido durante a madrugada. Não que tivesse feito algo muito escandaloso, mas não queria ser alvo se nenhum tipo de mexerico.

- Sim, um caminhão tombou na estrada, mas ninguém se feriu. – ele entrou na caminhonete alheio a seus esforços, deu a partida e se afastou sem nem sequer notar sua aflição.

Ela sabia como as coisas se espalhavam numa cidade daquele tamanho e, antes de saírem da caminhonete, extraíra dele uma promessa solene:

- Não pode contar nenhuma palavra a ninguém sobre isso.

- Ora, vamos... A quem vamos contar?

Cativada por aquele sorriso que dizia com todas as letras “pode confiar em mim” ela havia concluído que fora um voto de silencio bom o bastante.

E agora, algo lhe dizia que, até o horário do almoço, toda a Kismet saberia de sua indiscrição.

Com um suspiro, começou a recolher as malas e virou-se para a porta. Àquela altura, não havia nada a fazer a não ser entrar na casa dos pais e se empenhar ao máximo para ficar confinada ali até se sentir confiante o bastante para retornar a Los Angeles e retornar sua vida. De preferência com o mesmo glamour e sofisticação de antes!