Fanfics Brasil - Capítulo 1 .¸¸.♥...Impossível Te Esquecer...♥.¸¸.

Fanfic: .¸¸.♥...Impossível Te Esquecer...♥.¸¸.


Capítulo: Capítulo 1

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Bom dia, Anahí! Como vai nossa paciente-milagre, hoje? Any parou de escrever e olhou para a médica:


— Bom dia, Louise.


— Viva! Estou contente por ouvi-la me chamar só de Louise!


Os cantos da boca bem feita de Any ergueram-se num leve sorriso:


— É um desrespeito.


— Bobagem! — A doutora observou-a, atenta. — Você me parece bem.


— Estou bem. Tão bem que gostaria de ir embora.


— Irá, no devido tempo — prometeu Louise e leu o último parágrafo que Any escrevera em seu diário. — Excelente. Está escrevendo com a lucidez e a lógica que, estou certa, você tinha antes do acidente. Merece um presente.


 Adoro ganhar presentes.


— Ótimo. Vai ganhar um. Só que, antes, quero que faça mais um desenho para mim.


Any mexeu-se, inquieta, na cadeira:


— Prefiro jogar baralho ou xadrez.


— Vai ser como uma brincadeira, um jogo...


— O que preciso desenhar?


— Você ainda tem sonhos perturbadores com uma espécie de animal que a aterroriza, não? — Os olhos do psiquiatra irradiavam compaixão. — Tenho muita vontade de ver como ele é.


Any sacudiu a cabeça, negando, e recolheu-se para dentro de si mesma.


— Vamos, Anahí. Você consegue. E muito impor­tante... Se eu lhe mostrar algumas figuras, quem sabe você pode me dizer se alguma delas é a que perturba seu sono...


Louise abriu um livro e virou as páginas lentamente, incentivando Any a olhar. Apesar do medo, ela ficou fascinada pela infinidade de figuras de animais que iam desde o carneiro-montês do Yukon até gazelas das planícies africanas. Quando o livro terminou, ergueu a cabeça:


— Nenhum desses parece com ele.


A doutora deu-lhe papel e lápis:


— Não acredito, Any. No entanto, quero que você desenhe o que vê em sua mente. Lembre-se, esse ani­mal não poderá machucá-la, pois será apenas uma fi­gura num papel.


Any pensou durante um longo momento, tentando reunir coragem:


— Se eu desenhar, você me deixa ir passear lá fora?


— Escute, estou tentando fazer com que você fique boa o suficiente para sair daqui e ter uma vida saudável, produtiva. Mas se ainda tem tanto medo desse animal, como poderei deixá-la sair? Enquanto Você não se libertar desse pavor não posso permitir que vá lá para fora, onde existem animais.


Com um profundo e doloroso suspiro, Anahí concordou:


— É, não pode. — Depois de prolongada hesitação, voltou a falar: — Está bem. Vou desenhar... — A voz dela tremia. — Mas detesto isto!


Com mão pouco firme, começou a desenhar a imagem da aterrorizante criatura que a ameaçava toda vez que adormecia. Por mais que fizesse, não conseguia escon­der-se dela. A única maneira que tinha para ficar livre daquele horror era acordar e, quando conseguia, encon­trava-se gritando e se debatendo, completamente exaus­ta, com o corpo pegajoso de suor e o travesseiro ensopado.


— Pronto!


Empurrou o ameaçador desenho para longe. Louise pegou-o sem olhar para ele, aí tirou do bolso uma barra de chocolate e deu para Any. O papel laminado ver­melho e as letras douradas chamaram a atenção dela, que olhou-os demoradamente antes de abrir.


— La Maison Chapelle — leu em voz alta. — Fa­brique en Suisse.


— A Casa Capela — traduziu a psiquiatra, tranqüila. — Fabricado na Suíça. Você já comeu desse chocolate?


— Comi, sim — respondeu Any, sem hesitar. — Esse nome Chapelle...


— Durante toda a vida, seu pai foi o representante da Maison Chapelle nos Estados Unidos.


Any ergueu a cabeça e fitou a médica:


— Outro dia você mencionou meu pai... É a segunda vez que fala nele.


— Você lembra dele?


Any fez que não, depois passou o polegar pelo rótulo em alto-relevo.


— Tenho a impressão de lembrar de alguma coisa ligada com o nome Chapelle...


A médica observou-a com maior atenção:


— Talvez seja porque é o nome do chocolate mais fino do mundo. La Maison Chapelle tem pelo menos cem anos. É uma empresa de renome, muito bem con­ceituada entre os conhecedores. Vamos, experimente...


Com a sensação de já ter feito isso, Any retirou o invólucro e comeu um dos pequenos quadrados.


— Hum... É com amêndoas, o meu preferido! Como você sabia?


Louise riu:


— Sou médium. Sabe o que significa isso?


— Sei. —Any sorriu. — Então, diga qual é o outro chocolate que prefiro.


— Deixe-me ver... Chocolate branco com nozes. Any endireitou-se na cadeira:


— Você é médium, mesmo!


— Não. — A médica sorriu e explicou: — Adivinhei por pura sorte. Eu também gosto de nozes, só isso. Vou trazer-lhe da próxima vez. — Ficou olhando Any por alguns segundos, então voltou a falar: — Tenho outra surpresa para você. Aí fora está uma senhora ansiosa por vê-la, mas se ainda não está disposta a receber visitas é só dizer.


Curiosa, Any levantou-se:


— Eu conheço essa senhora?


— Você a viu há cerca de dois meses, mas não de­monstrou qualquer interesse. Ela se informa constan­temente sobre seu estado e gosta muito de você. Veja, esta é a fotografia dela.


A doutora estendeu a foto e Any segurou-a com as pontas dos dedos.


Ao primeiro olhar, o retrato da elegante senhora nada significou, no entanto depois que a examinou com atenção começou a achá-la familiar e, afinal, quase gritou ao reconhecê-la:


— Tia... tia Rose!


— Isso mesmo — aprovou a médica. — Logo você irá recuperar completamente a memória. Essa senhora é a sua tia, Rose Harris. Você morava com ela quando sofreu o acidente. Lembra-se?


— Não. De nada. Mas conheço este rosto... Hesitante, Any passou um dedo pelo rosto da mulher da foto que tinha uma expressão adorável, muito parecida com a de sua mãe. De repente, o rosto bonito do pai surgiu-lhe na mente.


— Papai... — murmurou.


Uma lágrima desceu-lhe pelas faces, depois outra, enquanto despertavam mil lembranças de sua juven­tude, da irmã e de pais amorosos, de dias serenos entre colinas, no verão, narcisos-do-campo e pomares com frutas coloridas, bonitas.


Algumas das lembranças eram muito vividas, ha­viam ficado sepultadas por tanto tempo e sucediam-se tão rápidas que mal as assimilava. E todas elas eram envoltas por uma tristeza pesada, espessa, impossível de ser descrita com palavras.


Incapaz de dominar essa tristeza, Any começou a chorar.


— Quero ver tia Rose. Tenho que vê-la — disse com voz incerta. — Me leve até ela — implorou.


Sentia uma urgência incrível em ver a tia que havia ficado com ela e Dulce quando os pais tinham mor­rido num acidente de avião.


— Ela está na sala de visitas.


Louise manteve a porta aberta para Any passar. Ela já podia andar sem a bengala e quase correu ao atravessar o hall.


— Tia Rose!


—Any, querida! — emocionou-se a tia, quando a sobrinha entrou na sala.


Any voou para os braços abertos e agarrou-se à sua tia Rose, repetindo o nome dela sem parar.


— Até que enfim você me reconhece — chorava a senhora. — Parece que esperei séculos por isso!


— Louise me mostrou uma fotografia sua e eu a reconheci, tia.


Só então elas separaram-se um pouco. Enxugaram as lágrimas e Rose pegou as mãos de Any:


— Há quatro meses os médicos ainda diziam que não havia esperança, mas aí está você viva, saudável e mais linda do que nunca. Foi um milagre!


— Como a memória dela já começou a voltar, Any logo poderá ir para casa — disse a médica. — Bem, vou deixá-las um pouco a sós.


— Obrigada — murmurou Rose para a psiquiatra.


Enquanto isso, Anahí não desviava o olhar do ros­to da tia, perguntando-se como fora possível não re­conhecê-la até então. Com sessenta anos, a senhora era muito parecida com sua irmã, a mãe de Any, tinha os mesmos cabelos castanhos.Dulce, irmã de Any, parecia-se demais com a mãe e com tia Rose, mas em vez dos olhos azuis das duas, tinha os olhos castanhos do pai.


Any tinha olhos azuis, rosto oval de maçãs altas e cabelos loiros: um retrocesso ao atavismo anglo-saxão, o pai costumava brincar.


— Vamos para o seu quarto, a fim de ficarmos a sós, querida — pediu a tia. — Temos quatro meses de vida para pôr em dia.


— Me conte de Dulce, tia. Como vai ela? Christopher e Alex estão bons? Acabo de lembrar que tenho uma família, uma irmã. Por que ela não veio também?


Ansiosa, Any fazia uma pergunta atrás da outra enquanto caminhavam de braços dados pelo corredor. Rose ficou atrapalhada:


— Que pergunta você quer que eu responda primeiro? Entraram no quarto de Any e fecharam a porta.


— Todas! — respondeu ela, eufórica por estar com a tia. — Venha sentar aqui comigo — bateu no assento do sofá, a seu lado.


Os móveis lembravam mais um quarto de hotel de classe do que de um hospital.


— Bom, agora me conte tudo, titia.


— Sua irmã também era para estar aqui — nervosa, Rose ajeitou o mais do que perfeito birote, — no en­tanto, não está muito bem.


— Alguma doença séria?


Rose pensou um pouco antes de responder:


— Não. Nada sério.


— Tia Rose, eu conheço esse seu olhar... Há algo errado com Dulce. Por favor, não tenha medo de me dizer. Estou boa e cada dia mais forte.


— Isso é bem evidente, querida, e agradeço a Deus a sua recuperação rápida. A verdade é que — a senhora achava-se visivelmente perturbada —Dulce está esperando outro bebê e sente muito enjôo de manhã.


— Ah, coítadinha! Ela sofreu bastante com Alex, também. Mas é maravilhoso ficar grávida, ser mãe...


A voz de Any demonstrava a imensa tristeza que sentia por não ter sua família, marido, filhos. Na excitação de haver recuperado parte da memória, não notou que uma das mãos de Rose retorcia nervosa­mente o fio de pérolas que trazia ao pescoço e que a tia evitava seus olhos.


—Christopher está contente? — perguntou.


— Eu... Acho que ele anda ocupado demais com os problemas do banco para prestar atenção no que está acontecendo em casa. Espero que Chris acorde antes que seja tarde demais.


Any assentiu:


— Eu também. — Animada, Any pôs-se de pé. — Assim que me derem alta iremos a Sausalito, fazer uma surpresa a eles. Não vejo a hora de abraçar Alex de novo! Eu estava em coma quando ele fez dois anos... Para dizer a verdade, não vejo a hora de sair daqui!


Calou-se e olhou para a tia com ar culpado:


— Não quero parecer mal-agradecida. Todos aqui dizem que é um milagre eu estar viva e acredito neles. Foram maravilhosos comigo. Mas tenho a impressão de que desperdicei minha vida entre estas paredes. Sabe, titia, estou até ficando com claustrofobia!


— Entendo isso, querida. Qualquer um ficaria. — Rose levantou-se também e passou um braço pelos om­bros da sobrinha, sentindo pena dela. — Creio que os médicos irão segurá-la aqui por pouco tempo.


— Eu queria tanto sair agora com você, titia! É horrível estar perto do mar e não sentir seu cheiro, não vê-lo... Oh, tia Rose — suspirou, — não vejo a hora de estar na praia de novo, de velejar sentindo o vento no rosto outra vez!


Como a senhora nada dissesse, Any fitou com mais atenção:


— Tia Rose, há alguma coisa errada? Você está tão diferente, esquisita... — Os olhos verdes encheram-se de lágrimas. — Estou com alguma deficiência ou qual­quer outro problema? Por acaso os médicos lhe disse­ram que nunca mais vou poder sair daqui?


— Oh, não, querida! Não é nada disso. De súbito, ela viu-se nos braços da tia, chorando copiosamente sobre o suéter de cashmere que tinha aquele inesquecível perfume de rosas, a característica de Rose que a identificava desde que Any se conhe­cia por gente.


— Creio que você precisa se conscientizar de que está na Suíça, Any querida, não em San Francisco.


Any piscou, confusa: não estava em San Francisco?


Quando registrou o que a tia havia dito, recuou, chocada por tomar conhecimento de algo que deveria saber. Sacudiu a cabeça, consternada:


— Minha memória está mesmo muito ruim, mesmo.


— Nem tanto assim, meu bem.


Com um gemido, ela passou os braços pela cintura da tia:


— Não se preocupe, titia. Louise não vai me deixar sair já. Sou como um bebê recém-nascido que não sabe nada... — Lágrimas desceram-lhe pelo rosto. — Talvez eu nunca fique boa o bastante para sair daqui.


— Não diga isso, meu anjo! Você passou por momentos muito difíceis, aos quais pouca gente conseguiria sobre­viver. E não se preocupe: o francês voltará à sua memória tão naturalmente quanto o inglês, porque você domina esses dois idiomas desde que começou a falar.


Passando a língua pelos lábios secos, Any pediu:


— Não procure desculpas para mim, titia.


— Desculpas? Você esteve muito ocupada sarando, recuperando a memória e o fez tão depressa que sur­preendeu todos os médicos. Claro que não está completamente segura de si, pois ainda não teve tempo para fazer a conexão com o mundo que deixou lá fora. Mas, querida, nada disso tem importância.


— Claro que tem — discordou Any, desanimada, — e eu deveria ter percebido imediatamente... Veja o tipo de móveis deste quarto e a comida que eles têm me servido... Escalope de veau nada tem a ver com o estilo dos hambúrgueres com batatas fritas da Cali­fórnia, não?


— Você está em Lausanne.


— Lausanne?


— É...


Any deu uma risada amarga:


— O local onde existem as mais famosas clínicas para as mais sérias doenças que afligem a humanida­de! O local onde você tem que ser uma estrela de ci­nema ou um armador grego para pagar as contas des­sas clínicas!


Ela fez uma pausa, então indagou:


— É onde estou, tia Rose? Numa dessas fantasticamente caras clínicas que deve ter acabado com a herança que papai nos deixou e com certeza também com o pouco dinheiro que você tinha?


Rose aproximou-se da sobrinha e, carinhosa, segu­rou o rosto pálido com as duas mãos:


— Você está numa clínica especializada em pacien­tes com ferimentos na cabeça, recebendo a ajuda de que precisa. É o que importa.


— Não, se por isso você ficar sem ter com o que viver de modo decente! Não posso admitir uma coisa dessas depois de todo sacrifício que fez para não sen­tirmos demais a ausência de papai e mamãe — de­sesperou-se Any. — Você podia ter se casado de novo se não fôssemos nós!


— Isso não é verdade, meu bem. Eu não ia me casar com Lawrence, éramos só bons amigos.


Any sacudiu a cabeça:


— Não acredito e quero ver a conta, com certeza altíssima, que temos a pagar aqui. Depois, arrumo mi­nhas malas, vou para San Francisco, alugo um apar­tamento, arranjo um emprego e devolvo o que você gastou comigo.


— Isso tudo é exatamente o que não vai fazer — determinou tia Rose, com firmeza.


— Sei que você faria qualquer coisa para me pro­teger, mas não sou mais uma menininha, titia. Sou adulta e minha médica disse que não posso sair daqui enquanto não estiver pronta para viver no mundo real outra vez. —Any fez uma pausa para respirar fun­do. — Pagar as próprias despesas faz parte da vida no mundo real. Depois de quatro meses dependendo de você, de mantê-la longe do Lawrence, está na hora de eu cuidar da minha vida.


—Any, jamais me casaria outra vez, depois de tudo que seu tio e eu partilhamos. Além disso, Law­rence morreu há três meses, de um ataque cardíaco.


— Oh, tia Rose! — Ela abraçou a senhora. — Sinto muito!


— Não sinta: Lawrence agora está com a mulher dele. Você é que importa.


Por fim, Any percebeu a voz tensa e o nervosismo da tia:


— Está tão séria, tia Rose! O que aconteceu?


— Nada... Apenas não quero que você se preocupe com dinheiro sem necessidade. Não sou eu que estou pagando, é outra pessoa.


Outra pessoa?


Desde que sofrerá o acidente Any tivera que rea­prender muita coisa, mas ninguém precisava lhe dizer que a internação num hospital daqueles custava os olhos da cara. Seu tratamento deveria estar em cem mil dólares, se não mais.


— Tia Rose, que pessoa é essa que iria gastar tanto dinheiro para pagar o meu tratamento?


 — Deixe que eu respondo a isso — disse uma voz profunda, atrás delas.


Um medo profundo, inexplicável, apoderou-se de Any e ela começou a suar frio, sem coragem de se voltar porque sempre ouvia aquela voz nos pesadelos.


—Alfonso! — alarmou-se tia Rose, fazendo sinais desesperados para ele ir embora.


Alfonso Chapelle...


O som daquela voz fizera algo agir dentro de Any e, com o barulho de uma pedra acertando uma vidraça, estilhaçar seu frágil sistema de defesa em milhares de pedacinhos, expondo-lhe o íntimo e fazendo-o sangrar...


Ela não precisou voltar-se para lembrar dos cabelos negros e olhos esverdeados, da compleição alta e forte, dos traços aquilinos do rosto, tão singular e másculo, que estava gravado para sempre na sua mente e no seu coração.


Qualquer homem, por mais imponente que fosse, tornava-se insignificante ao lado dele. Nenhum podia igualar-se a Alfonso, de maneira alguma: simplesmen­te era impossível. E Any o amava mais do que a própria vida.


Mas é um amor proibido!


De súbito, cada partícula de seu corpo foi dominada pela dor destruidora que sentira durante meses antes do acidente. Uma dor da qual apenas o estado de coma a libertara. Mas esse casulo de irrealidade não durara muito: ali estava a dor outra vez, mais profunda, mais insuportável do que nunca...


— Santo Deus — gemeu Any, agoniada.


Um violento enjôo amargou em sua garganta e ela mal pôde chegar ao banheiro a tempo.


—Any— murmurou, ansiosa, a voz grave e baixa que ela amava tanto.


Ele a seguira ao banheiro de ladrilhos italianos e amparou-a, mantendo-se atrás dela, enquanto Any vomitava.


Não ponha as mãos em mim!


Any não pôde conter esse grito, que existiu apenas em sua mente, ao sentir as mãos dele em seus braços, do mesmo modo que sentira tantas vezes na lua-de-mel, como prelúdio de fazer amor: naqueles dias não conseguiam ficar longe um do outro por mais de cinco minutos, e cada vez que ele a tocava era como se fosse a primeira.


No entanto, agora estava enjoada demais, fraca de­mais pelo choque da presença dele, para conseguir pro­nunciar uma palavra sequer.


— Se não se importa, sr. Chapelle, é bom que se vá — era Gerard, um enfermeiro, que não tentou disfarçar o comando em sua voz.


— Eu me importo, sim! — a voz aveludada elevara-se e se tornara áspera. — Ela é minha mulher!


A sensação de Any foi de que ia morrer ao per­ceber o amor e o tom de posse naquelas palavras. Não poderia suportar aquilo nem mais um segundo.


—Alfonso, por favor! — Era tia Rose. — Vamos para a sala de visitas.


Any percebeu o tremor que percorria o poderoso corpo de Alfonso, resultado do tremendo esforço que fazia. Afinal ele soltou-a, deixando-a mais devastada do que nunca.


— Eu vou voltar, mignonne.


A promessa rouca fez Any arrepiar-se inteira.


Quando o som dos passos dele se apagou, ela apoiou-se pesadamente em Gerard, que a ajudou a voltar para o quarto.


— Não o deixe voltar, Gerard — implorou, enquanto o enfermeiro a fazia sentar-se e media sua pressão. — Ele não é mais meu marido. Não quero vê-lo!


Sentiu profundo alívio quando o rapaz garantiu:


— Até os médicos ordenarem o contrário, ninguém vai entrar aqui a não ser o pessoal da clínica.


— Sim. Preciso de Louise... Preciso dela agora! — exigiu Any , em pânico.


Depois que Gerard saiu do quarto, ela foi ao armário, tirou a roupa e vestiu uma camisola. A náusea arrasara suas forças. Tudo que queria era deitar-se e mergulhar no esquecimento.


Acabara de se enfiar na cama e cobrir-se quando Louise entrou, o avental branco se agitando. Os olhos de ambas se encontraram, enquanto a médica puxava uma cadeira e sentava-se à cabeceira de Any.


— Você teve um dia pesado. Apareceram várias brechas na sua armadura de defesa e precisamos falar a respeito, antes que adormeça.


Any sentou-se, levando inconscientemente a bar­ra da colcha à boca:


— Nunca vou adormecer sabendo que ele está aqui e que pode entrar no meu quarto a qualquer mo­mento. Ele quer falar comigo de qualquer jeito... — a voz dela quebrou-se.


— Ele já foi embora, com a sua tia. Pedi-lhes que fossem e acompanhei-os até a porta.


— Graças a Deus!


Nunca mais conseguiria olhar para ele!


— Quando ele viu que sua presença lhe causava tanto mal, não insistiu em ficar. Mas é bom você saber que ele passou todas as noites a seu lado nos últimos três meses, procurando acalmá-la durante seus pesa­delos. Foi muito bom e dedicado.


O coração de Any apertou-se dolorosamente. Perdoe-me por fazer-lhe isto, Alfonso, mas não pode ser de outra maneira!


— Fale-me de seu marido,Any.


Os dedos dela apertaram-se, segurando a colcha, até as juntas ficarem brancas:


— Ele não é meu marido.


— Só porque você não quer?


A pergunta obrigou-a a explicar:


— Somos divorciados.


— Ele está pagando o seu tratamento. Lágrimas quentes desceram pelo rosto pálido:


— Eu sei, minha tia me contou. A culpa é dela.


— Dele estar pagando?


— Não. Dele descobrir onde estou escondida. Mas não posso censurá-la... Ele a enganou e a fez dizer onde eu estava, porque minha tia acha que é o homem mais maravilhoso do mundo... E de fato é... — a voz dela falhava muito.


— Sei. Acha que como ele é rico sua tia decidiu pedir-lhe ajuda?


— Não. Ela nunca faria isso. Meu ma... Alfonso é que deve ter insistido em pagar tudo. Ele sempre foi assim.


— Sempre? Quanto tempo vocês estiveram casados?


— Dois meses, mas nossas famílias são amigas há muitos anos. A verdade é que ele é o homem mais ad­mirável que já vi. Todo mundo sabe da sua bondade, da sua decência. Ele é excepcional... — As palavras dela eram um murmúrio doloroso. — Esse é o problema.


Depois de curta pausa, continuou:


— Mesmo estando divorciados, tenho medo de que Alfonso ache que tem obrigações para comigo porque ele é assim. Não adiantaria ninguém lhe dizer que eu quero pagar as minhas contas, agora que nada temos a ver um com o outro. Ele não vai deixar.


— Deixe-me ver se entendi,Any. Você acha que ele é o homem mais maravilhoso do mundo e não tem medo dele. Simplesmente, não quer mais viver com ele.


— Isso! —Any agarrou-se ao que Louise dizia, como se fosse um salva-vidas.


— Mas ele ainda a ama com desespero.


—Eu sei. —Any abaixou a cabeça. — Se você não se importa, não quero mais falar nisso e não quero ficar aqui. Agradeço tudo que fez por mim, pois sei que não estaria viva se não tivesse sido você, mas agora estou bem. Você mesma me disse que estou, hoje de manhã.


— É verdade. Fisicamente você está muito bem,Any.


— Quero ir para casa, Louise. Quero ir para minha casa hoje!


Louise inclinou-se para trás, na cadeira, com os bra­ços cruzados ao peito:


— E onde é a sua casa?


— Em San Francisco.


— Como pretende chegar lá?


— Tenho dinheiro bastante para chegar até Gene­bra. De lá eu ligo para minha irmã e peço que ela compre uma passagem de avião para mim. Quando eu chegar em San Francisco, ela vai me buscar no aeroporto e me leva para casa. Dentro de alguns dias eu já terei arranjado emprego e um apartamento. En­tão, poderei levar a minha própria vida.


— Dito assim, parece ótimo — assentiu Louise, — mas acontece que você não pode sair da clínica.


O rosto de Any corou de raiva:


— O que você quer dizer? Como, "não posso"?


— Seu marido a internou e só ele poderá assinar os papéis para você sair daqui.


— Mas eu já lhe disse: ele não é mais meu marido. Nós nos divorciamos.


— Isso pode ser verdade para você, mas esse di­vórcio nunca foi assinado. Legalmente, você ainda é mulher dele.



Contínuo?


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Autor(a): mariahsouza

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 14



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  • karolzinhaprincesinha Postado em 12/04/2009 - 12:05:31

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  • karolzinhaprincesinha Postado em 12/04/2009 - 12:03:51

    POsta maiss!

  • karolzinhaprincesinha Postado em 30/03/2009 - 16:10:19

    o Nome dela é:
    * A Aposta*

    e ñ esquece de postar ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • karolzinhaprincesinha Postado em 30/03/2009 - 16:08:51

    POsta,posta,posta,posta,posta,posta,posta,posta,posta,posta,posta,posta.
    Depois dá uma passadinha na minha nova web e vê o que acha da introdução!

  • jasmine Postado em 28/03/2009 - 20:24:26

    Ameeeeeeeeeiii!!!
    Posta+++++++++++++++++++++!!

    Bjs

  • karolzinhaprincesinha Postado em 28/03/2009 - 01:30:09

    Amei essa web!
    posta masssssssssssssss
    estou adorando...

  • jasmine Postado em 24/03/2009 - 00:13:08

    Ameeei!!!!!!!!!!!
    Posta+++++++++++++++++++++++!!!

    beijus

  • mariahsouza Postado em 23/03/2009 - 22:22:55

    Postei em Impossível Te Esquecer...
    Comentem!!!

  • bellarbd Postado em 22/03/2009 - 14:03:56

    Amei
    posta mais
    To amando essa wn
    ta d+

  • bellarbd Postado em 22/03/2009 - 14:03:56

    Amei
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