Fanfic: A última carta de amor
Douglas a acompanha até em casa. Ele é o único dos quatro que mora com uma parceira, mas Lena, sua namorada, é importante no ramo de tecnologia de recursos humanos e quase sempre fica no trabalho até 22 ou 23 horas. Lena não se importa que ele saia com as velhas amigas — já o acompanhou algumas vezes, mas é dificil para ela transpor o muro de piadas antigas e referências cúmplices decorrentes de uma década e meia de amizade. Quase sempre, ela o deixa ir só.
— Então, o que está havendo com você, garotão? — Ellie o cutuca ao desviarem de um carrinho de compras largado na calçada. — Não falou nada sobre você lá no bar. A menos que eu tenha perdido tudo.
— Não muita coisa — diz ele, e hesita. Enfia as mãos nos bolsos. — Quer dizer, não é bem verdade. Hum.. Lena quer ter um filho.
Ellie olha para ele.
— Uau.
— E eu também — acrescenta depressa. — Temos falado sobre isso há séculos, mas agora chegamos á conclusão de que nunca vai haver uma hora certa, então é melhor encomendar logo.
— Um romântico á moda antiga, você!
— Eu estou... sei lá... bem feliz com isso, mesmo. Lena vai continuar trabalhando, e eu vou ficar cuidando do bebê em casa. Bem, se tudo acontecer conforme o planejado...
Ellie tenta manter a voz neutra.
— E é isso que voc quer?
— É. Eu não gosto do meu trabalho mesmo. Já não faço nada há anos. Ela ganha uma fortuna. Acho que seria bem gostoso passar o dia inteiro ás voltas com uma criança.
— Ter um filho é um pouco mais que andar ás voltas... — começa ela.
— Eu sei. Cuidado... na calçada. — Delicadamente, ele a desvia da sujeira. — Mas estou pronto para isso. Não preciso sair toda noite para o bar. Quero o estágio seguinte. Isso não quer dizer que eu não goste de sair com vocês, mas ás vezes me pergunto se a gente não deveria... sabe... crescer um pouco.
— Ah, não! — Ellie segura o braço dele. — Você passou para o lado negro.
— Bem, eu não encaro meu trabalho do mesmo jeito que você. Para você, o trabalho é tudo, certo?
— Quase tudo — admite ela.
Eles caminham em silêncio algumas ruas, ouvindo as sirenes ao longe, as portas dos carros batendo e as discussões abafadas da cidade. Ellie adora essa hora da noite, apoiada pela amizade, temporariamente livre das incertezas que cercam o resto de sua vida. Foi uma noite legal lá no bar, ela está indo para seu apartamento aconchegante. É uma pessoa saudável. Tem um cartão de crédito com um limite ainda inexplorado, planos para o final de semana, e é a única dos amigos, que ainda não tem um fio de cabelo branco. A vida é boa.
— Você as vezes pensa nela? — pergunta Douglas.
— Em quem?
— Na mulher do Jhon. Acha que ela sabe?
A menção dissipa a felicidade de Ellie.
— Sei lá. — E, quando Douglas não diz nada, ela acrescenta: — Com certeza eu saberia se fosse ela. Ele diz que ela se interessa mais pelos filhos que por ele. ás vezes eu digo a mim mesma que talvez bem lá no fundo ela ache bom não ter que se preocupar com ele. Sabe, em fazê-lo feliz.
— Puxa, isso é que é acreditar na verdade que você mesma inventou.
— Talvez. Mas, sendo muito honesta, a resposta é não. Eu não penso nela e não me sinto culpada. Porque acho que isso não teria acontecido se eles estivessem felizes ou fossem... sabe... ligados.
— Vocês mulheres têm uma visão tão equivocada dos homens...
— Você acha que ele é feliz com ela? — Ela analisa a expressão no rosto do amigo.
— Não tenho idéia. Só não acho que ele precisa ser infeliz com a mulher para transar com você.
O clima mudara um pouco, e, talvez, percebendo isso, Ellie solta o braço de Douglas e ajeita a echarpe em volta do pescoço.
— Você acha que eu não presto. Ou que ele não presta.
Saiu. O fato de a afirmação ter partido de Douglas, o menos dogmático dos seus amigos, dói.
— Eu nunca acho que alguém não presta. Só penso em Lena, e no que significaria para ela ter um filho meu, e na idéia de passá-la para trás só porque ela optou por dar a essa criança a atenção que eu achava que era minha...
— Então você acha, sim, que ele não presta.
Douglas balança a cabeça negativamente.
— Eu só... — Ele para e olha para o céu antes de formular a resposta. — Acho que você deveria ter cuidado, Ellie. Essa coisa toda de tentar decifrar o que ele quer dizer, o que ele deseja, isso é só babaquice. Você está perdendo o seu tempo. Para mim, as coisas em geral são bastantes simples. Uma pessoa gosta de você, você gosta dela, vocês ficam juntos, e é mais ou menos isso.
— Universo geral, esse em que você vive, Doug. Pena que não se parece com o real.
— Tudo bem, vamos mudar de assunto. Falar nisso depois de alguns drinques não dá.
— Não. — A voz de Ellie fica aguda. — In vino veritas, e essa coisa toda. Tudo bem. Pelo menos eu sei o que você pensa. Daqui posso ir sozinha. Mande um beijo para Lena.
Ela correr as duas ruas até em casa, sem se virar para olhar o velho amigo.
Autor(a): dr3wfck
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).