Fanfics Brasil - Capítulo 03 - Estranhos Sua vida, suas escolhas

Fanfic: Sua vida, suas escolhas | Tema: Romance


Capítulo: Capítulo 03 - Estranhos

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Rolo meus olhos com um sorriso nos lábiose volto para meu livro. Mas concordo que o rapaz tem um bom ponto, ele é mesmo interessante.


 


Preciso me distrair repito para mim mesma como uma ladainha, mas Hazel e Augustos não conseguem mais me prender.


 


Acho que devo puxar papo, pela arrogância dele, se ele não quiser conversar comigo, eu vou ser a primeira a saber. Qual seria um bom assunto? Já se!


 


- Você não se entedia de ficar ai sentado, durante horas sem fazer nada?


 


Ele está olhando pra mim com olhos curiosos agora. Será que eu falei alguma coisa em um inglês incorreto? Eu deveria ter ficado quieta mesmo!


 


- Você não faz ideia de como eu acho chato ficar aqui sentado sem fazer nada. Eu nunca voo de dia, mas meu plano de voo de ontem a noite foi cancelado. Meu agente sabia de meu desespero para ir embora e me ligou hoje, faltando 20 minutos para o embarco dizendo que poderia me encaixar em um voo sem escala para Londres, parece que duas pessoas haviam desistido de voar de última hora. A condição era que eu me apressasse e viesse sozinho.


O resto de minha equipe ficou e voltará no voo das 11 da noite.


 


 


Ele estava sussurrando novamente, e eu lutei com toda minha concentração para entender tudo que ele havia dito. Fiquei aliviada por ele ter maneirado no sotaque, mas a verdade é que se eu antes estava interessada, agora estou reflexiva, porque eu sei exatamente que foi a pessoa que desistiu de voar, pelo menos uma dela.


 


- Sou John Matews. – por um milagre ele interrompe meus pensamentos. E eu sorrio automaticamente com a informação. Eu sei quem ele é! Quem não sabe?


 


- Helena Matarazzo – respondo com medo novamente que ele encerre nossa pequena conversa.


 


- Você é de Sâo Paulo? – Eu não consigo desviar de seus olhos.


 


- Sim.  Por quanto tempo você esteve no Brasil? Pergunto e acho que estou demonstrando interesse demais. Estou sem prática em conversas como essa.


 


- No total 08 dias. Fiquei 05 dias no Rio de Janeiro e 03 em São Paulo para a divulgação de um trabalho. –Já estou me acostumando a seu modo de falar e quase não tenho mais dificuldades em entender seu sotaque ou seus sussurros.


 


- Gostou do Brasil? Pergunto com um pequeno sorriso investigativo.


 


- E quem não gosta? Ele agora me mostrou um sorriso diferente, que eu ainda não havia visto. Me derreti por dentro e me distrai do fato de que sua resposta foi daquele tipo político, para agradar os ouvintes.


 


Não consigo pensar em mais nada e me mantenho em silêncio. Olho meu relógio. São 13:00, estamos voando a 05 horas agora. Me sinto cansada, ansiosa e nervosa pela presença dele ao meu lado.


 


Quero dormir, mas estou com medo de babar ao lado dele. Patético, eu sei. Agora ele também está em silêncio e não parece interessado em conversar comigo.


 


Percebo ele se movendo e olho de soslaio tentando entender o que está fazendo. Oh, está pegando seu Ipod. Definitivamente sem vontade de conversar.


Achei que ele teve uma boa ideia e faço mesmo. Acho que já se passou mais uma hora. Estou impaciente de ficar aqui, parada.


 


Ele me chama novamente, e meu coração acaba de sair pela minha boca, mas quando me viro em expectativa percebo que ele só quer passagem para ir ao banheiro. Me sinto aliviada com sua pequena distância e aproveito para me mover melhor. A primeira classe era no mínimo espaçosa, mas eu estava tensa e me mantinha parada. È bom mover o pescoço e relaxar os músculos.


 


Olho para o corredor e vejo que ele está voltando. Seguido pela comissária que não tira seus olhos dele.


 


Essa não é a mesma que havia ajeitado os lugares. Ela é loira, cabelos lisos escorridos e olhos azuis. Bonita também.


 


- Boa tarde, a senhora deseja almoçar? – Ela sorri amavelmente, olha rapidamente para John e volta seus olhos para mim. Ela está definitivamente interessada.


 


- Não estou com fome. Obrigada. – Meu tom é seco e não sei o porquê.


 


Ela se vira para John


 


- O senhor deseja almoçar agora? – Seu inglês é fluente, melhor do que o meu.


 


- Não estou com fome. Obrigado – Ele repete minhas palavras, o que eu acho engraçado, pois respondi em português e ele definitivamente não sabe nada sobre isso.


 


Resolvo que o melhor a se fazer é dormir. Arrumo minha poltrona, tomo um comprimido Dramin que é suficientemente forte para me nocautear. Cubro-me com um daqueles cobertores quentinhos que a comissária me ofereceu e viro para o lado oposto a John. Lentamente pego no sono.


 


Acordo e lentamente abro os olhos, não sei por quanto tempo dormi. Assim que me oriento tomo um susto!


 


Estou deitada, virada para John enquanto ele me encara estoicamente.


 


Minha expressão deve ser aterrorizante, pois John começa a rir e se vira para encarar a poltrona a sua frente.


 


 Estou tímida e furiosa! Por que ele está rindo da minha cara?


 


Não consigo me controlar e espumo para cima dele - O que é tão engraçado?


 


- Você estava falando dormindo. Acho engraçado pessoas que falam dormindo. – sua voz era um simples sussurrar e ele sorria amavelmente para mim.


 


Oh. Eu estava falando dormindo! Sempre soube que fazia isso. Será que eu falei alguma coisa constrangedora?


 


- Não se preocupe – ele disse com olhos ainda divertidos – Eu não entendi uma só palavra do que você estava falando e isso também é muito engraçado.


 


Olhei em volta e percebi que os passageiros estavam cuidando de seus próprios assuntos, com certeza não estavam prestando atenção em mim.


 


Verifiquei meu relógio, já estávamos voando ha 8 horas agora. Mais 02 horas e meia, no máximo e estarei em terra firme.


Resolvi estivar minhas pernas e ir ao banheiro. Também seria bom escovar os dentes, cabelos e checar minha maquiagem.


 


 


Pego minha necessérie na bolsa e me levanto. Cara, como é bom ficar de pé!


 


Pela primeira vez reparo nos passageiros sentados na primeira classe. Passo pela fileira em que está Mateus, o menino com quem troquei de lugar, ele dorme como um anjo enquanto sua mãe lê uma revista.


 


Também há um casal de idosos conversando animadamente. Eles parecem pessoas finas e elegantes.


 


O que me incomodou de verdade foi ver um casal, de aproximadamente minha idade de mãos dadas, assistindo a um filme. Não pude evitar de me sentir mal, corri para o banheiro com mais agilidade agora.


 


O banheiro é enorme. Totalmente diferente de qualquer banheiro de avião que eu já tenha ido.


Fiquei feliz por estar apresentável, mesmo que tenha ficado sentada por 8 horas consecutivas.


 


Escovo meus dentes, penteio meus cabelos. Reaplico máscara para cílios, lápis de olho, blush e um corretivo. Sim, isso deve bastar, penso enquanto me olho no espelho pela última vez.


 


 


Volto para meu lugar e encontro John mexendo em seu Ipad, que parece muito mais moderno do que o meu.


 


Me sento e tomo um susto quando ele diz:


 


- Dormiu o suficiente ou vai dormir mais? – Não sorria dessa vez, parecia incrivelmente sério, o que eu achei, sinceramente muito estranho.


 


- Para sua tristeza resolvi que ficarei acordada até chegar a meu destino. – Apesar de seu tom sério, o respondo com simpatia e sorriso nos lábios.


 


- E qual seria seu destino? – Seu tom sussurrado agora parecia sexy aos meus ouvidos.


 


- Desembarco em Londres e pego um trem para Cambridge.


 


Seu sorriso em resposta foi brilhante e alcançou seus olhos.


 


- Eu adoro Cambridge. Minha avó morou lá por muitos anos,  eu passei todas as férias de minha infância com ela. Você já sabe onde vai ficar?


 


- Eu aluguei um apartamento por lá. Mas pra ser sincera só tenho o endereço debaixo do braço. Espero que os taxistas de Cambridge não me passem a perna – respondi com um sorriso muito bem humorado.


 


- Posso ver o endereço? – fico pasma com seu interesse e prontamente retiro o endereço de minha carteira e entrego em suas mãos. Nossos dedos se tocam novamente e sinto uma descarga de adrenalina que não tinha sentido antes.


 


- Acredita que é perto de onde minha avó morava? Você vai gostar de lá! Fica perto de um parque. Eu costumava brincar lá quando criança. – ele parecia completamente saudosista e estava falando normalmente, sem sussurrar.


 


- Graças a Deus – digo passando as mãos por meus cabelos. Eu estava tão preocupada sabe? Não conheço o lugar, só vi o apartamento por fotos, mas até onde eu sei, pode ser tudo falso. Dei um sorriso nervoso, porque na verdade esse era meu medo e dos meus pais.


 


- Para ser sincero – ele disse pausadamente - Faz algum tempo desde que eu fui a Cambridge pela última vez, mas você vai gostar é realmente um belo lugar. Quanto tempo você pretende ficar? 


 


Ele soava cada vez mais interessado.


 


- Os planos iniciais são de 04 meses, mas quem sabe? – Respondo meio presumida.


 


- E quais são seus planos? Questionou-me,sussurrando novamente


 


Eu adorei a pergunta, porque na realidade eu a estava esperando há muito tempo que alguém a fizesse.


 


- Bom, - respondo fazendo algum suspense - Você quer a verdade verdadeira ou a verdade pública?


 


Ele sorriu novamente, e com curiosidade disse:


 


- A verdade!


 


Então lhe contei brevemente minha história


 


- Eu me formei em administração ano passado, mas a verdade é que eu estou em dúvida se fiz a escolha certa, e então recebi um convite pra ir para Cambridge fazer um curso de pós graduação em economia de multinacionais. Disse pra todo mundo que eu aceitei, mas é mentira porque na realidade eu vou ficar 04 meses aperfeiçoando meu inglês.


 


- E seu emprego? O que você vai fazer? – Seu tom era duro, mas não rude talvez impressionado?


 


- Essa é outra parte da história. – que eu não tinha contado a ninguém, penso comigo mesma - Vendi meu carro para me sustentar nesse período, mas não contei para ninguém. Todos acham que eu arrumei um emprego na biblioteca da faculdade de Cambridge.


Quando eu digo as palavras em voz alta, meu plano parece péssimo.


 


 Eu sei que sou uma pessoa terrível, mas não quero causar um ataque cardíaco em meus pais!


 


- Oh - E isso foi tudo que ele disse. Será que estava me julgando? –


 


Já que eu já tinha lhe contado minha história, pensei em perguntar-lhe o que ele faria da vida então.


 


- E você, vai ficar em Londres? Acho que meu inglês era melhor do que eu imaginava, ele entendia perfeitamente o que eu dizia.


 


- Vou. Estou de férias por 03 meses. Quero ficar um pouco com a minha família.


 


A verdade é que ele é famoso, e eu sei exatamente o que está acontecendo na vida dele.


 


Pelo menos pelo que eu li nos sites de fofocas. Até onde sabemos, ele deu um pé na bunda da namorada adúltera, mas claro que fiquei em silencio.


 


Enquanto pensava nos motivos que o levariam a se isolar em Londres ele me interrompeu


 


- Por que você pensa em desistir da administração?


 


- Bom –  Eu costumava gostar, o problema é que meu pai tem uma grande empresa em São Paulo e eu estava fadada a trabalhar com ele. Como se toda a minha vida acadêmica e profissional fosse uma grande piada. Eu sempre me dediquei a fazer tudo da melhor maneira possível, mas a verdade é que me sentia incompleta.


E para piorar, ninguém me entende.


 


Ele estava realmente prestando atenção agora, como se eu tivesse dito algo muito interessante.


 


- E você já sabe o que quer da vida então?


 


Essa era a pior pergunta. Aquela que eu não queria responder de jeito nenhum, nem pra mim mesma


 


- Eu tenho uma frase para isso. – digo sorrindo, como se meu sorriso pudesse quebrar o clima tenso -  É mais ou menos assim: acho que não sei quem sou só sei do que não gosto.


Além do mais eu sou nova, posso descobrir.


 


- Quando eu era pirralho, eu achei que fosse ser igual meu pai e trabalhar em um banco, algo do tipo, mas quando fui ficando mais velho resolvi que queria ser ator. E por incrível que pareça, deu tudo certo. O problema é que a carreira têm muitos..ônus. Acho que a gente acaba ficando sentimental demais. Tudo fica exposto pra todo mundo e todas as situações do cotidiano parecem ser 10 vezes pior do que realmente são.


 


Eu fiquei olhando bem pra ele, pensando no que ele tinha me dito e partilhei meu ponto de vista


 


- Eu penso que o verdadeiro problema é que as pessoas esperam que a gente seja feliz. Se a gente tem um problema, ele não pode fazer a gente se sentir infeliz, porque infelicidade é voltada pra pessoas órfãs abandonadas em abrigos, ou deficientes, ou quem apanha do marido. Ai a gente acaba se contentando com uma vida medíocre e nunca faz nada pra mudar porque não importa as merdas que a vida jogue pra cima da gente, não estamos no grupo dos que podem se considerar infelizes. Eu, particularmente cheguei à conclusão de que não me importo mais e se eu não estou feliz, vou aceitar e fazer algo pra mudar a situação. E é isso que eu estou fazendo.


 


Terminei meu discurso me sentindo aliviada. Acho que nunca tinha dito isso em voz alta para ninguém.


 


John continuou me olhando, seriamente e somente disse:


 


- Sim, você tem razão.


 


Não sei se a conversa ficou pesada demais, mas a verdade é que nós encerramos o assunto e ficamos em silêncio até que o comandante anunciou o pouso. Sinceramente fiquei em paz, estou cansada, meu corpo rígido pela falta de movimentos. Tudo que eu quero é tomar um banho e dormir.


 


O avião finalmente começa a descida, eu me sinto muito desperta e nervosa. Fecho os olhos e sinto uma  pegando nas minhas.


 


Abro meus olhos e vejo John sorrindo e se oferecendo gentilmente para que eu o aperte.


 


Suas mãos estão geladas, mas são reconfortantes. Aperto as duas com força. Fecho os olhos novamente e dessa vez fico distraída, a descida é suave e a aeronave não faz nenhum baque escandaloso ao tocar o chão. Se eu pudesse beijaria a testa do piloto.


 


Solto as mãos de John, mãos que agora estavam quentes dado meu toque e sorrio para ele docemente, como forma de agradecimento.


 


Os comissários prontamente se deslocam para nos ajudar a retirar a bagagem dos compartimentos e quando me dou conta já estou descendo no avião.


 


O clima da cidade me bate em cheio. Está escuro, mas não parece ser noite, as nuvens estão  carregadas e o ar é muito pesado, abafado.


 


Não faço ideia de que horas são. Meu relógio marca 18h15min, mas  aqui temos uso horário.


 


O local cheira a piche, creio que o motivo era por estarmos na pista do aeroporto.


 


Fico um pouco atordoada com as luzes que estão na pista e também com as instruções em um inglês carregado de sotaque. Tenho que brigar com meu cérebro para me concentrar.


 


Somos guiados a uma micro vã que nos leva a aérea de desembarque do aeroporto.


 


Olho para trás, já sentada e vejo John entrando na vã. Pela primeira vez reparo nele depé. Estava vestindo jeans, moletom cinza e tênis. Também colocou um boné que cobre parcialmente seu rosto. Não tinha reparado como ele é alto.


 


Ele sentou na fileira atrás de mim, mas não olhei para trás uma só vez durante o percurso. Também não ouvi a voz dele.


 


Quando finalmente descemos da vã, sinto ele tocar meu ombro e me viro a tempo de ouvir ele dizer:


 


- Adeus Helena. – Seus sussurros dessa vez foram cheios de significado...


 


(continua)



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Autor(a): fernanda_maciel

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