Fanfic: Os Lados Do Amor | Tema: Lésbica, Homosexualidade

Júlia

Durante todo o caminho para casa, Maria e Karen tentaram em vão retirar alguma informação de mim, que fiquei totalmente irredutível, e procurava não falar nada, apesar das duas serem minhas melhores amigas desde sempre. Sem saber o porque, eu não me sentia a vontade para falar no rapaz que conheci de maneira tão peculiar, menos ainda no beijo que tínhamos trocado.

Quando Maria desceu, Karen se aproximou de mim sorrateira, com aquele olhar curioso que conheço tão bem, deu uma boa olhada para o Carlos que dirigia e que parecia muito entretido numa conversa com a garota sentada ao seu lado e aproveitou para acabar com sua curiosidade:

-- Você não vai mesmo me contar o que aconteceu?

-- Preciso entender primeiro o que aconteceu Karen, depois conto a você. – falei por fim desejando que ela parasse com o interrogatório.

Apesar de minha recusa, ela não pareceu irritada, talvez fosse porque tinha algo para me contar:

-- Mas eu tenho uma coisa muiiiiito importante para te contar... -- falou sorrindo e logo a olhei curiosa, a pergunta não demorou a sair:

-- O que? O que você tem para me contar?

Karen fez alguns segundos de suspense e recebeu um safanão no braço antes de responder:

-- Quando você sumiu junto com o outro, o Roger veio querendo saber de você, quem era o cara com quem você estava dançando. -- fez uma careta feliz e continuou: -- Falei que não sabia e ele pareceu não acreditar, e depois fez uma cara de poucos amigos e se foi irritado. Parece que você conseguiu... ele ficou com ciúmes.

A voz animada de Karen não encontrou eco em mim que naquele momento ainda sentia nos meus, o sabor suave dos lábios macios de Luca e também, de todo o carinho que o garoto colocara no beijo.

De repente o telefone vibrou na minha bolsa, e a voz de Karen surgiu curiosa ao mesmo tempo:

-- Como foi com o garoto? Vocês ficaram?

Suspirei achando que Karen nunca desistiria de saber e falei tentando disfarçar:

-- Nós apenas conversamos.

Karen mostrou outra careta e foi logo confessando com uma expressão irritada:

-- Não minta! Eu vi o selinho de despedida.

Imediatamente a lembrança do beijo me atingiu com mais intensidade, e o sangue com certeza tingiu meu rosto de vermelho e agradeci mentalmente pela escuridão dentro do carro. Respirei mais fundo e ia responder quando Carlos, o irmão de Karen avisou:

-- Pronto Ju! Estamos na sua casa...

-- Obrigada pela carona Carlos! Boa noite. -- falei rapidamente, ia escapar dali e virando-me para minha amiga falei: -- Nós falamos depois, prometo contar tudo a você, está bem?

Parecendo não confiar muito no que eu falava, Karen fez uma careta dando língua, mas antes que a porta do carro se fechasse gritou:

-- Vou para o msn, espero por você...

Apenas sorri em resposta sentindo o telefone vibrar novamente, assim que o carro se afastou, dei uma olhada no visor e o número estampado ali fez meu coração pulsar mais forte, era ele, era uma ligação de Luca.

Sem saber se devia ou não atender, fiquei por um tempo olhando para o aparelho em minha mão sentindo-a tremer e mentalmente e me perguntei porque estava me sentindo assim por alguém que mal conhecia. Essa era uma sensação real, nunca antes experimentada, mas muito gostosa que fazia meu coração pular no peito só de lembrar dele e do seu jeito
.
O telefone parou de vibrar, mostrando que já havia seis ligações não atendidas. De certa forma me senti aliviada por ele ter desligado, mas a dúvida se deveria ou não ter atendido ainda me perseguia. Sem ter outra coisa a fazer, guardei o telefone novamente na bolsa, talvez Luca tivesse desistido, pensei um pouco decepcionada sem compreender os sentimentos contraditórios que me assaltavam.

Correndo, entrei em casa, que estava em completo silêncio, meus pais estavam com toda a certeza dormindo, os empregados, já recolhidos, corri para o meu espaço e assim que entrei no quarto grande e decorado todo em tons de verde, me joguei sobre a cama, suspirando.

Um imenso sorriso brotou nos meus lábios quando lembrei de tudo o que aconteceu durante essa noite. Resolvi usar alguém, um idiota qualquer, mas pelo jeito escolhi a pessoa errada, porque o plano não saiu exatamente como foi pensado e a imagem de Luca com seu sorriso aberto e seus cabelos lisos não saía da minha cabeça, assim como o gosto dos lábios dele não saiam dos meus lábios.

Observei o computador sobre a mesinha de estudos e lembrei de karen falando que me esperaria no MSN, suspirei tirando as sandálias dos meus cansados pés, caminhei lentamente em direção ao banheiro, precisava de um banho, estava cheirando a cigarro, e também a um perfume que eu reconheceria de longe, era o perfume do garoto que conheci e que me encantou, joguei as roupas no cesto e entrei sob a água morna do chuveiro sentindo-me estranhamente feliz, finalmente decidida a atender a uma próxima ligação de Luca, se ele ainda ligasse, depois de tantas tentativas recusadas.