Fanfic: Os Lados Do Amor | Tema: Lésbica, Homosexualidade

Luca

Cancelei a chamada, na verdade, essa era a sexta tentativa, se Julia ainda não atendera, provavelmente me enganei totalmente quando achei que ela estava tão interessada em mim quanto eu estava nela.

-- Me disseram que a Julia é metidinha, mimada, cheia de manias. -- Joana falou claramente ao me ver guardar o telefone no bolso da calça, seu rosto mostrava que minha escolha não a agradara, como sempre acontecia, e como não ouviu resposta continuou:

-- Você viu as amiguinhas dela? O jeitinho delas? Todas como ela, metidinhas, filhinhas de papai, ou seja, Luca, nada a ver com você.

A voz de minha irmã era clara e tranquila, apenas constatava um fato que eu já percebera, mas como estava interessada, não podia evitar em fazer o que sempre faço quando me interesso dessa forma por alguém, insistir.

Entretanto, neste caso em especial estava prevendo com clareza meu fracasso, e mesmo assim não conseguia deixar de me sentir atraída por ela, apesar de seus visíveis defeitos, e principalmente de nossas aparentemente imensas diferenças.

Entrei em casa e meu telefone tocou, por um segundo cheguei a imaginar que era Julia quem estava retornando minhas ligações, mas assim que vi o rosto de Bete no visor, suspirei antes de atender:

-- Alô! -- falei seca.

-- Oi amor! -- a voz era a mesma de sempre, como se nada tivesse acontecido, como se ela não tivesse pegado suas coisas e ido para a praia com os amigos sem me avisar, me deixando sozinha no apartamento largando nossos planos para trás -- Onde você está? -- ainda teve coragem de perguntar.

-- Ainda na casa de meus pais. -- falei subindo as escadas em direção ao meu quarto e vendo o olhar irritado de Joana ao meu lado.

-- Estou voltando para o nosso apartamento amanhã, estou morrendo de saudades. -- falou completamente melosa.
Fiquei calada, não podia dizer a mesma coisa.

-- Chego no fim da tarde. -- falei por fim -- Precisamos ter uma conversa séria.

-- Você está zangada comigo amor? -- a voz melosa me irritou um pouco mais, mas fui apenas fria na resposta:

-- Zangada? Não, estou apenas cansada de certas coisas, mas conversamos sobre isso amanhã... pessoalmente.

Bete ficou calada, talvez, provavelmente tivesse entendido tudo, ela tinha muitos defeitos, mas burra nunca foi, mesmo assim sua resposta foi:

-- Está bem amor. Espero por você pronta... -- ouvi um sorriso do outro lado e logo depois a conclusão: -- Te amo! Um beijão! -- desligou sem esperar pela minha resposta.

Encarei o rosto de Joana parada ao meu lado antes de ouvir:

-- Manda essa maluca pastar Luca, ela não merece você...
Sorri e a abracei antes de falar:

-- …, eu sei, já deveria ter feito isso a mais tempo, nem tem mais porque ficarmos juntas...mas...

-- Mas você estava acostumada com ela, porém, se conheço bem minha irmã, você tem agora outro motivo para terminar o namoro... uma dondoca besta, de pernas bem torneadas, cabelos sedosos e rosto de boneca.

Ri da sinceridade de minha irmã e a beijei no rosto, não podia negar, ela tinha razão, Julia era um bom motivo para mandar Bete procurar outra pessoa para azucrinar.

-- Boa noite e obrigado pela ajuda! -- falei apertando-a.

-- Não deveria ter ajudado, mas você sempre me convence, mas vou avisar, mamãe não vai gostar dessa garota, com toda a certeza...

Minha irmã definitivamente não gostou de Julia.

-- Não se preocupe, não vai dar em nada, ela nem atendeu minhas ligações.

Ela fez um gesto de vitória depois falou:

-- Eu sabia! Aquela pirralha não é boa para você, esquece essas duas, tenho certeza de que você consegue alguém melhor.

-- Boa noite Joana! -- falei abrindo a porta de meu quarto e ela já ia saindo quando deu meia volta e perguntou:

-- Você falou?

-- O que? -- perguntei já ficando impaciente.

-- Ela percebeu que você é uma garota?

Dei de ombros, não fazia a menor diferença isso, se ela não percebeu vou ter que contar uma hora ou outra, isso se ela me ligar, ou se nos encontrarmos uma outra vez.

-- Vai dormir Joana! -- falei fechando a porta, precisava de um banho, tirei uma bermuda da gaveta e um camiseta preta, velha com um rasgo na gola e fui para o banheiro.

Dez minutos depois estava sentada na janela do meu quarto, com as pernas penduradas do lado de fora fumando e olhando a noite ainda quente do final do verão, encarei meu celular que estava largado ao meu lado e achei que poderia fazer mais uma tentativa, ia embora em oito horas e ainda tinha muitas coisas para arrumar, e quando chegasse lá, as aulas me pegariam sem dó, não teria tempo para praticamente nada, sem falar que só tinha perspectiva de retorno em quinze dias no mínimo, precisava fazer mais uma última tentativa.

Peguei o telefone que descansava sobre o aparador da janela e digitei o número que já havia sido decorado e pouco depois de duas chamadas ouvi a voz:

-- Alô!

-- Oi! -- falei baixinho me sentindo feliz por finalmente ser atendida -- Acordei você?

-- Não, estou conversando com uma amiga pelo msn...

-- Estou atrapalhando?

-- Não! -- a voz me pareceu sincera, e logo depois se explicou: -- Desculpe não ter atendido suas ligações antes, mas estava tentando escapara do interrogatório das minhas amigas, elas queriam saber tudo o que aconteceu...

Sorri, essa era uma boa desculpa, e também era uma justificativa, e uma justificativa indicava a necessidade de que eu não pensasse que ela não estava interessada, talvez o que falei a Joana não estivesse totalmente correto, talvez essa história desse em alguma coisa e perguntei por fim:

-- Podemos conversar agora então?

-- Sim. -- falou rapidamente e ouvi um sorriso, me pareceu ver os lábios carnudos diante de mim e perguntei:

-- Me passa seu msn?

-- Claro! -- foi a resposta imediata, e um sorriso feliz escapou dos meus lábios.