Fanfic: Os Lados Do Amor | Tema: Lésbica, Homosexualidade

Júlia

Fiquei encarando o telefone largado ali ao meu lado, sobre a colcha da cama, com o coração saltando de ansiedade, na espera de que o convite para amizade surgisse diante de mim na tela do PC, mas o que aconteceu a seguir me atrapalhou completamente a vida.

Minha mãe entrou esbaforida em meu quarto me chamando e falando sem parar coisas que eu não compreendia, era alguma coisa sobre minha avó ter tido um AVC.

Primeiramente entrei em choque, não sabia a quem atender, se ao convite de Luca que surgiria logo ou se a minha enlouquecida mãe que gesticulava na minha frente.

Assim que sai de meu quarto, seguindo Silvia, topei com meu pai vestindo um casaco sobre uma camiseta indo em direção a escada, minha mãe entrou em seu quarto e falava rapidamente:

-- Nós vamos para o hospital, você precisa ligar para seus tios e avisar o que aconteceu.

-- Avisar meu tios? -- me perguntei irritada, avisar todos levaria tempo e Luca estava me esperando, esperando outra vez, ele iria pensar que eu não estava interessada. 

Nesse instante minha mãe segurando meus ombros perguntou:

-- Julia? Você está me ouvindo?

Encarei o rosto dela e pensei no quanto estava sendo egoísta naquele momento, pensando somente em mim e esquecendo a loucura que estava acontecendo na minha casa, além de que naquele momento minha avó poderia estar morta.
Respirei fundo e falei:

-- Pode ficar tranquila mãe, vou fazer como você falou.
Ela me passou um cartão e concluiu:

-- Sei que posso confiar em você, aqui está o nome do hospital para onde ela foi levada avise a todos. -- encarou meu rosto por alguns segundos e me deu um beijo na testa antes de sair.

Me sentei no sofá da sala e fiz o que minha mãe pediu, liguei a todas as pessoas que deveria, uma ligação difícil de ser feita e por isso, quase uma hora depois estava tudo pronto. Levantei pesadamente do sofá e fui em direção ao meu quarto, sentei na cama olhando para a tela do computador, e lá estava o convite, era ele, meu coração se apertou achando que minha chance se fora, com certeza depois dessa não teria chance alguma com Luca.

Aceitei o convite e vi o off-line ao lado da foto dele.

-- Droga! -- falei para mim mesma, ainda mais irritada com minha pouca iniciativa, e então vi meu telefone, havia duas chamadas dele, suspirei, ele tentara tanto, eu poderia ligar.

Mas será que deveria? Claro que deveria, ele merecia uma explicação para o que acontecera e num gesto rápido apertei o botão fazendo a ligação, ouvi os toques com a ansiedade aumentando no meu peito cada vez mais, eles se repetiam um após o outro, mas estava decidida a não desistir, até que uma voz sonolenta atendeu:

-- Alô, Julia... o que você quer?

Meu coração se apertou, ele estava irritado comigo, e minha voz travou, não sabia o que dizer, mas se eu ligara, deveria falar alguma coisa, respirei fundo e antes de falar ouvi:

-- Você ligou para ficar quieta? Vou desligar.

-- Não! -- falei por fim e emendei num tom mais baixo: -- Desculpe... tive um problema...

Ouvi um suspiro como que de irritação e continuei:

-- Minha avó teve um AVC...precisei ligar para meus tios e avisar... e... isso levou...

-- Sua avó? -- ele me interrompeu, a voz era desconfiada: 

-- Isso é verdade?

Senti que ia chorar, estava ligando para dar uma justificativa e ele não acreditava em mim.

-- Não iria ligar para você me explicando se não fosse verdade... -- saiu tão baixo que achei que ele nem tivesse escutado, mas logo depois de um breve silêncio ele falou:

-- Sinto muito pela sua avó... -- ficou calado como se estivesse pensando e depois explicou: -- Mas, eu vou viajar em algumas horas, voltar para a faculdade, e queria ver você... será que podemos no encontrar?

Uma emoção forte tomou conta de mim e perguntei de imediato:

-- Quando? Onde?

-- Hoje, antes do meio dia, pode ser perto da sua casa, ou na sua casa.

Na minha casa? Pensei rapidamente, não, na minha casa não poderia ser, meus pais não estavam, e não aceitariam que eu recebesse alguém que eles não conhecem, principalmente com o que está acontecendo.

-- Perto da minha casa tem uma praça, uma praça grande, com um lago, poderíamos no encontrar lá. -- sugeri por fim.

-- Está certo, para mim está ótimo. -- a voz firme respondeu e passei a ele o endereço sem me preocupar com mais nada.

-- Caso aconteça alguma coisa, que você não possa ir me avise. -- falou num tom mais leve.

-- Sim, pode deixar, vou avisar, mas eu vou sim... -- ficamos calados por mais alguns segundos e por fim falei: -- Vou deixar você dormir...boa noite...

--Boa noite! -- ele falou num tom mais leve completando: -- Um beijo. -- e com a voz mais suave ainda completou: -- Vou contar os minutos.

-- Eu também! -- falei baixinho e ouvi um sorriso antes de desligar.

Fiquei ali ainda por alguns segundos encarando aquele aparelho, não acreditando no que acontecera, no que eu fizera, nas coisas que dissera, nem parecia eu, tinha aceitado me encontrar com um garoto que eu mal conhecia.

De onde saíra tanta coragem? Me perguntei me ajeitando sobre as almofadas.

Não tinha respostas para tantas perguntas, mas estava feliz, muito feliz, e ia aproveitar alguns momentos junto de Luca, mesmo que nunca mais voltasse a vê-lo depois, mas alguma coisa me dizia que nossos encontros se tornariam frequentes após esse, apesar de saber que ele não morava na mesma cidade.

Me acomodei na cama e o telefone tocou novamente, era minha mãe avisando que minha avó estava na UTI mas que estava estável. Uma boa noticia enfim, poderia dormir mais tranquila e me sentindo menos culpada, mas, ao mesmo tempo, muito ansiosa com o encontro com Luca.